Três dias depois daquele incidente na clareira, Ken já tinha recuperado totalmente e sentia-se pronto para outra. Sentou-se à mesa, ao almoço e fez notar a Kiho, que estava a comer vorazmente, que este lhe tinha prometido treinar o seu Taijutsu.
-Muito bem – respondeu Kiho quando acabou de comer. – Vou só ver se há missões para mim, e quando regressar, vamos para a clareira treinar.
Ken assentiu e começou finalmente a comer o almoço, já frio. Ainda não tinham passado dez minutos, quando Kiho regressa a casa.
-Ainda não há missões – respondeu ele à pergunta silenciosa que se lia na cara de Ken.
-Então vamos! – exclamou Ken, todo contente, levantando-se da cadeira de um salto.
E, dito isto, partiram para a clareira. Quando chegaram, Ken reparou nas duas árvores completamente ardidas, fazendo contraste com a festa de cores à volta delas. Voltando costas a este cenário, Ken perguntou:
-Kiho, que queres que faça?
-Em primeiro lugar? Defende-te!
E mal acabou de proferir estas palavras, rasteirou Ken com mestria, e aplicou-lhe um pontapé na parte lateral da sua cabeça, quando este ia a cair. Claro que Ken ficou a “ver estrelas” e quando se ia a levantar, já Kiho lhe socava o estômago, sem parar.
-Patético – gritou ele para Ken. – Contra-ataca. Os Yamada foram desde sempre conhecidos pelo seu excelente Taijutsu. E caso não saibas o que é contra-atacar, eu explico-te. De pé!
Ken levantou-se, respirando com dificuldade e tentou acertar com um pontapé nos rins de Kiho. Obviamente, Kiho agarrou-lhe a perna, deu um pequeno salto e mandou um valente pontapé na coxa de Ken. O jovem gritou de dor, e gritou ainda mais quando Kiho o largou e ele caiu pesadamente no chão.
-Isto é contra-atacar! – gritou Kiho, com olhar desvairado – Tu tentaste-me atacar, mas eu defendi-me e logo depois ataquei-te. Isto é um contra-ataque de jeito.
Ken não se conteve, e teve um ataque de lágrimas.
-Isso! Agora chora como um bebé! Eu… não… treino… cobardes! – exclamou Kiho, pontuando cada palavra com um pontapé em Ken, e finalizando com um pontapé tão forte, que fez Ken rebolar pelo chão agarrado à barriga.
-Pára de me magoar – gritou ele para Kiho, enquanto tentava desajeitadamente acertar-lhe com alguns socos no seu irmão, mas este só se ria e desviava-se facilmente e com muita rapidez.
Quando Ken ia tentar socar o seu irmão mais uma vez, este agarrou-lhe os pulsos. Enquanto gritava insultos e críticas a Ken, este rasteirou Kiho, que ficou surpreendido, e quando deu por isso, já estava no chão, com Ken em cima dele. Tentou usar os joelhos para acertar nas costas do irmão, mas Ken estava com os joelhos dele em cima dos de Kiho. Este tinha muita mais força que o irmão, por isso não foi difícil rebolar para se libertar dele.
-Bem… Está melhor, muito melhor. Mas, mesmo assim, continuas fraco. – criticou Kiho, alegremente.
Ken sentia uma raiva indescritível dentro de si, um tipo de raiva pelo seu próprio irmão que nem ele sabia explicar. Só queria infligir o máximo de dor possível no corpo do seu irmão. Enquanto Kiho remexia nos bolsos, Ken atacou, socando o estômago de Kiho, até este desaparecer e aparecer um toro de madeira no lugar dele. Ken virou-se instintivamente, mas Kiho não o atacou de trás, mas sim de cima. Acertou em cheio com os dois punhos na cabeça de Ken. A cabeça do rapaz latejava de tanta pancada que já tinha levado nesse treino. Kiho nunca lhe tinha magoado nos treinos anteriores. Ken não percebia o porquê de o magoar agora. Enquanto se entregava a estes pensamentos, Kiho aproveitou o momento de distracção do irmão, para lhe rasteirar. Ken caiu pesadamente no chão, mas levantou-se de um salto. Estava a sangrar do nariz e do lábio inferior e já tinha um monte de escoriações e nodoas negras, mas prometeu a si mesmo que não ia ser o único a sair daquele treino a sangrar. Ouviu o seu irmão a correr, e virou-se instintivamente, dando um soco com toda a força no estômago do irmão, mas gritou de dor. Não tinha acertado no irmão, mas sim num grande pedregulho que tinha aparecido no lugar dele.
