Kimura estava ansiosíssimo. Tentava imaginar inúmeras estratégias para se camuflar e para não ser pego. Outras vezes tentava se convencer que isso não passava de mais uma das brincadeiras de mal gosto de sua irmã. E por causa dessa sua ansiedade, a noite demorou uma eternidade para se abater. Com céu nublado, as pesadas nuvens negras escondiam parcialmente a lua vermelha que brilhava, deixando apenas fracos feixes de luz atravessar o manto negro da noite. "Vai chover." - Pensava o pálido garoto que fitava o céu, perdido em pensamentos. Mas então, Kimura caiu em si e entrou em seu quarto, começando a vestir-se como se fosse participar de alguma missão. Ele ainda trazia consigo algum machucado da última luta, entretanto, nada o impediria de investigar o que sua irmã dissera antes no vestiário.

O vento gélido balançou suas cortinas ao mesmo tempo em que ouviu o portão da frente ranger após algum ruído de passos. Um grande calafrio tomou seu corpo como se uma descarga elétrica passasse por sua coluna. Assustado, o jovem olhou para o relógio que apenas confirmou o que concluíra. Eram exatamente dez horas da noite, e seu pai havia saído pelos escuros becos próximos a sua rua. Kimura terminou de se arrumar as pressas. Jogando a capa de chuva negra por cima de seus ombros, ele saltou pela janela até o muro onde ainda pôde ver seu pai dobrando a esquina. Um ribombar longínquo anunciava que os trovões viriam atormentá-lo durante a perseguição. Com a respiração ofegante, Kimura deslizava entre as esquinas mantendo sempre uma boa distância de seu pai que caminhava calmamente sob a proteção de um guarda-chuva de bambu.

O genin sabia que não podia se aproximar mais, pois seu pai era um ninja experiente, então decidiu segui-lo aproveitando-se das pessoas que circulavam pelas ruas e corriam em todas as direções, para fugir da chuva que começava. Vestindo seu capuz, através da chuva torrencial, Kimura avançava sob o som dos trovões que agora se multiplicavam. Os flashs da energia fumegante que caíam do céu clareavam o caminho e refletiam a luz nas grandes poças de lama que rapidamente encharcaram a pequena rua onde seu pai entrara. Kimura parou na esquina e deslizou na parede até conseguir por sua cabeça para fora o suficiente para ver onde seu pai iria, quando seu coração quase saiu pela boca. Parado em frente a um pequeno bar numa viela deserta, Himura conversava com dois brutamontes que montavam guarda.

O local era humilde. Mal iluminado, o bar possuía portas corrediças de madeira enegrecida com o tempo, além de um velho e sinuoso letreiro de neon azul que indicava o nome do estabelecimento "Misayhara", onde os três entraram, fechando a porta corrediça. Verificando se a rua estava realmente deserta, Kimura saiu do esconderijo e se dirigiu até a porta, onde tentou olhar pelas frestas da madeira podre onde não pôde ver nada, apenas um grande corredor e o início de alguns degraus que desciam para algum lugar. "Droga!" - Pensou Kimura tentando achar alguma rota alternativa, até que notou uma velha chaminé de zinco que provavelmente serviria para escoar a fumaça dos petiscos servidos no bar. Sem perder tempo, Kimura subiu no telhado quase sem fazer ruído e transformou-se numa pequena serpente que subiu pela chaminé e desceu na escuridão até sair num fogareiro apagado no canto do primeiro piso, onde tomou sua forma original.

Seu coração batia ainda mais forte, sua respiração mais ofegante e mais uma vez o calafrio subiu pelas suas costas úmidas. Aproximando-se do início da escadaria, na penumbra, Kimura conseguia apenas ouvir sussurros e ecos no andar de baixo. Curioso, começou a descer vagarosamente os degraus, tomando cuidado para não rangerem, e quando chegou ao penúltimo degrau, inclinou-se para olhar através de uma antessala pouco iluminada que tinha um cheiro ácido forte. Lá dentro, a antessala era separada do salão principal com telas de papel-de-seda. Assim, terminando de colocar a cabeça do lado de fora, Kimura podia ver apenas as sombras que atravessavam as finas paredes. Entretanto, para sua surpresa, ouviu uma voz conhecida para ele. Uma voz que pensava ser a última a escutar naquele local...

- Seu garoto se tornou forte. Está sendo muito reconfortante treiná-lo. - Dizia Chino com tom de alegria.
- Ele está desconfiado. Sua agressividade tem aumentando bastante. - Himura retrucava friamente.
- Isso já era esperado. O andamento das experiências estão dentro do previsto. - Falava um desconhecido.
- A organização está muito feliz por seu comprometimento em nos dar seu filho. - Resmungava outro.
- Será uma perda aceitável para o que pretendemos fazer com vossa ajuda. - Respondia Himura.

Aquelas palavras praticamente lhe cortaram o coração. Seu próprio pai falava em "perda aceitável", seu mestre estava lá, e quem sabe todo o seu clã estava envolvido. Todos estariam conspirando contra ele. Todos o traíram? Novamente, vários pensamentos invadiram sua cabeça. Queria chorar, mas seu ódio era maior. Tentava se controlar para não invadir o local e matar a todos. "Quem saberia?" - Dizia sua consciência perturbada. Até que sentiu um leve toque em seu ombro. Kimura pulou num grande susto, mas foi agarrado pelo braço por uma força imensa e arremessado contra a tela de seda, chocando-se fortemente contra a parede de pedra nos limites da sala. E antes de perder os sentidos, lembrou do olhar de pavor de seu pai e de seu mestre ao perceberem que ele os estava observando. "Leve-o para o laboratório." - Gritou o homem desconhecido para o brutamonte que havia surpreendido o garoto na escadaria.


- Nããããooo... - Gritou ao acordar em sua cama, com grande ardor nos olhos.
- O que foi filho! - Falou sua mãe, deixando as roupas caírem no chão.
- Algo aconteceu... meu pai... meu mestre... - Sussurrou ofegante.
- Calma filho, foi só um pesadelo. Só um pesadelo. - Falou sua mãe num forte abraço, com um sorriso sínico no rosto longe dos olhos do garoto.

Viiiiiish, coitado do Kimura... literalmente criado "em ninho de cobras" lol. Só não entendi o porque dele voltar à forma normal dele depois de infiltrar-se, poderia continuar como cobra, não? Além do mais, sempre podias ter usado um kage bunshin, depois de destruído as informações iam para ele mesmo... Mas bem, a história está a ficar bastante interessante, Orochi, continua logo!

Eve escreveu:

Viiiiiish, coitado do Kimura... literalmente criado "em ninho de cobras" lol. Só não entendi o porque dele voltar à forma normal dele depois de infiltrar-se, poderia continuar como cobra, não? Além do mais, sempre podias ter usado um kage bunshin, depois de destruído as informações iam para ele mesmo... Mas bem, a história está a ficar bastante interessante, Orochi, continua logo!

Verdade. Confesso que nem pensei nisso. Acho que a ansiedade o fez cometer erros. Erros sérios.

Estou de acordo com o Orochi, naquele momento, em que estava mais preocupado em descobrir a verdade, se iria preocupar em andar feito cobrinha ou a usar Bunshin`s? Claro que não, toca a arriscar pah!

Arriscou e prontos, agora fizeram-lhe alguma coisa, acho que ele está sem o material dele... cortaram-no os malditos cientistas, tenho pena do Kimura =C

Continua sobrinho, ótima escrita ^^