Citação :

─ Bons olhos te vejam, Miyuki.

Houve um silêncio constrangedor entre nós. Cada uma avaliava o quanto a outra tinha mudado em 3 anos. Pessoalmente achava que além do tamanho, Nami não tinha mudado muito. Interessante observar que as suas roupas não tinham acompanhado tal crescimento… Teriam encolhido?
─ Não sabia que agora inquirias pessoas. ─ Disse, mostrando a minha curiosidade falsa.
─ Eh, assim que me tornei jounin o meu trabalho dividiu-se entre o campo e o lado mais interessante destas mesas.
Ponderei naquelas palavras. O quanto ela teria evoluído enquanto kunoichi? Para integrar numa divisão destas e para se tornar jounin, tinha treinado. Se calhar não muito, pois Nami sempre foi uma rapariga que superava as expectativas sem aparente esforço.
─ Bem, estou certa, então, que poderás dizer aos teus amigos que eu já disse tudo o que tinha a dizer e que tudo é verdade.
Um brilho estranho nos olhos dela revelou-se. ─ Sabes, Miyuki, nós conhecemo-nos desde que vieste para Kumo, desde os 6 anos. ─ Engoli a seco pois eu sabia que ela seria a segunda pessoa neste mundo que me lia melhor do que um livro aberto. ─ Quanto à parte de estares a dizer a verdade, no que diz respeito ao que contas depois de seres libertada é indiscutível… até mesmo sobre não saberes por onde andavas parte do tempo. ─ Ela era mesmo boa nisto. ─ No entanto, penso que ambas sabemos que não disseste tudo o que tinhas a dizer.
Olhei-a nos olhos. Podia enganar todos, mas não a minha melhor amiga. ─ Qual é a obsessão pelo que eu fiz estes anos?
Nami pousou ambas as mãos sobre a mesa, pesarosamente. ─ Estamos em guerra com Suna e Konoha, todos os que vêm de fora sem identificação ou explicação viável da sua ausência são considerados espiões inimigos. ─ Fiquei calada por uns tempos. ─ A julgar pela tua cara, não fazias ideia desta informação.
─ Uma pessoa ausenta-se para umas férias e vocês fazem logo uma guerra?
Namine deixou escapar um sorriso, indicando o quanto ainda ligadas estávamos. Mas cedo recuperou a seriedade. ─ Não obstante, sabes que não podemos ignorar a situação. ─ Dizendo isto, Nami vira-se para trás fazendo um sinal com a cabeça.
Nesse momento, um jounin saído da sombra dela aproximou-se de mim. Colocou ambas as mãos sobre os dois lados da minha cabeça. Fiquei nervosa. Murmurou algo antes de eu sentir o seu chakra fluir sobre mim. Eu conhecia esta sensação… a de invadirem as minhas memórias. Era uma forma de investigação quando os suspeitos não diziam a verdade. E justamente quando ele estava prestes a entrar naquela zona mais escondida…

Uma vaga de dor passou-me pela espinha, porém eu não fui o seu alvo. Aquele jounin sentiu-a também. Senti-o contorcer-se, sem saber o que estava a passar.

Uma nova vaga atingiu os dois novamente. Com isto a dor aumentou e ele afastou-se.
─ O que é que aconteceu? ─ Perguntou Nami.
─ Não sei… ─ Disse ainda confuso. ─ Vi as suas memórias, as de antes e depois do incidente, mas há algo que me impede de ver aqueles 3 anos.
Concluí que ele não a tinha ouvido. De seguida um barulho fez-se ouvir da porta. O chunnin foi abrir a porta.
Interessante que me consideres tua, deixei escapar em pensamento, sabendo que ela ouviria.

