O minotauro lançava machadadas em tudo o que era sítio em mais um ataque cego. Katsu e Shugo conseguiam escapar habilmente dos ataques que conseguiam cortar pilares e até as árvores com os troncos mais grossos daquele lugar. O ser mitológico bufava e grunhia consoante a sua gigantesca arma tentava atingir as duas pulgas que se escondiam atrás de um tronco de uma grossura inacreditável.
-Ok, isto é muito estranho! – Refilou Shugo tentando fazer-se ouvir no meio de tantos arquejos do minotauro – Porque é que aquele touro gigante está aqui?
-Não é um touro, é um minotauro! – Vociferou também Katsu – Vamos ter de lutar!
O Imagawa sai detrás do tronco da árvore a fazer selos a uma velocidade estonteante, com a mão direita este abria a sua câmara-de-gás na máscara enquanto com a outra colocava perto da boca.
-Katon: Goukakyuu Chakra no Jutsu! – Da sua boca expeliu-se uma bola de fogo gigante que irrompeu pelos ares queimando toda a planta por onde passava.
O minotauro gritou de fúria desfazendo a bola de fogo com um corte vertical com o machado. O mercenário esperava por isso e, quando a arma foi de encontro ao solo, este subiu pelo braço da fera rapidamente preparando novos selos para a próxima técnica. O ser mitológico reparou no avanço do humano e chicotou com o braço, como Katsu não tinha grande apoio foi facilmente afastado para o meio de uns arbustos bem longe do minotauro e de Shugo.
-Nightmare! – Gritou a Kumokira olhando para o seu oponente com desdém, este que batia com os punhos no peito selvaticamente e arfava incessantemente – Vou-te matar, pequenote – A rapariga fez um único selo e cruzou os braços apontando os indicadores para os seus pés opostos, uma runa antiga surgiu debaixo do seu corpo emanando uma aura azul bastante intensa e quantidades exorbitantes de chakra largavam-se do interior dessa runa…

O corpo do Imagawa bateu fortemente de costas contra uma árvore deixando-se depois rastejar pela superfície rugosa até ir de encontro ao solo. As costas doíam-lhe bastante tal como o seu ego após ter sido facilmente derrotado por uma criatura mitológica que ele tanto admirava.
-O que é que uma besta destas está aqui a fazer? – Perguntou-se apoiando-se no tronco atrás de si para conseguir levantar-se e olhar à sua volta.
O cenário há sua volta não parecia muito diferente do anterior. As árvores e plantas eram iguais, contudo nesta nova zona a flora já parecia ser mais densa. O número de animais estava drasticamente reduzido, mas o rapaz ainda apercebeu-se de um beija-flor a bater as asas velozmente enquanto aproximava-se de uma flor de bico em riste pronto para a refeição. O mercenário contemplava a beleza do momento, onde a presa era o pássaro e a flor o predador…
-O quê? – Gritou o Imagawa ao aperceber-se que, numa fração de segundos, a flor ganhara boca e dentes monstruosos que estavam agora a rasgar carne e esmagar os ossos do beija-flor já morto – Merda!
Uma liana rastejou pelo solo até perto dos pés de Katsu e este sentiu cócegas sem notar que esta adentrava pelas calças e rasava pela sua pele. O Imagawa notou-a antes que esta chegasse ao abdómen conseguindo invocar uma espada no seu pulso direito e cortá-la antes que algo mais acontecesse. O resto da liana ficou ainda presa dentro das roupas mas o mercenário não teve tempo de pensar sobre isso quando já outra liana descia de uma árvore e começava a cercar-lhe o pescoço. Por reflexo o rapaz cortou a liana com um movimento diagonal com a sua lâmina e rapidamente rolou em frente para ter uma melhor visão do seu redor. Duas outras lianas dispararam-se de nenhures e o Imagawa viu-se obrigado a dar um salto lateral para o seu flanco esquerdo, para muito perto da flor.
O rapaz soltou um grunhido de susto quando via a flor a abrir a enorme bocarra mostrando os dentes nojentos a pingar saliva e ainda sangue do pássaro.
-Oh, oh, oh, oh meu deus, oh meu deus! – Borrava-se o mercenário conseguindo dar um mortal para trás desviando-se da flor a tempo.
