Aviso: Descrição exaustiva por ser um treino diferente. Talvez tenha exagerado nisso, mas pronto, queria ver se ficava o melhor possível nesta minha tentativa de algo diferente. Gostava de ter o feedback do admin que avaliar isto, por favor.Treino Terceiro
~ Machismo e Ocupação ~
- Introdução do treino para contextualização, não obrigatória a leitura para avaliação:
Ouvia o chilrear dos pássaros no exterior, o zumbido do vento a passar pelas persianas. Era tudo tão calmo, tão sossegado. E sentia o corpo algo dormente, como se estivesse a acordar após perder todas as energias. Franziu a testa, indignada, ainda sem abrir os olhos. Não se recordava do que acontecera para estar tão cansada. Lembrava-se de estar a treinar com o seu vizinho, o Yuu. Depois tudo se tinha tornado no nada, num vazio escuro. Não se lembrava sequer de se ter despedido dele. Sentia-se, no entanto, revigorada, como se tivesse dormido durante horas e horas a fio, provavelmente até horas a mais.
Não estava para ficar mais tempo naquele momento de preguiça por estar confortável e desperdiçar a luz do dia. Atirou os lençóis para trás e olhou em volta. Não reconhecia o sítio onde se encontrava. Estava sentada num futon onde dormira, de frente a uma grande janela. Do seu lado direito, estava uma estante enorme, cheia de livros, bem como uma secretária devidamente arrumada. Esforçou-se para ler o título de alguns dos livros rapidamente. “Anatomia e Fisiologia”, “Guia extensivo da arte de cura”, “Ninjutsu: edição especial”, “Exercícios para shinobis: Nível avançado”…
- Estava a ver que ias ficar a dormir todo o dia.
Ayame olhou na direcção da voz familiar. Hikaru estava entretido a ler um livro, sentado na cama que se encontrava do lado esquerdo dela, com os pés em cima desta e encostado ao que deveria ser um guarda-roupa. Não tirou os olhos do livro que estava na sua mão.
- Sempre espirituoso – comentou ela, bufando.
O sensei não olhou para ela e continuou absorvido na sua leitura. Como era óbvio, ia ignorar aquele comentário.
A kunoichi olhou novamente para a gigantesca colecção de livros. Reparando melhor, havia prateleiras com livros atrás e à frente. Era impressionante. Será que ele já tinha lido tudo aquilo? Se sim, não sabia como ele arranjava tempo para isso. Não parecia uma pessoa anti-social, pelo contrário.
- De qualquer das maneiras, como é que vim aqui parar? – questionou ela, ainda a olhar para a biblioteca do jounin.
- Eu trouxe-te – retorquiu ele secamente.
- A sério? – disse ela, num tom sarcástico. Era a única explicação para ela não se recordar como tinha ido parar ali, portanto ele apenas estava a constatar o óbvio.
Hikaru puxou do marcador de livros colocado ao seu lado e colocou-o no livro antes de o fechar. Deixou o livro pousado na cama e rodou sobre si mesmo para colocar os pés no chão. Enquanto se calçava, explicou:
- Ficaste esgotada enquanto lutavas contra aquele Kumo-nin. Estava a passar e sou médico; não posso ignorar estas coisas.
Ayame não parecia satisfeita com a resposta, tentando perscrutá-lo para saber se ele estaria a mentir. Não conseguia ainda lê-lo. Haveria de conseguir fazê-lo com o tempo.
O jounin médico levantou-se e encaminhou-se para a porta do quarto, dizendo apenas:
- Anda comigo.
A gennin levantou-se, sacudiu-se rapidamente e seguiu-o.
A casa era bastante aberta e moderna. Qualquer um repararia no ambiente jovem e sofisticado que tudo transmitia, desde os móveis de corte simples até às cortinas de cores claras. Ele viveria sozinho? Não parecia que vivesse lá mais alguém, especialmente os pais. Ainda poderia considerar que vivesse com a namorada, mas nunca os pais. Estava tudo tão arrumado, ao ponto de Hikaru aparentar alguma obsessão com as limpezas.
Dirigiam-se para a cozinha. Era simples, com electrodomésticos modernos, em tons de prata, e bancadas em granito. Ele fez-lhe sinal para se sentar no balcão em ilha, onde tinha alguns bancos altos, enquanto se entretinha em frente do fogão, com um wok e diversos ingredientes. Em dois minutos, tinha o almoço pronto. Serviu os noodles com vegetais e carne em dois pratos, levando-os para a mesa. Tinham um óptimo aspecto, cheiravam optimamente bem e Ayame tinha que admitir que lhe estava a crescer água na boca. Hikaru colocou os pauzinhos na mesa, dois copos e um jarro do que deveria ser chá verde.
