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Volta de Aquecimento
Fui guiado pelo meu irmão para fora da vila. Pouco a pouco vi-a desaparecer entre os montes que constituíam o País do Trovão até que a perdi mesmo. Demorámos cerca de meia hora a pé até a um local repleto de vegetação. Misto entre mato grosso e árvores que deviam ser mais velhas que os nossos pais, notei vários sinais de que não era a primeira vez que o meu irmão visitava aquele lugar. Percorri com os dedos largas fendas nas crostas das árvores, até um leigo como eu sabia que não tinham sido provocadas por velhice, mas por esforço duro e precioso. Virei-me para o meu irmão para o ver a fazer um leve aquecimento. Certamente o puto estava melhor preparado que eu...
- Então... O que é para fazer mesmo?
- Mano, basicamente preciso de um parceiro de luta. - Disse-me com um sorriso de orelha a orelha. Ele aquecia os tornozelos quando me aconselhou... - Talvez fosse melhor aqueceres um pouco, não?
- Não te preocupes Aki. O teu irmão não é fraco o suficiente para ser apanhado de surpresa pelo irmão de doze anos. Não te lembras das lutas que tínhamos em miúdos?
- Mano, isso foi quando eu tinha oito anos. Já cresci.
- E eu também. Anda lá! - Piquei-o. Pus-me aos saltos que nem um pugilista, bicos de pés e punhos em frente à cara. Mal sabia eu o que me ia acontecer. - Quando estiveres pronto!
Sem eu saber o que acontecia, o meu irmão desaparecia da minha vista! Simplesmente não tive tempo de reacção e quando dei por ela, já estava estendido no chão com apenas um pontapé na "fronha"! Recompus-me imediatamente. Braços para a frente e um pouco de força, levantei-me a tempo de ver o meu irmão a gritar algo enquanto rodopiava à minha frente. Desviei-me do primeiro pontapé, mas o segundo, rasteiro, apanhou-me de surpresa e mandou-me ao chão que nem um patinho!
- Pausa! PAUSA! - Gritei com os braços à frente. Eu não me estava a ver, mas segundo me contaram encolhi-me tanto que parecia um bebé.
- Que se passa?
- Que se passa? - Resmunguei baixinho. - Ainda perguntas Aki? Estás a dar-me uma sova! Onde raio aprendeste isto tudo seu sacaninha?
- Eh... Academia Ninja? - Perguntou-me com cara de quem estava para fazer um facepalm.
- Ah pois... Esclarece-me. Como desapareceste da minha frente de um momento para o outro?
- Shunshin no Jutsu. - O rapaz também moreno, corria na família, voltava a desaparecer da minha direita para aparecer na minha esquerda. - E sim mano. Aquele pontapé rotativo seguido de rasteira chama-se Konoha Senpuu. - Continuou lendo-me os pensamentos.
- Wakata... Então volta lá, mas com calma!
Desta vez preparei-me a sério! Fiz o que melhor sabia fazer nas situações em que me via derrotado: fugir! Corri que nem um desalmado. Saltava raízes, saltava dos troncos e em certos casos empoleirava-me nos ramos das árvores maiores para tentar perdê-lo, mas nada resultou. Estava já cansado quando me vi de volta ao sitio onde começámos o treino e o meu irmão desmanchava um selo para depois me dizer algumas palavras.
- Kori Shinchū no Jutsu. Um genjutsu.
Enfureci-me. Podia admitir que ele me fizesse frente no que ele chamava de treino, mas não ia permitir que ele me gozasse em estrangeiro ou lá o que ele disse! Respirei fundo e logo corri para o rapaz! Murro após murro, tentei sempre apanhá-lo, mas ele desviava-se habilmente.
- Esquerda, direita, direita, esquerda. - Coordenava eu os meus ataques em mente. Estava já a só tentar atingí-lo, mas nada feito. -
Ambos! - Ataquei com ambos os braços de maneira a lhe agarrar a cabeça!
Vi o movimento a resultar, mas também o vi a falhar no final. O rapaz sacava de uma kunai de madeira com que me tentava apanhar. Também eu usei a minha agilidade para me afastar dela e com saltos para a esquerda e para a direita, desviei-me das que ele atirou. Só quando ele mudou de bolso é que vi a oportunidade e agarrei-lhe o braço esquerdo, o braço com que ele atirava. Desarmei-o com um tapa na mão e depois rodei o corpo para o atirar ao chão.
- Bunshin no Jutsu! - Disse ele enquanto fazia o que pareciam ser gestos com as mãos. Três novos Akis apareciam do nada à minha volta e ele metia-se na confusão de irmãos mais novos.
Não se mexendo, atirei-me eu a eles. Tentei um murro pela direita a um, mas este desviou-se e voltou a recuar com mais um salto. Saltei e falhei um pontapé giratório de propósito, levei depois a perna para baixo e varri o chão com ela. Com aquela cópia primitiva do Konoha Senpuu de Aki, tive direito a acertar em dois dos clones que pela primeira vez descobri serem ilusões! Esperei o mesmo do que via à minha frente e com uma pedra que atirei desmanchei-o em fumo...
- Aki! Não vale esconder, porra!
Estava sozinho no seu local de treinos. Olhei para o relógio, um quarto para as onze. Tinha ainda tempo de sobra até o almoço e ir trabalhar. Sem vontade de jogar as escondidas, apanhei pela via das dúvidas um par de kunais de madeira que ele atirou antes e guardei cada uma numa das meias. Sim, sou um rapaz cheio de recursos inventivos.
Olhei para o céu, esperando vê-lo nalguma árvore quando encontrei uma outra coisa estranha. O sol, estrela abafada pelo sempre tempo nublado nesta raio de terra, parecia-me maior. E maior. E maior! Estive quase a soltar um "E que raio?" antes de desatar a correr a fugir do céu que caía na minha cabeça, mas fui parado por uma bola de fogo que incendiava o mato à minha frente.
- Fogo? - Questionei-me. Voltei a olhar para cima e via agora dois sóis. Com um salto e uma cambalhota, desviei-me do Endan que vira e confundira com o sol e procurei pelo meu irmão no topo das árvores quando me recompus. - Ah seu...
Maluco como sou, não me admira o que fiz a seguir. Arregacei as mangas e trepei uma das maiores árvores. Podia não parecer, mas para um tipo como eu que aprecia tanto a sua cama, aquilo exigia uma força danada. Ao fim de dois minutos, tinha já subido dez metros de altura e sem encontrar o meu irmão. Fui dar com ele, de pernas para o ar, num ramo perpendicular ao tronco onde me aguentava. Fez-me sinal de "Olá" e despediu-se com um pontapé mesmo na minha cara!
Foi uma descida atribulada, confesso, mas a aterragem foi amortecida pela folhagem dos ramos daquele pinheiro bravo. Aki, apareceu em baixo num ápice e ajudou-me a descer...
- Mano, obrigado. - O rapaz fazia-me uma pequena vénia como agradecimento. Olhei para ele e depois para mim, ele imaculado e eu quase com a camisola em farrapos e um buraco enorme nas minhas calças.
- De nada amigão. Agora arranja-me aí uma bengala se faz favor...