Aos arredores de Kumogakure as nuvens escondiam a vergonha do céu como habitualmente. Poucos raios de Sol eram livres de penetrar pelas densas e escuras nuvens, e, já neste pouco número, poucos conseguiam passar pela segunda camada de nuvens. Avizinhava-se mau tempo e já alguns animais sentiam isso. Esquilos começavam a recolher as suas últimas rações, pássaros e outras aves de pequeno porte recolhiam-se nos seus ninhos para perto das suas crias, alguns roedores como ratos, musaranhos e coelhos cheiravam o ar sentindo a atmosfera húmida a debater-se no solo e rapidamente refugiavam-se nas suas tocas. Lobos uivavam desde diversos pontos numa comunicação desorganizada e simultaneamente assustadora acompanhada pela constante ascensão de força no vento que empurrava ramos das árvores e arrastava consigo folhas e pétalas espalhando-as em qualquer local que passasse. As próprias pessoas notavam a tempestade e abrigavam-se dentro das respetivas casas cessando de imediato qualquer tipo de tarefa em desenvolvimento.
-É… Vai chover… - Suspirou um rapaz encapuçado que encostava-se a um tronco de um árvore e cruzava o céu com o seu olhar despreocupado e um semblante indiferente – É melhor terminar rápido.
Este segurava no seu capuz com uma mão para que não lhe escapasse com o vento. As brisas frias passavam-lhe pelo rosto de maneira impiedosa e o ágil frio conseguia escapar-lhe pelas duas orbes da máscara conseguindo passar por todos os cantos da cara. Katsu tremeu ligeiramente, mas não cessou no seu avanço determinado. A sua outra mão remexe nos bolsos até retirar um pequeno pergaminho enrodilhado. Uma pequena sacudidela até ficar legível a imagem de uma rapariga atraente e os kanjis por debaixo do retrato “Irah Miura”.
O Imagawa perdia-se em pensamentos analisando a rapariga. Mesmo sendo um alvo ela não deixava de ser bonita, tão bonita ao ponto de Katsu considerar em convidá-la para saírem um dia. Abanava a cabeça para tentar abstrair-se desses pensamentos, por muito atraente que fosse, era certo que depois do encontro destes ela fosse para uma cela qualquer bem isolada da sociedade, ou então outra punição qualquer, o mercenário não quer saber sobre isso, somente se importava com o dinheiro que receberia por ela.
O rapaz continuava nos seus saltos ágeis pelo bosque, por fim as pingas guarnecidas nas nuvens decidem vir ao mundo timidamente. Inicialmente caem aos poucos e Katsu mal sentia estas a coliderem com o seu rosto, só notava como elas começavam a acelerar na sua aparição que se deparava no meio de uma chuva torrencial e que uma constipação instantânea acompanhava tal chuva exagerada. Uma rápida observação ao seu redor levou-o a descobrir uma pequena quantidade de fumo a erguer-se por detrás das copas de um par de árvores não muito longe dele. Decidido a abrigar-se da molha, não pensa duas vezes ao dirigir-se até ao fumo rezando por guarida. As árvores esvoaçam à sua frente mediante a sua corrida permanece constante e uniforme ao mesmo tempo que as roupas continuam a ficar molhadas e pesadas. Finalmente a origem do fumo revela-se, uma casa de pequenas dimensões surgia no horizonte. Era rústica com tábuas de madeira a servirem de suporte passando por todo o local que exigia segurança. Como decoração, todas as paredes de mármore exteriores foram pintadas com um amarelo desgastante combinada com parcelas brancas que certamente haviam sido esquecidas.
-Alguém em casa? – Perguntou o Imagawa batendo com as costas da mão delicadamente na porta talhada a madeira de pinheiro à sua frente. O som dos ossos da mão a baterem contra a rigidez da madeira provocou eco dentro do pequeno abrigo e foi imediatamente respondido com passos ligeiros por dentro.
A porta abriu-se ligeiramente com um horroroso ranger. A separação entre o interior e o exterior depressa diminuía mediante uma luva negra mostrava-se a segurar a maçaneta. A irritada chuva não cessava, e uma rapariga de cabelos lisos castanhos e olhos verdes mostrava a cara com um olhar desconfiado. O mercenário tem um baque no coração quando a fita, a cara dela não lhe era estranha.
