Era uma noite bastante agradável quando Katsu chegava a uma vila no meio do deserto. A noite estava mais fria que o dia e o céu estrelado e limpo só fazia daquela noite mais bela. A vila encontrava-se invulgarmente movimentada. Pessoas bem aperaltadas saiam das respetivas casas, acompanhadas ou não, e moviam-se com grande pressa para um palco grande no final da rua da mesma vila.
O Imagawa passeava calmamente ao longo da rua observando crianças a rir com os seus pais, namorados a sair das respetivas casas e a manterem-se juntos para que o frio não os abominasse, grupos de amigos a juntarem-se para mais uma noite de confraternização. O comum entre todas estas pessoas? Todas se dirigiam para o palco ao final da rua.
-Desculpe-me… - Interveio o Nukenin dirigindo-se a uma idosa que se movia vagarosamente na direção desse mesmo palco – Podia-me dizer para onde é que todas estas pessoas se dirigem?
-Com certeza meu jovem… - Concordou a velhota com um sorriso encantador apesar de não esconder os traços de envelhecimento que lhe invadiam a cara. O seu semblante mostrava felicidade e nenhum medo para com a pessoa mascarada à sua frente – Hoje vêm uma orquestra de Otogakure dar um concerto grátis. Todas as pessoas da vila ficaram entusiasmadas e é o grande evento de hoje. Só vou ficar um pouco lá, o meu corpo já não é o que era logo a diversão não me vai estar completamente garantida…
-Ok, muito obrigado! – Interrompeu delicadamente o mercenário vendo que a senhora já começava a afastar-se do assunto – Por acaso sabe onde anda Roman Suji?
-Roman? – Perguntou a senhora para ninguém em especial – Esse bom rapaz deve de ir à festa com os seus amigos… provavelmente. Como já disse vai ser o grande evento, duvido que alguém na vila falte. Até mesmo eu que com estas costas ainda consigo comparecer e…
-Muito obrigado! – Voltou Katsu a interromper vendo que a idosa tornaria a ir para um rumo que este não queria. Faz uma pequena vénia antes de começar a correr em direção ao palco.
-Foi um prazer estranho! – Despediu-se a senhora com um grande sorriso apertando depois as pálpebras dos olhos apercebendo-se que não estava a ver bem – Nossa senhora, esqueci-me dos óculos em casa!
O rapaz corria apressadamente na direção do palco. Quando lá chegou observava com a gente se entulhara à frente dele. O palco era constituído principalmente por madeira bem ornamentada, a sua base já era constituída por algumas ligas metálicas e outros tubos que podiam dar-se ao luxo de suportar o palco, os “performers” e ainda o telhado desse mesmo palco. O estrado ainda dispunha de quatro colunas de madeira que suportavam o telhado e cada coluna continha uma tocha com chamas bem vivas e que se alimentavam do ar à sua volta. O telhado era decorado com enormes tecidos de cores vermelhas e azuis e que mostravam um símbolo de um trevo de cinco folhas, provavelmente era o símbolo da orquestra que viria ali tocar. O público estava totalmente distraído, ora a conversar entre si, ora a experimentar os comes e bebes nas mesas deixadas ao lado do palco para que os visitantes apreciassem bem a gesta enquanto era entretido com um pirotécnico que fazia uso às suas habilidades Katon para oferecer um bom espetáculo aos participantes.
Katsu não se deixava impressionar por nada disto, pelo contrário, este mantinha-se concentrado na sua missão em procura de Roman. Tinha bem na ponta da língua a descrição física do seu alvo, mas mesmo assim este não conseguia localizá-lo no meio de tanta multidão.
-Tenho de arranjar uma maneira de encontrá-lo rapidamente… - Pensava o rapaz não cessando as suas buscas – Podia usar o Gen no Kirigakure, mas isso podia-me dar muitos problemas com os aldeões. Podia gritar o nome dele e dizer que venho atrás da cabeça dele, assim o que começasse a fugir era ele de certeza e depois bastava-me persegui-lo… Mas tudo isso me daria problemas – O olhar do Imagawa escapa até ao brilhante palco onde os tocadores da orquestra começavam a apresentar-se e a tomar os devidos lugares trazendo consigo variadíssimos instrumentos desde violinos, a flautas a violões e trombetas – Claro, como não me lembrei antes.
