O centro de convenções do País da Lua Crescente estava em festa. Entre as luzes incessantes dos flashes e dos fogos de artifício, as celebridades caminhavam elegantemente para vender sua imagem ao mundo no tapete vermelho abarrotado de jornalistas.
Como gado à venda num leilão. – Pensou a marionete-viva, que observava insuspeito e disfarçado como um fã qualquer dentre outras centenas que festejavam com o aparecimento de seus artistas favoritos. A noite apenas começava, mas Daisuke sabia que até o sol nascer teria que matar o personagem principal daquela pantomima bizarra. –
Onde você está? – Sussurrou ansioso, incomodado com a demora do alvo. Mas nesse momento a multidão estremeceu. Numa limusine branca, o Sr. Howard Masters se aproximava vagarosamente, acenando para os fãs através da janela aberta. Uma kunai com papel explosivo daria cabo do serviço. Contudo, Daisuke já tinha sido avisado da utilização de sósias para enganar os assassinos.
Mas qual deles é o verdadeiro? -
Número um... Alguma novidade? – O assassino cochichava no rádio preso à garganta.
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Ainda não. Ele ainda está no salão. – Respondia alguém com a mesma voz.
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Número dois? – Perguntava para o outro.
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Nada. Ele ainda está no hotel. – Respondia.
Eram três alvos na verdade. Um verdadeiro e dois falsos. Porém, como ele não sabia qual era o verdadeiro, Daisuke resolvera invocar dois de seus clones das sombras, dividindo irmãmente seu chakra após um rápido selo. Na verdade, cada um cuidaria de um dos alvos e assim eliminariam toda chance de falha. Era um plano simplório e complexo, pois os três teriam que exterminar o alvo sem que os outros soubessem. Agora os três Daisuke vigiavam de perto os alvos, aguardando uma oportunidade para iniciar a missão.
Espero que tenha escolhido o verdadeiro. – Torcia o clone que vigiava o Howard no cabeleireiro. Lá existiam dois três seguranças. Dois na entrada, mais um sentado numa poltrona recuada próximo ao alvo que, com a cadeira inclinada, fazia a barba. –
Iniciando aproximação. – Avisava pelo rádio. Tentando rebolar para manter seu disfarce, o clone utilizara o henge para se transformar numa das mulheres mais bonitas que vira passar. Caminhando na direção da vitrine, a “mulher” olhou para dentro e começou a dar chilique ao fingir reconhecer o artista famoso.
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Ai, ai! É o Howard Masterss!!! – Gritou toda charmosa tentando entrar no salão.
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O salão está fechado moça. – Disse um dos seguranças à porta.
Porém a mulher estava irredutível. Enquanto os seguranças tentavam impedi-la de entrar, Daisuke usava sua força descomunal para adentrar no recinto e chamar a atenção do ídolo. O segurança de dentro se levantou ao mesmo tempo em que o alvo se sentou, olhando-a dos pés a cabeça com ar sedutor. –
Deixe-a entrar. – Autorizou Howard. Os seguranças se afastaram alguns passos e o homem se aproximou todo jeitoso. –
Em que posso ajudar minha jovem? – Comentou com a voz aveludada. Sem demora, Daisuke juntou seu chakra discretamente na mão direita, a mesma que cumprimentou a mão do alvo com o intuito de marca-lo com o selo hiraishin. Howard sorriu e correspondeu à altura, apertando e beijando a mão de seu algoz sem perceber que já estava marcado. –
Você é incrível! - Fingia ser fã. O homem gargalhava e parecia que os seguranças já começavam a relaxar. Agora com sua parte cumprida, só restava partir. Assim, sorrindo, a mulher pegou o autógrafo – e o telefone – do alvo e saiu caminhando feliz pelos becos da cidade.
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Primeiro alvo marcado. – Sussurrou no rádio.
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Ótimo. E o segundo? – Inquiriu o verdadeiro à outra cópia.
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Estou a caminho. – Comentava disfarçado de camareira, enquanto subia no elevador até o andar onde o alvo se hospedava. Logo um silvo indicou que chegara ao destino, mas para sua surpresa ele foi recepcionado por um homem corpulento e careca. Vestido com um terno preto, ele tinha pinturas estranhas no rosto e estava acompanhado por um grande pastor-alemão. –
O que você quer aqui? – Perguntou rispidamente. Pego de surpresa, a cópia gaguejou e comentou que limparia aquele andar. Contudo, o homem não autorizou sua entrada, mandando-a retornar pela manhã.
Merda. As portas se fecharam e o elevador começou a descer. Falhando na primeira tentativa, o clone raciocinou uma maneira de adentrar o quarto do alvo sem ser percebido.
