O fim da tarde se aproximava enquanto Ran auxiliava sua família a montar o acampamento desta semana. Não podiam se dar o luxo de serem encontrados acampados num local por muito tempo, e por isso, esta vida de constante fuga começava a importuná-la. Sentia-se pronta para enfrentar o mundo, mas no fundo sentia medo por saber o que a esperava.
Assim que seu pai começou a fazer a fogueira, Ran pediu licença e adentrou-se na floresta à procura de um local em que suas habilidades não chamariam atenção de curiosos. E após caminhar por alguns minutos, deparou-se com uma linda margem de um pequeno lago. A relva já havia tomado conta desta paisagem que antes era uma estrada. As árvores eram antigas, com grossos galhos e muitas folhas secas aos seus pés. Uma velha ponte servia de passagem para outra margem onde, na metade do caminho, despontava numa pequena ilha no centro do lago.
Como o sol estava se pondo, Ran lembrou que não havia trazido consigo qualquer lamparina ou iluminação para poder treinar sob o manto noturno, mas não ligava, pois a escuridão é sua aliada, ou então não seria uma ninja. Então se livrou dos pensamentos temerários e começou a meditar, sentada sob os joelhos. Ela mapeou em sua mente a posição de todas as árvores mais próximas da margem e só então se levantou e dirigiu-se ao centro da pequena ilha, não pela velha ponte que estava em pedaços, mas sim caminhando sobre o lago de límpidas águas.
Chegando ao centro e com a posição das árvores mais próximas da margem, Ran iniciou seu treinamento, no exato momento em que o último raio de sol sumiu no horizonte. E com a ponta do dedo fez surgir um barulhento chicote trovão. Sua intenção era aumentar a distância e a precisão do chicote tentando alongá-lo até as margens do rio, acertando as árvores previamente escolhidas.
Isso provou ser mais difícil do que esperava. Girando e contorcendo o chicote, Ran iluminava a ilha num ruidoso espetáculo de luzes. Não queria que este tocasse o chão, nem as águas. Então, concentrando-se mais e mais, o chicote começava a adquirir mais e mais alcance, até que, o limite da outra margem fora atingido. Errando totalmente a árvore pretendida, ela acabou acertando o solo arenoso da margem, causando uma faísca branca e fazendo com que seu chicote sumisse. Deixando-a na escuridão novamente.
Seu braço já estava cansado, afinal, a força necessária para manter um chicote daquele tamanho sem tocar o chão era descomunal. Mas não desistiu. Pensava nas dificuldades que o mundo traria por ser uma nukenin e sabia que precisava se superar para poder defender-se. Então repetiu a ação, fazendo o selo e apontando o dedo indicado, mais uma vez a faísca formou-se e foi ganhando distância enquanto seu braço se contorcia com mais força, iluminando a paisagem escura, girando e girando.
Desta vez, mirou numa árvore de onde viera e como num golpe de sorte, o longo chicote enrosca no tronco e, num estouro, ela acerta a árvore deixando uma marca escura. E no lugar da marca, logo fagulhas de fogo começam a aparecer, então teve uma idéia: “Criar minha própria iluminação.” – Esclamou com empolgação.
Então, nas próximas horas, Ran desferia incessantes ataques às outras árvores ao redor até ter sua área totalmente iluminada pelas fagulhas nas árvores ao redor, e foi quando, exausta, ela sentou-se ofegante e começou a vislumbrar a bonita lua que saía de dentro das nuvens. Seu estômago roncou. O que a fez abrir sua bolsa à procura de algo para comer. Quando achou engraçada a situação, pois tudo que ela precisava a natureza proveria. Não precisava de algo pronto, ela prepararia com suas habilidades.
Assim que pensou sobre isso, Ran levantou-se num grande suspiro. Foi até o lago e planejou como iria pesca sem anzol ou isca. Então, desamarrou algumas fivelas da mochila, desfiou-as e começou a batê-las suavemente nas águas. Numa mão, a isca improvisada e na outra, a sua Kunia Dai. A princípio daria certo, pequenos peixes vinham aventurar-se. Mas talvez desconfiados com o recente barulho de seu treinamento, no menor dos movimentos, eles voltavam para as profundezas e de lá não retornavam.
Pensou mais uma vez e decidiu utilizar uma tática menos ortodoxa para conseguir o jantar. Amarrou os cordões desfiados novamente em sua mochila, retirou tudo o que tinha dentro e jogou-a na mesma distância entre ela e as árvores. Como previa, a mochila flutuou enquanto as fivelas, com os cordões desfiados, estavam logo abaixo da superfície, o suficiente para que um peixe os mordiscasse.
Aguardando poucos minutos, percebeu sua mochila sofrer singulares puxões. Os peixes estavam lá, agora era hora. Fazendo o selo e apontando seu dedo indicador, Ran agitou para o alto um longo chicote trovão e o arremessou de contra a mochila. O trovão não acertou o alvo, mas chocou-se com a água a alguns centímetros de distância. Um brilho fosco surgiu no local, seguido de uma pequena explosão de água, molhando os arredores, inclusive ela.
Então correu até o local e se surpreendeu com o que viu. Não sabia se fora sorte apenas ou resultado do treino, só sabia que havia pegado dez peixes de pequeno porte. Eles flutuavam já sem vida, e Ran não perdeu tempo, colocou-os em sua mochila, pegou seus apetrechos e voltou correndo para o acampamento. Seu sentimento era de dever cumprido, amanhã treinaria mais sua pontaria e sem dúvida ela levaria alguma lanterna consigo na próxima vez.