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Todos à bordo! - Gritou o timoneiro da grande embarcação de madeira naquele lindo dia de verão no litoral sul do País dos ventos. Sob o céu azul sem nuvens aparentes antes espantadas pela leve brisa na estratosfera, uma pequena multidão aguardava ansiosamente no ancoradouro de madeira à beira mar, quando uma passarela deslizou para fora do barco e repousou calmamente à frente das primeiras pessoas da fila. Sorridentes e animadas, elas começaram a entregar os bilhetes para um dos funcionários da nau que acabara de descer da prancha para conferir e autorizar a passagem dos grupos. Enquanto isso, aproveitando-se da aglomeração em espera, uma dezena de vendedores disputavam a atenção dos presentes, zanzando pelas várias comitivas para oferecer todo tipo de mercadoria, desde água até bronzeadores, com gritos tão agudos que doíam nos ouvidos dos desavisados.
E naquele momento a viagem para o País da Lua estava começando para Daisuke e seu protegido. Eles estavam à caminho de "Onde a festa duraria todo o dia e noite." Era o que a faixa pendurada na lateral da embarcação prometia. Aquilo deixava o loiro furioso. Não que ele não gostasse de festa. A questão é que não era ele quem aproveitaria o que esse país festeiro tinha a oferecer, com seus intermináveis cassinos e cabarés que funcionavam dia-e-noite. -
Oy, Saru-kun! Anime-se rapaz! Será uma semana incrível! - Gritava Lian ao estapear as costas de seu segurança com cara emburrada, e correr na companhia de suas três damas que o acompanhavam. Outro presente de seu pai. Lian agora estava numa jornada pessoal para comemorar seu aniversário de dezesseis anos e como todo adolescente a viajar pela primeira vez, estava tão nervoso que suas mãos tremiam enquanto balançava os pés repetidamente.
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Vamos, Saru! Apresse-se! - Brincava o playboy.
Sem demostrar qualquer alegria, Daisuke terminou de conferir o levantamento das bagagens do grupo e pegou o seu bilhete no bolso para embarcar. Sedento por uma bebida, ele se adiantou até o marinheiro e entregou o bilhete. Estranhando a aparência atarracada do jovem, o marinheiro o estudou e enfim carimbou sua passagem lhe informando que ele viajaria na classe econômica. Sua raiva aumentou ainda mais com essa notícia. Olhando para o último andar do navio, Daisuke viu Lian e suas companheiras gargalhando e tomando seus drinks à medida que entrava no andar mais abaixo para encontrar sua cabine. -
Mas que merda! - Reclamou enfurecido ao abrir a porta da cabine, onde teria que dividir o quarto com mais dois empregados de outra comitiva. Não era nada luxuoso. Era um cubículo com dois beliches e uma pequena mesa, onde existia uma bacia de latão para lavar o rosto.
Suspirando pela decepção, o loiro jogou sua mochila no beliche vago e tentou sorrir para os seus companheiros de cabine, mas só recebeu um tratamento esnobe como se fosse de classe ainda inferior aos mordomos. "Metidos." - Pensou quando seu cansaço tomou conta do corpo, tentando cochilar por alguns minutos, mas logo foi interrompido por uma das acompanhantes de seu protegido. A jovem gritava desesperada, dizendo que Lian estava enrascado. A coitada falava tão rápido que Hiroshi não conseguia entender o que acontecia. Seu coração bateu forte e logo a acompanhou para o andar de cima onde se ouvia sinais de confusão já nos degraus que davam acesso ao local. E lá estava a origem da confusão. Com os pés suspensos no ar, Lian pedia desculpas ao segurança de outra comitiva, enquanto um casal bem vestido fazia uma careta de reprovação.
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Deixe-o no chão. - Comandou, ao chegar numa incrível velocidade e apertar o punho do brutamontes.
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Calma, rapaz! Ele ofendeu a dama! - Respondeu o segurança, surpreso com a força que fez seu punho ranger.
