- Mãe, conta aquela história outra vez? - Perguntava a jovem Saiako, ansiosa com seus pijamas de seda.
- Está bem, mas só esta vez. Seu irmão já está dormindo, então vamos logo. - Sussurrava Sirene.
"Era uma vez, num passado muito distante, quando ainda não existiam as vilas escondidas, nem os países que conhecemos hoje. O mundo shinobi era dividido por clãs em constante luta, na busca pela hegemonia dentre os outros. E foi no término de uma dessas batalhas que o fundador de nosso clã, Satsu Mitsurugi, obteve seu primeiro contato com as serpentes. Ferido no peito, como único sobrevivente de um pequeno clã, esmagado pelo senhor feudal da região que hoje é chamada por País da Chuva, Satsu já havia desistido de sua vida quando sentiu algo rastejar por cima de seu corpo quase sem vida, sussurrando uma proposta em seu ouvido. A serpente branca, com sua voz sedutora, prometeu salvar sua vida caso este a seguisse com reverência que lhe fora desmerecida em sua terra natal. Assim, sem ter alternativas, ele abraçou a promessa que fizera Hokkai, a serpente branca, e sobreviveu para reverenciar o caminho das víboras por toda a sua vida. Graças a isso, Hokkai transformou seu sangue em veneno, para que assim, todos os seus não sentissem medo de suas companheiras.
O tempo passou e Satsu foi iniciado nos mistérios que permeavam o mundo das serpentes. Hokkai o contou que seu trono lhe fora usurpado por sua esposa, e que agora procurava forças para destroná-la. E Satsu, como fiel criado, prometeu formar um grande Clã, cuja força seria tamanha que o Reino das Serpentes se curvaria diante da víbora branca pelo resto da eternidade. E viveram assim por muitos anos, até que um dia, quando Satsu saíra para buscar água no lago, conheceu uma linda ninja que passava pela região. Foi amor à primeira vista, e os dois continuaram a se encontrar secretamente no mesmo lugar até que seus lábios se encontraram. Desconhecendo o risco de envenenar a amada, Satsu a viu definhar a sua frente, inebriada com o veneno de seu companheiro. Desesperado, o homem a pôs em seus braços e buscou Hokkai para que ele fizesse algo para salvá-la. O antigo rei-serpente curvou-se sobre a ninja, proferiu sua proposta de juramento à garota, e delirante, aceitou sem pestanejar a grande honra. Logo, o antigo rei tinha dois seguidores, que logo constituíram família e assim o Clã Hebi nasceu.
Sob a vigília do antigo rei, Satsu e Mukio morreram de velhice, mas os Hebi continuaram a prosperar rapidamente, ganhando força e projeção no mundo ninja, até que todos os Hebi receberam o chamado de seu deus para a batalha que tanto aguardavam. Era hora de invadir o reino das serpentes para tomar o trono. Mas nem todos do clã estavam satisfeitos. A parte fraca do Clã acreditava que não tinham direito de se intrometer nos assuntos das serpentes, e assim se rebelaram contra o antigo rei, numa terrível guerra civil. Irmão contra irmão, eles lutavam pela hegemonia e logo o sangue esverdeado chamou a atenção da Caverna Ryuchi. Tanto que a própria Branca Usurpadora trouxe seus exércitos para defender os fracos rebelados e o sangue e destruição dizimaram a terra fértil, deixando apenas fome e tristeza.
E após anos de luta, a superioridade numérica dos fracos se fizeram valer. Tornando-se mais evidente quando, no último gideão de resistência, o grande rei e seus seguidores sofreram a derrota final. Como um deus-vivo, Hokkai não podia ser morto. Então a Usurpadora o selou num grande pergaminho, deixando-o sob os cuidados do que restara do Clã Hebi, agora chamados vergonhosamente de "protetores do deus-morto", e como agradecimento pelos "serviços", a usurpadora manteve os contratos de sangue, fazendo perdurar a tradição de humilhação dos homens que resolveram abraçar o caminho da antiga serpente. E assim que nosso clã foi formado mais uma vez. Traição e fraqueza. Mas isto logo mudará. Pois um dia traremos Hokkai de volta, para tomar seu lugar de direito. Seu trono e nossa devoção."
- Já para cama. Seu irmãozinho quer comer. - Disse Sirene, acariciando a barriga de oito meses.
- Boa noite mãe. Eu amo você e o papai. - Sussurrou Saiako, enquanto a mãe saía do quarto sem responder.