Ele ainda conseguiu ouvir outras duas lianas a dispararem-se na direção dos seus pés dando-lhe a abertura de saltar desviando a enorme chicotada que deram contra o solo. E essas chicotadas acabaram por chatear a gigante planta que sempre se encontrou debaixo de Katsu e que abriu a enorme boca para engolir o humano que a arreliava enquanto esse esperneava-se em pleno ar à procura de fuga.
-Outra vez não! – Gritou antes mesmo de entrar pelo cano digestivo da planta e enchendo as suas roupas. Dentro do cano digestivo este sentia múltiplas pequenas plantas a surgirem das paredes do cano digestivo e que tentavam mordiscar partes diferentes do corpo de Katsu ou então arrancar pedaços do tecido do corpo. O Imagawa conseguia ter espaço suficiente naquele tubo para conseguir cortar todas as pequenas plantas com a sua espada ou com a força nos braços, mas elas pareciam intermináveis – Estou farto… disto!
Do lado de fora a planta fazia sons enjoativos como se estivesse prestes a vomitar. A sua pele esverdeada começava a ganhar um tom avermelhado e a pressão interior era interminável, até que se viu obrigada a abrir a grande boca e regurgitar um intenso fluxo de fogo que a matava interiormente saindo de dentro dela o Imagawa com as roupas totalmente estorricadas ou esfarrapadas, mas a máscara sempre intacta. Este tentava acalmar a sua respiração ofegante mas as persistentes lianas voltavam a fazer barulhos e notava-se a vontade de capturar Katsu. A primeira decidiu manifestar-se com um movimento rápido mas foi facilmente carbonizada pelo Katon do mercenário enquanto este avança em frente à procura de algo para escapar de toda a flora.
O avanço seguiu incessante e desesperante e o cenário de vegetação densa mudava rapidamente para paredes mais escuras e cavernosas, à frente o rapaz já observava um desfiladeiro mas as lianas atrás de si ganhavam terreno. Sem grande escolha, Katsu aproxima-se até à extremidade do grande precipício olhando para o seu fundo. Demasiado escuro, provavelmente um rio desaguava no fundo ou um solo cheio de estalactites. Tentou parar de pensar no que o esperava lá em baixo focando-se nas rochas à sua frente que davam sinal de ser a única passagem para o outro lado. Debaixo das rochas estava tão escuro que nem dava para reparar se havia algo a segurá-las, mas o Imagawa não ligou muito a isso, limitou-se a saltar para cima da primeira. Não houve protesto por parte da superfície rochosa e o rapaz concluiu que estaria a salvo, olho para trás para ver o estado das lianas, estas que haviam interrompido o seu avanço, parecia que fitavam Katsu… com receio.
-Otárias… - Murmurou o rapaz ao vê-las a voltarem para trás como se tivessem desistido da nova presa.
Katsu deu meia-volta olhando para trás e observando a rocha mais próxima de si para onde devia de saltar. E assim o fez. Num salto felino o Imagawa estava prestes a conseguir chegar ao próximo passo. Os cálculos haviam batido correto e nada o impedia de chegar ao destino. Nada a não ser a própria rocha a move-se de por vontade própria deixando o mercenário a cair a pique contra o escuro.
-SÓ PODES ESTAR A GOZAR! – Ecoo ou a voz grossa do mercenário enquanto sentia o atrito do ar a bater-lhe contra o corpo sentindo o seu corpo a ficar cada vez mais pesado.
O escuro ficava cada vez mais escuro mas o corpo do Imagawa começou a contorcer-se. No solo do fundo do precipício havia um buraco com um diâmetro suficientemente grande para que o corpo contorcido do mercenário se encaixasse e rebolasse por ele adentro. O movimento era rápido e o rapaz podia sentir as incontáveis novas dores que lhe surgiam na espinha com tantas pequenas estalagmites no chão a espetarem-se de leve na carne.
Por fim uma luz ao fundo do túnel e o corpo de Katsu já não parecia em movimento. O rapaz dá-se ao luxo de conseguir afastar as pernas de perto da cara e olhar ao seu redor. Estava numa sala igual a todo o resto do templo. O que a distinguia de tudo o resto era o seu excesso de tom negro. Ao fundo dessa mesma sala situava-se um velho sentando num tapete carmim, por detrás dele residia uma enorme tela com metade do símbolo Yin e Yang, estando só o lado negro do símbolo, o Yin.
-Bem-vindo Imagawa… - Murmurou uma voz rouca ao fundo da sala com aspeto negro – Por favor aproxima-te, com certeza sou menos perigoso que aquele minotauro…
-O-oráculo? – Questionou-se o mercenário aproximando-se do vulto idoso a passos cautelosos.
