Hikaru olhava para o céu, em busca dos resquícios de luar, tão raros naquela vila chuvosa de Kirigakure. Mas não havia luar, nunca tinha havido menos luar para ele. Passaram-se dois dias desde que recebera a notícia de que seria encaminhado para a ala médica. Lutara com Riku para se acalmar. O seu pai, Jeral, falara ele próprio com o Mizukage, mas voltara a casa de cabeça baixa. Amava Jeral como se fora seu pai biológico, era por isso que tinha detectado o olhar de desilusão que lhe lançara. O seu filho era… fraco demais.
Decidiu apresentar-se na Médica, como lhe chamavam, no dia seguinte. Se não podia defender aquilo em que acreditava com os seus próprios braços, então pelo menos não deixaria cair os braços dos outros. Isto era o que dizia a si próprio, incessantemente, para se acalmar mas no segredo do seu coração, não ultrapassou a desilusão, nunca o faria verdadeiramente. Sabia-o, sentia-o. Mas não era o fim, isso recusava-se a aceitar. Teria um fim digno de um herói e se tinha de facto de ser médico, seria do melhor que Kirigakure já viu. Sorriu perante a impossibilidade do que pensava e desceu do telhado e, pela primeira vez em três dias, fechou os olhos para dormir enfim.



Levantou-se cedo e aprontou-se. Tomou banho e vestiu-se mecanicamente, como se a cantiga rotineira da água corrente o pudesse isolar daquelas memórias.
“Não”, pensou, como se tentasse afastar o pensamento com uma palavra, “já chega de fugir, já devia ter começado há dois dias”; desceu as escadas, decidido a chegar cedo à Médica. Ou assim lhe seria mais fácil pensar, no fundo não passava duma desculpa para não ter de enfrentar Jeral, outra vez. Passou pelo quarto da irmã, Lyla, e espreitou. O seu corpo obrigou-se a entrar e a deixar um beijo na bochecha da pequerrucha, que dormia.
- Nii-chan? – sussurrou ela para ninguém, pois o seu irmão adoptivo já não era mais que uma sombra ao sair de casa. Caminhou pela vila, oculto de olhos alheios pelo nevoeiro cerrado que lá aterrara. Não era inédito, em Kirigakure, antes pelo contrário. Abençoavam os dias em que se viam livres dele. Os seus pés pareciam saber o caminho, como se tivesse calcorreado o caminho durante longos anos. De facto, era a primeira vez que o fazia.

“A primeira de muitas”, concluiu, triste. Com isto os seus olhos azuis fitaram aquilo que sabia ser o enorme hospital, um colosso de pedra cinzenta, compacto como um bunker em tempo de guerra, inquebrável. Tinha um certo ar de prisão e sê-lo-ia, não fossem as grandes janelas envidraçadas espalhadas pela pedra, camufladas por nevoeiro e rocha dura.
Entrou no edifício, com um certo receio. A brancura interior, misturada com a escassa quantidade de janelas davam-lhe um ar de claustro, demasiado convincente. Talvez isto se devesse apenas à disposição de Hikaru. Aproximou-se do balcão, centrado na parede oposta, onde uma jovem rapariga de óculos quadrados já trabalhava. Os óculos de aros roxos davam-lhe um ar intelectual, mas não diminuíam em nada a sua… aparência. O Genin sentiu-se abismado quando ela levantou a cabeça. Os seus olhos roxos combinavam-se numa máscara perfeita com a sua face morena e cabelos negros. O seu sorriso era perfeito, mas não impediu Hikaru de olhar para baixo e… corar.

