OFF: Esta historia ocorre à cinco anos atrás.
De cabelos curtos, azulados, e com um sorriso de orelha a orelha, um pequeno Hashimaru corria alegremente no aglomerado florestal de Kumo. Trajava uma t-shirt branca, já um pouco encardida por ter caído no solo húmido inúmeras vezes, um par de calções pretos, e um par de sandálias acastanhadas. Havia menos nevoeiro que o normal, facilitando assim a caminhada apressada do pequeno Suna, e podia-se ver inclusive alguma luz a entrar por entre as copas das árvores.
Durante várias horas, continuou a sua corrida pelo mato sem a menor das preocupações importando-se apenas com o momento pelo qual estava a passar. Sim, ser criança é sempre tão mais fácil e preocupante que até o simples facto de fugir de casa era um acto de pura diversão. Desde que nasceu, o pequeno sempre foi super protegido, sendo-lhe negado a liberdade que havia sido concedida aos demais rapazes da sua idade. Sentia-se preso, sentia-se.. diferente e o simples facto de poder ignorar toda e qualquer regra dava-lhe um novo significado à vida; dava-lhe alegria. Claro que poderia brincar com Naoki, o seu adorado irmão mais novo, mas este ainda possuía cinco anos e era um pouco complicado ter certas brincadeiras com ele, como brincarem aos ninja, sem que os seus pais andassem em cima de ambos. Iria levar algo para casa como forma de compensar o facto de o ter deixado para trás.
Foi então que algo aconteceu. A meio do seu passeio tropeçou numa espécie de corrente que estava no chão, fazendo uma ligeira ferida no seu joelho esquerdo. Com uma certa dor, devido ao ardor provocado pela lesão, decidiu seguir o rasto daquele objecto metálico, deparando-se com algo que nunca lhe passaria pela cabeça algum dia ver; um urso, deitado no chão com uma respiração fraca, com a pata traseira, esquerda, presa a uma espécie de boca com presas metálicas. Não sabia ao certo o que se estava a passar, mas não era preciso ter dois dedos de testa para ver que o animal se encontrava em sofrimento. Aproximou-se com algum cuidado, encolhendo-se cada vez que o urso se mexia ou rosnava, sendo essa a sua única maneira de se defender - Eu não te faço mal.. - disse, com uma voz tremula, como forma de tentar acalmar a vitima daquela armadilha. O enorme animal olhou para a criança, com um olhar já quase desvanecido, e fechou os olhos. Face a isto, Hashimaru aproximou-se lentamente e começou a examinar o local da ferida; aqueles dentes de metal estavam bem enterrados na carne do animal, o que tornaria doloroso se tentasse abrir a armadilha com as próprias mãos. Pensou e pensou, enquanto olhava para aquele objecto maldito, mas não conseguia pensar em nada. Olhou tristemente para o urso, como que a pedir-lhe desculpa, e colocou-lhe levemente as mãos na ferida deste. O pobre animal não reagiu, uma vez que as suas esperanças de sobreviver começavam agora a desaparecer - Não Kuma-chan! Não podes! - gritou a criança entre lágrimas. Não iria deixar aquele urso morrer, nem que fosse a ultima coisa que iria fazer. Inesperadamente, uma enorme camada de água começou a sair-lhe pela palma das mãos e a rodear a ferida do animal. Tal coisa parecia aliviar a dor que sentia e foi então que o pequeno Hashimaru decidiu agir. Com a pouca força que tinha começou a fazer pressão para que a armadilha se abrisse e, após algum tempos com algumas tentativas falhadas, acabou por conseguir. Nos segundos seguintes um enorme rugido de dor e alivio fez-se soar por toda a floresta, afastando alguns pássaros dali.
O pobre animal não iria conseguir mexer-se nos próximos minutos e precisava de cuidados imediatos, mas pelo aspecto abandonado da armadilha tudo indicava que não precisavam de se preocupar com caçadores. Sem mais demoras, correu pela floresta em busca de algumas folhas grandes e de algumas lianas para poder fazer um curativo improvisado. Não era médico nem tencionava sê-lo, mas havia coisas que até mesmo uma criança como Hashimaru conseguia fazer.