Desde os tempos antigos que os maus presságios eram previstos de acordo com eventos inexplicáveis. Se chovesse constantemente numa terra desértica onde, habitualmente, era apenas banhada pelo Sol, significava certeiramente que algo não estava certo. Na vila de Yukigakure, tais coisas não aconteciam. Algo terrível acabara de se debater na pequena aldeia, mas nenhum evento inexplicável acontecera… provavelmente esta teoria não é totalmente correta. A neve que escapava das nuvens negras continuava branca e macia. As ocasionais brisas também não mudavam, fracas mas intensamente frias. O Sol continuava a deixar a sua timidez prevalecer, escondendo-se sempre atrás das nuvens, deixava o mínimo calor rasgar entre elas. Todas as pessoas em Yuki também se encontravam normais, ocupadas a fazer o que tinham de fazer.
Provavelmente essa mesma teoria nem esteja totalmente errada. Naturalmente, não houve eventos estranhos e inexplicáveis, mas estes tais “eventos” não precisam de obrigatoriamente ocorrerem na natureza. A equipa de Gennin`s, mais o Chunnin, saiam agora dos portões da Vila da Neve, focando-se numa rápida realização da missão, mas, momentos após a ausência deles, uma grotesca mancha de chakra assola a pequena vila. Todos os Shinobi`s detetavam esta bomba de poder instantânea e os ninjas, encarregues de guardarem a entrada da sua vila, eram os primeiros a presenciarem a forma humana de algo tão desumano.
-Mas quem é aquele tipo? – Perguntava-se um deles para o seu companheiro ao lado sem desfazer a sua posição de protetor da vila atrás de si, mantendo-se ereto e com um olhar sério a encarar o vulto que caminhava contra eles.
-Não sei, mas… sentes isto? Sentes o que vêm dele, é assombroso! É melhor avisar o Kage o mais rapidamente possível, fica aqui de olho nele, Yuko! – Pedia o segundo guarda que, numa mescla de preocupação e puro medo pelo poder que se aproximava, virava as costas ao estrangeiro e ao seu companheiro, entrando na vila rumo ao seu superior.
Yuko então ficou sozinho, observando o estrangeiro a avançar em sua direção. Incessante, imponente… imparável. O guarda tentava abrir a boca, mas um calafrio de prévio aviso percorre-lhe a espinha. Toda aquela neve era capaz de cobrir o vulto, mas não quando este subitamente encontrava-se a centímetros de Yuko, fitando-o do nada.
-C-como? – Questionava-se o Jounin, assustado pelo movimento desumano por parte deste convidado que não retirava os olhos de cima dele – Quem és tu?
O homem afastava-se e, graças a uma certa claridade proporcionada pelo fraco Sol, Yuko pôde presenciar o aspeto dele. Notava-se principalmente que ele não era da região, as suas roupas constituíam num manto branco, cobrindo-lhe o corpo até aos joelhos, com tons amarelos nas extremidades inferiores e das mangas, contendo alguns botões amarelos, que serviam para manter a roupa presa ao corpo, e dois bolsos pequenos que se provavam unicamente úteis para guardar pequenos objetos. Tal manto que cobria umas simples calças justas pretas que se ligavam a umas botas, também elas brancas e amarelas nas extremidades, grossas e, à primeira vista, quentes e bastantes confortáveis. Mas, o mais preocupante, seria a cara do homem. Este possuía cabelos roxos e os seus olhos, curtos, transmitiam um tom azul irritante, misturado com um sorriso tão branco quanto a neve, mas muito mais agressivo e assustador.

O portão da vila abria-se e o homem entrava em Yukigakure sem grandes pressas, deixando para trás um rasto de pegadas na suave neve e o corpo do guarda congelado e desfeito em pedaços que lentamente era engolido pela neve. O homem fechou os olhos a pensar em mais um inocente que sucumbira ao seu poder, pedindo-lhe mentalmente um cordial pedido de desculpas.
À medida que caminhava em direção ao edifício do Kage, e que estranhamente não era abordado por ninguém, revia milhares de vezes o seu objetivo, numa frustrada tentativa de não se distrair com mais nada, numa igual tentativa de não deixar a sua personalidade amigável corroer-lhe como ele tanto evitava.
-Ryo! – Chamava uma voz masculina e grossa que procurava esconder-se no meio de dois edifícios, utilizando a sombra provocada pela conexão dos telhados de ambas como camuflagem para não ser visto por ninguém – Anda aqui!