Já sei. Apertando nervosamente o botão do andar inferior, o nukenin adentrou no andar inferior e procurou o quarto que estaria logo abaixo do alvo. Batendo na porta, um homem seminu atendeu. Com feição de que estava de ressaca, o hóspede mal enxergou o punho do clone que socou seu estômago com toda força.
Com dores e sem poder respirar, o homem desmaiou e foi agarrado antes que caísse no chão.
Silêncio. – Sussurrou a camareira. Puxando-o para o ombro, Daisuke fechou a porta atrás de si e jogou o desmaiado na cama. Sem esperar, o nukenin desativou o henge e direcionou seu chakra pelo seu corpo, juntando as mãos numa pequena cadência de selos, enquanto subia através da parede até começar a atravessar vagarosamente o teto. Primeiro a cabeça, depois parte dos ombros, quando finalmente se viu embaixo da cama, onde viu os pés de seu alvo que parecia estar para calçar as meias.
Não posso perder a oportunidade. – Pensou enquanto estendia a mão, embebendo-a com chakra para tocar levemente o calcanhar de Howard para marcá-lo com o selo hiraishin. O homem parou estranhando o toque repentino, mas quando este se agachou para ver o que tinha se passado, o segurança adentrou no quarto, provavelmente sentindo o cheiro estranho. –
Tudo bem por aqui? – Perguntou.
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Sim. Tudo bem. – Respondeu um dos Howards. Contudo, parecia que o animal que acompanhava o segurança não se convenceu e disparou na direção da cama. Mas já era tarde. Daisuke acabara de sumir pelo piso do quarto, onde o hóspede gemia prestes a acordar. –
Segundo alvo marcado. – Sussurrava a marionete-viva, girando o corpo com agilidade para atingir o homem com um forte chute lateral, fazendo-o “dormir” instantaneamente. Agora só faltava um. Enquanto isso, Daisuke se espremia entre os transeuntes na direção do corredor ao lado do centro de convenções. Era um lugar escuro e com algumas latas de lixo perfeitas para se esconder. Agora só faltava alguém abrir a porta dos fundos... Ou não.
Ban, ban, ban... – Batia na porta de metal, tentando alcançar alguém que viesse perguntar o que acontecia. E até que não demorou muito, pois as trancas se abriram com esforço para revelar um garçom curioso. –
O que você quer? – Perguntou curioso. Com um sorriso sarcástico, o nukenin agarrou o colarinho do homem e o puxou com toda força contra sua testa metálica.
O impacto foi grande suficiente para apagar o desavisado, porém, também deixou algumas marcas de dano na placa onde as testas se encontraram. –
Bom, agora vamos em frente. – Juntando as mãos num rápido selo, seu corpo se transformou no garçom que acabara de abater, sumindo logo através do longo corredor dos bastidores do centro de convenções. Aquele lugar estava fervilhando de gente. Bailarinas, atores e atrizes famosas, diretores e celebridades da política se engalfinhavam num espaço relativamente estreito para tanta gente. Na verdade, toda aquela comoção ajudou o assassino a se esgueirar sem ser percebido até onde queria: A porta das garagens. Rapidamente ele se aproximou da tranca e empurrou a porta antipânico que levava até dois lances de escadas. Para ganhar velocidade, o nukenin saltou entre o vão e aterrissou em frente ao portão da garagem com um rolamento acrobático.
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Agora é só encontrar a limusine que trouxe o cara. – Comentou ao adentrar no subsolo. A porta rangeu e de cara a marionete viu uma pequena reunião de motoristas que se apoiavam numas cadeiras de plástico em volta de uma mesa. Jogando cartas, todos eles se viraram na direção do ruído repentino, mas não viram nada, pois o nukenin já manipulara a luz ambiente com seu chakra, tornando-se transparente o suficiente para passar-se despercebido pelo grupo e caminhar sorrateiramente até o veículo em que o alvo tinha chegado. –
Ótimo. – Comemorou a infiltração bem sucedida. Olhando em volta da limusine, Daisuke tentou acionar a porta, mas estava trancada. Teria que improvisar. Convergindo chakra na mão esquerda, a máquina-viva tocou o teto do veículo, marcando-o com um selo hiraishin. Agora tudo está praticamente pronto. Assim, o assassino sumiu como mágica, ressurgindo no teto do prédio oposto ao centro de convenções. –
Agora aguardaremos. – Balbuciou.
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A cerimônia corria e a madrugada também. Sentado à beira do parapeito, o verdadeiro Daisuke aguardava a movimentação da limusine que demorou algum tempo até que finalmente ele sentiu que o selo estava se aproximando. –
Enfim, alguma ação. – Reclamou ao acorda de seu torpor. –
Um e dois... Ele está saindo, preparem-se. – Falou pelo rádio quando o veículo saiu pelo portão dos fundos e manobrou pela rua até a entrada do Centro. O nuke ainda conseguiu ver seu alvo, abraçado com duas mulheres, gargalhando alto e agindo como se bêbado estivesse. Os três logo entraram na limusine e partiram pela rua principal na direção do hotel.
