Apoio
~ O contra-ataque da gennin ~
Mirai atravessou algumas ruas numa correria desmedida, saltando depois para os telhados para se deslocar mais rapidamente. O edifício rosado não tardou a surgir.
Kazuma não se encontrava no rés-do-chão e os restantes andares estavam-lhe restritos. Não queria mesmo deixar Ayame sozinha com um desconhecido. Não achava possível que ele se aproveitasse dela, mas era melhor deixar alguém para a supervisionar caso algo acontecesse e ela própria não podia. Um rabo de cavalo ruivo chamou-lhe a atenção. Usava uma bata branca, por isso devia mesmo ser Hikaru. Aproximou-se dele e explicou-lhe a situação rapidamente. Não demorou para que ele compreendesse e partilhasse a sua preocupação.
- Também não posso ir, estou a fazer este turno. Mas espera aqui. Já arranjo maneira de ajudar – disse ele, ao subir as escadas. Cinco segundos depois, voltou a descer sem a bata, deixando Mirai confusa.
- Kage bunshin. Melhor que nada – explicou a figura de Hikaru, num tom divertido.
Ambos deixaram o hospital, dirigindo-se para o campo de treino onde estavam Ayame e Yuu. Assim que chegaram, Mirai foi obrigada a despedir-se do amigo para voltar ao trabalho. O kage bunshin de Hikaru subiu para uma árvore próxima, onde conseguia ter uma visão ampla do que fosse acontecer no solo, e, ao mesmo tempo, não ser detectado. Pelo menos, assim pretendia e tinha dúvidas que a gennin conseguisse fazê-lo se realmente se empenhasse. Olhou em volta à procura da dupla que ainda há pouco se encontrava ali. Momentos depois, passaram a correr.
- … já és jounin? – fez-se ouvir a voz melodiosa da rapariga num tom surpreendido.
- Surpreende-me mais que sejas gennin – respondeu o rapaz, modelando a voz para algo divertido. – Com a tua idade, já era chuunin há bastante tempo e a treinar para jounin. Deixei ficar-me para trás.
- Oh, apenas não considero que esteja bem para isso… E não puxes muito por mim; não aguento tanto quanto…
Não conseguiu ouvir mais. Ayame devia ter-se afastado novamente enquanto aquecia. Voltaram a passar por ali dois minutos depois. A jovem ainda estava bem fisicamente.
- … ehhh, tanto tempo? E o resto do treino?
- Se reduzirmos nisto, temos que puxar nos outros exercícios.
A indignação só podia ser de Ayame. Não a conseguia ver dali. Desceu para um ramo abaixo e viu, de facto, melhorias. Encostou-se ao tronco. Se era para demorar, mais valia estar confortável.
Passaram-se oito minutos. Quinze minutos. Vinte e quatro minutos. Ayame e Yuu tinham passado ali próximos cerca de 12 vezes a correr. Ele aparentava estar incólume, embora a kunoichi já estivesse com as faces algo rosadas. Hikaru voltou a encostar-se e alterou ligeiramente a sua posição. Era estranho ver um jounin e uma gennin a treinarem juntos quando tinham uma diferença tão grande. Quarenta minutos depois de ter chegado, viu-os parar para descansar e alongar.
Afastou-se mais do tronco para melhorar ainda mais a sua visão periférica. Não ia deixar Ayame sem supervisão com aquele desconhecido. Estaria um instinto paternal a nascer em si? Rapidamente afastou a ideia da cabeça ao lembrar-se de Kazuma. Ele era a razão para tal acontecer. Teria a sua sentença de morte assinada se soubesse que a rapariga poderia estar em perigo e não tivesse feito nada para o impedir. Retomou novamente a concentração na tarefa.
-… taijutsu? Ou preferes kenjutsu? – perguntava ela.
Yuu encarou-a, com um ar sério. Havia algo na expressão dele que revelava desagrado.
- Hum… Tu com a katana contra mim? Terei então que usar uma kunai.
- Isso não levará a um handicap?
“És tão inocente de vez em quando, Ayame. Subestimas as capacidades de um jounin. Conseguem fazer-te frente de forma justa mesmo com uma kunai ou até sem armas. Basta ele querer deixar-te inconsciente que não tens qualquer hipótese” pensava Hikaru. A sua estudante iria perder rapidamente se o rapaz não se controlasse e a evitasse. Não queria ter que intervir para impedir o pior. Mas iria esperar para ver o desenvolvimento da situação.
Yuu afastou-se um pouco e voltou-se novamente para a rapariga. Ambos colocaram-se em posição, sem as armas na mão. Ele deu-lhe sinal para avançar. Dar-lhe-ia a vantagem inicial. Não devia ser difícil de a derrotar, especialmente depois de ela estar já algo cansada da corrida, e também não ganharia nada em vencer uma simples gennin.
