Foi uma luta cansativa e gratificante. Cansativa porque Arami foi um osso duro de roer, estratégico com o Doton e letal no corpo-a-corpo; gratificante porque concluí que o meu controlo com Futton e Suika, em luta, encontrava-se suficientemente bom para não correr perigo, para além de ter sido capaz de derrotar um membro da Akatsuki!
A vitória foi o momento mais importante do dia de ontem. Quando acordou, e após um singelo descanso, Arami levou-me relutantemente até ao esconderijo da organização. Pela viagem, inventou milhares de desculpas nas suas vãs tentativas de justificar a derrota. Sekima defendia-me animadamente, refutando que a minha inteligência, força, (e muitas outras qualidades às quais não neguei) superiores me haviam garantido a vitória. Ele irritava-se facilmente e os dois acabavam numa discussão que – ainda bem – nunca me envolvia. Num tema em particular, Arami tocara no assunto em que Sekima nunca entraria no esconderijo comigo. Caos total. Pensei em responder, mas a criança antecipara-se com resmungos e declarando que até ela podia derrotá-lo; a reação dele já era óbvia portanto não preciso de recontar-vos. Da maneira que os nossos treinos eram, comecei a recear que a Sekima não tardasse muito a conseguir derrotar até a mim…

A viagem foi relativamente curta e com uma surpresa no final. A partir do desfiladeiro (onde decorreu a luta para a inserção), descemos pelas cadeias montanhosas até nos encontrarmos numa floresta de cogumelos gigantes; característica do território em redor de Kusagakure. Por momentos, pensei que o esconderijo da organização se situasse sempre lá.

- O líder não quer que a pulga saiba do nosso esconderijo – Aproximou-se do caule de um dos cogumelos e pousou nele a palma da mão – E como tu não queres largá-la por aí num canto; que era o que merecia… – Parou para devolver o olhar fulminante à referida – Vamos contactar a base com o Gentōshin no Jutsu.
Uma fenda surgiu à volta do local onde pousara a palma de Arami, contorcendo-se e alargando até adquirir o tamanho de um ser humano. Era suficiente para ele, que entrara sem problema, mas um pouco baixa para mim, obrigando-me a torcer as costas para poder entrar. Optei por pensar que não tinha feito de propósito…
- Gentōshin no Jutsu? – Inquiri sobre a técnica desconhecida, sentindo a mão fria de Sekima a agarrar a minha, insegura com o que a envolvia.
E não era de estranhar. Por fora, o cogumelo parecia um fungo regular, preocupando-se unicamente com a sua vida e sem se importar com meros humanos a entrarem pela sua barriga. Por dentro, o ar gélido e malcheiroso (algo como batata podre ou ainda mais nojento), as paredes brancas e viscosas com estranhos fluidos por elas a escorrerem, qual saliva animal, e sozinhos com o Arami culminava numa exibição grotesca e à qual eu e Sekima nunca mais iríamos repetir. Até acho que não como mais cogumelos…
Sobre a pergunta, o Akatsuki não respondeu de imediato, caminhando para o centro do estômago do fungo enquanto olhava ao seu redor, como se contasse com alguém neste nojento refúgio. Eu e a pequena, que ainda não me largara a mão, acompanhamos-lhe os passos, quais cães obedientes e expetativos.
- Claro, poucos conhecem a técnica… - A sua voz grossa ecoou pelas paredes viscosas e, de soslaio, pareceu-me que o cogumelo correspondesse como se tratasse de um chamamento – Nós, da Akatsuki, não temos o hábito de encontrarmo-nos em sítios específicos ou marcar reuniões. Não somos nenhuns senhores feudais ou esses tretas. Somos uma organização secreta e em segredo agimos, portanto, aprendes desde já, homem-da-água, o Gentōshin no Jutsu é a nossa forma de comunicar! – Limpou o solo com as botas e, calmamente, debruçou as pernas e sentou-se sobre elas fletidas. Convidou-me para se sentar à sua frente com um gesto de mão.
- Oh! Já está na hora do chá? – Perguntei com um sorriso trocista, arrastando a pequena comigo até nos sentarmos à frente de alguém com cara de poucos amigos – E que serviço vamos usar, “amiga”?
- Deixa-te de merdas… - Estragou a minha brincadeira tão secamente… - O Ninjutsu é fácil de se usar – Juntou as mãos num único selo, unindo os dedos numa cúpula e mantendo os indicadores juntos pelas barrigas e a apontarem para cima – Fecha os olhos e concentra chakra até apanhar o sinal, não precisas de fazer mais nada.
Tentei aliviar o ambiente tenso entre nós, Sekima soltou uma gargalhada adorável, mas o idiota resmungão preferia continuar a ser agressivo. Muito bem, era assim que queria, era assim que ia ter!
Uni as minhas mãos, imitando na perfeição a forma que ele criara com as suas. Posteriormente, senti chakra a fluir do seu corpo e a aglomerar-se numa crescente nuvem por cima de nós. Não entendia o processo, mas iria cumpri-lo. Fechei os olhos e também deixei a essência emanar da minha pele e abraçar a nuvem sobre a nossa cabeça.
- Gentōshin no Jutsu… - O pronuncio da técnica fez-se pela sua voz grossa e ainda senti os braços magros da pequena a agarrarem-se aos meus.
Não sabia o que se passava à minha volta. Comecei a perder os sentidos e a minha mente desconfiada fez-me sentir imediatamente que estava num Genjutsu. Apesar das desconfianças, não tentei evitar ou cancelar qualquer coisa. Limitei-me a ficar quieto, sem pensar, focado unicamente no Ninjutsu…
Despertei num local diferente. Bem, sinceramente, não parecia tão diferente do núcleo do cogumelo. O frio mantinha-se, todavia as paredes viscosas deram lugar a um vácuo a pairar à nossa volta enquanto o mau cheiro trocou com o ambiente desagradável e um silêncio perturbador. E então vi que não estava sozinho…
Três figuras estendiam-se em círculo desde a minha posição. Todas elas figuras humanas, à primeira vista, simplesmente demasiado coloridas (de uma forma que não me permitia distingui-las) onde só os olhos pareciam leais à imagem original. No círculo, à minha esquerda encontrava-se Arami; reconhecia-o pela forma baixa e musculada. À direita uma forma feminina, por ter uma elevação no peito (tenho bom olhar para seios) e por uma pose diferente do normal. À nossa frente encontrava-se uma figura masculina, que trocava olhares connosco sem receio e que mantinha o silêncio na sala de forma louvável.
- Arami Zukou… - A voz deste último, sombria, gélida e estranhamente distorcida… Nem sei que mais dizer… - É este o Nukkenin que te derrotou, que pretende entrar para a nossa organização, consciente que terá de lutar pelos nossos desejos? – A pergunta parecia mais direcionada a mim o que levou Arami a hesitar com a resposta.
- Sim, é este… - Sorri, ainda não acreditava que eu lhe ganhara.
Comecei a ser observado. A figura central, o óbvio líder, já me fitava despreocupado. Contudo, parecia que a mulher só reparara naquela altura da minha presença.
- Diz-me o teu nome, novo membro…
- Katsu Imagawa! - Tentei colocar alguma confiança na voz. Acho que não foi suficiente e era por isso que já não contava muito com ela…
- Um Imagawa… - Esboçou espanto o qual não estranhei. Os nossos serviços como assassinos eram extremamente populares, não estranhei que a Akatsuki pudesse ter feito uso deles - Boa aquisição, Arami Zukou. Bem-vindo à Akatsuki, Katsu Imagawa, espero que tenhamos momentos divertidos.
Soltei uma gargalhada divertida, afinal era gente simpática!
- Eu também, estava mesmo à procura disso!
A alegria não foi correspondida e depressa senti-me julgado pelos olhares deles. Avaliei mal o momento e era a altura de ficar calado…
- Estava a ser irónico, Katsu Imagawa… - Tinhas avisado com antecedência! - Espero que não vejas a Akatsuki como uma brincadeira de crianças…
Neguei com um abanar de cabeça, baixando o olhar e sentindo, à minha esquerda, Arami a conter os risos.
- Agora, tratemos de assuntos importantes! Com a entrada do novato já podemos começar a trabalhar em duplas; assim não temos o receio de perder Arami em uma das suas missões sozinho…
- Nunca tive esse receio! – A voz de Arami também estava estranhamente distorcida. Reparei, nesse momento, que a minha estava igual!
O líder continuou o discurso, ignorando-o.
- O nosso principal objetivo atualmente é o ganho de novos membros. Antes de trabalharmos a sério precisamos de novas potências, portanto vocês vão andar a vagabundear, sempre atentos a ninjas fortes e interessados em nós - Parou para olhar para todos, como se certificasse da nossa atenção - As duplas mantêm-se: Eu e Sasami, Arami, podes ficar com o teu novo amigo, Katsu Imagawa.
Quase gritei em protesto, mas não me achei propenso para tal. Arami mantinha-se calmo, fiz o mesmo.
- Estamos encerrados.
A silhueta feminina foi a primeira a desvanecer-se. Não falou durante toda a reunião, levando-me a pensar que era uma anti-social.
- Divirtam-se os dois… - Despediu-se o líder antes de desaparecer.

