A gota gélida de suor seguira pelo meu rosto, passando ao lado dos olhos e escorrendo sem pressa até onde minha face delineava-se; caindo despojada ao chão, coberto por um manto de areia que se estendia até sabe-se lá onde. Em um movimento suave com o pescoço, da direita para a esquerda, observo o local em que estava. Se bem, que aquele lugar não havia o que olhar. Um deserto não costuma esconder muitos segredos; não na maioria das vezes. Bem, eu posso estar enganado.

Meu pai havia contratado um ninja já aposentado para me treinar, para mim era um pouco desconfortante. Mal sabia quem era o cara, eu sempre me lamentei o fato de meu pai ser um homem muito ocupado. Mas não o culpo, ele ajuda a vila. Sei que algum dia eu estarei fazendo o mesmo.

Ajusto o tecido leve de minha camisa, não queria que aquilo me atrapalhasse durante o treino. Num segundo, avisto a silhueta que se movimentava devagar, estava contra o sol, e a aquela altura meus olhos pouco enxergavam, devido aos raios ultra-violetas que penetravam meu globo ocular. ─ Você demorou! ─ Exclamei, num tom desapontado, com uma das mãos cobrindo os olhos. Eu parecia estar meio cego. ─ Você já deve saber meu nome, meu pai deve ter dito. Logo, se pudermos pular a parte das apresentações seria uma coisa bem agradável. ─ Enunciei, fitando-o.

- Muito bem, garoto. Você parece bem direto. Já que quer tanto dar inicio, pode começar. - Ele sorriu, sua voz era suave porém rouca. Quando ele se aproximou, pude ver seu rosto. Era velho, cabelos brancos amarrados de uma maneira peculiar; e uma barba estilo Pai Mei. Não aparentou ser muito forte, particularmente, ainda mais porquê usava uma muleta.

Dito isto, eu poderia dar inicio ao treino. Flexiono meus joelhos numa curvatura com ambas as pernas, ligando-as diretamente ao solo, forçando-a contra ele. Eu iria pegar impulso daquela forma, enquanto isso, concitava os braços sorrateiro até a hip-pouch para pegar duas lâminas. Uma em cada a mão, aquilo me daria tempo. Então num movimento circunspecto lançara-as. Eu ainda estava com a visão um pouco cega pelo sol, mas, mesmo assim parti para frente com toda velocidade que havia adquirido com o auxilio do impulso anterior. O velho usou a muleta que empunhava em mãos para cessar o movimento das duas lâminas ornamentadas, em forma de três pontas. Em três segundos eu cheguei até ele, meu braço direito estava atrás de meu tronco, pronto para acertá-lo com um golpe no rosto. Colocando todo o peso de meu corpo naquele golpe tentei acertá-lo, sem sucesso. O velho interrompia meu movimento sem dificuldades, com uma das mãos, enquanto usara a muleta para contra-atacar, golpeando-me no estômago. Caí a alguns metros, para o lado. Ele havia feito um movimento diagonal com o objeto.

─ Essa muleta é de aço? ─ Bufando, me levantei com uma pequena dor na região do tórax. Eu sabia que se continuasse daquele jeito não iria longe. Afinal, o velho parecia ser bem experiente.

Ele sorriu ao ouvir minha pergunta, sarcasmo puro. De pé novamente fiquei, irresoluto, observando agora o que me parecia anteriormente um velho inerme; se tornar num velho convicto pela suas habilidades.

─ Lá vou eu de novo. Se prepara, velhote! ─ Anunciei, porém agora iria pensar numa estratégia mais delicada. Corri freneticamente até ele, com toda minha perspicácia possível. Perto dele, colocara uma das mãos ao solo, apoiando meu corpo no chão, neste momento deixara um papel explosivo na areia. Levando meus pés a altura de sua cabeça, numa tentativa de ataque frontal no crânio, com uma seqüência de dois chutes. Ele se abaixou numa velocidade absurda, e desviou ambos os ataques, me golpeando novamente, porém desta vez com um soco na mesma região estomacal. Recebi o ataque, mas por sorte consegui ficar de pé, com ambas as mãos para frente de meu corpo. Sorri para ele. Era tarde demais para ele sequer pensar em desviar. ─ Te peguei, velho. ─  Trovejei com um semblante irônico.