Agora! – Pensou ao forçar suas pernas ao máximo, saltando os telhados com agilidade na direção do carro quando saltou na direção da rua e ativou seu chakra para aterrissar com agilidade no teto de onde o alvo estava. Convergindo sua energia para a tatuagem, num só movimento, Daisuke invocou seu bastão condutor e o estocou com toda força contra o teto-solar escudo. O vidro se quebrou e as mulheres gritaram de pavor.
Com o susto, o motorista começou a ziguezaguear tentando se livrar do invasor, mas a marionete mantinha bom controle de seu chakra para grudá-lo ao objeto enquanto invocava uma kunai com papel explosivo e o atirava dentro do espaço que havia criado. Mais gritos e quando o ninja saltou numa ágil pirueta para fora do veículo, uma explosão dividiu a limusine ao meio, fazendo-a atingir um grande muro com brutalidade. Chamas e três corpos. Apenas isso. –
Matem os outros. – Comandou pelo rádio. Nesse momento, as duas cópias manipularam seus chakras e utilizaram os selos hiraishins presos nos alvos. O primeiro ressurgiu num quarto de motel. Iluminada com lamparinas vermelhas, o alvo estava transando com uma loira espetacular, mas essas novidades já não atrapalhavam o foco do estrategista. Sem acreditar no que alguém acabara de surgir ao seu lado, Howard arqueou o corpo para gritar, mas o ninja foi mais rápido, invocando uma kunai num giro acrobático em cima da cama, ele riscou a garganta do homem que começou a sangrar sob o corpo e os gritos da mulher. Um corte rápido e perfeito. E quando os seguranças invadiram o local, a cópia simplesmente desapareceu...
Ao mesmo tempo, a segunda cópia surgia na mesma suíte a que invadira sorrateiramente. Próximo à varanda, o segundo Howard bebia um drink enquanto vislumbrava as luzes da cidade que nunca dormia. Alvo fácil. Desenhando alguns selos rápidos para ajudar a manipular chakra raiton, a cópia criou uma corrente elétrica nos dedos atingindo o alvo que estremeceu silenciosamente e caiu sobre o parapeito. A cópia sorriu, porque só precisou esforçar-se um pouco puxando os pés do sujeito para que ele despencasse pelos quinze andares até a rua principal. –
Mais fácil impossível. – Comemorou a cópia, sumindo a seguir para enviar a informação ao seu original. Daisuke finalmente tinha conseguido. A máquina abriu um sorriso macabro e estava pronto para sair quando algo estalou na sua cabeça: Três corpos... Duas mulheres, o alvo e o motorista... São quatro. –
Merda! – Reclamou olhando em volta à procura do desaparecido. Como isso pôde acontecer?
Aguçando seus sentidos, a marionete-viva acionou seu chakra doton e o espalhou pelo chão querendo saber de algum movimento próximo. –
Ali estão! – Gemeu em desespero, sentindo a presença de duas pessoas e um cão numa das ruas paralelas. Daisuke disparou por entre as ruas, tentando encontrar atalhos, mas estes não pareciam ajuda-lo. Ele sabia que teria que usar manobras drásticas para alcança-los. Assim, aglutinando energia no quinto portão, o nuke arrebentou o portão de chakra que o encheu de energia. Numa velocidade estonteante, sua sombra passava por entre as latas de lixo e não demorou muito até ver seu alvo, “galopando” um grande pastor-alemão, enquanto outro homem bem vestido os acompanhava. Ao pressenti-lo o cachorro gemeu e esforçou-se para aumentar a velocidade enquanto seu dono se virou, levantando a mão para atingir o solo com algumas granadas de fumo. Tarde demais. Desativando o portão aberto, Daisuke sentiu o peso do corpo novamente, levando chakra ao punho para socar o segurança com seu punho que molda a mente.
O homem foi logo atingido no peito e gritando de dor, pensando que fora atingido mortalmente, desmaiou agonizante. Ao sentir seu dono cair, o cachorro parou e sob os protestos do alvo, arremeteu contra o ninja que se esquivou com agilidade e afixou uma tarja explosiva nas costas de Howard. –
Não importa se você é o verdadeiro ou o falso. Todos estarão mortos mesmo. – Comentou ao realizar o selo de ativação, fazendo a tarja explosiva despedaçar o homem e o cachorro de uma só vez. Agora sim a missão tinha terminado. Esticando-se para calibrar os amortecedores de impacto, Daisuke deu uma rápida olhada em volta para garantir que ninguém estava próximo, quando finalmente utilizou o selo hiraishin para se transportar até o posto de pagamento. Um plano bem sucedido.
FIM