Tateei com cuidado a parede escarpada. Ao encontrar uma pequena brecha, enfiei os dedos nela e fiz força, impulsionando o meu corpo para cima. Com auxílio do suporte em que os meus pés estavam assentes alcancei o topo daquele monto. Estiquei o braço e agarrei-me à terra que emergia do topo. Raspei o chão com força, formando um pequeno buraco, mas extremamente útil. Agarrei-me a ele e voltei a atirar o meu corpo. Quando tinha a cintura no topo, rastejei. Senti o solo plano nos joelhos e por isso girei para os lados. Quando fiquei totalmente seguro em cima do monte inspirei profundamente, expirando de seguida. Senti a lufada de ar fresco e puro invadir-me os pulmões, limpando lentamente a sujidade interior que o meu corpo possuía. Levantei-me e olhei em volta. Eu queria sentir toda a energia que aquele espaço me trazia. A calma que emanava dele era imensa e era isso que eu precisava naquele momento: calma. A minha mente estava baralhada. O dia da morte da minha mãe aproximava-se e durante um curto período pré- e pós-morte eu ficava assim. Sentia-me sem chão, sem segurança, sem amor, um vazio, uma alma vazia de algo, uma alma que servia apenas para enfeitar este corpo. Procurei o ponto que mais me atraía. Um ponto igual, mas ao mesmo tempo diferente daqueles todos. Uma brisa fresca arrepiou a minha pele. Virei-me para a direção da brisa e vi o ponto perfeito. No meio de floresta densa uma bela cascata erguia-se. Não era muito grande nem muito imponente, mas era bela e única. Retirei a minha katana, cuidadosamente guardada na sua bainha negra com desenhos dourados e vermelhos. A sua beleza era única. Tinha sido forjada fina e com um metal extremamente branco e com alguma transparência que tornava a lâmina bela, mas mortal. O seu cabo era igual à bainha, mas mesmo assim tinha a sua elegância. O sol percorreu a lâmina, dando-lhe mais brilho e beleza. Coloquei a arma na horizontal e sentei-me à sua frente de pernas cruzadas. Retirei o gorro e pu-lo nas minhas pernas. Coloquei uma mão em cima da outra e juntei os polegares. Começava agora a minha meditação. Um sopro de vento agitou os meus cabelos. Várias imagens passavam-me à frente, mas uma repetia-se sempre: mãe.
“Abre os olhos e vê…”
Uma voz suave e doce falava comigo.
“Abre…”
“Ver o quê?” - perguntei
“Abre os olhos e vê…”
Ligeiramente abri os olhos. Eu estava noutro sítio. Olhei para baixo e vi estar sentado numa nuvem. Eu estava no céu (literalmente). A nuvem voava numa direção certa. Eu não queria perder a concentração, mas fiquei curioso com o espaço onde me encontrava. Olhei em frente e vi que a nuvem seguia uma luz ao fundo que ficava cada vez mais perto de mim. O céu começava a tornar-se laranja-rosado em vez do seu típico azul. A luz começava a ganhar forma e revelava-se ser uma ser-humano. Eu estava a adorar aquela experiência. Nunca a minha meditação tinha chegado a tal ponto. Eu sentia-me extremamente calmo, aconchegado, acarinhado. Eu sentia-me amado. O ser abre os seus braços iluminados. A luz deles alonga-se e rodeia-me. Em segundos estava dentro de uma cúpula brilhante e morna. De repente algo começa a aparecer nas paredes da cúpula. Começavam por aparecer desfocadas, mas iam ficando nítidas aos poucos. Eram memórias. As minhas memórias. Eram as únicas memórias que tinha da minha mãe. Um enorme sentimento de tristeza invade o meu coração. Inevitavelmente cai uma lágrima, uma gota de água salgada que escorreu pela face.
“Não chores meu filho…”
Não podia perder a concentração, mas procurei pela voz dentro da cúpula.
“M-Mãe?”
A minha voz mental tremeu. Senti o meu corpo a ser abraçado.
“Sim.”
“Oh Mãe…e-eu tenho tantas, mas tantas saudades tuas.”
“Eu também meu querido…”
“Porquê, Mãe, porquê? Porque nos foste roubada?”
Sentia os meus olhos cada vez mais quentes.
“Assim foi escrito e assim foi. A decisão não é nossa, meu querido. Isso cabe a alguém superior.”
“Volta mãe! Volta…”
Não aguentei e as lágrimas caíram. As memórias da cúpula mudaram e nelas apareceu sempre a mesma imagem: a minha mãe feliz.
“Não posso meu filho. Não é por não querer, é por não poder.”
“Eu não te quero esquecer e nem que tu me esqueças.”
“Eu não esqueço filho…”
“Promete. Promete!”
Senti uma mão na face.
“Prometo…”
Senti um beijo na face.
“Grandes coisas estão guardadas para ti. Luta pelos teus objetivos e deixa-me orgulhosa Shin.”
“Eu vou Mãe, eu vou deixar-te orgulhosa! Juro!”
“Eu amo-te meu querido filho.”
“Eu também te amo…Mãe!”
Perdi a concentração. A emoção era demasiada para poder aguentar. A dor tomou poder do meu coração e as lágrimas fluíram livremente pela minha cara:
-Tens de ser forte…Limpa a cara. Levanta-te. Sê forte. Tu tens de ser forte…Limpa a cara. . Levanta-te. Sê forte!
Esfreguei a cara e limpei as lágrimas que tentavam fugir dos meus olhos. Olhei para o Sol que fazia a água da cascata brilhar como uma estrela. Eu sorri com aquela imagem. A minha mente estava mais pronta para enfrentar os obstáculos que me tentariam impedir de prosseguir. Eu sabia que a minha mãe iria estar ao meu lado a apoiar-me e a aconselhar-me. De repente senti saudades do meu pai, do meu irmão e do resto da minha família, mas eu ainda não estava pronto para voltar a casa. Ainda havia muito para descobrir e eu não era forte. Olhei para o Norte e já conseguia avistar Kumo. Essa seria a minha primeira paragem. Aí eu iria treinar e, talvez, conhecer pessoas novas e fazer amizades. Arrumei a Katana e caminhei para a borda do monte. Concentrei o meu chakra na sola dos pés e comecei a descer o monte. Demorei alguns minutos até chegar à base. Dei um pequeno salto para a relva e comecei a caminhar. Assobiei e um cavalo negro aproximou-se:
-Estou de volta Senkou (Flash).
Passei a mão pelo seu focinho. O cavalo aproximou a cabeça do meu ombro e baixou-a de seguida, dando permissão para eu me montar. Fui para o lado e tirei de dentro de uma bolsa um manto negro com forro dourado. Vesti-o e montei o cavalo. Dei-lhe com os calcanhares na barriga e o cavalo sai disparado do local anterior em direção a Kumo.
- Citação :
- Em homenagem a todas as mães, FELIZ DIA DA MÃE! Espero que tenham gostado deste filler introdutório.