Nota: Este treino situa-se cronologicamente antes do Filler 2 – A Ala Médica.
Hikaru levantou-se cedo, naquela quinta-feira solheira. Como fazia sempre que acordava cedo. Dirigiu-se à cozinha e encheu um belo copo d’água, subiu lentamente até ao quarto da sua irmã e deixou que a gravidade executasse a sua vingança semanal antes de saltar pela janela aberta a gargalhar.
Chegado ao campo de treinos, viu o seu reflexo na água dum pequeno lago. Estava pequeno e franzino para a idade. Iria mudar, decidiu, custaria mas mudaria. Deitou-se no chão, livrando-se do saiote negro que costumava usar e começou. Os primeiros vinte abdominais fluíram como água na nascente, sem esforço, o seu corpo estava leve e fresco. Ao quadragésimo, as costas começaram a ficar pesadas e a sua tendência era já a de forçar os ombros e o pescoço para ascender. Negou este impulso e forçou os abdominais a contraírem, uma e outra vez. O suor começou a escorrer pelo seu pescoço, onde já se começava a ouvir a respiração ofegante. Sejamos sinceros, o quinquagésimo doeu, muito. Mas não parou. Os seus braços começavam a tentar gatinhar para negar a dor muscular sentida. Não passou dos sessenta. Deixou-se cair com um “pof” no chão seco.
Decidiu aproveitar a quietude da manhã para treinar coisas que requeriam circunstâncias especiais. Livrou-se da maior parte da roupa ficando de… trajes menores e aproximou-se do lago. Sabia que o controlo do chakra era uma das suas grandes lacunas. Estava na altura de mudar isso também. Respirou fundo e puxou da mítica substância do cerne do seu ser; não teve de se esforçar demasiado, sempre lhe tinham dito que tinha mais chakra do que o que conseguia usar. Aproximou-se da água e espalhou-o pela palma do pé, tentando apoiá-lo sobre a superfície líquida. Escusado será dizer que caiu com um splash na água fria, mas não desistia facilmente. Ao invés de nadar até à margem, espalhou chakra pelo corpo e tentou lançar uma torrente constante pela mão, usando a superfície como uma plataforma sobre a qual subir. Resultou bem na teoria, enquanto usou uma mão, mas mal juntou a outra… Bem, digamos que nadou até à margem e tentou de novo, com mais cuidado. Uma vez mais, focou o seu chakra nos membros inferiores, sentido a superfície da água e finalmente apercebendo-se da diferença essencial entre aquela técnica e o Kinobiri original. Manteve-se alguns segundos à tona e algumas tentativas depois já conseguia caminhar sobre a água, lentamente, claro. Satisfeito com o resultado, tentou algo mais arrojado e com um shunshin deslocou-se até à margem. Não caiu mal, apenas raspou com os joelhos no chão.
Voltou então ao treino físico, desta vez às flexões. Baixou-se e procurou a posição mais confortável para colocar os braços. Descobriu que usar os punhos o magoava mais do que ajudava, descobriu que juntar os braços tornava as flexões quase impossíveis. Assim, separou-os formando dos L perfeitos e começou. Os seus músculos dos braços, como era normal, estavam menos desenvolvidos que os abdominais. Conseguiu dez flexões até os seus músculos se queixarem. À vigésima o suor que lhe escorria pela cara e pelas axilas tornava o exercício ainda mais difícil, devido à falta de concentração. À trigésima… já não era o seu músculo que doía, o próprio osso do antebraço parecia querer estalar e saltar. Parou, resignado, sentando-se com as pernas cruzadas enquanto pensava no que fazer a seguir.
Resolveu pôr em prática por fim os jutsus que aprendera. O primeiro seria similar ao bunshin que já sabia, pensou. A dificuldade vinha na manipulação de chakra. Franziu o cenho num ar de concentração plena (que não sentia) e procurou criar uma cópia sua com um selo. Sentiu algo a arranhar e ouviu o som de asas. Abriu os olhos e um único corvo repousava parado no seu braço. Lançou um crocito alto e uma bicada no seu nariz, antes de desaparecer em fumo. Não era ao certo o que pretendera. Desta vez cruzou os dedos num único selo e decidiu empregar mais chakra, afinal de contas tinhas dele para dar e vender. Gostaria de dizer que o clone surgiu limpo e perfeito, mas seria mentira. Perdeu o controlo sobre o seu chakra e ao contrário da vez anterior, não surgiu um corvo, mas sim dois clones. A sua aparência era idêntica à de Hikaru. Conseguira, por fim. Ou assim pensava, até eles desaparecerem numa nuvem, não de fumo, mas de pássaros!
“Não tem importância, o essencial está aprendido.”
Chegou então à altura de passar a outro tipo de treino. Aproximou-se das árvores do outro lado do campo e agarrou nas suas kunais recém-adquiridas. Não tinha alvos, é certo, mas os ramos grossos das árvores serviriam de igual modo. Saltou bem alto e rodopiou, lançando as suas kunais. Enquanto descia lançou uma outra, antes de aterrar. Uma delas aterrada no tronco e não nos ramos. A outra acertara o alvo. Quanto à terceira, nem sequer roçou a árvore, passando largos metros ao seu lado. O resultado não o satisfez, agarrou desta vez em quatro facas e lançou-as, tentando prever a sua deslocação com a brisa que soprava. Desta vez acertou três, contudo um deles foi pura sorte e uma rajada de vento e Hikaru sabia-o.
Começou então o treino do jutsu que aprendera mais recentemente. Apontou o punho fechado aos ramos finos das árvores e acumulou chakra na palma da sua mão, em seguida abriu-a e esticou os dedos. A pequena esfera de chakra partiu a toda a brida, enterrando-se no tronco da árvore como uma bala. A amolgadela chegou para partir a casca da árvore. A vantagem deste jutsu era que podia concentrar chakra sem se preocupar demasiado com a quantidade, pois isso só aumentaria a sua potência, contudo se o alvo fosse pequeno, como o ramo de uma árvore, estava sujeito a uma maior probabilidade de falhar. Desta vez decidiu usar uma quantidade menor de chakra e concentrou-a apenas no indicador, disparando em seguida. O ramo delgado quebrou e caiu, inerte e morto. Correu melhor do que esperara! Tentou então algo mais arrojado.
Aproximou-se duma árvore delgada e prometeu ao seu corpo cansado repousar depois deste final. Correu para a árvore e saltou no ar, esticando a perna num Dynamic Entry perfeito.
Contudo, a árvore não partiu, como esperava. Esforçou-se então por algo diferente. Lembrava-se daquele jutsu na academia. Saltou sobre a árvore e lançou-lhe um pontapé alto, seguida de um chuto rasteiro no qual quase escorregou. O Konoha Senpu foi bem executado, mas não o suficiente. Hikaru saltou mais alto desta vez, procurando arranjar tempo para a aterragem que quase lhe custara o golpe anterior. Desferiu com toda a sua força um pontapé alto, seguido de um chuto, desta vez um Daisenpu. Não chegou para partir a árvore, não tinha força para isso, mas chegou para o deixar com dores atrozes o resto da semana.
Assunto: Treino 2 - Os Corvos 
Dom 26 Ago 2012 - 11:44
