- Anteriormente escreveu:
- - Azura! Acorda! Seu maldito! Acorde!
De início a expressão do ex-ruivo era uma incógnita, a sombra da noite cobria-lhe a face e a chuva inundava os olhos do gennin… E foi quando amanheceu.
O sol surgiu nas montanhas ao longe, e apesar das nuvens de chuva impedirem seu contato direto com kirigakure, sua luz ajudava muito para discenir o que era o quê.
Ambos estavam sob ruínas, como se estivessem saído de uma guerra, e quando a luz tocou a face de ambos, o tokubetsu o reconheceu.
Sua pele pareceu queimar novamente e, tal como aqueles raios negros consumiram seu corpo em uma velocidade absurda, eles regrediram. A medida que isto acontecia, sua “monstruosidade” também desaparecia. Seu cabelo voltou ao vermelho escuro que sempre fora, a pele cinzenta tornou-se tão pálida quanto antes e os espinhos desapareceram completamente, tal como o braço monstruoso que erguia Zef.
- Ugh… Azura! - O cativo falou quando percebeu que o rapaz voltava de seu modo berserk temporário. - Poderia fazer o favor de me soltar?
Filler 29
- Hiato -
Solitária
Os passos ecoaram no corredor vazio, sons uniformes compassados em um timming perfeito, quase uma marcha. Mais perfeito ainda era o eco que aquele som formava, como uma repetição eterna de um acorde recém tocado. E quando aquele som reconfortante parou, outro som se fez, metálico, irregular.
- Hora do almoço. - A voz do zelador ecoou rouca na solitária. - Coma desta vez, pra variar… - Pelo vão abaixo da porta, ele empurrou uma bandeja de ferro e, tateando com a mão pela fresta, alcançou a outra bandeja que já estava no local. Intacta.
“E você não comeu de novo, rapaz… Deveria cuidar mais de si, não são todos que tem o privilégio de comer todo dia.” A voz do velho homem foi se afastando a medida que seus passos o levavam para longe, uma voz cansada, preocupada, sentida.
Azura degustava cada som como se fosse um faminto. Ali, naquele completo silêncio da sua cela na solitária, ele aprendeu a dar valor nos sons. Parecia algo idiota. Porque ERA algo idiota. Inútil. E mesmo assim aquilo o fascinava.
Ele estava em um canto da sala estofada, sentado e agarrado nos próprios joelhos, com a face escondida do mundo e os olhos abertos, observando o vazio. Faziam exatamente 10 horas e 32 minutos que ele estava na mesma posição.
O mês tinha passado voando aos seus olhos, ele passara seus dias em uma espécie de meditação, se movendo muito pouco, como quem tivesse medo de fazer algo errado. E era esse pensamento que o motivava a isso. Desde que recebera sangue de Juugo, seu corpo condicionou-se a passar por uma transformação chamada senninka, um estado de batalha que provia grande poder, mas uma loucura proporcional a isto. E neste tempo, coisas incomuns aconteceram em seu corpo, como se alguém lhe desse um soco e abrisse seus olhos para a realidade. O chakra que anteriormente era seu, e de seu total controle, era agora como um agente desconhecido em seu corpo, como se estivesse disposto a trai-lo a qualquer momento e tomar conta de sua consciência. Ele tinha que tomar cuidado para suprimir esta força constantemente. Constantemente…
Ele ainda era incapaz de sentir. Indiferente a maioria das coisas que o rodeavam, até mesmo ao velho zelador que desenvolveu uma espécie de apego pelo seu prisioneiro… Mas algo mudou. Sua curiosidade aumentava a cada dia, ele desejava saber, agora prestava cada vez mais atenção em coisas mínimas que não havia visto ou ouvido antes, como se vivesse em um mundo completamente diferente do que vivera a vida toda, apesar de serem no mesmo local.
Falando em sentimentos… Desde a noite em que recebera sangue de juugo e matara 12 civis de kiri, estranhos sonhos o tem visitado durante as poucas horas de descanso… Nestes sonhos, ele busca suas memórias atrás de assassinatos e crimes, como se visse um filme de sua curta vida. Durante este meio tempo em que esteve preso, Azura formulou a teoria de que-
- Azura-san! - A porta de aço ecoou batidas nervosas, seguidas pela voz do zelador. - Você tem visita. Por favor encoste-se na parede e não tente nada que me faça matá-lo…
A porta abriu, e dela uma luz cegante invadiu o cômodo sombrio.
- Azura-dono? - Era Amaya, a neta de Amagi, seu criador. A loira adentrou a sala lentamente tentando acostumar os olhos a fraca luminosidade. - Você está ai?
Uma pergunta idiota. O kirinin cativo pensou para si mesmo. Como ele não estaria lá?
- Faz tempo que não nos vemos, não é? - Ela continuou o monólogo. - Você está preso a quanto tempo? Será Um mês? Morto como é, aposto que não percebeu o tempo passar. Amanhã será meu aniversário, sabia? - Ela caminhava cada vez mais para dentro da sala, dando passos curtos dentro da escuridão do cômodo. Aos seus olhos, tudo o que havia ali dentro era um manto de escuridão intransponível e apenas o que ela podia ver era a pouca faixa de chão que a luz vinda pela porta revelava. Aos olhos do rapaz, ela estava ali. Indefesa.
De repente, como em um filme de terror, lá estava ele. Seus olhos amarelados ameaçavam a garota em um soco de uma mão monstruosa.
- BWAHAHAHAHAH! - Ele gritava e gargalhava como louco, enquanto as tatuagens de relâmpagos marcavam sua pele.
- Kya! - Amaya jogou-se para trás em um grito misturado ao seu susto. Caiu a tempo de ver o golpe que vinha em sua direção ser parado por uma grossa corrente prendendo o punho hostil.
- arf… arf… hahahahahaha… Saia daqui… Hahaha… - Azura alternava entre respirar e gargalhar, mas o que restava de sua consciencia ainda sussurrava as suas frases que faziam sentido em meio ao furor.
Ela o olhou com medo em seus olhos, uma expressão de terror. Sem dizer uma palavra então, virou-se e correu como se fugisse da morte… A porta fechou-se em suas costas, deixando um Azura imóvel na sala. A transformação regrediu, as marcas sumiram e seus cabelos voltaram a ser vermelhos. A expressão na face do rapaz voltou ao sereno habitual… Ele havia se descontrolado novamente…
Caminhou até o canto da sala para voltar a posição de costume, ele precivasa de mais isolamento, mais meditação. Não estava preparado para sair… Sua mente trabalhava rápido. Sempre trabalhou. E sendo assim, uma luz piscou em sua mente. De repente, as palavras sem sentido que Amaya disse se embaralharam em sua mente, como se voassem sobre seus olhos, mas ainda assim sob eles.
“Você está preso a quanto tempo?”
“Será um mês?”
“Morto como é, aposto que não percebeu o tempo passar.”
“Amanhã será meu aniversário, sabia?”
Agora tudo fazia sentido, de alguma forma maluca, ele percebeu a mensagem escondida nestes comentários aparentemente inúteis…
“Você. Será. Morto. Amanhã.”