O rapaz escapula-se da multidão e dirige-se a passos apressados para os bastidores atrás do palco onde o último membro da orquestra já havia entrado. Katsu decide segui-lo mas vai de encontro com um brutamontes que lhe impedia a passagem.
-Não é permitido autógrafos antes do espetáculo – Avisava o homem cruzando os braços e expressando uma cara de poucos amigos – Sugiro que te vás embora puto.
-Eu sou… Faço parte da orquestra! – O rapaz remexe nos bolsos o que causa um incómodo no guarda. Por fim retira uma flauta mas nem isso fazia o guarda ficar mais descansado – Vê? Sou flautista!
O homem levantava a sobrancelha e os seus dedos crispavam-se na pele do braço cruzado. O seu semblante não mudara nada e o olhar desconfiado ainda não lhe saíra da cara.
-Não tens o símbolo da orquestra e o formato das flautas não é esse. Já avisei, é melhor caíres fora puto! – Repetiu o guarda quase encostando a mão no ombro de Katsu para levá-lo para fora dos bastidores.
- Shikumi no Jutsu… - Pronunciou Katsu fitando o brutamontes o máximo que pôde.
O homem só teve tempo de dizer “Nani” antes de cair no Genjutsu imposto pelo pequenote à sua frente. Os seus músculos, por mais esforço vão que o homem fazia, não se mexiam e algumas veias já se começavam a salientar na testa.
-Desculpe mas tenho mesmo que entrar… - Desculpou-se o rapaz aproximando-se do homem - Heddo Batto! – Murmurou atingindo na testa do homem com uma potente cabeçada que o levou ao nocaute imediato.
Passava as mãos pela sua roupa e depois abria a câmara-de-gás. Apressava-se para correr para dentro do palco afastando a cortina e olhando para a orquestra que começara a tocar. Correra velozmente para perto dos tocadores de flauta que não interrompiam a sua música quando viram a aproximação de um desconhecido.
-Afasta-te um pouco! – Ordenou o rapaz afastando o corpo de um dos tocadores com o rabo e sentando-se à beira dele deixando pouco espaço do banco para ambos.
O Imagawa olhava para a pauta à sua frente. Graças ao treinamento com o seu clã, percebê-la não fora grande problema e rapidamente conseguira acompanhar a música da orquestra facilmente. Enquanto a música ainda estava lenta, Katsu conseguia memorizar os passos seguintes para poder dar-se ao luxo de esgueirar um pouco a cara e olhar para a multidão que fitava a orquestra com interesse. Não via nada, voltava a sua posição para poder decorar os passos seguintes e voltava a esgueirar-se para tentar visualizar o Roman.
-Encontrei-te sacana! – Pensou o rapaz recolhendo-se para a sua posição e memorizando que o alvo estava rodeado por alguns amigos que confraternizavam em torno da mesa dos comes e bebes.
Katsu então tentava sair da composição mas, de um momento para o outro, ela começava a acelerar. A música começava a chegar ao meio e o ritmo acelerava tal e a aparição de novas notas tornava-se constante. O Imagawa não se conseguia dar ao luxo de sair agora e já podia ouvir as pessoas à frente do palco a cantarolar e a festejarem com danças dessincronizadas mas divertidas.
A música acelerava e acelerava parecendo nunca mais chegar a um fim. Finalmente esta começava a abrandar e, sem prévio aviso, terminava. Todos os músicos retiravam os instrumentos das respetivas bocas, inclusive Katsu, e davam-se ao benefício de poderem respirar um pouco para recuperarem o fôlego. Todos se movimentaram para o limite do palco e, de uma nobre vénia, despediram-se do fantástico público que tiveram apesar de que ainda voltariam para tocar mais. Receberam uma grande salva de palmas enquanto saíam e Katsu saía com o resto da orquestra nunca tirando os olhos de cima de Roman que ainda conversava com os seus amigos.
-E agora caro ouvintes! – Anunciou o apresentador daquela festa por cima do palco com um holofote – Temos o prazer de apresentar, Jeong Joeng “O Máscara Flamejante”!
O público recebe o próximo entretenimento com uma salva de palmos observando o um rapaz alto a dirigir-se para o centro do palco, estava com uma máscara negra e todas as suas outras vestes eram negras. Apesar de ter acabado de ser enunciado este ainda não sabia bem o que fazer mostrando-se no nervosismo com os seus braços e a sua quietude em palco.
