Suas pegadas vermelhas seguiam seu destino, o rapaz de roupas negras caminhava naquela madrugada por entre os corredores daquela casa e descuidadamente não limpava seu rastro. O cômodo que chegara era retangular e particularmente charmoso, tudo ali era de madeira, desde o piso ao material das paredes sendo a única exceção a grande lareira que crepitava em uma fome voraz. Ao centro uma mesa de jantar com restos do que outrora fora um jantar feliz residia em um silencio quase que humano e em uma das paredes um sofá ensanguentado exibia suas manchas como quem desgostoso por um acidente demonstra sua desaprovação.
Azura parou frente a uma janela e iluminado pela minguante luz lunar observou o céu, sua máscara estava levemente respingada de sangue e suas mãos permaneciam quase que banhadas, mais ainda, suas botas totalmente sujas respingavam o liquido vermelho que tanto escorria.
Os cadáveres do trabalho efetuado por Azura imóveis permaneceram onde o ruivo os havia deixado, esta noite ele tinha matado três homens, duas mulheres e uma criança... Apesar de tamanha crueldade, não haviam sinais de dor ou angustia nos olhos serenos que observavam as estrelas daquela noite de céu limpo, não havia uma gota de culpa sequer. Em sua mente, apenas uma frase, um capricho, uma questão não resolvida.
“Quem sou eu?” Ele sussurrou por detrás da máscara.
...
O Velho homem subiu os degraus daquele palanque em miniatura e em um olhar intimidador fitou os anciões naquela sala, eram por volta de sete conselheiros do mizukage que assistiam ali o importante anuncio e a ousada proposta.
- Eu... – Ele pausou a fala de forma dramática dando a desculpa de estar respirando. – Imagino que não saibam o porque de estar aqui em vossa frente nesta reunião ás pressas... Sinto dizer que o senhor mizukage não virá, pois estava ocupado demais com sua agenda, é compreensível. Bom, vamos ao que interessa, eu naturalmente não gosto de discutir pormenores em situações como estas, mas acho que seria conveniente antes de tudo apresentar-me formalmente mesmo que todos já me conheçam. – Ele disse em seu comum tom forte de voz, enrugou o cenho como quem estivesse falando algo óbvio e suspirou esperando possíveis objeções.
O senhor Amagi observou os presentes na reunião com disfarçada inocência no olhar, quase como quem finge gostar de um presente. O velho homem era um sobrevivente judiado pelo tempo, sua face era barbada e um moustache comum cobria o espaço entre os lábios e o nariz. Um detalhe interessante sobre o velho Amagi foi que ele lutou em quase todas as guerras ninjas, sua idade era desconhecida, mas os idosos sabiam que ele estava lá muito antes dele. E ainda assim era um velho que aparentava imutável força.
Ele abriu a boca para demonstrar que ia falar e com seus olhos que outrora foram de um azul quase que brilhante sondaram a todas as faces ali presentes.
- Eu sou Miura Amagi, secretário e ministro da saúde pública de Kiri, e vim lhes apresentar nada menos que a chave para a sobrevivência de kiri, estou prestes a mostrar-lhes um exército imortal.
Ele terminou suas palavras com um soar sombrio, uma sílaba prolongada e um chiado de respiração. Automaticamente todos na sala entreolharam-se e prenderam o ar com as palavras pronunciadas, o choque abatia-lhes a face como quem percebe que finalmente alguém havia profanado o ultimo dos pilares da moralidade.
- Senhor Amagi! – Uma mulher tomou coragem o suficiente para encarar o imponente homem. – Explique-se imediatamente e eu espero muito respeitosamente que não tenha feito o que estou pensando! – Ela exaltou-se fazendo mexer seus cachos brancos que caiam por debaixo do lenço em seus cabelos.
Murmúrios encheram o local de hostilidade e ansiedade, afinal, aparentemente a morte estava sendo enganada outra vez.
- Acalme-se Inomi-chan. – O senhor Amagi sorriu com gentileza. – Acalme-se, pois temo dizer que fiz exatamente o que você teme. – Ele completou com um sorriso discreto.
- Ora seu...! – Um outro homem levantou-se, ele tinha os cabelos presos para trás e olhos pequenos e esguios como se fossem fendas. – Você sabe muito bem que é mais que proibido reviver mortos! Mais ainda, é quase um ato amaldiçoado! – Ele elevou a voz e apontou o dedo para o velho e calmo Amagi.
- Eu sei muito bem a gravidade de reviver mortos, porém nossos inimigos não... Vocês por acaso já ouviram falar de Aotsuki? – Ele disse com um certo sorriso no canto da sua boca.
Como se o ancião Amagi estivesse cuspido nitrogênio liquido na sala todos congelaram a face em uma espécie de depressão comunitária. A anciã Inomi sentou-se novamente como quem atingido por uma kunai e gaguejou ao repetir as palavras enquanto uma expressão de incredibilidade trespassava seus olhos azuis.
- Ao... Aotsuki? – Ela disse a si mesma.
- Impossível! – Uma outra anciã se pronunciou. – Eles foram exterminados há muito tempo atrás! Como!? Como podem nos ameaçar novamente tal como disseste?
Amagi estourou em uma gargalhada divertida quase que imediatamente a pergunta e sem respirar esperou até passar.
- Vocês são realmente patético, senhores. – Ele disse ousadamente. – Sentem-se, eu preciso contar-lhes a historia que descobri, preparem-se, pois estamos correndo grande perigo.
...
A porta da sala de conferencias abriu-se e novamente fechou-se, Amagi-san saiu de lá a passos largos com um sorriso na face. O homem tinha em mãos uma bengala e nos ombros um cachecol negro, seu moustache curvava-se em um misto de escárnio e satisfação, ele virou-se e dirigiu-se aos corredores do edifício, desceu as escadas com toda a calma do mundo e lá em baixo, na saída, viu um vulto negro atravessar a luz do poste sobre a porta.
- Muito pontual, minha marionete. – Amagi disse ao caminhar para onde o vulto havia aparecido mais cedo. Azura estava ali, com um joelho no chão e com a cabeça abaixada em submissão. – Vejo que completaste o trabalho que designei a ti tal como ordenei, está cheio de sangue! – O velho sorriu.
- Sim senhor, eu concluiu como me mandou. – Ele disse inexpressivamente.
- Ótimo! – O mestre animou-se. – tenho ótimas notícias a você... Hoje os anciões tiveram conhecimento sobre sua existência, não é incrível? Além de que os mercadores que me venderam o material da sua ressurreição foram mortos... O que acha disto?
- Eu... Eu não tenho o direito de achar nada, senhor. – Azura sussurrou sem pensar duas vezes.
- Hahaha! – Ele gargalhou. – Ótima resposta rapaz. Mas realmente era para você responder, pois bem, eu vou responder a você o que isto tudo significa...
- E o que seria, meu senhor?
- Simples, meu servo meio-morto, o poder está diante de mim... E os preparativos estão prontos... – Ele sorriu maliciosamente encarando o céu limpo e a lua minguante que iluminava sua face.
Filler sem ação, eu sei, mas espero que tenha sido satisfatório ^^