A explosão atingira uma relevância tremenda, me protegi com os braços, numa espécie de "X" que ambos formavam à frente de meu corpo, na altura de minha cabeça. Uma grossa cortina de fumaça se formou. Era a minha chance. Saltei numa altura mediana ─ Katon ─ logo, selos rápidos e habilidosos ─ Gokakyu no Jutsu! ─ Inspirara todo o ar possível; inflando meus pulmões ao máximo. O calor da região me era companheiro, logo, usaria dele a vantagem para deixar a técnica ainda mais forte. Nisso, liberei pela boca um bola de fogo mediana. Porém, suficientemente grande para cobrir toda a região em que a cortina de fumaça se estendia. Cai no chão, amortecendo a queda na fofa areia. Abaixado.

- Será? - A mesma voz suave atingiu meus ouvidos. Atrás, calculei. Fui virando a cabeça, de esguelha pude ver seus punhos cerrados, entretanto, não fui rápido o suficiente para desviar o soco na maçã de meu rosto que me jogou cerca de sete metros para frente. Meu corpo girou no ar e caiu sem jeito na areia. Expectando aquele cenário que era impossível para mim, levantei. Meu corpo doía. ─ Como? Isso é impossível. ─ Esbravejei, indignado. O velho mostrara a mesma feição de antes. - Ser um ninja requer estratégia, ser ninja é perigoso. É assustador. Na maioria das vezes, acaba com a gente de um jeito penoso e detestável. Significa que você nunca deve baixar a guarda. Você precisa sempre ter uma carta na manga, mesmo que isso acarrete dor. Ser ninja significa que você sempre deve ter um movimento inesperado. A arte ninja se baseia em movimentos falsos, o primeiro ou segundo, tanto faz. Logo, não ataque sem mais nem menos, você sempre terá de ter um às para colocar no jogo. O que andam ensinando nos dias de hoje? -  Ironizou no final, o velho. Meus olhos cintilaram com fulgor, por um momento entrei em um semi-transe. ─ Bunshin? ─ Inquiri, já de pé, ereto. ─ Você é bem esperto. ─  Austero, sopitava.

Pensando nas palavras do velho, criei um novo palco em minha mente. Começo a correr, executando selos simplórios, que desencadeariam um Kawarimi. Coloco discreto, um papel bomba que iria se acoplar com a técnica. ─ Estratégia, não é mesmo? ─ Faço o fluxo de chakra se concentrar em maior número nas solas dos pés, para meus movimentos serem mais rápidos. Chegando com ainda mais velocidade, fazendo de propósito um ataque errôneo com as pernas, numa espécie de voadora. O velho se movimenta para o lado, desviando do golpe, e atacando verticalmente com a muleta em minha cabeça. O kawarimi é revelado, junto com ele um papel bomba. Apareci atrás do velho, efetuando os selos do Kawarimi novamente, já com um papel bomba acopládo. A explosão do Kawarimi anterior calhou, tinha certeza que agora não seria um clone. Com uma cotovelada tentei acertá-lo nas costas, porém ele segurou meu braço e me jogou na direção de explosão. Ele recuara. Outra explosão aconteceu.

Focado nas duas explosões ele não me via. Provavelmente achara que eu havia feito somente um Kawarimi, o fato de eu aparecer por trás pode ter me dado a vantagem dele não ter visto os selos. Com o resto de chakra que me restava, começara a liberá-lo para fora do corpo, porém sua essência era translúcida; e iria afetar o cérebro do homem causando a falsa visão de clones meus. Aquilo foi rápido, o velho começara a se movimentar sozinho, como se já pudesse ver meus clones. Eu de longe observava.

Mas, para a minha surpresa ele parara, e olhara diretamente para mim. Eu, o verdadeiro. O velho sorria, irônico. - Acha mesmo que iria me pegar com uma técnica como essa? Mas devo admitir, você pelo menos pensou dessa vez. Me distrair com duas explosões, para deixar a guarda baixa e me colocar num Genjutsu. Parece que você entendeu bem o que eu disse. - Observei-o, furioso. ─ Como conseguiu sair dele? ─ Inquiri, cansado, suava e ofegava muito. - Isso foi fácil, sou velho e experiente. Genjutsus assim simplesmente são tão fracos que posso libertar-me apenas mordendo meu lábio inferior. Agora, descanse, iremos nos encontrar novamente em breve para um próximo treino. Espero que esteja mais forte até lá. Adeus... - O velho sumira assim do nada. ─ Espere, qual seu no..? ─

Logo depois, voltara para casa, meu corpo doía muito. Precisava de um descanso e uma boa ducha para voltar ao cem por cento.