-E eu que não acredito em coincidências… - Pensava o rapaz sorrindo ligeiramente apesar de este ser coberto pela sua indiferente máscara – Primeira vez que um alvo vem ter comigo… mais ou menos…
-Quem és tu? – Perguntou a rapariga com um tom agressivo e nunca desviando o seu olhar desconfiado.
-Katsu Imagawa – Respondeu o Nukenin cheio de confiança e fitando o olhar que a rapariga lhe atribuía.
Um breve momento de silêncio onde o alvo olhava o Imagawa de alto-a-baixo. Estudava-o e Katsu deixava-se estudar sem qualquer receio. Uma hora, quem sabia duas, e ela já estava a dar-lhe dinheiro.
-Queres abrigar-te da chuva? – Perguntou a rapariga olhando para a chuva torrencial que parecia durar recebendo um murmúrio gutural positivo por parte do mercenário – Então entra – Permitiu entrando no casebre e mexendo os dedos a convidar o rapaz.
Este nem pensa duas vezes. Limpa os pés na pouca relva que servia de jardim na casa e só depois é que permitia-se a entrar e observar o seu novo abrigo. Uma casa muito simples, só avia três divisões que seriam provavelmente a cozinha, a casa de banho e o quarto. A cozinha era a primeira divisão com que se deparava ao entrar no casebre, provavelmente a maior de todas as divisões, esta continha um balcão extenso que ia de parede a parede contendo e cima múltiplos utensílios de culinária. No centro da cozinha situava-se a mesa dela com uma cadeira, visto só ela viver lá, talhadas a madeira mas com uma cor estranha dando um ar de que a madeira estava podre. No final da cozinha estavam outras duas portas, provavelmente que iriam dar às duas últimas divisões.
Irah agia como se não recebesse nenhum convidado em casa. Com um gesto brusco sentava-se na cadeira e fazia-a a inclinar-se para trás encostando ambos os calcanhares por cima da mesa. Posteriormente, esta pegava num bocado de pão, que havia arranjado sabe-se lá onde, e começava a mastiga-lo violentamente sem nunca retirar os olhos de cima de Katsu. Contudo o rapaz, se sentia-se incomodado por isso, não dava sinais de grande incómodo e permanecia de pé olhar para ela à espera de algo.
-Preciso de ir à casa de banho… - Pediu o rapaz com uma voz amistosa mas sempre gutural devido à câmara-de-gás na sua máscara.
A rapariga não proferia nada, só o seu indicador é que se levantava e apontara para a porta da esquerda. O rapaz sorria, esquecendo-se sempre que tal afeto nunca era visível, e dirigia-se para a porta a passo apressado, fechando quando já estava lá dentro.
Minutos depois a porta voltava a ser aberta acompanhada pelo som de uma sanita a descarregar e o Imagawa a sair soltando um ocasional suspiro. Estava distraído e por isso não repara nas cinco shuriken que voaram na sua direção com fio Shinobi preso, tais que atingiam a parede por detrás dele e, com o fio Shinobi ainda preso a elas, traziam o corpo do mercenário de arrasto até prendê-lo à parede.
-Então pensavas que eu não iria descobrir? – Perguntou a rapariga num tom sempre agressivo e aproximando-se de Katsu, este que permanecia calado ao ver um pergaminho enrodilhado na mão dela – Não sabia que estava a ser caçada, sinceramente…
Irah parava a um palmo de distância do Imagawa, apesar de este manter-se calado e quieto à espera do momento certo. O alvo gritara quando atingira a virilha do Imagawa com uma joelhada imponente e obrigara a contorcer a barriga de dor. Irah pegava na cabeça dele e encostava-a contra a parede violentamente fitando o olhar sofredor do seu caçador. Um murro varre o ar até colidir com a bochecha esquerda de Katsu e empurrando a cara para esse mesmo lado, um grunhido de dor sai do rapaz, mas mesmo assim este vira a cara para encarar o seu alvo.
-És dos corajosos, meu cabrão – Proferia desembainhando a katana ao lado da sua pele esquerda – Agora tenta desviar-te disto!
O rapaz esperou e esperou até ver a lâmina por fim totalmente desembainhada. O seu chakra percorreu-lhe os braços até ir de encontro às suas luvas Yin e Yang saindo pelos dedos em forma de garras enormes. Essas garras de chakra assustaram Irah que recuara com um salto, tais garras que rasgaram o fio Shinobi sem grandes problemas. A rapariga voltava a grunhir, com um salto impulsionava-se com a katana na direção de Katsu mas era intercetada pela colisão entre o chakra das garras.