Pestanejei e percebi que o agradável cogumelo havia voltado. Sekima ainda agarrava a minha mão, olhando para o meu rosto com certa expetativa, sorrindo quando viu o meu pestanejar.
- Tudo bem? - Perguntou no seu tom doce.
Sorri-lhe e afaguei-lhe os cabelos, deixando-a sentar-se sobre o meu colo e segurando-a com um pequeno aperto.
- Vamos ser parceiros… - Arami também estava “acordado”, sem fitar-me agressivamente como era costume.
- É…
- Vou ser o líder! - Gritou de imediato, erguendo-se e olhando-me lá do alto, como se fosse superior.
Imitei-lhe o movimento, colocando a pequena sobre os ombros num movimento ágil, superando-o em altura. Não se acobardou e o olhar agressivo, recuperado de nenhures, não cessou na sua tentativa de aperto mental.
- Tudo bem! – Concordei secamente, não estava com cabeça para lideranças nesta altura – Podes ser o líder, a responsabilidade é tua. – Virei-lhe costas despreocupadamente, encaminhando-me para a saída. Certifiquei-me que Sekima vinha comigo – Agora, tenho assuntos pendentes em Kusagakure.
- Sem problemas – Falou como se eu estivesse a pedir-lhe autorização – Também não quero estrear já o trabalho em equipa. Tenho também umas coisas para tratar. Daqui a uma semana entramos em contacto.
Continuei a avançar, tendo um pequeno deslumbre dos raios de sol a penetrarem pelas densas copas dos cogumelos e árvores gigantes. Olhei-o de soslaio:
- Até lá então.
E separamo-nos.

O resto da viagem não foi complicada.Apesar do ambiente à nossa volta ser descomunal, literalmente, o caminho traçado era fidedigno e os céus benevolentes. Até que o destino se avistou, por fim.
- Pai, olha! – A pequena apontou para uma muralha longa, um pouco maltratada, a aparecer no horizonte - Já chegamos?
Sorri, Kimera estava tão perto.
- Já pequena e tem uma pessoa que quero que conheças!