Treino 3
A chuva caía em Kiri, fria e molhada, encharcando tudo á sua passagem. Já se tinham passado três dias desde que começara a chover e não parecia ter fim á vista, mas para Zef era apenas mais um dia de treino com o seu pai. Desta vez iria reforçar o treino com a espada. Zef tinha colocado uma indumentária a que o pai chamava de “braço de ferro” Era uma enorme manga de couro dividida por vários segmentos e em cada segmento havia um certo peso. A manopla tinha pequenos pesos distribuídos pelas falanges dos dedos e nas costas da mão somando ao todo meio quilo, no antebraço vários pesos somam outro meio quilo, no braço outra camada de pesos soma um quilo certo e no ombro a parte final esta uma grande massa de aço que soma outros dois quilos, pesando ao todo quatro quilos e transformando um braço fraco num pedaço de rocha imóvel. Para este treino Zef tinha de golpear um grande pedaço de madeira com uma katana de carvalho adornada com uma guarda de aço de um quilo. O exercício resumia-se em duas fases, a primeira consistia numa sucessão de movimentos rápidos e giratórios á sua volta e de seguida Zef teria de desferir dez golpes no tronco de madeira. No fim dos dez golpes teria de voltar a executar os movimentos e assim sucessivamente até o pedaço de maneira se partir por completo. A primeira ronda foi fácil até o braço começar a tremer de cada vez que o levantava para desferir outro golpe no tronco. O seu pai observava de longe bebendo sake. Enquanto Zef se encontrava na chuva a golpear o tronco de madeira, Zef sabia que não podia vacilar e se tentasse abrandar nem que fosse por um bocado, o pai fazia com que não o voltasse a fazer. Depois de meia hora a katana parecia intocada, foi então que a voz do pai soou.
-Tens meia hora para acabar o exercício.
Aquilo foi como uma facada no peito de Zef, já se tinha passado meia hora e não tinha feito nada á katana de madeira, então encheu a mão de força e começou a desferir golpes no tranco ao mesmo tempo que parava para executar o resto do treino, o braço já não lhe doía mais, já estava anestesiado pela própria dor, apenas tinha na cabeça o objetivo de partir a katana. A chuva caía incessante assim como as estocadas no tronco, no meio do silencia apenas se ouvia o abafado som do “poc” de madeira a embater contra madeira. E quando por fim uma lasca saltou da pequena espada Zef não se guardou e finalizou o que tinha começado e deu por si a soltar um urro de raiva enquanto batia furiosamente com a espada ate surgir um sonoro “crac” e as lascas molhadas de madeira voarem por todo o lado. Deixando apenas na sua mão a pega e o disco de aço.
-Foi bom, mas esqueceste-te da primeira parte do exercício, coloca o outro braço de ferro.
Zef demorou um pouco a colocar aquilo tudo pois o braço direito doía-lhe e latejava como nunca antes tinha doído. Quando voltou para o jardim os braços dele pareciam duas coisas inanimadas que pendiam do seu corpo enquanto lutava para se manter de pé. O pai não disse nada e apenas apontou para uma corda de saltar fora do normal. O fio era laminado e esguio, como linha ninja mas capaz de cortar.
-Vai para aquele sítio e começa a saltar. Só para quando eu disser.
Disse o pai de Zef apontando para um sítio de terra que se tinha transformado em lama. Quando Zef puxou a corda para se preparar para saltar a linha tocou-lhe nas pernas cortando as ligaduras.
-Começa.
Então Zef começou a saltar, a cada salto os seus pés enterravam-se na lama pegajosa, e os braços tremiam tentando não perder a força, depois de dez saltos consecutivos Zef falhou e a linha encontrou-se com os seus calcanhares enterrando-se na carne, isso não doeu, o que doeu foi tirar a linha de lá. A lama cobria-lhe já grande parte dos pés pois a cada salto enterrava-se cada vez mais e depois de seis saltos voltou a falhar e a linha voltou a encontrar-se novamente com as suas pernas num local mais acima. Quando recomeçou, Zef lembrou-se do seu treino na academia e de como usavam o chakra na planta dos pés para se manterem á superfície da água. Demorou algum tempo até conseguir juntar o chakra nos pés devido aos ferimentos que lhe doíam. Quando começou a saltar tentou ajustar o fluxo de chakra ao mesmo tempo que se concentrava em não voltar a bater com a linha nas suas pernas, quando por fim conseguiu manter o fluxo de chakra estável as coisas melhoraram pois já não se enterrava na lama húmida. Quando finalmente estava a apanhar o jeito da coisa os seus braços falharam não conseguindo executar o salto a linha soltou-se e apanhou a parte frontal das pernas enterrando-se na pele e manchando as ligaduras molhadas em sangue e lama enquanto este caia de cara no chão.
-Por hoje já chega, vai-te lavar.
O pai levantou-se do alpendre e desapareceu na escuridão da casa enquanto a chuva parava e o céu se abria mostrando um radiante sol e um céu azul acolhedor enquanto Zef jazia a sangrar no meio da lama.
-Sou realmente um rapaz cheio de sorte.