-E agora? – Pensou Katsu fitando o público que começava a demonstrar expressões insatisfeitas – Precipitei-me e agora não sei o que fazer…
-VÁ LÁ! – Berrou uma voz grossa e masculina no meio da multidão – FAZ ALGUMA COISA!
-Seja o que for! – Pensou o rapaz concentrando chakra em ambas as palmas da mão até conseguir formar duas esferas de fogo, depois este arremessava-as para o ar no centro do público – HINOTAMA! – As duas esferas colidem uma com a outra e explodem criando uma inofensiva e bela chuva de chamas que invade o local rapidamente e encanta o público à primeira.
Palmas começam a ser batidas de imediato por alguns enquanto outros ainda olhavam estupefatos para a beleza que o suposto “Jeong Jeong” acabara de criar. Este então olhava para Roman que também estava distraído com as chamas.
- Raigen Raikōchū! – Anunciou após realizar alguns selos e concentrar um pouco de chakra ao seu redor criando um instantâneo “flash” que cegava as pessoas temporariamente, tempo para que o Nukenin usasse um Sunshin para se movimentar para perto de Roman, atingir-lhe com um forte Erubo na barriga e trazer o seu corpo consigo.
O “flash” momentâneo passara finalmente e as pessoas começavam a abrir os olhos e a olharem em seu redor sem perceberem o que se passava. O Jeong Joeng já lá não estava e os amigos de Roman começavam a sentir falta do seu companheiro.
Katsu corria pela rua fora apressando-se para sair de fora da vila o quanto antes, mas é intersetado quando um pé lhe atinge a cara e obriga a afastar-se dando liberdade ao seu alvo de se levantar e debruçar-se numa posição mais ofensiva para encarar o seu inimigo com mais seriedade.
-Quem és tu palhaço? – Perguntou o alvo virando-se para o Nukenin com os punhos cerrados e uma expressão agressiva.
-O teu pesadelo! – Gritou Katsu correndo na direção dele e, com um bom salto, atirando-se na direção de Roman com uma tentativa de pontapé.
O alvo abaixava-se a tempo deixando o pé de Katsu passar a milímetros do seu cabelo e depois voltava a erguer-se para dar meia-volta e poder encarar o seu inimigo uma vez mais. O Imagawa aterrava facilmente e dava também meia-volta fitando o seu oponente num duelo que ele próprio considera rápido.
Roman é quem inicia o ataque. Cinco Shuriken são arremessadas na direção de Katsu, este que se atirava para um dos lados desviando-se delas facilmente, mas não se apercebera que Roman já estava à sua frente. Uma mão vai de encontro ao chão enquanto um dos pés se eleva verticalmente até achar o queixo do Imagawa projetando-o até ao ar. Em pleno ar Katsu estava imóvel sentindo o seu oponente a aparecer depois atrás das suas costas vindo do nada.
-Não vais dar nem para aquecer… - Murmurou-lhe ao ouvido antes de lhe atingir com um soco num dos flancos seguido por outro soco no outro flanco. Katsu começava finalmente a descer e Roman com ele descia continuando o seu combo com um pontapé na barriga seguido por um soco no peito e, por fim, com um pontapé no peito ao mesmo tempo que as costas do Imagawa colidiam com o solo rochoso da vila criando uma pequena cratera à volta da área do Taijutsu – Shishi Rendan!
O Nukenin-alvo dava um salto após o término de Taijutsu e dava pequenos saltos como se estivesse a aquecer observando o seu adversário a levantar-se da cratera e a encará-lo furiosamente. Roman não dava tempo para descansar pois já começava o ataque uma vez mais.
Um furioso salto surge do rapaz de catorze anos e, em pleno ar, este concentra chakra na sola dos seus sapatos para o seu próximo Taijutsu.
- Tsūtenkyaku! – Berrou atingindo com um pontapé na cratera criada anteriormente criando assim uma nova camada de rochas deformadas que se começava a amontoar.