Percebendo que o loiro não acataria sua justificativa, o segurança deixou o garoto no chão e puxou seu braço para libertar-se, arrumando seu uniforme de maneira brusca para retornar ao casal que ainda parecia horrorizado. Ofegante, Lian reclamou da demora de seu segurança e se justificou dizendo que só tinha feito um elogio à senhora. -
Não pretendia ofendê-la. - Concluiu com rosto inocente. "Não ofendeu, não é?" - Ironizava em pensamento, imaginando como teria sido o "elogio", o que o fez abrir um leve sorriso. Aquela viagem parecia que seria bastante atribulada com esse jovem inconsequente, apesar de ter uma aparência ingênua que realmente enganava aos olhos. Lian tinha quase sua altura e idade. Com cabelos pretos e olhos claros que variavam entre o verde e o castanho, ele ainda não tinha a malandragem que os habitantes do Buraco possuíam.
Contudo, por dentro, a psique de Lian havia mudado desde que o vira pela primeira vez na pensão da gorda. Antes o jovem parecia não ter ciência de que era filho de um dos maiores mafiosos da região, mas agora tinha descoberto seu poder de persuasão, apesar de ser ainda muito novo para os negócios. "Garoto mimado." - Era o que Daisuke pensava ao ver o comportamento de seu protegido. Mas pensando melhor, aquele comportamento se parecia bastante com dele na época de sua passagem por Sunagakure. -
Busca alguns drinks para nós. - Comandava o garoto, trazendo Hiroshi de seus pensamentos. O loiro obedeceu com uma careta de desgosto, e logo retornou com os quatro drinks para o jovem e suas três companheiras. Foi quando a embarcação levantou âncora e começou a se afastar do porto. Com o vento batendo em seu rosto, o loiro suspirava e olhava para o horizonte tentando ver seu destino coberto pela névoa da incerteza.
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País da Lua, aí vamos nós! - Berrava Lian ao subir no parapeito da prôa.
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Viva! Viva! Viva! - Acompanharam as parceiras de farra.
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Que beleza... Onde fui me meter. - Sussurrava Hiroshi, tentando esconder a raiva.
HÁ ALGUNS QUILÔMETROS DALI...
Um soldado com uniforme azulado e um sabre na cintura disparava em seu cavalo por uma estrada de pedras brancas que circundava um grande rochedo na costa do mar de cor turquesa. Lá do alto ele conseguia vislumbrar a beleza da ilha que tinha forma de lua crescente, mas ele não tinha tempo para isso. Precisava contar a grande novidade. Assim, seu chicote açoitou o cavalo até que terminou a subida numa curva acentuada e se deparou com uma pequena praça onde um chafariz jorrava água. No lado oposto, soldados vestidos da mesma forma que o homem correram para abrir o grande portão branco que continha um emblema de lua crescente feito em metal escurecido gravado na madeira. O portão rangeu e o cavalo adentrou na propriedade que se estendia através de um grande gramado cercado por bonitas palmeiras imperiais.
Cavalgando em velocidade, o homem disparou por uma estrada secundária onde passou como uma bala por mais uma dezena de homens que faziam a segurança da propriedade até chegar aos fundos de uma mansão de aparência colonial. Saltando do cavalo com desenvoltura, ele o deixou com o cocheiro que se aproximara para correr pelos degraus até a porta dos fundos, onde abriu a porta com um empurrão e subiu mais um lance de escadas até o primeiro andar. Agora diminuindo a velocidade e sua ansiedade, ele chegou justamente onde um velho se sentava à mesa abarrotada de boa comida. -
Porque a pressa, Takeji? - Perguntou o velho com um sorriso engordurado ao terminar de mastigar uma coxa de galinha. Esse senhor aparentava ter seus sessenta anos e com a barriga protuberante através do quimono de seda de cor bege com alguns escaravelhos costurados em dourado. Com vários anéis nos dedos, ele tinha cabelos longos e sua barba era ainda mais longa que vinha presa com um bonito broche de um escaravelho em jade.
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Chefe, o filho de Nero chegará brevemente. - Comentou o soldado, ofegante.
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Ótimo. Vamos terminar os preparativos para recepcioná-lo. - Respondeu o mafioso.
CONTINUA...