Droga. Ainda não estava perfeito.
"
Vamos lá, mais uma vez." eu disse ao rapaz que me acompanhava. Ele suspirou profundo, levantando-se da cadeira e esticando as costas. Aproveitei o momento e sentei-me de pernas cruzadas no chão, descansando os músculos que queimavam, pulsantes.
Ele era um bom homem, por volta de seus 25 anos, que trabalhava no bar tocando instrumentos de sopro. Um Chunnin, especializado em Genjutsus sonoros, que estava avançado no domínio do Futon, embora gostasse bastante de tocar suas músicas apenas por diversão. Já tínhamos uma parceria desde que eu havia chegado em Suna, e por isso meus treinos exaustivos não eram nenhuma novidade para ele.
"
De novo? Já deve ser a vigésima vez que repetimos essa música essa manhã..." ele reclamou, pegando um copo de água próximo e ingerindo-o em uma só golada.
"
Vigésima terceira." corrigi.
"
Pior ainda."
Por mais que ele se fizesse de difícil, eu já sabia que uma hora ou outra ele aceitaria a continuar o treino. Afinal, isso o ajudava a melhorar sua performance no salão. E por mais que eu soubesse dançar bem, sempre havia espaço para melhorias.
A coreografia desta vez era a de uma canção nova, vinda de uma nação menor aliada a Suna.
Festa das Abóboras era seu nome. Estava se tornando cada vez mais famosa, ou seja, em breve poderia ser requisitada por um de nossos fregueses. E nós não podemos decepcionar a clientela.
"Ok, te dou uma pausa de dois minutos. Depois tentaremos mais uma última vez." ordenei.
Ele deu um grunhido de concordância, e passou a lustrar sua gaita no tempo livre. Enquanto isso, parei para refletir nos passos de minha coreografia. Talvez se fizesse pequenas modificações, especialmente
ali e
ali, a dança se tornasse mais fluida. A coreografia que tinham me mostrado tinha muitos passos pesados, e mais da metade deles eram desnecessários: eram passos pouco elaborados para dançarinos novatos ganharem tempo, e poderem rapidamente recuperar o ritmo da música, sem mostrar isso à plateia.
"
Mas por que você está se esforçando tanto assim hoje?" ele perguntou, dando ênfase ao
hoje, interrompendo meu planejamento.
"
Ah, mas eu não sou sempre animada assim?" perguntei, com um sorriso no rosto, embora soubesse exatamente sobre o que ele estava falando.
"
Bem... em menos de duas horas começa seu exame. Achei que seria melhor se você descansasse bastante para fazer a prova." ele completou.
Ele tinha razão; eu já estava ficando exausta. Os braços estavam começando a doer, de tanto agitá-los de um lado ao outro, e a minha respiração estava ofegante e dolorida. Mas ele não entendia o meu nervosismo.
Ele não sabia que apenas a dança podia me acalmar nesse momento.
"
Ok, fim do intervalo. Pode voltar." disse, sem respondê-lo. Com um impulso, voltei a ficar de pé, assumindo a posição inicial.
Soltando uma leve risada, ele levou a gaita à boca. Era uma instrumental bastante animada, agitada até, que podia ser tocada com apenas três instrumentos: gaita, pandeiro e viola. Alguns adicionavam pratos e tambores também, mas não eram tão necessários assim.
Mas tudo mudou quando a
nação do fogo atacou música começou.
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Meus pensamentos se esvaneceram quando a gaita começou a ser tocada. Toda a minha cabeça se esvaziou, e por mais que eu tentasse, eu conseguia apenas pensar na coreografia. O início, braço esquerdo fazendo um arco para frente, girando o corpo lentamente para o outro lado, pé esquerdo aqui, pé direito ali. Passos leves que fluíam perfeitamente com o desenrolar lento da canção.
Depois entrava o meu pandeiro. Um dos únicos instrumentos que eu tinha aprendido a tocar. Era bastante versátil, visto que eu podia tocá-lo enquanto dançava, o que era uma obrigação para qualquer instrumento que eu planejasse tocar. Nessa parte, o ritmo começava a aumentar, mas nada muito dramático.
Quando entrava a viola, a dança atingia seu primeiro clímax. Nesse momento, ele largava as mãos da gaita, e passava a manipulá-la com algum ninjutsu Futon, deixando as mãos livres para que ele pudesse tocar sua viola e seu tambor. Os passos se tornavam mais rápidos, e os movimentos mais precisos. E embora fosse complicado, era a melhor forma de relaxar que eu conhecia.
O corpo entrou no piloto-automático, e então comecei a ter breves lembranças do tempo no orfanato. A forma como eu dançava para as crianças, usando a música como uma válvula de escape para todas as minhas emoções. É, eu acho que não tinha crescido muito nesse ponto.
Seria correto até mesmo dizer que eu era viciada em dançar. Se eu não dançasse, eu enlouqueceria.
Então chegou ao segundo clímax. Nesse momento, minhas pernas realizaram um pequeno salto, alto apenas o suficiente para dar um ligeiro giro de meia volta. Então a música dava um breve
twirl, e os passos começavam a parecer melancólicos. É nessa quebra de expectativa que os dançarinos novatos aproveitam para retomar o fôlego. Mas eu já estava acostumada, e emendei um passo extra com os braços, rapidamente subindo juntos e lentamente descendo abertos.
Senti a música fraquejar com minha súbita mudança de coreografia. Mas ele era um bom músico, e recuperou a tempo o ritmo em sua gaita.
Em pouco tempo o terceiro clímax chegou, quando todos os outros instrumentos se calam, e apenas a gaita compõe o ritmo. Nesse momento, o dançarino deve reduzir drasticamente a velocidade e voltar a algo parecido ao começo da música. E então, alguns segundos depois, a música sofre um
boom, e o ritmo frenético volta a ser como era antes.
Braço esquerdo, perna esquerda, cintura, perna direita, joelho esquerdo, ombro para a esquerda, rodadinha... a música estava acabando. E, com os toques finais da gaita, assumi a posição final da música, terminando com minha reverência de assinatura.
E o silêncio permaneceu por alguns segundos.
Apenas a respiração bufante de duas pessoas podia ser ouvida.
Até que então meu músico soltou um assobio de aprovação.
Finalmente, estava pronta para fazer meu exame.