- Hikaru-kun? – perguntou numa voz de ária – estávamos à tua espera. – informou sorridente – aqui estão os teus livros – informou entregando-lhe duas sebentas grossas - os teus colegas marcaram o sítio onde pararam, se não perceberes alguma coisa, podes falar com eles ou com algum sensei – explicou num tom quase maternal – e da próxima vez que ficares… doente, não hesites em vir à Médica! Eu iria mostrar-te o sítio, mas não posso abandonar a entrada. Aqui está também o teu horário, chegaste cedo por isso não posso pedir a ninguém que te mostre o edifício, mas…
- Não é preciso – interrompeu ele em tom cortês – eu encontro o meu caminho sozinho, obrigado – disse sorrindo. A rapariga olhou-o algo perplexa pela atitude, embora não desagradada.
- Como queiras – replicou – segue por este corredor à direita – disse, apontado a porta branca de puxador cinzento – a tua primeira aula é no segundo piso, primeiro corredor à esquerda.
- Obrigado, só me falta saber uma coisa.
- O quê? – inquiriu ela, não sabendo se a acusava de incompetência ou se simplesmente se esquecera de algo.
- O teu nome – respondeu ele num sorriso aberto. Ela sorriu em resposta.
- Mei, Ayanami Mei.
- Então suponho que.. até mais logo, Mei-chan – despediu-se ele com ar sonhador, antes de se dirigir à porta.

Empurrou-a e entrou sem olhar para trás. Não tardou a ouvir vozes no corredor. Ao princípio eram apenas sussurros, como formigas a garatujar o chão de uma catedral, quase inaudível e os seus tons aparentavam um enorme cuidado. Não tinha ainda avançado vinte metros de corredor quando irromperam em urros e vivas, desfazendo o silêncio mórbido. Dobrou a esquina próxima para perceber de onde vinham as vozes. Encontrou uma equipa de ninjas médicos em festejo, abraçando e rodeando um jovem.
- É o décimo esta semana! Está em alta, Aoi-san! – exclamou alguém.
O jovem pareceu lisonjeado, enquanto se livrava dum par de luvas ensanguentado para um caixote e coçava o queixo com as mãos, agora livres. Subitamente, Hikaru sentiu uma mão no seu ombro.
- Ele é o melhor, caso te estejas a perguntar – informou-o – Aoi é o melhor ninja médico que Kiri já teve. A parte engraçada é que ele nem sequer nasceu em Kirigakure. De facto, tornou-se ninja há menos de três anos e é o melhor.

Hikaru olhou-o perplexo. O jovem não teria mais de vinte e cinco anos. É pouco usual decidir a carreira de ninja tão tarde. Observou a sua pele branca e o seu cabelo com um tom azul escuro, espetado. Depois apercebeu-se da voz desconhecida e voltou-se. Um homem alto de óculos rectangulares falava-lhe. O seu cabelo era castanho e unido num rabo de cavalo.
- Ah! – exclamou, apercebendo-se do que tinha feito – Não me apresentei pois não? O meu nome é Arwil! Estou encarregue de ensinar aos Genins tudo o que há para saber sobre química e medicação. E tu deves ser… Hikaru-kun, certo? – inquiriu sorridente.
O Genin loiro acenou, mas continuava perplexo. Os seus olhos voltaram a Aoi, ao fundo do corredor e os seus olhares cruzaram-se.

- O que fez ele? – perguntou distraidamente ao seu recém-conhecido sensei.
- Ah.. Aoi-san acabou uma cirurgia complicada, pelos vistos com sucesso. É impressionante – murmurou em tom de cochicho – aqueles que ele trata saem quase sempre sarados e diz-se que mesmo nos casos impossíveis, os doentes morrem sem dores. É um bom rapaz e tem estado connosco desde… não me lembro sequer. Suponho que já é tão natural como respirar.
Aoi aproximou-se deles, deixando os medinins adjuntos e os familiares do enfermo a celebrar.
- Arwil-sensei – cumprimentou baixando a cabeça – estimo vê-lo.
- Ora essa! Os meus parabéns! A este ritmo baterá a Tsunade – comentou alegremente. Aoi sorriu em resposta, mas nada disse. Os seus olhos prenderam-se em Hikaru por um momento. Este nada disse, mas o tom formal usado por Arwil não lhe passou despercebido.
- E tu deves ser, Hikaru-kun? É um prazer ter-te entre nós, tencionava ir hoje eu mesmo buscar-te se não viesses! – assegurou em tom brincalhão – vemo-nos mais tarde. Bom dia Arwil-san. – e com isto, afastou-se em passo rápido pelo corredor fora.
Arwil puxou Hikaru e levou-o a dar uma volta.
- Tal como todos, terás as tuas tarefas dentro da Médica, Hikaru-kun, o trabalho é distribuído por todos nós, mas tudo isso está explicado no teu horário. No primeiro mês deves concentrar-se na Química, nos teus conhecimentos de Botânica e nos Ninjútsus médicos básicos, não esquecendo as missões. Eu leccionarei a Química, outro professor, Asho, ensinar-te-á o que precisas de saber sobre as espécies vegetais. E as aulas de ninjútsu serão dadas por Aoi-san.
Hikaru não se conteve e interrompeu-o.
- O quê? Tão novo e ele é.. ele é professor?
- Apenas temporariamente. Aoi-kun foi o mais jovem director da Médica, há cerca de um ano.- o Genin arregalou os olhos, incrédulo.
- Mas ele é…
- O melhor. – concluiu Arwil antes de virar costas. Bom-dia, Hikaru-kun.