O pé do Imagawa vai de encontro à barriga dela e esta recua uns passos, que era seguido por um Erubō, com toda a força do seu braço, em plena testa que a empurrava contra a parede da casa fazendo-a tremer por completo. Este aproximava-se a passo lento e notava-se uma sede de sangue por parte das garras. A rapariga irrita-se e volta a levantar-se erguendo a sua espada. Espada e garras voltam a colidir num feroz concurso de força onde cada lado usava toda a sua força para que o outro cedesse.
- Hoissuru no Jutsu! – Vociferou o alvo assobiando ferozmente criando um ensurdecedor aulido.
O Jutsu fora usado demasiado perto de Katsu e este logo sentia os seus ouvidos a vibrar com o som provocado e, a passos desajeitados, o mercenário recuava tentando agarrar-se a qualquer canto. A rapariga aproveitava a oportunidade e dava meia-volta, abria a porta e fugia do casebre em passo apressado. O Imagawa debruçava-se agarrando-se ao chão com os ouvidos a latir e incapacitado de fazer algo.
-Tenho uma ideia, se usar o Kankaku no shinfonī acho que volto a recuperar a audição! – Pensou o rapaz conseguindo retirar a flauta do seu bolso e começando a tocar uma melodia calma a partir dela. Uma corrente de chakra acompanha essa música, tal música que tinha o poder suficiente para ser-se ouvida e poder suficiente para incrementar a audição de Katsu a um nível incrível. O rapaz conseguia levantar-se após o efeito e o enervante latido anterior não passava agora de um zumbido insignificante – Agora tenho a audição recuperada, vamos atrás do dinheiro.
O mercenário passa pela porta ainda aberta indo de encontro à chuva torrencial e a Irah no fundo do plano. Esta fitava-o com um semblante irritado e o Imagawa fazia-lhe o mesmo apesar de a máscara dar-lhe um ar indiferente com a situação. Rapidamente este observava-a a fazer alguns selos.
- Daitoppa! – Berrou após o término dos selos criando uma explosão de vento perto de Katsu que simplesmente serviu para imobiliza-lo.
A explosão de vento era forte, muito forte e o mercenário sentia-se incapaz de fazer algo devido à força do vento que tendia a empurrar-lhe para trás. Quando o vento deixara por fim de soprar, o caçador dava-se ao luxo de olhar em frente observando a sua adversário a começar a cobrir-se por incontáveis corvos obscurecendo a visão do Imagawa.
-Katon: Goukakyuu Chakra no Jutsu! – Vociferou o rapaz desta vez depois de concentrar chakra nos pulmões e fazer os respetivo selos.
Uma gigante bola de fogo esvoaçou no amplo campo levando à frente gotas de chuva e relva até ir de encontro aos corvos e criando uma pequena mas ampla explosão que era certo que matara ou debilitara a adversária. Ao invés disso, cinco Irah`s saiam do fumo da explosão na direção de uma Imagawa surpreso ao ver a sua adversária ainda de pé.
Os cinco Bunshin faziam um cerco em torno do seu adversário, cada um a segurar numa katana, apontando a ponta metálica para múltiplos locais do corpo de Katsu, este que voltava a aglomerar chakra nas luvas Yin e Yang para criar as garras. O primeiro Bunshin avançou em passo acelerado recebendo uma rasteira nos pés seguido pela sensação fria das garras a trespassarem-lhe o pescoço até se desfazer em corvos que depressa cobriam a cara do Imagawa tapando-lhe a visão. Totalmente dependente do som enquanto as suas garras afastavam os corvos, este conseguia ouvir os passos dos outros quatro Bunshin a aproximarem-se dele de forma agressiva.
-Gen no Kirigakure! – Voltou a vociferar o mercenário reunindo chakra na cabeça e criando uma névoa de Genjutsu à sua volta que cobria por completo a área ao seu redor, incluindo os corvos e os Bunshins.
