- Citação :
- Perca a próxima luta e todos ganharão. - Disse o mafioso.
O jovem pensava nestas palavras enquanto se aquecia numa banheira de água quente. Já estava acostumado com as regalias de ser o favorito nas lutas clandestinas. Muitos já haviam caído diante de seus pulsos, mas agora a luta principal se aproximava e seu empresário terminava de lhe trazer um pequeno relatório do adversário. Segundo Joshu, o sujeito era franzino e baixinho. Careca, parecia um pequeno e malvado monge fugitivo. -
Lembre-se, leve a luta para o final e a entregue. - Sussurrou o magrelo em seu ouvido. Nesse momento o loiro fez uma careta e se lembrou do recado recebido pelo "chefão" do buraco. Para reaver os lucros da noite que perdera, teria que perder para o monge baixinho que a essa hora já deveria estar tremendo na base por enfrentar o grande Saru. Respondendo ao empresário com um acenar de cabeça, o loiro saiu da banheira e se enrolou na toalha para o delírio das garotas que se acotovelavam para observar o jovem pelas poucas frestas das janelas do vestiário.
Muita coisa mudou desde que começou a ganhar. O local não mais cheirava a urina e seus azulejos - antes amarelados - ganharam uma pintura branca com vários kanjis em dourado contando a história das lutas que o loiro tivera. Sentia-se um verdadeiro "superstar". Ele já não se lembrava de qualquer desavença que tivera no passado, muito menos se preocupava com o fato de ser um ninja procurado, mas mesmo assim, seu orgulho reclamava a cada segundo por causa da luta arranjada que teria. Deixando a toalha cair propositalmente, ele ouviu os gritos das mulheres noutro lado da fina parede para começar a se vestir. Aquilo lhe servia para manter o bom humor. -
Joshu, já terminou as apostas? - Perguntou num tom alto, fazendo sua voz ecoar pelos corredores. Respondendo com um sorriso chocho, o empresário confirmou o que lhe fora perguntado e retornou para a arena, cabisbaixo. Parecia que aquela trama também não era de seu agrado, mas o chefão da cidade bateu seu martelo. Ou isso, ou teria que fugir para qualquer lugar onde a influência de Nero não alcançasse. Estavam num beco sem saída.
"É agora! Saru contra Tai!" - Gritou o locutor, para o delírio da plateia lotada. O monge-anão atravessou o lado oposto com grande seriedade e entrou na jaula num salto meio desajeitado para começar a se alongar, ouvindo as vaias dos apostadores. -
O baixinho não vai aguentar nem o primeiro round! - Brincava o serviçal enquanto trazia Daisuke pelo corredor escuro. Mantendo as aparências, o loiro se apresentou fanfarrão como sempre e levantou as mãos num sinal de comemoração. A torcida feminina gritou mais alto que os outros espectadores que ovacionavam seu nome na espera que ele os fizesse ricos da noite para o dia. "Então é esse aí." - Concluiu assim que tomou posição na arena. Realmente o homem era baixinho e tinha um rosto malévolo. Aquilo tranquilizou o orgulho do garoto, afinal, parecia que teriam uma luta equilibrada até que no round final ele teria que fingir ser atingido e cair no solo. Só teria que podar seu orgulho, e para o loiro aquilo não seria nada fácil.
Olhando em volta, no meio dos holofotes e torcedores, o nukenin deu uma última olhada para o camarote, onde Nero e sua corja aguardavam ansiosos para receber o lucro de volta além dos juros. "Onde fui me meter." - Sussurrou para si mesmo, quando o juiz autorizou o início da luta. A tensão estava no ar. O suspense da arquibancada mantinha os mais sóbrios calados em respeito ao momento. Finalmente a luta começara e logo o anão levantou seus punhos para dar alguns passos à frente. Daisuke repetiu a manobra e também avançou. "Se Nero quer um espetáculo, ele terá!" - Concluiu enquanto girava o corpo num forte chute lateral. O “mini-monge” se agachou para esquivar-se (coisa que não era difícil) tentando agarrar a perna do loiro, mas quando viu que não conseguiria, ergueu-se numa acrobacia para chutar o queixo do adversário. O nukenin poderia ter se esquivado do golpe facilmente, mas, pensando em manter o espetáculo, ele cruzou os braços para bloquear o golpe. O estalo no antebraço foi forte e dolorido, e para o delírio dos presentes, a luta parecia bastante equilibrada durante os primeiros dois minutos.