Um homem possante, de cabelos castanhos e olhos de um terno verde entrou na sala. Por alguma razão, ele não me era estranho. Olhou para mim por breves segundos, mas toda a sua atenção virou-se logo para Itari. Quando olhei para o rapaz, só tive tempo de o ver assustado - em pânico até - e seguidamente desaparecer. Não sabia quem o homem era ao certo, mas devia ser assustador o suficiente para fazer desaparecer espíritos que eram imaginação da minha cabeça. Quando olhei novamente para ele, vi um sorriso desvanecer-lhe dos lábios. De seguida, aproximou-se de Nami. Disse-lhe algo ao ouvido, suficientemente baixo para que eu não ouvisse, mesmo estando perto.
─ Mas… ─ Pronunciou ela, indignada. Mal olhou para o homem, calou-se, em sinal de respeito. ─ Miyuki, estás livre.
A minha sobrancelha ergueu-se sozinha. Olé, de onde vinha isto de repente?
─ E… Importa-se de nos dar um bocado de privacidade? ─ Disse Hyun olhando para Nami, com um olhar calmo, mas assertivo. ─ Acho que tenho direito a apresentar-me formalmente, e não aprecio presenças a… desviar a atenção. ─ Olhou para mim de seguida, sorrindo ligeiramente.
Nami saiu, relutante. Assim que a porta se fechou, Hyun colocou a mão cerrada em frente da boca e tossiu uma vez.
─ Isso também se aplica a si, senhor Itari. ─ Disse, olhando para o rapaz de lado, com um ar sério e assustador.
Itari não conseguia responder. Estava perplexo, de olhos postos em Hyun, como se tivesse visto um fantasma. Ei, seria eu a única que estava a passar ao lado desta história toda?
─ E sim, eu sei que não está propriamente… nas suas melhores condições, mas agradecia que voltasse de onde veio. Tendo em conta que um certo pássaro encontra-se a fazer um exame, duvido que seja aqui o seu ponto de ligação.
─ Mas… ─ Itari tenta falar, porém nada mais que sílabas incoerentes saem da sua boca.
─ Vamos ser honestos, eu tenho sido bastante paciente consigo, tendo em conta a minha filha. Por favor, deixe-nos.
Com as palavras a ribombarem pela pequena sala, a imagem de Itari desapareceu, quase instantaneamente. Sim, eu estava completamente à deriva, e cada vez percebia menos do que se passava. Eles conheciam-se? Mas então, Itari não era da minha imaginação?!
─ Olá, Miyuki, eu chamo-me Hyun Tenjouno. Desculpe a confusão, mas devido às circunstâncias em que se encontra… digamos que isto foi o melhor que se pode arranjar?
─ Eu… ─ Não conseguia decidir-me pelo que perguntar em primeiro. Parecia tudo tão surreal, como se ainda estivesse naquela cama de hospital, somente a sonhar algo demasiado estranho. ─ O que raio se passa aqui?! Quem é aquele rapaz? O que é que lhe fez? O que é que disse à Nami para que ela me deixasse sair de repente? ─ Perguntei rudemente, e tão rapidamente que agora duvidava se o homem tinha percebido tudo.
Foi então que ele sorriu, como se nada fosse. ─ Não precisas de saber nada. O “rapaz” está bem, e não se preocupe, duvido que isto tenha sido a última vez que o vá ver. ─ Hyun abriu mais o seu sorriso. ─ Apenas lembre-se que me deve um favor, e um dia virei cobrá-lo. ─ E com isto, ele saiu rapidamente da sala.

Fiquei uns segundos sentada ainda naquela cadeira, a tentar absorver tudo o que se passara. Quando por fim reagi saí da sala a correr. Ia tentar ainda falar com Hyun, mas o homem já não se encontrava nas redondezas. Ia segui-lo para onde quer que ele tivesse ido, mas senti alguém abraçar-me as costas. Quando vi que era Nami, esqueci por completo o homem.
─ Ei, estás bem?
─ Sim, deixa-me só ficar assim mais um bocado. ─ A sua voz revelou as emoções que tinha guardado enquanto me interrogava.
─ Eh, eu também tive saudades tuas. ─ Disse num tom jocoso, ainda que fosse verdade.
─ Diz-me que não mudaste nada, por favor. ─ Ah, o desespero da sua voz. Impressionante como se tinha aguentado no interrogatório sem deixar cair aquela máscara.
─ Além de ter ficado maior do que tu, acho que não mudei muito.
Rapidamente ela recompôs-se, limpando uma lágrima no canto do olho e disparou ao mesmo tempo que se desfazia do cerco que me fizera: ─ Então suponho que o teu gosto por abraços se mantenha.
E então, eu soltei uma gargalhada - algo que não fazia há demasiado tempo.

Estava tão distraída a conversar com Nami, à medida que descia as escadas do edifício, que estranhei a voz que aclamou o meu nome. Quando desviei o olhar na direcção do som vi seis figuras. Uma delas mantinha-se igual, com as mesmas rugas, os mesmos traços de cabelos brancos trazidos pelo tempo, embora com um ar mais carregado. Foi também ele o primeiro a avançar na minha direcção. Desde sempre fui uma criança bastante independente, mas nunca nada na minha vida fez tão sentido quanto abraçar desalmadamente o meu pai depois de um longo período fora de casa. A garganta insistiu em contorcer-se e eu teimei para que lágrima nenhuma rolasse. Ainda nesta posição senti três pares de braços enrolados em mim, sufocando-me de emoções. Quem diria que os trigémeos tivessem crescido tanto. Estavam quase da minha altura e com 14 anos eram já quase uns homenzinhos feitos e no entanto, também eles estavam à beira do choro por puderem abraçar a sua irmã. Uns minutos depois aqueles quatro membros da minha família largaram-me. Olhei para Kuroma, colega de equipa. Ele sabia que nem ele nem eu éramos talhados para abraços calorosos que expressassem a profundidade dos nossos sentimentos. Um simples sorriso e uma troca de olhares comprometidos bastou para dizermos tudo o que não seria expresso por palavras. Quem não nos conhecesse – ou nos conhecesse demasiado – diria que era ele o meu irmão gémeo ao invés de Ryuuji. E foi então que olhei para a sexta figura que ali me recebia. O seu porte tinha-se tornado altivo. O seu cabelo ruivo estava pelos ombros quase e os seus olhos verdes estavam marejados. Eram como olhar para o espelho – e não de todo. Ryuuji, o meu irmão gémeo, abraçou-me então, com todas as suas forças, como se a nossa vida dependesse disso.
─ Bem-vinda…
E perante aquelas palavras todas as orações que rezei para que um dia viesse a reencontrar a minha família realizaram-se; e todos os sonhos que sonhei deste dia deixaram de ter significado perante as minhas emoções.
Eu estava em casa…