-Porra! Outro Kawarimi! – pensou Ken
Olhando mais atentamente para a sua mão, reparou que ela estava a sangrar e estava a ficar inchada. Quase não a conseguia mexer. Mas agora não se podia preocupar com isso, visto que o seu irmão estava pronto a atacar. Pôs-se em posição de defesa, pronto para um ataque da parte de Kiho, mas este olhava para Ken atentamente. Algum tempo depois, Ken apercebeu-se que Kiho não estava a olhar para ele, mas sim para trás dele. Mesmo assim, manteve o olhar em Kiho. Quando Kiho fez um ar completamente aterrado e apontou para trás de Ken, este olhou para trás, ansiosamente, mas depressa percebeu que tudo não passava de uma armadilha de Kiho. Enquanto Ken tinha estupidamente voltado costas a Kiho, este deu um enorme salto, e espetou o seu cotovelo na bochecha de Ken. Quando este levou as mãos à cara, já Kiho lhe acertara com uma potente joelhada nas costas. Ken estava absolutamente furioso com o seu irmão. De cada vez que olhava para a sua cara de regozijo, só lhe apetecia pegar numa kunai, e espetar-lhe no meio da testa. Depois de muito deliberar, decidiu não espetar-lhe na testa, mas sim atirar-lhe a kunai à perna. Ia ser difícil, porque apesar de Kiho estar sentado à espera de reacção da parte dele, qualquer movimento por parte de Ken não lhe passava despercebido. Ken estava a tentar tirar a kunai do bolso, tentando fazer o mínimo de movimento e barulho possivel. Mas mesmo assim, Kiho apercebeu-se de qualquer coisa e levantou-se de um salto. Como Ken estava deitado de barriga para baixo, Kiho tentou acertar-lhe com um pontapé na cabeça, mas Ken já estava à espera disso. Rebolou para trás escapando por um triz ao pé de Kiho, e levantou-se. Mal se tinha levantado, já Kiho lhe tentava acertar com um pontapé no braço dele. Saltou, desviando-se do pé de Kiho e ainda no ar atirou-lhe com a kunai. Esta enterrou-se no ombro de Kiho, que soltou um pequeno oh. Refazendo-se da surpresa, constatou que a kunai não tinha feito praticamente nenhuns danos. Sorrindo, decidiu pregar outra partida a Ken. Ajoelhou-se como se tivesse magoado muito e ficou de cabeça baixa. Ken aproximou-se relutantemente de Kiho, e quando já estava suficientemente perto, Kiho atirou-lhe com a Kunai. Mas Ken tinha pressentido isso. Fez um Kawarimi e a Kunai acertou num toro de madeira. Quando Kiho olhou para trás, viu Ken sorrindo-lhe e pronto a atacar. Ken começou a correr em direcção a Kiho. Quando chegou perto dele, tentou acertar-lhe com um soco na cara. Kiho agarrou-lhe o baço com facilidade e por precaução, agarrou-lhe o outro. Ken torcia-se e contorcia-se para tentar escapar a Kiho. Até que apercebeu que o seu irmão estava a ser burro, visto que agarrava firmemente os braços de Ken, mas não fazia nada em relação aos pés. Sem que Kiho percebe-se, Ken rodou o pé e acertou com o calcanhar em cheio no estômago de Kiho. Este debruçou-se de dor, largando Ken, e enquanto estava debruçado, Ken acertou-lhe com uma poderosa joelhada na cara, fazendo com sangue saísse a jorros pelo nariz Kiho. Este ficou estendido, enquanto Ken voltava a casa, ressentido com o irmão.