Durante quase todo o round, os dois se estudavam bastante, girando na arena como feras aprisionadas quando mais uma vez decidiram convergir até o centro da jaula para trocar "carícias". Socos, chutes, esquivas e bloqueios se sucediam de maneira quase coreografada. Um verdadeiro espetáculo. Tudo como planejado. Porém, nos segundos finais do primeiro round, o monge parecia ter ganhado confiança suficiente para deixar sua guarda aberta em provocação. Antes sério, o anão maligno tripudiava dos golpes falsos do nukenin que começou a odiar tudo aquilo. "Não era o combinado." - Ele reclamava quando errava o adversário propositalmente, para ser mais uma vez humilhado, deixando-o ainda mais furioso. Olhando mais uma vez para o camarote, ele buscava alguma autorização do chefão para terminar com aquele circo, mas Nero estava irredutível. Parecia até mesmo que ele se divertia com a humilhação pública. "Mas que merda!" - Sussurrava para si, numa forma de tentar apaziguar sua fúria quando o anão avançou, tentando acertar-lhe os "ovos" num forte chute ascendente.
Instintivamente, o loiro inclinou o corpo e se esquivou do golpe que passou rente a seu rosto com uma lufada de vento. "Desgraçado!" - Esbravejava em seu interior ao mesmo tempo em que a multidão gritava ansiosa pelo desfecho do round. "Kataplam!" - Ecoou um estalo pela arena. De repente, todo o recinto ficou em silêncio ao testemunharem o anão caindo de joelhos com a boca ensanguentada. Tudo muito rápido. Tanto que deixou a todos embasbacados. Parecia que monge queria tanto chutar a virilha do loiro, que usou força demais e quando Daisuke se esquivou, seu joelho atingiu o próprio queixo, deixando o baixinho inconsciente na mesma hora. Esse erro tosco lhe cobrara a luta. -
Ele nocauteou a si mesmo?! - Perguntava Joshu, quase sem acreditar no que vira, temendo pela vida dos dois companheiros que estavam à mercê do julgamento do larápio. E quando o juiz se recuperou do choque que tivera ao ver a cena, ele se aproximou para ter certeza de que a luta acabara.
Daisuke tremia e procurava Nero no camarote escuro, mas seu pavor aumentou quando viu o recinto vazio. "Fora de combate! Saru é o vencedor!" - Concluiu o juiz ao perceber que o anão não poderia mais se levantar. Nesse momento a multidão foi ao delírio, já correndo na direção do "booker" em busca de sua pequena fortuna que o loiro lhes trouxera. Enquanto isso, Joshu já tentava atravessar a turba numa tentativa de fugir pela saída secundária. Daisuke achou a covardia de seu empresário uma boa ideia e nem sequer aguardou que o juiz levantasse seu braço para comemorar, disparando num rápido salto para alcançar seu empresário que já sumia pelo beco lateral. O desgraçado nem sequer esperou o loiro. -
Estamos fritos! Estamos fritos! - Repetia em sussurro, saltando por sobre as cabeças da multidão que se amontoava tentando agarrá-lo com alegria. Mas não havia tempo para comemorações e a confusão já estava formada. E quando seus pés finalmente tocaram o chão do beco, ele disparou na direção da rua principal pensando ter escapado do chefão.
Então, quando estava quase conseguindo fugir, o nuke notou a sombra de um punho saindo da escuridão, atingindo-o diretamente na têmpora. O golpe foi tão forte que o jogou contra a parede, grogue por causa da pancada. -
Não sei o que é pior... Um lutador incompetente, ou outro que tenta fugir de mim. - Disse o mafioso com sua voz poderosa. Sorrindo pela cena do moleque caído no chão, ele ajeitava seu grande anel na mão esquerda, após ter atingido o rapaz com uma força descomunal. Joshu também estava lá. Cercado pelos quatro seguranças, ele se debatia com o nariz ensanguentado. Com olhos esbugalhados, ele tentava balbuciar algumas coisas, mas não conseguia porque seu maxilar parecia que estava deslocado, balançando de maneira incontrolável. Sentindo dores e tontura, Daisuke se levantou com certa dificuldade e levantou os punhos indicando que lutaria para escapar daquela emboscada. Satisfeito com a vontade de lutar do jovem, Nero ainda suspirou para pensar no que fazer até que seus olhos brilharam como se uma grande ideia lhe tivesse surgido.
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Vocês vão me pagar por tudo. De uma forma ou de outra. – Disse o homem, convencido de seu novo plano para a dupla que lhe causara tanto prejuízo. Assim, com a maldade no rosto, ele olhou rapidamente para averiguar que Joshu não fugiria e desapareceu num piscar de olhos, reaparecendo na frente de Daisuke numa velocidade incrível. O rapaz ainda tentava se recuperar do primeiro golpe quando novamente viu o brilho do anel dourado refletindo a luz da lua em seu rosto. Foi a última coisa que vira antes de "apagar". Após a dor, tudo escureceu e o silêncio invadiu a mente do rapaz, onde lá no fundo começou a ouvir sons de choro e sussurros horripilantes. "Você matou seu professor!" "Covarde!" "A desgraça caiu sobre sua família!" - Diziam as vozes incômodas. O nukenin se lembrou de sua condição de fugitivo. E se Nero o devolver à Suna? E se o pior acontecer e ele acordar com seus ancestrais? Tudo era indefinido, pois agora estava nas mãos de criminosos furiosos pelo dinheiro perdido. A sorte do loiro seria testada novamente.
CONTINUA...