Filler 2 [1|2]
Encontros Inesperados
Sora levantou-se mais cedo que o habitual. A verdade é que nem chegara a dormir. Na tarde anterior tinha visto o irmão pela primeira vez num espaço de meio ano e não podia contar a ninguém. Tinha sido proibida de falar a quem quer que fosse que o Hideo, o seu irmão 7 anos mais velho, desaparecido depois de uma grande tempestade que devastou a sua casa nos arredores de Kumogakure no Sato, tinha finalmente dado sinais de vida.
Todo o aparato feito à volta do desaparecimento tinha sido estranho. Principalmente, por não ter havido nenhum. Sora desesperou com a falta de informação sobre o irmão. A Naomi nunca se chegou a contar a verdade. Enquanto isso, os pais continuaram como sempre: sem mostrar interesse. A jovem ruiva deixou de tocar no assunto há medida que o tempo foi passando, porque os pais ficavam sempre subitamente rígidos. Foi difícil, mas conseguiu habituar-se à falta da presença de Hideo, bem como à falta de explicações.
Contudo, encontrava-se agora mais confusa do que alguma vez se lembrava. Em pouco tempo, conseguiu construir um complexo quebra-cabeças à volta do curto reaparecimento do irmão. E desta vez estava empenhada em colocar todas as peças nos sítios certos e a encontrar as que faltassem.
Saiu de casa sem fazer o mínimo ruído e levou consigo a flor branca que comprara no dia anterior. Quanto mais tarde a mãe percebesse que tinha saído sem lhe dar explicações nem a ajudar em todas as tarefas que, simplesmente, não queria fazer, ia ter os trabalhos todos redobrados como castigo. Ainda não se encontrava ninguém nas ruas de Kumo e, por isso, Sora deambulou sem destino aparente. Queria dormir e não conseguia. Dormir era uma boa forma de evitar pensar e a mente dela já estava lotada de pensamentos.
Ao olhar para o que trazia na mão decidiu de um momento para o outro o seu novo percurso: ia voltar à gruta do dia anterior. Não perdia nada em tentar lá encontrar Hideo mais uma vez.
Passado pouco tempo já podia distinguir vagamente os contornos das paredes rochosas que sustentavam a entrada da gruta. Ao ficar mais perto começou a ouvir uma certa movimentação. O som estridente do metal a bater contra metal captou-lhe a atenção vindo de uns metros a norte.
O primeiro pensamento que lhe ocorreu fora que o irmão estava a treinar e isso fez com que quisesse chegar lá mais depressa. Com um salto ágil subiu para uma das poucas árvores das redondezas. Não era uma árvore muito alta e tinha poucas folhas, mas os ramos pareciam fortes, apesar de escorregadios, e serviam perfeitamente para a ajudar a situar melhor a localização dos sons.
Enquanto olhava em volta, um estrondo que foi seguido por uma nuvem de poeira obrigou-a a olhar com mais atenção. Não se encontrava muito longe da luta, mas havia algo que não batia certo. Conseguia ver quatro vultos: um à frente dos outros três que estavam de costas para Sora.
Pela constituição, admitiu que eram três rapazes contra uma rapariga. Os rapazes estavam todos vestidos da mesma forma: roupa preta sem nenhum traço distintivo e um cinto feito de pano branco e largo na cintura. A rapariga tinha um kimono verde-escuro não muito comprido, aberto nos ombros e com mangas até aos cotovelos, uma camisola de rede cobria-lhe os ombros e braços e por baixo do kimono tinha uns calções pretos.
Ela já parecia cansada, recuando cada vez mais para junto de uma parede rochosa, mas eles não estavam em melhores condições, pareciam apenas dispor da vantagem numérica.
Os olhos verdes de Sora seguiam atentamente o que se passava e, mal dando por isso, aproximou-se mais. Como estavam todos ocupados, de certeza não iriam dar pela sua presença. Foi quando se aproximou que conseguiu uma melhor perspetiva sobre todos os elementos. A rapariga tinha ar de poucos amigos e de quem não estava a gostar nada da brincadeira.
Definitivamente, algo está mal, pensou.
A hipótese de que podia apenas ser um treino entre amigos dissipou-se da sua mente quando viu o olhar de segundas intenções de dois dos rapazes.
Enquanto verificava o elástico que prendia o seu cabelo ruivo num novelo, Sora impulsionou-se para a frente, dando um largo salto e aterrando na lama escorregadia, mesmo à frente da rapariga que tinha acabado de decidir que ia defender.
- Isto é uma luta um pouco desequilibrada, não acham? – Cruzou os braços e deu com os rapazes surpreendidos por aparecer de repente.
- Hm? – Atrás dela, a rapariga morena franziu o sobrolho. – Eu não pedi…
- Hey, o que é que estás aqui a fazer? – O rapaz mais alto chegou-se à frente e interrompeu-a. – Isto não é contigo.
- Pois não! – O segundo membro do grupo pronunciou-se.
- Mas agora já é. – Sora colocou-se ao lado da rapariga, que ainda a olhava de lado, e falou para ela. – Eu sei que isto não é nada comigo, mas eles não têm as melhores intenções. É só por isso que quero ajudar.
A rapariga viu a sinceridade com que falava e assentiu.
- Está bem, sendo assim… - Quando terminou a frase já tinha mais confiança para continuar o combate, colocando-se imediatamente em posição ofensiva.
- Como queiram. Só se vão magoar as duas! – O rapaz alto voltara a falar.
Sora olhou o terceiro rapaz, que não tinha dito nada, de alto a baixo. Reparou na cicatriz em forma de
X na sua bochecha e perguntou-se como a teria feito. Foi interrompida pelos gestos rápidos que a morena começou a fazer ao seu lado.
Continua