Frio e silêncio. Era tudo o que havia na primeira madrugada longe de Konoha. Um pesadelo acordava a jovem de cabelos azulados, que abafava um grito após descobrir que estava acordada. Não lembrava como fora, mas decerto tinha sido terrível, já que o alívio começava a dominá-la. Levantou-se, e ainda descalça, deu uma espiada pela janela, por onde via uma rua completamente deserta e uns brinquedos de um parquinho infantil mais ao longe movimentar-se com algum vento mais forte. É mesmo, já não era mais uma criança...
Sentiu uma nostalgia e mais vontade de chorar ao lembrar-se de sua infância. Um fio de água rolava pela parte esquerda de seu rosto, enquanto ela encostava-se à parede e lentamente escorregava para baixo, até sentar-se e abraçar seus joelhos. Será que era certo o que fazia? Parecia tão egoísta... Após uns longos minutos de choro e ainda sentada encostada à fria parede, finalmente a pequena Nara adormecia num sono profundo.
(...)
O sol já trespassava alguns raios pela janela, quando a kunoichi percebia onde adormecera. Seu "eu" shinobi tinha uma imensa vergonha por ter feito o que fez na noite anterior, mas sentia-se mais leve de certa forma. Desceu, pagou a hospedaria e fez algumas compras para abastecer-se durante seu trajeto até Ame... Sabia que provavelmente Konoha estava em seu encalço, e que seu primo Shikamaru muito provavelmente imagina que ela não irá diretamente até seu destino, por ser óbvio demais. Pois era exatamente o que fazia, e tinha pressa.
Correu por onde indicaram-lhe para chegar ao seu destino. Após algumas horas, notava que chegava, afinal pesadas e escuras nuvens começam a surgir no céu. Não demorou muito à chuva cair ruidosamente, ensopando e dificultando o trajeto da gennin. Mais ao longe, conseguia avistar a entrada da vila:
- Finalmente, os portões de Ame! – gritava, embora ninguém pudesse ouvi-la por conta da forte chuva que caía incessantemente. – Chegar eu consegui, agora vem a parte mais difícil... – pensava, enquanto diminuía o tanto quanto podia a freqüência de seu chakra, para parecer o mais civil possível.
Mas é claro que por sua pouca experiência com controlo de chakra, não demorou muito a alguém perceber que era uma gennin. Um jovem com cerca de dezessete anos pôs-lhe a mão no ombro:
- Perdão, o que queres aqui em nossa vila? – perguntava, encarando-a.
- Eu? Eu apenas... Queria saber se algo que eu sei é verdade... – dizia sinceramente, na falta de uma desculpa melhor.
- Como assim? – um rapaz de cerca de vinte e três anos perguntava, ainda com postura hostil.
- Eu gostaria de saber sobre o clã Chinmoku! – respondia, enquanto este mesmo rapaz olhava-a com olhos diferentes e interessados.
- Chinmoku, hã? Que interessante. Viestes sozinha? De onde?
- Não posso dizer de onde vim, mas para lá pretendo voltar, não precisa de preocupação.
- És bastante ingênua, mas um bocado sortuda. Shonan, por favor, cubra minha parte. Quero ter uma conversa com esta jovem... Acompanhe-me, se faz favor.
Tora não tinha alternativa. Era sua chance para entrar em Ame, embora ele aparentasse ser bem mais forte que ela. Engoliu em seco, e seguia-o sob a chuva, até pararem num pequeno edifício. Ele abria um pequeno apartamento, bem bagunçado por sinal, sorrindo e pedindo desculpas, convidando-a para sentar em seguida. Ela obedeceu, ainda calada, e ele sentou-se à sua frente:
- Bem, é realmente interessante que alguém venha procurar saber sobre o clã Chinmoku aqui em Ame. Tens algum motivo em especial? – perguntava ele, com gotas de chuva ainda a cair de seu cabelo.
- Ah, é que... eu apenas gostaria de verificar algo, para uma pessoa especial para mim – mentia.
- Verificar, hã? Bem, acho que posso ajudar-te um pouco... O clã não é lá muito bem-quisto por aqui sabe. Há uns anos, eles rebelaram-se. Não lembro bem o motivo, mas uma parte dos Chinmoku’s era acusada de alta traição à Ame, por servirem às outras vilas sem autorização. As desconfianças aumentavam cada vez que algo acontecia à vila, já que o clã dominava duas importantes divisões da ANBU, infiltração e assassinato. Surgiu um boato de que eles planeavam um golpe, mas até onde sei foi apenas uma invenção de outros clãs, que queriam expulsar os Chinmoku’s de Ame, mas não haviam outros meios. O governo da época expediu um mandado de execução, e o clã descobriu. Não foi muito difícil organizarem armas e munição, muitos eram ANBU como já citei. O líder sabia que não poderiam resistir por muito tempo, e ordenaram às famílias com crianças que fugissem, enquanto os outros continuariam a rebelião, que foi sufocada em alguns dias.
