Treino 2
O ar estava pesado a cada passo dado por ele. As suas costas latejavam, as suas feridas sangravam, tinha os olhos cansados e as pernas pareciam dois blocos de pedra gigantes. Zef arrastava-se pelo imenso corredor á sua frente, as paredes estavam pintadas de vermelhos, uma substancia que escorria e encharcava as ligaduras dos seus pés meias comidas por algo. O ar fedia a morte e as paredes choravam sangue, aqui e ali conseguiam ver-se restos de corpos dilacerados e mutilados. A sua caminhada continuava pelo imenso corredor, houve um tempo em que tentou correr, mas aquilo tornou-se idiota pois o tempo não passava, o espaço permanecia inalterado e o seu estado cada vez mais deteriorado. Mas desta vez algo mudou, a luz que se erguia a sua frente e que indicava o fim daquele corredor pareceu mover-se, cada passo que dava a luz aumentava. E quando por fim se aproximou da luz soou uma voz no ar.
-És fraco…
Um silvo distante que se projetou pelas paredes agora nas suas costas, algo distante mas familiar. Então Zef entrou em pânico e procurou na luz algo que lhe abrisse o caminho, uma maçaneta uma ranhura algo. Zef arranhou, esgravatou, e bateu mas nada apareceu, as sua unhas tinham-se tornado manchas de sangue, carne viva que latejava a um qualquer movimento mesmo que muito leve. E a voz soou mais perto.
-És fraco…
Mais perto e cada vez mais familiar. Tudo naquele local se mostrava estranho, um corredor infinito, uma cena macabra no chão e nas paredes, um ar pesado e carregado que fedia a morte e agora uma voz familiar, nada naquele sitio parecia fazer sentido. E então ao longe soou uma data de salpicos, pequenos “splash’s” abafados que se projetavam pelo escuro. E cada mais perto, por trás de Zef brilhava aquela coisa estranha e projetava a sua sombra pelas paredes até tocar o breu do resto do corredor. Os splash’s continuaram e desta vez mais perto e com um ritmo mais acelerado. E voz apareceu novamente.
-És fraco…
A cara era branca, a voz mantinha-se serena como sempre, e sua katana deslizava pela bainha com um suave silvo, quase como uma melodia. Em frente a ele estava o pai, vestido de ANBU como sempre, o ar ainda tinha ficado mais carregado. Tão carregado que Zef entendeu o que era tudo aquilo. O tempo pareceu parar, a katana do pai tinha começado a perfurar o seu abdómen, a carne ali tinha-se tornado flácida e o sangue começara a jorrar quando as suas mãos se juntaram. E tudo aconteceu num flash, a katana deslizou e ele gritou em sofrimento.
-KAI!
Zef acordou ofegante e encharcado em suor, a sua barriga latejava furiosamente quando subitamente foi invadido por náuseas. Tinha os braços amarrados a uma cadeira metálica, e no fundo da sala projetava-se uma sombra. Mas quando ergueu a cabeça para ver quem era a boca transformou-se numa torrente de vomito que caia por entre as ligaduras agora amarelas.
Aquela sensação acabou por passar, e de súbito as amarras que o prendiam abriram-se com um sonoro som metálico.
-Um genjutsu, maldito sejas!
Zef levantou-se vagarosamente, o seu corpo estava todo dorido e fedia a vómito e suor. A sala estava mal iluminada mas parecia ser antiga e mal tratada, as paredes estavam desgastadas e em algumas estavam vários símbolos estranhos, alguns reconhecidos por Zef tais como o símbolo da sua vila e de outras. O vulto tinha desaparecido e ele encontrava-se nu com apenas as ligaduras a cobrirem o seu corpo. Rasgou as que cobriam a sua cara e dirigiu-se a porta onde o vulto estava. A porta projetava-se para uma escadaria que subia e se apresentava mal iluminada, as escadas estavam rachadas e eram feitas de cimento bruto, quando começou a a subir as tonturas voltaram a assolar o seu corpo e por diversas vezes tentou vomitar mas o seu estomago estava vazio e roncava no escuro. Quando chegou ao fim da escadaria na sua frente estava um antigo campo de treinos. O chão era de terra batida e por todo o lado estavam paredes de cimento, e bonecos de treino desgastados com o tempo e com o uso. Quando deu um passo em frente a sala iluminou-se por uns candeeireiros antigos que tinham uma luz melancólica amarelada e que piscavam de tempo a tempo. Mas algo captou a atenção de Zef, numa parede pendia a sua katana e ao lado uma porta negra de ferro ferrugento, quando se aproximou para tirar a katana da parede a voz voltou a soar.