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Peço desculpa pela falta de OST no final, mas não arranjei mesmo nadinha que se enquadrasse T.T

Mais um ótimo filler, é claro Aoi, gostei da breve apresentação dele. Bater a Tsunade? hohohoho, parece que a classe médica tem ninjas promissores e awesomes. As ost's estão ótimas, parece até mesmo que queres arrancar alguma lágrima minha com elas D= Acabarás conseguindo em breve, já estou a ver Continua, tua inspiração está mesmo a todo vapor... aceito doações


Edit - Por que está "Soletrar!" no título do post? '-'

Edit by Natas: Porque eu fui desastrado Está corrigido ^^

Citação :

A este ritmo baterá a Tsunade – comentou alegremente.

Ele terá que passar por cima de Hana primeiramente

Adorei, você fez o que eu penso em fazer um dia, contar sobre o aprendizado médico de Hana, mas como tudo em minha história, vai acontecer num futuro a contar o passado hahahaha. Adoro fillers que contam o "ambiente" de um hospital, penso nisso há meses, mas acho que ainda não consigo.

Tens ótimas descrições e mais uma vez li porque tem "médica" no título. Ainda bem que é um texto tão perfeito que valeu muito a pena, descrições sensacionais^^

Espero que Hikaru e Hana possam se conhecer e ser amigos um dia

Parabéns pelo ótimo filler

Prevejo uma Anatomia de Grey ou Clínica Privada. Só falta começares a meter nomes super-estranhos de medicina para que ninguém perceba o que estás a dizer (nos Fillers do Iryo passei isso à frente *assobios*)

Mas bah, se eu não lesse isto tu estavas a atacar-me verbalmente portanto, aqui está. Gosto bastante da tua escrita e, como já disse, estás a querer transformar a tua história em Anatomia de Grey... não te impeço

Continua ^^

Já te disse por msn, não gosto desse Aoi
Demasiadas qualidades no mesmo personagem costuma dar sarilho. Quanto à "Médica", adorei a descrição e a maneira como transmitiste o ambiente do Hospital-Escola. Muito bom.

Citação :

É um bom rapaz e tem estado connosco desde… não me lembro sequer.

Cheira-me que esse Aoi vai ser uma espécie de Mest em Fairy Tail. Tal como o Kad disse, quando aparece alguém demasiado perfeito desconfia-se sempre x)

Quero ver como é que o Hikaru se vai safar nas habilidades médicas e aposto que ainda vai haver aí grande rivalidade entre ele e o Aoi. Continua que a gente está cá para ler

Iryo-nin escreveu:

Citação :

A este ritmo baterá a Tsunade – comentou alegremente.

Ele terá que passar por cima de Hana primeiramente

E da Ayame também! Ninjas médicos andam na moda?

Também comecei a desconfiar desse Aoi, mas gosto dele. Julgo que vai sair daí uma personagem interessante.
E, como é óbvio, agradou-me essa descrição de uma escola-hospital. Recorda-me do meu próprio horário. Pena que não tenho nada com botânica/espécies vegetais. Isso sim, é que seria porreiro
A sério que estou curiosa para ver o que vais sacar daqui... Portanto continua! ^^