Enquanto almoçavam, Ayame perguntou:
- Então vives sozinho?
O ruivo olhou para ela momentaneamente e confirmou, revirando os pauzinhos nos noodles:
- Há já alguns anos. O Kazuma já cá esteve algumas vezes. E a Mirai também.
Ficou curiosa quanto ao motivo de viver sozinho e sem qualquer tipo de lembrança dos pais espalhada pela casa, embora tivesse visto fotos dele e dos amigos. Mas resolveu não perguntar. Preferia que ele tomasse a iniciativa. Não parecia tão mau, agora que o conhecia melhor. Ele ajudara-a e só podia estar grata por isso. Quando terminaram a refeição, ela ganhou coragem para o dizer.
- Sabes… Obrigada.
- É claro que irás pagar por isto.
Ele acabara de dizer que ela ia pagar? Ayame não entendeu.
- A esponja está ali na bancada, bem como o líquido lava-loiça. A vassoura está na despensa, aquela porta ali à direita – continuou ele, apontado para os locais que referira. Levantou-se, foi ao quarto buscar o livro que estava a ler e sentou-se no sofá. Assim que o fez, exclamou: - Quando terminares, avisa.
Ayame ficara em choque a olhar para ele. Nunca esperara aquela atitude.
- Estás a falar a sério?
Ele olhou por cima do ombro, para onde ela se encontrava, e a gennin reparou que os seus olhos brilhantes encontraram os dela, fitando-a e deixando-a sem escapatória. Estava a falar seriamente.
- Claro que estou. Ajudei-te. Tiveste uma refeição de borla e tudo. Portanto, hora de retribuir. E deixei-te a parte mais fácil; as mulheres têm jeito para a limpeza.
- Isso é incrivelmente machista! – barafustou ela, indignada.
- As mulheres falam sempre em igualdade de direitos e o que mais. Se eu faço algo por ti, tu fazes algo por mim. Não tens qualquer tipo de argumento para contra-atacar o que disse.
E voltou ao seu livro depois de a deixar sem qualquer escolha. Ele tinha razão, era justo retribuir, ainda que fosse de uma maneira completamente fora do convencional. Hikaru lá devia ter as suas razões.
Por isso levantou-se e colocou os bancos de ferro debaixo da bancada de granito. Procurou a esponja e o líquido onde ele tinha indicado e colocou-os em cima do lava-loiça. Colocou os pratos uns em cima dos outros, os pauzinhos em cima de tudo e voltou à bancada para buscar os copos. O fogão ainda tinha o wok, a bacia dos vegetais e uma colher de pau, com o qual mexera os noodles. Pegou neles e colocou-os na bancada ao lado do lava-loiça para ser a última coisa a lavar. Pegou num dos pratos e esfregou-o rapidamente, pousando-o e passando ao seguinte. Esfregou os copos e a colher de pau, bem com a bacia, tudo com uma grande destreza e velocidade. Os anos que passara a ajudar a família tinham-lhe fornecido uma boa experiência. Passou cada um deles por água e colocou-os a secar na bancada. Aquela estratégia seria a melhor para poupar água, ao invés de manter a água a correr ou lavar cada objecto de cada vez. Passou de seguida ao wok, que tinha que esfregar mais vigorosamente para garantir que saíam todos os vestígios de gordura e comida que pudessem ficar. Virou a esponja ao contrário, para utilizar a lixa inicialmente e assim conseguir retirar todos os restos. Passou por água para ver o estado do wok. Ainda sentia a textura gordurosa ao passar os dedos. Passou a lixa novamente, com força e velocidade. Quantas mais vezes conseguisse passar nos mesmos sítios, melhor. A água relevou um bom trabalho. Para finalizar, passou com a esponja, limpou e colocou a secar. Para limpar a esponja do líquido de lavar, apertou-a por várias vezes debaixo de água corrente. Secou as mãos no pano mais próximo, colocado sobre a asa do forno. Deu por si a reparar que estava um pouco cansada. Devia ter feito as coisas com mais calma, isso era um facto.
- Já está? – perguntou Hikaru. Uma vez mais, não olhou para ela, absorvido pelo livro. Ayame perguntou-se se ele a estaria a evitar. – Agora vai arrumar o futon dentro do armário do corredor e varre o chão deste andar.
- Mas a casa está impecável…
- Quem te disse que não é um genjutsu para pensares que estás numa casa impecável e XPTO e estás numa espelunca?
- Esse seria o genjutsu mais inútil de sempre…
- Ayame… - suspirou ele, pousando o livro na mesa. Levantou-se e encostou-se nas costas do sofá, para ficar directamente virado para ela. – Nunca imaginei que fosses tão queixinhas.
