Feriado de Inverno
—
Merda! — Kazumi saltou da cama sentindo-se atrasado. Seus olhos verdes como uma esmeralda ainda estavam semicerrados devido ao sono, o corpo preguiçoso relutou ao movimento brusco. O jovem Aburame não havia escutado o despertador tocar aquela manhã, algo que nunca ocorrera antes. Talvez o seu sono profundo fosse devido ao horário que fora dormir, havia ficado fascinado pelo novo livro que recebera de seu pai, um belo exemplar falando sobre insetos exóticos e utilidades para os mesmos. Ou pudesse ser o cansaço após a luta que tivera horas antes de afundar no livre, luta essa que fora contra sua prima e rival Shizuka, era um acontecimento rotineiro para testarem as habilidades um do outro. Mas provavelmente ele deveria apenas ter esquecido de programar o horário correto no relógio da cabeceira da cama. Não fazia diferença, um fato era concreto para ele: Estava atrasado.
“Os testes são hoje, não posso perde-los.”, Relembrou quando apanhou toda a roupa que já encontrasse dobrada em cima da sua escrivaninha, puxou a mochila de alta única e disparou para o banheiro. Estava frio, porém a água quente percorreu-lhe o corpo causando arrepios que o fizeram esquecer momentaneamente da Academia. Como um espasmo, rápido e súbito, o ruivo teve a memória dos testes. Arrumou-se e voltou correndo pelo corredor, onde saltou pelo parapeito da escada e aterrissou no chão do andar de baixo, logo no corredor onde dava acesso a cozinha e a sala de estar. Virou-se para o habitual lugar onde tomava café da manhã, na cozinha, e no caminho surrupiou uma maça da fruteira sobre a mesa e agarrou um saco de papel escrito seu nome que estava em cima do balcão. —
Tchau mãe! Te amo! — Gritou com sua voz amena e calma, enquanto perfazia perfazer o caminho até a saída dos fundos.
A mulher de longos cabelos ruivos olhou para o relógio posicionado na parede, achando esquisito a pressa de seu filho. —
Ele deve estar indo treinar. — Deu de ombros ao notar a hora apontada. Enquanto cozinhava ouviu um barulho vindo do andar de cima.
RING RING RING. Suspirou e agitou a cabeça de forma negativa. —
Eu já disse para ele que quando fosse sair nos fins de semana e feriados lembrasse de desligar este maldito despertador. — Bufou a mulher direcionando-se para a escada.
Enquanto isto Kazumi ganhou o quintal coberto de neve com agilidade, logo já havia saltado o muro e estava na rua indo em direção ao outro lado da cidade.
“Vai dar tempo, tenho certeza.”, Incentivou-se apertando o passo. Atravessou quase toda a área de seu bairro em muito menos tempo do que costumava fazer. De praxe estava na escola pontualmente, ia acompanhado de sua prima que não morava muito longe dali, sentava-se sempre no mesmo lugar junto a outros dois estudantes, um deles o seu melhor amigo e a outra uma garota pela qual ele nutria algum sentimento, mas nunca teria coragem de revela-lo. Era o aluno exemplar, o melhor da turma seguido de perto por Yutta Nara — o melhor amigo — e Mikoto Uchiha — a sua paixonite. O favorito para os professores e o esquisito para o resto da turma, afinal nunca aceitaram muito bem esta historia de ele amar insetos e sempre estar a usar óculos, mesmo em dias chuvosos ou de noite.
O frio tinha dentes cortantes, naquela manhã Kazumi sentia que seria abocanhado nos dedos dos pés.
“Malditas sandálias, porque não peguei a bota!?”, irritou-se ao perceber que na pressa havia pego as sandálias e o ar gélido junto da neve que caia constantemente lhe faziam sentir os dedos congelando. Para sua sorte a indumentária habitual era um casaco acinzentado de mangas longas e deveras quente, com uma camisa por baixo, uma calça da mesma cor e os grandes óculos escuros — presente dado por sua avó quando fizera dez anos.
Ofegante e suado após uma longa corrida o garoto finalmente chegara em seu destino, a Academia Ninja de Konohagakure. Pensou estar atrasado, mas quando pousou sobre o pátio de entrada notou que os portões ainda estavam fechados e a entrada vazia.
“Mas onde está todo mundo?” , inquiriu a si mesmo observando o local ao seu redor. Parou por um instante e olhou para trás e notou que as ruas estavam quase vazias e nem sequer as lojas estavam abertas.