- Que horror! – a kunoichi não conseguia esconder seu horror ao imaginar uma guerra civil.
- É, tempos de paz como atualmente estamos é realmente um sonho! – comentava o rapaz.
- Uhm... Bem, sabes algo de alguém chamado Aoshi?
- Chinmoku Aoshi? Hai, ele era meu tio.
- Ti... tio?!
- Por que o espanto? Ele tinha um irmão gêmeo, chamado Aoki, que era meu pai.
- Mas ele então tinha dois filhos? – perguntava ela, completamente confusa.
- Então... Sabes do meu irmãozinho... – perguntava em tom nostálgico. – Ele foi morto antes de conseguir fugir – uma lágrima escorria por seu rosto.
- Chinmoku Shinji... Esse era o nome do seu irmão?
- Ha... hai. Como sabes disto? Quem és tu?! – ele começava a ficar nervoso.
- Tsc, agora que não entendo nada mesmo...
- Do que falas?
- Nada. Mas se és um Chinmoku, não deverias ser odiado cá em Ame?
- Hai. Mas eu fugi e voltei para cá com outra identidade. Acabaram por descobrir, mas resolveram terem-me como aliado. Colocaram uma marca em mim, e eu não posso trair Ame, a menos que eu queira morrer – dizia sorrindo, como se não fosse tão negro tal destino.
Tora estava completamente confusa... A troco de quê Tsuki e Shinji não comentaram sobre um segundo primo? Nada conseguia compreender, e ela tinha mais certeza de que era certo o que fazia. O rapaz falou um pouco mais alto, parecia que a tirava de um transe. Perguntou onde havia uma hospedaria para instalar-se, e ele prontamente ofereceu seu pequeno apartamento. Achou rude recusar, afinal graças a ele conseguia estar em Ame, mas será que seria certo aceitar? O rapaz parecia adivinhar seus pensamentos:
- Relaxa, nee-chan, não sou nenhum tarado! – dizia, soltando uma gargalhada de seguida. – Mas bem, se não quiseres, tudo bem, há uma pousada ali na esquina. A propósito, não nos apresentamos... Chamo-me Kyoichi, e tu?
- To... Tomo!
- Bem, Tomo-chan, e quem é a pessoa especial para quem estás a fazer esta missão?
- Erhm... Esta pessoa foi seqüestrada, e disseram-lhe que ela era uma criança perdida deste clã, de nome Amaya. Contaram algumas coisas, mas a pessoa acha que eles não falaram-lhe tudo...
- Amaya? Tsc, que coincidência. Amaya, criança perdida... Só pode ser a minha prima, soube que ela foi seqüestrada no ataque que vitimou meu pai, minha tia e meu irmão.
- Responda-me algo... Vistes o corpo do teu irmão?
- Não, meu tio disse-me que ele havia ficado completamente deformado, bem como meu pai e minha tia. E bem, ainda era uma criança...
- Tsc, e por que não seguistes com teu tio?
- Ele disse-me que seria melhor eu ficar, mas acho que eu era um pequeno estorvo para ele. Afinal, mesmo as técnicas ninjas mais básicas tive imensas dificuldades em aprender. Ele havia sido a única pessoa a quem eu tinha, disse-me que voltaria para buscar-me, mas...
- Mas?
- Desculpe, assunto confidencial.
- Por favor, é de extrema importância!
- Desculpe. Se a pessoa que talvez seja minha prima estivesse aqui, tudo bem, mas se não, nada posso fazer. É perigoso. – ele finalizava, levantando-se.
- Bem, que escolha eu tenho... Eu sou essa pessoa.
- Achas mesmo que vou acreditar?
- Não, mas se és esperto, vais deduzir que eu não chamo-me realmente Tomo e que eu não ia dizer à qualquer pessoa que eu pertenço ao clã que procuro informações. Principalmente depois de saber o quão odiado o meu sangue é...
- Tsc, tens razão. Mas vamos supor que seja verdade, que sejas Amaya. Então fostes seqüestrada... pelo meu tio?!
- Não. Por Tsuki e Shinji.
- Shinji?! Impossível, ele está morto...
- Não, não está. Eu inclusive...
- Inclusive?
-Nã, nã, nã, nã, não interessa! – gaguejava ela, adquirindo uma cor avermelhada em sua face. – Eles disseram que este tal de Aoshi ainda virá em meu encalço, mas... Por quê?
- Tem coisas que nem mesmo eu sei, Tomo-chan, ou seja lá qual seja seu nome. Mas há alguém que pode sanar tanto as suas como as minhas dúvidas. Vamos até lá?
- Spoiler:
Pequeno sim, não estou com tanta criatividade para escrever >.< Bem, esta mini saga não irá prolongar-se muito, uns três ou quatro fillers, e logo Tora volta para Konoha, portanto não precisam mudar meu grupo (a saga em si se passa em cerca de uma ou duas semanas, embora eu ache que vá demorar mais que isso na vida real pra escrever
)