Filler 15
Leitura dos fillers anteriores não deverá ser necessária.
Enquanto olhava nervosamente em volta do estabelecimento, Yuu esforçava-se por recordar há exactamente quantos anos não via Hyun, o seu pai. 4 anos, se a memória não lhe falhava. Talvez 5? Pouco lhe importava, tendo em conta o quão nervosa estava naquele momento. O que era certo era que após todo este tempo aqui estava ela, frente a frente com o homem que tanto esforço fizera por evitar nos últimos anos. Entre eles havia apenas um silêncio desconfortável, e a raiva que Yuu sentia borbulhar dentro de si de cada vez que olhava para ele.
-Então… O que é que tens feito? - Pigarreou Hyun finalmente. A sua voz mal se fazia ouvir no meio da comoção em volta da mesa onde pai e filha se encontravam sentados.
-A sério? - Foi a única coisa que Yuu conseguiu dizer, após vários segundos em que parara de bebericar o seu chá e olhara incrédula para Hyun.
O homem não fez qualquer som em resposta, deixando-se ficar em silêncio por alguns momentos, pensativo. A jovem decidiu segui-lo nesse silêncio, tudo para evitar uma reacção desnecessária da sua parte. Afinal de contas, ele ainda não lhe tinha revelado as suas intenções ou o motivo de a ter chamado ali. Enquanto esperava que ele se decidisse a falar, Yuu observou-o com um olhar quase clínico. Ao contrário do que ela havia assumido, ele não tinha mudado muito. O rosto estava ligeiramente mais encovado e enrugado, o cabelo mais grisalho, e o verde dos olhos dele ligeiramente mais escuro.
-Tenho tomado conta da mãe. - Respondeu finalmente a jovem à pergunta do pai quando se tornou claro que ele não iria quebrar o silêncio. - Arranjei emprego num restaurante. E é isso que tenho feito.
-Tu. Num restaurante? - Yuu acenou afirmativamente com a cabeça, bebendo mais um gole de chá quente. Hyun parecia ter dificuldade em acreditar. - A fazer o quê? Não te imagino a lavar louça e a virar bifes.
-Mas é exactamente isso que tenho feito. - Yuu pousara o seu chá na mesa entretanto, e havia-se encostado às costas da cadeira. - Posso não ganhar muito, mas é dinheiro certo. E seguro. Esquecendo os à-partes, podes seguir directamente para o porquê de me quereres ver agora?
-Tu sabes que tens potêncial para mais do que isto… - Reclamou Hyun num tom quase repreendedor, ignorando por completo o pedido da filha.
-Tive. Outrora. - Cortou Yuu imediatamente com um tom de voz gélido, quase desprovido de emoção. Quase podia jurar ter visto o seu pai engolir em seco. - Mas não me posso dar ao luxo de andar por aí a brincar aos ninjas e piratas quando tenho alguém em casa para sustentar.
Hyun silenciou-se novamente, passando o dedo indicador pela madeira da mesa e libertando um suspiro cansado. Sabia que Yuu tinha razão. Toda esta situação agora, “apenas” porque no passado havia traído a sua mulher, multiplas vezes. Até ao dia em que ela decidiu abandoná-lo, afastando-o também da filha. E teria continuado. Mas os rumores espalham-se depressa, e numa questão de meses toda a vila ficou a saber de Hyun e das suas acções. Com o passar do tempo eram cada vez menos as mulheres dispostas a aquecer-lhe o colchão. Até ao dia em que deu por si completamente sozinho. Sem mulher, sem filha, e pior de tudo, quase sem a sua boa reputação. Mas nem morto Hyun admitiria qualquer culpa por tudo isto.
-Pelo menos com isto tudo conseguiste o que querias. - Acabou o homem por dizer enquanto pegava no seu copo,sem olhar directamente para a filha. Conseguira encher-se de convicção, e qualquer remorso que tivesse sentido anteriormente desapareceu por completo. - Afastares-te das tuas responsabilidades para com o clã. Bastou-te ir atrás da tua mãe, não foi? Esconderes-te por trás da desculpa de que tens de tomar conta dela. Consegues dizer-me que estou errado?
-Afinal o que é que tu queres? - Inquiriu Yuu, por fim. Era-lhe difícil ignorar todas as acusações feitas por Hyun e não lhe responder à letra. Mas não conseguiu evitar uma onda de culpa ao aperceber-se que o pai poderia não estar completamente errado quanto ao que dissera sobre os seus motivos.
-É simples. - O homem não conseguiu evitar um largo sorriso, enquanto fixava o olhar na filha. Já estava acostumado a este "jogo", era sempre assim antigamente. A filha tentaria sempre resistir e contrariá-lo, mas acabava sempre por ser convencia. Hyun sabia que daqui para a frente não seria difícil convencer Yuu.
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Yuu bateu a porta de entrada atrás de si, chamando pela mãe enquanto verificava as primeiras divisões da casa à procura dela. Ouviu a voz da mãe responder-lhe do quarto. "Ainda não se conseguiu levantar..."
Yuu apressou-se até ao quarto. Estava ofegante, provavelmente por ter corrido até casa. A mãe inquiriu-a, preocupada sobre o que se passava. Não via a filha assim há anos. Mas Yuu ignorou as questões da progenitora. A jovem sentou-se na borda da cama, e ainda tentava controlar a sua respiração quando finalmente se fez ouvir.
-Temos de falar.