Uma nuvem de pó levanta-se após o Taijutsu ir de encontro ao solo e só se dissipa quando, de um Sunshin, surge Katsu mesmo à beira Roman com um braço a apertar-lhe o pescoço com bastante força e na outra mão uma kunai a apertar-se contra o flanco esquerdo. Roman grunhia e as suas mãos vão de encontro ao braço de Katsu tentando afastá-lo do seu pescoço. O Imagawa reúne todas as suas forças impedindo assim que o seu adversário lhe afastasse o membro superior e abafando-o cada vez mais devido à falta de ar. Contudo o seu inimigo tinha uma força superior e, com dois socos na cara, conseguira afastar o Imagawa a tempo. Depressa Roman dava meia-volta para continuar a sua sequência de Taijutsu mas o mercenário já havia desaparecido com um Sunshin.
Aparecia no ar onde concentrava chakra por toda a pele e usava o Doton: Domu para fortalecer drasticamente a sua pele. Só depois é que descia em pique velozmente com o cotovelo em riste a mirar na nuca do seu oponente.
-ERUBO! – Exclamou a milésimas de segundo da nuca do seu adversário.
Roman era rápido e conseguia fazer um rolamento em frente esquivando-se do Taijutsu do seu inimigo e deixando o cotovelo do mesmo a ir de encontro ao chão criando assim uma nova cratera. Mais uma nuvem de fumo se levanta e um grito de guerra ecoa nos ouvidos de Roman. Cinco kunais cortam o ar e rapidamente o Nukenin-alvo riposta-as com cinco shuriken. Os projeteis rebatem-se em pleno ar, mas as kunais traziam um bónus. Os papéis que com elas vinham atados rapidamente explodem conseguindo afetar parcialmente o corpo do Nukenin de Suna que era projetado até embater violentamente contra uma árvore e descer até o seu rabo encontrar o solo.
Outro grito de guerra e Katsu sai a correr da cortina de fumo que se começava a dissipar, a sua pele já estava normal uma vez mais. Na sua mão direita uma kusanagii era invocada e, esta bela espada, rapidamente varria o ar sedenta de sangue. Roman apercebe-se do perigo e levanta-se em grande pressa, Katsu tenta um corte horizontal mas o seu alvo é mais rápido usando a árvore como impulso para os seus pés fazerem um salto ágil passando por cima da cabeça do Imagawa. Este não se deixava impressionar e dava uma meia-volta realizando agora um corte em diagonal que vai de encontro ao chão devido à nova esquiva de Roman. O Nukenin de Suna tenta estupidamente uma rasteira ao Imagawa, mas este limita-se a fazer um corte rápido e superficial numa das pernas de Roman obrigando-o a soltar um grunhido doloroso e levando as suas mãos à ferida na perna que ainda ardia. Aproveitando a posição do inimigo, Katsu atinge-o com um forte pontapé na face atirando o seu corpo um pouco para mais longe do seu. A respiração por detrás daquela máscara mostrava-se ofegante mas o corpo do mercenário estava atento e os músculos tensos apesar dos seus braços ainda quererem dançar um pouco.
-FICA LONGE! – Gritou Roman que se estrebuchava no chão com as mãos no nariz a sangrar cheio de dores na perna de igual forma – FICA LONGE DE MIM!
Aproveitando que Roman se mantinha quieto, Katsu voltava a abrir a sua câmara-de-gás e o orifício da sua flauta volta a ir de encontro com a boca. Uma melodia forçada mas harmoniosa começava a ser tocada e adentrava no sistema auditivo de Roman até atingir o cérebro. Aos poucos e poucos, o Nukenin-alvo começava a ceder à pressão do Genjutsu até que, depois de mais alguns minutos de resistência e dores, finalmente os seus olhos ficam vazios de sentimentos.
-Muito bem, agora vais fazer o que eu te digo. Vais-me acompanhar até à vila de Suna calmamente. Lá vou receber o meu pagamento por ti e depois venho-me embora… Aí fazes o que quiseres, estou a cagar-me. Entendido? – Questionou sabendo que não reeberia uma resposta por parte do hipnotizado.
O Imagawa ajudou Roman a levantar-se e ambos empreenderam logo a sua caminhada. Katsu ainda coçava nas suas feridas, que se encontravam principalmente no tronco, e rezava para que não ficassem mais graves do que aparentavam ser. Depresse se apressavam para Suna onde o mercenário receberia logo a sua merecida recompensa.