O homem de cabelos roxos, de nome Ryo, olhou para a sua esquerda, vendo o vulto escondido estreitamente naquele pequeno beco, soltando de seguida um sorriso. Num passo lento, e ainda despreocupado, chegou perto do beco e olhou para o seu interior conseguindo reconhecer o vulto que o chamara.
-Gigante da Neve, que nostálgico encontrarmo-nos aqui, não achas? – Perguntava-se Ryo observando o quanto o adulto à sua frente olhava para os lados, deixando claro que não queria ser descoberto por ninguém, certamente por estar a falar com o invasor de Yukigakure – Então, conseguiste atrasar os Jounin não é?
-Sim, dei o meu melhor mas não consegui evitar que um pequeno esquadrão deles viesse aqui investigar o local! Mas pelo menos os civis foram rapidamente evacuados para um local seguro, mas mesmo assim alguns ainda ficaram nas respetivas casas, não ataques os inocentes! – Pedia o vulto soltando um pequeno gemido de susto ao olhar para a sua direita e apercebendo do referido esquadrão de Jounin`s a aproximar-se a altas velocidades – Eles chegaram, mata-os, mas só a eles, e depois cumpre o teu objetivo. Rápido Mar de Neve!
Ryo acatava as ordens sem nada dizer, virando-se de costas quando o homem atrás de si se desfazia em neve. Dava passos lentos mas calculados na direção do esquadrão de Jounin`s que ainda não se haviam apercebido dele. Irritado por ainda não ter sido descoberto, este fecha um dos olhos, sequencialmente, um pequeno floco de neve afastava-se do restante manto, levitando e arremessando-se contra a cara de um dos Jounin`s que soltava um pequeno grito de susto, virando-se de seguida para aperceber-se do corpo ereto de Ryo.
-Quem é aquele? – Perguntava-se um dos ninjas de Yuki soltando um ambiente tenso para o ar compartilhado por todos os outros ninjas ao observarem a forma descontraída com que o invasor os encarava – É melhor pedir ref… - O homem não tinha tempo de falar quando um pequeno manto de neve se elevava ao seu redor, transformando-se rapidamente em lanças que, num pequeno gesto mental, o perfuravam sem piedade manchando a brancura da neve num forte vermelho de sangue.
O resto do esquadrão ficou alarmado pela velocidade dos acontecimentos que se haviam sucedido, não dando conta que a neve à volta deles também se movimentava. Ryo agora suspirava, caminhando para o edifício do líder da vila ignorando totalmente o esquadrão ao seu lado que era brutalmente massacrado pela neve que lutava contra eles como tivesse vida própria… deixando-se banhar em mais um mar de sangue enquanto engolia gulosamente os corpos despedaçados dos homens, afundando-se também até uma nova camada branca surgir, não deixando vestígios de qualquer morte naquele local.

Uma violenta brisa entrava pelo escritório conseguindo abrir a janela e deixando grandes quantidades de neve entrarem e espalharem-se pelo local. No meio de abafadas palavras agressivas, o Kage de Yuki levantava-se da sua cadeira e apressava-se a fechar a janela para deixar o calor reinar mais uma vez. Agora com o pequeno problema resolvido, este virava costas à janela e encaminhava-se para a sua secretária pisando, de sem querer, algo macio. O seu olhar rapidamente se desviava para o solo da sala onde, debaixo dos seus pés, residia uma neve macia, à primeira vista normal, mas com algo estranho… provavelmente a cor roxa que possuía. O líder arregalava os olhos, o coração começava a bater violentamente após o seu cérebro finalmente assimilar todos estes acontecimentos estranhos, conectando-os a uma óbvia conclusão.
O Kage apressava-se a afastar-se da neve roxa, contornando a secretária para atirar-se a meio do solo do escritório, tremendo incessantemente e tentando pronunciar-se, apesar do medo assim não o permitir. Ao mesmo tempo, a neve pisada moldava-se e aumentava tamanho. Aos poucos, enquanto os flocos atirados pela brisa moldavam uma forma humana, o corpo de Ryo voltava a surgir, com a mesma aparência assustadora e descontraída, com o mesmo sorriso branco…
-Mar, não era agora! Ainda é muito cedo, o combinado não era já! – Balbuciava o Kage conseguindo encontrar confronto no solo ao sentar-se, colocando os braços esticados em frente de forma desesperada – Eu preciso de mais tempo!