A gennin corou e virou a cara. Estava a ser repreendida; era embaraçoso.
- E não sou… Apenas não vejo o sentido de fazer tudo isto…
- E se eu te dissesse que é um treino?
-Huh?
Ele pausou e sorriu. Os seus olhos fitavam-na com um misto de divertimento e gozo. Mas iria ser sincero com ela.
- Em tudo o que tu fazes, estás a treinar componentes básicos para o combate. Não é só batalhas e jutsus. Podes aplicar e desenvolver força, velocidade, agilidade, destreza em praticamente tudo o que fazes. E todas essas componentes são necessárias para te desenvolveres enquanto kunoichi – fez uma pausa. Reparou na cara da rapariga, que parecia compreender o que ele estava a dizer. – Que seria de ti sem força? Sem agilidade? Se não fizesses algo na tua vida e a tua constituição fosse frágil? Percebes agora?
Ayame baixou os olhos para não o encarar. Devia ter confiado mais nele.
- Mas isto não deixa de ser machista… - murmurou.
Hikaru não conseguiu conter um riso.
- Ok, até posso aceitar isso – confessou num gracejo. – Mas agora deixa lá de te queixar e faz as coisas, que é para o teu bem.
Quando viu que a rapariga anuíra, voltou a pegar no livro e a sentar-se no sofá. Continuaria atento a ela, mas sabia que ela faria um bom trabalho. Inútil, mas fá-lo-ia. O facto de gostar de ter sempre tudo arrumado não estava a facilitar e a desculpa do genjutsu era pouco convincente. Ninguém teria um genjutsu de fazer a casar parecer suja. Pelo menos, não deveria haver nenhum com aquele efeito, ainda que pudesse haver algum que fizesse o outro ver isso se fosse um dos seus medos. Sorriu com a ideia e voltou ao seu livro.
A kunoichi subiu as escadas, localizadas entre o hall e a grande divisão do rés-do-chão onde estivera e que incluía a cozinha, a sala de jantar e a sala de estar. Entrou na segunda porta, que era o quarto de Hikaru. Arrumou a almofada dentro do guarda-fatos e puxou o lençol com força, que se soltou facilmente. Dobrou-o cuidadosamente para ocupar pouco espaço. Olhou para o futon, tentando perceber como o arrumar. Era pesado e grande, nada comparado com a leveza do lençol. Acabou por atirar a almofada para o lado e puxar a parte de cima do futon para estar equiparada à parte de baixo e ser mais fácil de arrumar. Puxou a parte de baixo do futon e dobrou-o duas vezes. Pegou nele e desequilibrou-se por um momento com o peso daquele fardo. Empurrou-o para dentro do guarda-roupa e colocou a almofada no topo. Reparou nas almofadas amarrotadas em cima da cama, onde Hikaru estivera encostado. Porque não deixá-las como deviam estar? Pegou numa das três almofadas e espalmou-a entre as mãos com força e rapidez para lhe devolver a forma. Colocou-a no sítio e fez o mesmo com as outras duas almofadas. Não havia mais nada desarrumado naquele quarto, por isso desceu.
Para onde quer que olhasse, tudo parecia estar perfeito. Mas iria varrer aquele andar inferior apenas para calar Hikaru e fazer o treino que ele tinha programado, ainda que se questionasse se realmente estaria planeado ou ele estava apenas a juntar o útil ao agradável. Abriu o armário em frente das escadas e tirou de lá a vassoura e o apanhador do lixo para começar a tarefa. Queria despachar-se daquilo.
Começou pela cozinha, visto que tinha sido o espaço mais utilizado por ambos e não tinha mobília que necessitasse de ser movida para varrer. Moveu a vassoura da direita para a esquerda em movimentos pequenos e rápidos, dirigidos a um ponto em comum, próximo do local onde tinha colocado o apanhador. A zona foi facilmente varrida devido ao seu tamanho reduzido. Varreu rapidamente a acumulação de pó para dentro do apanhador e passou para a sala de jantar, uma das divisões incorporada na grande divisão do rés-do-chão. Varreu rapidamente à volta da mesa de jantar e da mesa divisora entre a cozinha e a sala de jantar e puxou cada uma das seis cadeiras para fora da mesa, de forma a limpar em baixo desta mais facilmente. Teve que se baixar e inclinar para a frente para o fazer mais eficazmente. Os seus ombros fizeram um estalido ao serem estirados com aquele movimento alongado e lento. Passou a vassoura várias vezes para limpar tudo e varreu o lixo acumulado para cima do apanhador. Por mais que olhasse, Ayame achava que o seu trabalho estava a ser inútil e suspirou. Voltou a colocar cada uma das cadeiras no seu respectivo local e voltou-se para a sala de estar, na qual estava Hikaru sentado num dos sofás. Não conseguiria mover os sofás sozinha, especialmente com ele sentado em cima de um deles.
