Treino Quinto
~ Um desafio com objetivo ~
Estava um dia soalheiro na mansão dos Sakuragi. Hikaru tinha chegado antes do almoço, depois dos irmãos Midori se terem instalado na casa dos avós. Resolveram aproveitar a tarde para explorar a casa e ficaram espantados com a dimensão do jardim. Tinham espaço suficiente para treinar sem correrem o risco de danificarem alguma coisa nas traseiras da mansão. Pelo aspecto das redondezas, provavelmente teria sido mesmo usado como um campo de treinos privado.
A associação de ideias provocou Hikaru, que não resistia a desafiar a sua pequena aluna para um curto confronto. Gostava de ver como ela se sentia na obrigação de mostrar aos outros que eles estavam errados depois de a desafiarem e era definitivamente uma das melhores motivações que ela podia ter. De qualquer das maneiras, teria que ser bastante benevolente com ela, pois ela não duraria muito tempo se não se contivesse. Ainda era um pequeno rebento.
- E aproveitarmos aqui o nosso tempo para te treinarmos um bocadinho? – perguntou ele.
Ayame olhou para ele, quase como a fulminá-lo com o olhar. Ele era muito boa pessoa, mas era um sensei implacável. Não era nada gentil e exigia sempre demais. Mais de 110%, mais de 150%, talvez 200%. Até ganhara uma certa aversão à palavra “treino” sempre que vinha da boca dele.
- Kazuma. Dás-me autorização para lhe tratar da saúde? – inquiriu o ruivo, com um sorriso rasgado, a olhar para o amigo. Sabia a resposta dele.
- Depende do que lhe fizeres – replicou, mantendo uma cara séria forçada. Não resistiu a sorrir ao acrescentar: - Estás à vontade. Estarei aqui a observar.
- Também podes participar. Que dizes, Ayame?
Ela ficou branca. Dois jounins contra ela? Mais valia desistir logo.
- Estava a brincar, tolinha. Ainda tenho senso comum – explicou ele. Olhou para Kazuma, que se tinha ido sentar em baixo de uma árvore, com vista para eles, e retornou à explicação: – Bem, que tal… Tentares apanhar-me desprevenido? Mandar-me ao chão ou encostar-me contra a parede. Como quiseres.
- Algo me diz que é uma tarefa perto de impossível…
- Prometo que não ataco. Podes usar toda e qualquer estratégia e eu não ataco. Só mesmo evasão e talvez defesa quando necessitar para não magoar nenhum de nós. Está descansada.
- Hum-hum.
Ayame afastou-se um pouco dele para terem alguma margem de manobra e sacou da wakizashi que tinha guardada, colocando-se em posição.
- Pronta? – perguntou o jounin ruivo. Ao ver a confirmação dela, deu ordem para ela iniciar.
A recém-nomeada chuunin fez rapidamente os selos necessários e utilizou um Shizen Sōsa: Jōki usando folhas das árvores próximas para gastar o menor chakra possível, de forma a conseguir manipular uma cortina de folhas para dificultar a visão de Hikaru. Com algumas injecções leves de chakra para as manipular, fê-las rodopiar, subir nos céus e deixou-as cair. Enquanto elas caíam, um dente de leão surgiu nas suas mãos para iniciar Tanpopo no Gensou, invocando 4 cópias suas, que se colocaram à volta do seu sensei. Com um Konoha Shunshin no Jutsu (que as suas cópias imitaram com um simples desaparecer e reaparecer), trocou de posição com elas. Impulsionou-se com força para atacar com a wakizashi, sendo imitada pelas suas cópias. A pequena lâmina trocou num tronco e voltou-se para trás, esperando que a fuga tivesse acontecido para a sua retaguarda para a apanhar de surpresa. O seu cabelo foi puxado.
- Muito lenta, Ayame. Muito lenta. Pensa menos – disse ele. Antes que ela fosse capaz de utilizar o Harisenbon que preparava com selos para assim transformar o seu cabelo em agulhas, ele desvaneceu-se num shunshin, aterrando 5 metros à direita dela.
Ela abortou o jutsu e virou-se para ele. Com selos rápidos, preparou o seu Ha no Kata, dizendo “Bo” no final para formar um bastão. Fez novamente selos e lançou o seu Tsubaki no Shibari, prendendo-o. Correu para ele com o bastão nas mãos e, em vez de o atacar como seria esperado, utilizou o bastão como impulsionador para voar sobre ele, rondando sobre si para inverter a sua posição. Aproveitando a força extra do impulso rotativo, atacou com o bastão de forma a tentar desequilibrar o meu sensei. O bo foi parado quase instantaneamente por ele, que libertara um dos seus braços, enquanto ela pousava no chão.
- Não foi mal pensado. Mas conheço as trepadeiras há muito tempo para saber a quantidade de força que tenho que fazer para me libertar delas – explicou ele. – Vamos lá começar uma nova ronda.
Ayame fez as trepadeiras e o bastão desaparecer e afastou-se um pouco, colocando-se em posição de combate. Se não conseguia com combinações e estratégia, iria lá por força bruta. Escondeu uma rosa dentro do seu cabelo, apanhado no fundo apenas para não esvoaçar demasiado, tentando ser discreta como se fosse arranjá-lo por estar desalinhado.
Ao sinal de Hikaru, correu em direcção a ele, encolheu-se e fez-lhe uma placagem. Sabia que ele teria muito mais força que ele, mas a sua intenção não era derrubá-lo. Apenas esperava uma reacção dele à placagem. Quando viu que ele respondeu igualmente com força para não se deixar derrubar, desapareceu num shunshin e tirou a rosa do cabelo, transformando-a no chicote (Keibara) e lançando-o para agarrar uma das pernas dele. Puxou-a e ele caiu, desequilibrado por ter feito força para a frente para aguentar a placagem e ela se ter aproveitado daquele momento.
A chuunin riu-se. Uma estratégia tão básica funcionara e outras mais inteligentes não tinham tido o mesmo resultado.
Ele rebolou na relva, para olhar para o céu. Encontrou os olhos verdes da sua aluna. Ela aproximara-se dele, olhando para a sua figura deitada no solo, e Kazuma dirigia-se também a eles, com um sorriso trocista.
- Às vezes, a tua inteligência trai-te, Hikaru – disse o Midori.
- Nem esperava que isto fosse funcionar – confessou a irmã, soltando novamente uma gargalhada.
O ruivo colocou a mão na cara. Eles pensaram que ele estaria envergonhado, mas Hikaru simplesmente se riu. Kazuma tinha razão. Tanta coisa a pensar no que ela poderia fazer a seguir e esquecera-se do que seria mais simples.
- Tenho que te dar mérito, Ayame. Mereceste – disse ele, abrindo os braços no relvado. – E isto aqui é agradável.
Ayame sorriu e deitou-lhe a língua de fora. A primeira vitória que tivera sobre o seu sensei, ainda que tivesse sido uma tão pequena. Mas era com pequenas vitórias que se preparavam as grandes.