-Tu sabes que este dia viria a chegar pequena Onda… - Murmurava Ryo contornando também ele a secretária, até estar à frente do suposto grande líder da vila da neve, sentando-se sobre a lisa mesa que servia como apoio para os múltiplos e crescentes afazeres do Kage – Preciso de recarregar e precisamos que a tua posição como Kage seja desocupada…
-P-precisamos? Mas… sempre trabalhaste sozinho! – Balbuciava o Kage sem conseguir corresponder a descontração que Ryo transmitia, limitando-se a tremer com todas as suas energias e a tentar levantar-se, sentindo sempre a pressão que o olhar de Ryo lhe debatia.
-Um amigo de infância e eu acordamos em atingir algumas metas, vamos terminar isto rápido Onda, não vi aqui para tagarelar… - Pronunciava-se o homem estendendo a sua mão em frente, levando o Kage a atirar-se ainda mais para trás com mais um susto covarde – Não me vais resistir pois não? Sabes bem o que acontece…
-P-pelo menos… deixe-me escrever algo! E… eu preciso de escrever uma coisa, deixa-me fazer isto, por favor! – Suplicava o covarde líder de Yuki conseguindo mudar a sua posição para algo ajoelhado com ambas as mãos estendidas numa posição totalmente submissa e entregue à boa vontade de Ryo, este que sorria e se limitava a afastar-se da secretária dando total liberdade ao Kage para se aproximar da sua mesa e cumprir o seu último desejo – Muito obrigado Ryo-sama!
Ryo assobiava à medida que o líder da Vila da Neve se debruçava sobre a carpete do seu escritório e remexia nas folhas em cima da sua secretária, atrapalhado, conseguindo por fim tirar um papel em branco com uma pena repleta de tinta.
-Despacha-te Onda, não quero visitas indesejadas… - Pedia o invasor dobrando o seu joelho para permitir que a sola do seu pé pudesse apoiar-se contra a parede branca à medida que continuava com o seu assobio infantil e irritante, roçando as mãos uma na outra para assim aquecê-las.

-J-já terminei meu bom senhor, já terminei! – Tremelicava o Kage, acabando de escrever os últimos kanji`s sobre a polida folha de papel, afastando-se de prontidão e atirando a caneta para o meio da secretária, não se importando mais com a organização da mesma, visto que o seu tempo de vida também não lhe permitia mais – Estou… pronto…
O Mar de Neve afastava-se da parede onde estava encostando e avançava para as costas do Kage, este que se ajoelhava e inclinava a cabeça, revelando assim a parte de trás do seu pescoço onde se sobressaiam alguns ossos, mas que não conseguiam esconder as estranhas marcas lá gravadas: uma reta com um círculo pequeno à esquerda e um círculo maior à direita, todos eles brancos. Ryo apartava a manga do seu manto, revelando o seu braço nu e cheio de traços negros a percorrer-lhe desde o pulso até ao ombro, pousando a palma da mão sobre essa mesma tatuagem.
-Pequeno Onda, desculpa por isto, mas ambos sabemos que a culpa não é minha mas sim daquela maldita Mitsuko… - Murmurava o homem de cabelos roxos fechando os olhos e deixando uma grotesca quantidade de chakra fluir à sua volta.
-Hai Ryo-sama, prometa que se irá vingar dela… que a minha morte não será em vão… - Pedia o Kage fechando também ele os olhos, entregando-se ao seu destino como já havia sido traçado, conseguindo, por breves momentos, que todo o sue corpo relaxasse e se deixasse cair.
Uma estranha aura emitia-se por detrás do pescoço de Ryo, uma tatuagem totalmente igual à do Kage deixava emanar uma aura roxa e, o longo traço negro no seu braço nu, também ele emitia uma aura roxa. A tatuagem do Kage, pelo contrário, transmitia uma aura verde que era brutalmente engolida pela superioridade da aura roxa que Ryo transmitia. O Mar da Neve abriu os olhos de rompante soltando por fim todo o chakra que deixava fluir. Uma descarga de energia percorre o corpo do líder de Yukigakure de rompante, deixando o seu corpo sem vida imediatamente. Ryo afastava-se do corpo do Onda, deixando assim o seu corpo vazio tombar em frente dando a ver que a tatuagem do Kage começava a desfazer-se em neve, tal como todo o corpo do líder de Yukigakure.

-Onito-sama! – Exclamava um Jounin que abria a porta rapidamente e entrava no interior sem as devidas maneiras, procurando o seu superior. Os seus olhos, primeiramente, percorreram a secretária… não encontrando ninguém é que estes então percorreram o solo rapidamente… encontrando por fim o que procuravam – O-ONITO-SAMA!