Após alguns golpes, Yuu riu secamente. Ela não era nada má para uma gennin. Estava à espera de algo bem mais fraco. Ainda teria um longo caminho pela frente para ser um desafio para si, mas tinha que admitir que o estava a meter empolgado. Estava na hora de subir a parada e obriga-la a sair da sua zona de conforto.
- Posso? – perguntou ele, cujos lábios formaram um sorriso rasgado.
A rapariga ficou confusa. Ele estava a pedir o quê? A sua reacção disparou o ataque de Yuu, que esperava precisamente aquilo. A velocidade dele não tinha sequer comparação com a de Ayame. Ela não conseguia acompanhá-lo, sofrendo murro atrás de murro. Ele estaria a libertar o seu potencial? Ela não teria qualquer hipótese naquela situação. Um último murro arrastou-a para trás, deixando um trilho formado pelos seus pés. Precisava de ajuda. Não iria conseguir lutar sozinha.
Hikaru, no topo da árvore, tinha ficado em alerta. O jounin de Kumogakure não estava a evitá-la, estava a ataca-la como se ela fosse apenas mais um dos seus oponentes. Não queria intervir, mas, caso ele não regressasse ao treino e a encarasse como a gennin que ela era, seria inevitável.
No final da batalha, Ayame apenas conseguira desequilibrá-lo. Estava cansada, sem folgo. Tivera que dar o máximo de si para se defender e não quisera continuar à defesa. Tentara contra-atacar e gastara quase todo o seu chakra nisso. Caiu de joelhos. Estava a suar imenso e estaria vulnerável ao que Yuu lhe quisesse fazer. Terminou os jutsus activos, as trepadeiras, o chicote de espinhos. Deixou unicamente Daichi, a sua kuchiyose, por perto, que se aproximou dela para a apoiar, e a homunculus, que ainda não sabia muito bem como desmanchar. A kunoichi colocou os braços à volta da raposa. Estava feliz, conseguira fazer Yuu desequilibrar-se e, para si, isso contara como uma vitória.
O ninja originário de Kumo levantou-se. Estava a sangrar do punho esquerdo e do tornozelo direito devido aos espinhos. Por causa disso, sentia picadas de dor e tinha alguma dificuldade em apoiar o pé direito. Aproximou-se dela.
- Estás bem? – inquiriu.
- Hum hum – murmurou ela, ainda naquele abraço carinhoso. Levantou-se e reparou nos ferimentos que deixara em Yuu. Não era capaz de o deixar assim. Olhou para a homunculus. Iria utilizar a réstia de chakra que ainda tinha com aquilo. – Desculpa. Se me dás licença…
Com alguns selos, feitos com alguma lentidão, invocou outro jutsu:
- Lif. Chiyuu no Tacchi. No Yuu, por favor.
- Ayame, não sejas louca… - começou Daichi, sendo interrompido pela kunoichi.
O sorriso dela mostrava a sua determinação. Como adorava ajudar as pessoas. Daichi resignou-se e envolveu-a ainda mais. Não havia nada que pudesse fazer para a parar.
A humanoide de folhas aproximou-se aos saltinhos. Formou uma bola de chakra verde entre as suas mãos e aproximou-se do shinobi, que estranhava o bicho e o que ele quisesse fazer-lhe. Os golpes no punho desapareceram em poucos segundos. Estava a tentar curar o tornozelo quando o chakra de Ayame se esgotou e ela sucumbiu ao cansaço. O homunculus desapareceu no ar, juntamente com Daichi, que apenas bufara com a atitude da rapariga. Antes que Yuu tocasse nela, foi parado por alguém.
- Não penses em aproveitar-te mais da bondade dela – repreendeu quem o parou. Encontrava-se entre Ayame e ele, impedindo o braço dele de tocar na rapariga.
O shinobi não conhecia o jovem de cabelos ruivos que o parara. Um outro igual a ele saltou do topo de uma árvore, juntando-se a eles.
- Obrigado – agradeceu Hikaru, fazendo o kage bunshin desaparecer. Graças à presença dele, conseguira ficar um pouco mais no trabalho até ter um intervalo. Uma esfera de chakra surgiu nas suas mãos e terminou o processo de cura que Ayame começara. – E isto é por ela.
- Mas quem és tu? Nem sequer és da família dela – questionou Yuu, indignado pela interferência de um estranho.
Hikaru bufou, contendo uma risada:
- Sou médico. E é tudo o que tens que saber.
Olhou para a jovem, adormecida na relva verde dos campos de treino. Afastou-lhe os cabelos da cara e pegou nela ao colo. Iria levá-la para casa dela para repousar. Ou talvez para sua. Provavelmente, Kazuma matava-o se o visse a chegar com a sua irmã inconsciente. E o hospital era outro local de risco de encontro. De qualquer das maneiras, o que importava era que ela estava longe daquele estranho e tinha que comunicar a Mirai o que descobrira.