- Podes dar-me uma ajuda, por favor? – pediu.
Os olhos enigmáticos de Hikaru encontraram os seus. Nada disse. Apenas se levantou e foi sentar-se numa das cadeiras da sala de jantar, deixando a área livre para que ela a limpasse. Não iria ceder no suposto treino nem sequer ajudá-la. A rapariga suspirou. Não deveria estar surpreendida.
Pegou na mesa de centro e arrumou-a num canto, preparando-se para a árdua tarefa de mover a carpete. Curvou-se e, com um movimento de força uniforme, começou a enrola-la. Quando a tinha finalmente em forma de cano, deslizou a porta para o jardim e lançou a carpete sobre o ombro para a carregar mais facilmente. Estendeu-a no muro que separava a casa de Hikaru da do seu vizinho e deixou-a repousar. Devia varrer primeiro a área. Pegou num dos lados do sofá e puxou-o para trás, repetindo a acção do outro lado para o empurrar. Novamente utilizando força, fez o mesmo ao segundo sofá para o mover; primeiro de um lado, depois do outro. A vassoura estava a repousar na cadeira em frente de Hikaru, junto do apanhador. Deslocou-se para junto dela e começou a varrer a área até à sala de estar. Avançou para varrer o centro da sala e a área que ficaria em baixo dos sofás rapidamente e acumulou o suposto pó no mesmo sítio onde ficara antes. Com apenas 3 gestos rápidos, varreu tudo para o apanhador e deixou-o de lado. Levou a vassoura para o exterior, batendo com ela forte e rapidamente na beira do degrau que dava para o jardim para levantar o pó que pudesse ter. Sacudiu a carpete da mesma forma, com gestos amplos, de forma a libertar a sujidade. Assim que se viu satisfeita com o seu trabalho, tentou enrolá-la para a levar para o interior com algumas dificuldades. Pousou-a no degrau da pequena esplanada e voltou atrás para buscar a vassoura e abrir a porta para o interior. Colocar a carpete no sítio fora o mais simples, visto que apenas precisara de a desenrolar. Ainda tinha que voltar a colocar os sofás no sítio. Suspirou.
Hikaru continuava absorvido pelo seu livro. Não deveria ter olhado para ela uma única vez e não parecia que iria ajudar. Era melhor terminar o que estava a fazer para se despachar.
A rapariga utilizou os dois braços para levantar um lado do sofá com a sua força e coloca-lo no seu respectivo lugar, repetindo o gesto para o outro lado. Quando estava satisfeita com o posicionamento, dirigiu-se ao sofá seguinte. O seu ombro estalou ao levantar um dos lados do segundo sofá, embora sem dor. Estaria a abusar no peso que os seus ombros aguentariam enquanto alavancas? Desvalorizou o assunto e acabou por posicionar o sofá como estava antes. Faltava apenas varrer o pequeno corredor onde tinham estado os sofás. Pegou na vassoura e, em menos de um minuto e com movimentos rápidos, despachou a tarefa. Varreu tudo para o apanhador e foi colocar o lixo no caixote em baixo da banca da cozinha. Arrumou a vassoura e o apanhador do lixo do armário de onde os tinha tirado. Apanhou um susto quando se voltou para voltar para a sala. Hikaru estava ao seu lado e nem dera pela presença dele.
- Distraída – apontou ele, dando-lhe uma pequena pancadinha na testa com a ponta de dois dedos. Tirou uma pequena caixinha do bolso do seu colete, que estava pendurado no cabide da entrada, e atirou algo do seu conteúdo a Ayame. – Vai-te fazer bem.
- Hum… Uma pastilha energética? Reconheço isto… – perguntou a gennin, surpreendida pela atitude do sensei. Não fazia ideia que ainda lhe restava algum pedaço de bondade. Tornava-se difícil compreender o que passava pela cabeça dele.
- Também compro coisas à tua família. Toda a gente sabe o seu valor. É para as tuas possíveis dores musculares. Considera-o um reconhecimento pelo teu bom trabalho – explicou ele, passando por ela ao colocar a mão na cabeça dela, como se ela fosse uma menina pequena. - Anda, eu acompanho-te a casa.
---
- Notas da autora:
Eu sei, é enoooooorme. Perdi a motivação não sei quantas vezes a escrever isto. Se dissesse há quanto tempo ando a escrevê-lo... Ui. Mas pronto, cá está. O final parece um bocado apressado porque já estava cansada de andar em volta disto. Peço imensas desculpas a quem avaliar isto... Mas pronto, pequena publicidade ao meu curso de forma subentendida