Por fim os corvos decidem ir embora e o Imagawa dá-se ao luxo de observar os quatro Bunshin parados e submissos ao Genjutsu. Num conjunto de Erubō`s e pontapés, os quatro Bunshin rapidamente desapareciam dando lugar a mais corvos que voavam em redor do caçador e cobrindo-lhe sempre a visão enquanto este tentava atingir os corvos com as suas garras embora sempre em vão. A névoa, por fim, desaparecia e com ela os corvos batiam as suas asas para longe deixando um Katsu irritado a olhar para uma Irah, não muito longe dele, com as roupas ligeiramente chamuscadas devido ao Jutsu Katon anterior.
-Shuriken Kage Bunshin no Jutsu! – Vociferou o alvo depois de arremessar uma shuriken e fazer um único selo.
A estrela depressa se multiplicava em dez, estas que avançavam incessantes na direção de um surpreso mercenário. O rapaz conseguia desviar-se da primeira com um salto para o lado, mas logo sentia o metal frio da segunda a rasgar-lhe o tecido das vestes e a rasgar-lhe também carne levando consigo um ligeiro fio de sangue. Este grunhe mas logo apercebe-se de mais oito na sua direção. Usa um Sunshin para esquivar-se do campo de visão de mais duas e, com o apoio das suas garras, serve-se da sua habilidade em Kenjutsu para defender-se de mais quatro visando mais duas na sua direção que eram bloqueadas por duas shuriken que haviam sido invocadas na palma direita de Katsu.
Finalmente este podia voltar a fitar a sua adversária, mas desta vez a rapariga estava a realizar um selo e a atirar um pó estranho para o ar. Depois fazia alguns outros selos gritando “Fuuton: Reppūshō” criando uma rajada de vento que passava pelo local e arrastava consigo a nuvem de pó estranho para perto do mercenário, este que a acabava por cheirá-la involuntariamente.
-Katon… - Preparava-se para gritar recebendo um baque no coração protestativo e atirando-se ao chão.
-BAKA! – Gritou Irah num tom hilariante observando o seu caçador estendido no chão sem conseguir mexer-se – Caíste certinho com o meu veneno. Tão baka…
O rapaz usava toda a sua força nos seus braços para tentar levantar-se recebendo ainda mais protestos nos braços deixando-se cair de peito no chão outra vez. A um ligeiro custo, este conseguia erguer a sua cara e observar a sua poderosa adversária ao longe.
-Este veneno não te deixa levantar. O teu cérebro é confundido e dado a entender que perdeu o senso de gravidade obrigando sempre o teu corpo a ir de encontro ao chão – Explicava a rapariga não conseguindo esconder um sorriso divertido – É um veneno esquisito mas pelo menos eficaz. Só tenho é que aumentar o tempo de duração, mas nada que não se resolva com mais injeções dele, ou matando-te agora…
-Então significa que… - O rapaz refletia desesperadamente observando a rapariga a caminhar-se na sua direção a passo lento voltando a mostrar a sua katana – Que ainda posso movimentar os braços, não custa nada tentar!
Usando toda a sua força nos braços, o mercenário consegue arrastá-los até estes se encontrarem após grande esforço. A distância entre ele e a rapariga reduzia-se a cada passo dado por ela o que só aumentava a tentativa de velocidade dos selos que este fazia.
- Raigen Raikōchū! – Berrou após conseguir terminar os selos criando um intenso flash de luz nas suas costas, tal flash de luz que irrompia o cenário e cegava temporariamente Irah. Mediante a rapariga tentava tapar os olhos de tanta intensidade, o Imagawa dava-se ao luxo de usar ainda mais força no braço para conseguir arrastá-lo – Genjutsu Shibari! – Vociferou Katsu mais uma vez prendendo Irah num Genjutsu.
Um momento onde ambos os Nukenin não se mexiam. Irah totalmente paralisado pelo Genjutsu e Katsu paralisado pelo veneno da rapariga, ambos se fitavam apesar de não conversarem devido a tanta hostilidade. Por fim o efeito do veneno passava e o Imagawa conseguia levantar-se e fitar a rapariga, esta que não falava nada.
-Desculpa-me, mas preciso muito deste dinheiro – Desculpava-se num tom mais calmo aproximando-se dela a passos lentos e passando-lhe a mão pela face.
A rapariga não retirava o seu olhar furioso da cara do Imagawa, mas depressa este olhar fechava-se quando sentia um poderoso soco na barriga levando-a ao desmaio. O mercenário agarrava no corpo dela colocando-o ao ombro e depressa seguia caminho até ao seu destino que lhe pagaria por ela.