-Entra.
Aquilo apanhou Zef desprevenido, estaria ele dentro de um genjutsu novamente, então só para ter a certeza voltou a juntar as mãos e a dizer.
-Kai!
Nada aconteceu, o que queria dizer que aquilo era realidade. Zef colocou a katana nas costas e entrou pela porta. A escuridão tinha-se apoderado do local e aporta atras de si fechou-se subitamente. Zef retirou a katana da bainha e colocou-a em riste esperava um ataque qualquer mas não sabia o que. Mas as sombras moveram-se e numa sucessão de inúmeros ataques Zef já se encontra no chão, as ligaduras beijavam o chão encharcado em sangue que jorrava das suas costas e braços.
-Fraco, já te ensinei que os olhos mentem. Os outros sentidos nem tanto.
E então a sala iluminou-se com ferro a colidir em ferro durante vários segundos, Zef conseguiu ver a localização das mesmas mas sabia que assim que a luz desaparece-se elas mudavam de lugar. Então assim que a escuridão voltou a cair Zef levantou-se do chão. Concentrou-se no que o rodeava.
“Os olhos mentem”
E com apenas uma pequena brisa que passou á sua frente Zef moveu-se graciosamente rodopiando com a sua katana acertando num dos clones que se desfez numa nuvem de fumo. Depois disso outros dois investiram contra ele, Zef deu um salto e ambos os clones colidiram pelo que depois foram perfurados simultaneamente pela katana de Zef. Pelo que se lembrava faltava apenas um, clone ou humano era o que preocupava Zef. Sentiu brevemente o corpo a mover-se, mas depressa desapareceu do seu ponto de perceção. Quando voltou a localizar o corpo já Zef voava pelo ar direito a porta de ferro que se abriu. Quando caiu no chão cuspiu o sangue que tinha nas costas e pôs-se de pé enquanto o seu oponente aparecia de dentro da sala tirando a máscara ANBU que tinha.
“Pai”
-Fraco…
Zef pegou na sua katana e carregou em direção ao pai. Este manteve-se no mesmo sitio apanhando a katana com a sua mão direita. Dando depois um torção tirando-a das mãos de Zef e depois atingindo-o com o pé na cara. Zef recompôs-se depressa, a adrenalina corria nas suas veias assim como o odio que tinha pelo pai. Zef executou uma serie de golpes de taijutsus tentando acertar no pai, mas este esquivou-se de todos os golpes. E depois era a vez dele ripostar, um soco voou em direção á cara de Zef levando-o ao chão por breves momentos, depois outro soco voou a direção da sua barriga mas este foi segurado pela sua mão direita, enquanto a mão direita do pai era parada pela esquerda de Zef. Então Zef levantou a cabeça mostrando uma cara cheia de raiva e que pingava de sangue pelos dentes vermelhos, enquanto desferia uma violenta cabeçada no pai. Este andou para trás atordoado pela cabeçada, mas Zef não perdeu tempo desferindo um uppercut no queixo do pai fazendo-o voar e aterrar com violência. Zef vacilou por momentos, a sua visão estava agora baça e as tonturas estavam de volta. Então atrás dele apareceu alguém, com uma voz que não conhecia e que apenas lhe sussurrou.
-Fim do treino.
Pondo-o de seguida inconsciente.