“Ontem foi segunda, hoje é terça-feira. Deveria ter aula.” , Raciocinou tentando descobrir o que havia de errado. Enquanto pensava algo lhe atingiu a testa e abriu um corte por onde uma filete do liquido carmesim escorreu. Kazumi cambaleou para trás e caiu sentado na neve.
OUCH! Levou a mão até a testa para verificar o ferimento, não fora profundo.
—
Esquisito! — Gritou um garoto rechonchudo e alto, cabelos castanhos e roupas para o inverno. —
Olhem pessoal, o baratinha veio para a academia em dia de feriado. — Apontou o gordinho para que os seus companheiro e ele rissem em uníssono. As gargalhadas penetraram nos ouvidos do pequeno Aburame lançado no chão, geralmente não ligava para o que diziam, sua calma, foco e perspicácia estavam acima das brincadeiras e implicâncias daqueles valentões, entretanto algo naquela vez o fez sentir-se mal. As lagrimas acumularam-se por detrás dos óculos, engoliu em seco e tentou não deixar com que elas caíssem. Mais uma pedra partiu em sua direção, ele a recebeu com a defesa dos seus braços magros. Respirou fundo para manter-se calmo. —
Baratinha, porque não reage? — Provocou outro integrante da pequena gangue de delinquentes juvenis.
Ocorreu tudo não rápido. Kazumi saltou de pé e estendeu os braços e das mangas de seu casaco brotou uma nuvem de pequenos insetos negros que voou na direção de seus agressores. O grupo correu com medo das criaturas, mas antes que fosse muito longe uma shuriken presa a um fio enrolou-se na perna dos três e o derrubou.
“Quem?”, não havia sido o ruivo a realizar tal manobra. Buscou com os olhos quem fora e encontrou de pé sobre o muro a sua direita uma garota de longos e repicados cabelos negros, olhos escuros e grandes vestimentas para o frio que ostentavam uma imagem de um leque branco e vermelho nas costas.
“Mikoto.”, Percebeu assim que avistou a jovem.
—
Vocês. — Começou a menina com a voz firme. —
Parem de implicar com os outros, ou da próxima vez os mandarei para o hospital. — Ameaçou enquanto saltava para o chão. Olhou para os valentões com um olhar penetrante que os fez bater em retirada.
—
Obrigado. — A voz baixa e serena do rapaz mal poderia ser ouvida se a Uchiha não estivesse logo ao seu lado. —
Eu não gosto de causar embates com eles, a última vez que tentei acabei levando uma surra maior ainda.—
Você tem que parar de ser tão benevolente Kazumi. Você é o melhor da turma e fica deixando que eles te tratem assim. — Vociferou a morena de olhos fogosos. Bufou ao observar que a expressão do Aburame não mudara em nada. —
Como consegue ser tão calmo? —
Meditação. Treino. — De forma curta e direta, respondeu. Como sempre fazia. —
Além disto meu pai sempre fora assim e sempre me ensinou a manter o controle mental e corporal, apesar dos sérios problemas que tenho em controlar o que digo. — Confessou, retirando assim uma risada complacente da jovem. Os dois se conheciam a anos, podia se dizer que eram amigos apesar de conversarem pouco e dificilmente se encontrarem fora das dependências da Academia, mas aquela não era a primeira vez que eles estavam conversando sobre os idiotas da turma ou enfrentando eles após uma bateria de xingamentos. Eles estavam mais para colegas ocasionais do que amigos. —
Afinal, o que está fazendo aqui? —
Meus pais estão em missão, meu irmão viajou para o País da Terra e eu fiquei aqui, logo decidi andar um pouco. — Explicou deixando a feição brava de lado e estendendo o sorriso que o ruivo já conhecia e pelo qual se derretia. —
Pelo que pude ouvir você não percebeu que era feriado.Kazumi balançou a cabeça positivamente e deixou que um silêncio constrangedor se instaurasse. Não demorou muito para Mikoto despedir-se e continuar sua caminha matinal para distrair a mente, deixando o rapaz sozinho em meio a neve do pátio. Inconformado com o trabalho e problema que arranjara apenas por não ter olhado o calendário que tinha em sua parede do quarto ou sequer falado com sua mãe pela manhã e ser alertado sobre aquele fato. Traçou a rota de retorno, não tinha muito o que fazer a não ser ir para casa descansar mais um pouco e afundar-se em um belo livro enquanto degustava o saboroso chocolate quente preparado com maestria pela sua mãe.