-Precisamente meu caro, anda aqui para a minha frente. Instala-te… - Convidou o velho pegando numa chaleira de chá há sua frente e despejando o conteúdo para dentro de uma pequena chávena bebericando-o posteriormente.
Katsu assim o fez, sempre em passos cautelosos este sentou-se mesmo à frente do velhote que bebericava. O seu olhar cruzou todo o seu arredor, dando especial enfâse ao quadro por detrás do Oráculo. As suas dores nas costas ainda não haviam cessado, mas elas agora pareciam esconder-se em segundo plano.
-Que raio de templo é este? Isto parece-se mais um Zoo! E o que você está aqui a fazer? E o que significa esse quadro atrás de si, está assustar-me! – Trovejou o Imagawa.
-Calma jovem, porque é que quando estás comigo me perguntas tanta coisa, tenho cara de Adivinho? – Perguntou o homem fazendo um selo e invocando uma chávena mesmo à sua frente – Serves-te?
-Não… - Negou o rapaz por reflexo.
-Então vamos passar ao que importa. Eu trouxe-te aqui para nós…
-Minotauros, plantas-carnívoras, pedras que mexem-se sozinhas. Pode explicar-me o que é que passa-se neste templo? – Perguntou o rapaz furiosamente para a figura idosa à sua frente, esta que limitava-se a bebericar do seu chá – E não me diga que era você que as controlava!
-Por acaso até não, mas foi o destino que te trouxe aqui!
-E lá vem ele com as tretas do destino… Porra! – Gritou o rapaz começando a ficar severamente frustrado.
-Olha para o quadro atrás de ti jovem Imagawa… - Pediu o homem fechando os olhos e deixando Katsu voltar a apreciar o quadro com o símbolo de Yin – Sabes o que é o Yin, certo?
-Sei… Em certos contextos, Yin representa o Mal, tudo o que é errado em nós. Equilibra-se com o Yang que, ao contrário do Yin, é o Bem e tudo o que é certo. O que tem? – Explicou sem paciência para grandes detalhes.
-Uma palavra… Nighmare… - Limitou-se a dizer o velhote voltando a bebericar do seu chá.
O mercenário precisou de alguns momentos para racionar o que o Oráculo acabara de dizer. E acabou por despertar sentimentos de raiva dentro dele…
-Eu não quero falar sobre ele! – Respondeu o jovem num tom severo.
-Ele, és tu meu caro…
-FUI eu! Eu era um… assassino, matava qualquer coisa sem piedade. Fazia tudo por dinheiro! Isso foi antes de conhecer os Imagawa, ISSO É PASSADO!
-Não deixas de ser tu, ele é o teu Yin… - Explicou o velhote abrindo os olhos e não os tirando de um Katsu agora mais calmo – E sem ele não sobrevives…
-Até agora não tenho tido queixas, estou bem vivo!
-Mas não tão forte não é?
O rapaz calou-se por uns momentos parando para raciocinar ao mesmo tempo. O Oráculo não queria esperar muito tempo sentindo-se na obrigação de intervir no seu raciocínio.
-Para um Shinobi ser verdadeiramente forte ele tem que encontrar o seu equilíbrio interior. Isso é algo que tu não tens, o teu Yang atual está muito dominante!
-Eu acho que continuo o mesmo! – Respondeu Katsu tentando manter uma calma constante.
-Então e o que aconteceu à tua Kuchyose e ao Gôsuto Shuso no Jutsu? – Questionou o velhote revelando, por fim, curiosidade no seu semblante.
-Deixei… Deixei de usá-los… - Justificou o Imagawa apercebendo-se finalmente da gravidade da sua situação. Não tratava-se de nunca mais os usar, mas sim de não os conseguir usar. Ele começava agora e encontrar uma certa verdade nas palavras do velhote, como ele o odiava – Acho que começa a ter razão… Então como posso restabelecer o meu Yin?
-Voltas a ser o Nighmare… - Respondeu o Oráculo numa resposta breve e curta.
-NÃO! Não vou voltar a ser esse monstro!
-Não o precisas de ser a tempo inteiro, nem um Nightmare por completo… - Explicou o velhote.
Katsu conseguiu mostrar nas suas pupilas um olhar confuso, à espera de mais informação para processar. O Oráculo apercebe-se do sucedido e faz um único selo. Uma nuvem de fumo surge no centro de ambos os ninjas e algo começava a surgir…