. S a g a . N i n j a . d e . M i t s u k u b a n e . K o u .
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L I N C E
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Capítulo XI - Titã Prio
"A mente de Kou era uma comeia furiosa de abelhas. Seus pensamentos zuniam e sua cabeça doía, tentando assimilar todos os fatos atirados com tanta violência: Lince tentando salvar um milhar de vidas, seu passado entrelaçado a esse monstro comandando os massacres. Bastava fechar os olhos que podia ver Tohru e Aya sendo esmagados pela fúria de Prio. "Assim que Lince me levar, estarei morto para o mundo.", pensou Kou. "Mas agora estou vivo. E enquanto viver, meus amigos ficarão seguros. É o meu dever."
– Tenho que... – O próprio Kou se interrompeu, voltando-se para a sala com Lince. Seus olhos percorreram desde a madeira poída as paredes desgastadas, e em uma delas encontrou pendurado um arco de caça, um pouco empoeirado, mas ainda seria útil. O capturou e o passou em volta do corpo esquio, assim como também pegou uma única flecha espetada na cabeça de um decorativo javali empalhado.
– Apenas uma flecha? Kou, você não pode, vai morrer! – alertou a Lince, visivelmente alterada.
– Somente deixe-me tirá-los daqui. Eles vivos, sou seu. Para sempre.
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Aya era ágil, mas o titã Prio parecia ser mais: mesmo desarmado, podia quebrar seus ossos em um piscar de olhos. Ela dançava apoiada em seus calcanhares, esquivando-se de um golpe após o outro, enquanto cantava baixinho. Era um genjutsu para crianças de seu clã, mas a mantinha alerta e, imperceptivelmente, tinha efeito sobre o oponente, cujos movimentos se tornaram uma fração de segundo mais lentos. A menina rodopiou quando um tapa a acertou, mas em nenhum momento perdeu o equilibro. Livrou-se da investida seguinte esquivando-se para o lado, mas apenas conseguiu juntar os braços para bloquear o próximo ataque.
E com aquela sentinela, bloquear não era uma coisa boa.
Ela foi atirada para trás e, com um baque, suas costas foram de encontro com o parapeito da janela. Sem ar, a menina arquejou, temporariamente inválida, mas logo pôs-se de pé para esquivar da surra. De relance viu uma silhueta franzina, e seu coração se encheu de esperança. Era Kou.
O pequeno saltou a janela da torre em que estava e escalou, com a flecha presa aos dentes e suas mãos embebidas em um chakra estável. Escalou a parede de madeira pintada e, uma vez no telhado, arremessou o próprio corpo numa queda livre em direção à sua amiga que muitos considerariam como insana.
Mas insana foi sua força.
As mãos nuas de Kou se enrijeceram em um golpe titânico que rompeu até mesmo as paredes erguidas pelo medo. O punho esquerdo atravessou a madeira como se ela fosse papelão e apenas parou quando conseguiu tocar a face do louco da besta laranja. O contato o atirou, rodopiando, numa distância segura o suficiente para que o gennin pegasse no arco, mas ao invés disso, ele tomou a menina nos braços e fugiu.
– K-kou-kun, você... – a loira agarrou sua nuca enquanto ele a levava em segurança para longe daquela sentinela. Permitiu-se não falar. Permitiu-se apenas encostar os lábios finos no tecido que cobria o ombro de Kou. Sentiu-se pela primeira vez quente desde que havia saído da vila, mas o calor lhe foi tirado quando os braços do menor a deixaram em terra.
Com exceção das próprias torres e dos caixotes empilhados, a área de plantação era tão vasta que não se podia ver, dali, seu fim. O verde das folhas se fundia com o negro da a noite, mas a aurora começa dar seus primeiros sinais de proximidade. Tohru estava ainda nos caixotes, pouco lúcido e severamente contorcido. A menina levou as mãos à boca, por um momento acreditando no pior, mas seu companheiro Kou tomou posição. Ele colocou o amigo sentado, mesmo que inconsciente, e pressionou as palmas das mãos com uma boa dose do seu próprio chakra.
– Por favor... – rezava o menino, numa prece esperançosa. Colocou mais chakra, e mais, e mais, até o brilho esverdeado parecer fazer parte dele. Aya ajoelhou-se, segurando com as mãos o rosto de Tohru, observando qualquer sinal de lucidez. Até que os olhos brilhantes do grandão voltaram ao mundo.
– Graças aos deuses – ela o abraçou, aflita. Permitiu-se a sensibilidade de uma criança, coisa que não fazia havia tempo, e chorou. Chorou por medo, chorou por ser forte demais. Chorou de saudades. Ainda era nova. Sentiu os dedos macios de Kou tocarem suas maçãs e pode ver também seu olhar preocupado. “Ah Kou, você amadureceu tanto... Tão pequeno, e agora tão grande. Eu não tinha percebido. Você está mais forte que eu. Tenho medo, você sabe. Nunca tive tanto.”, quis dizer, mas as palavras ficaram presas na garganta.
– Nada mais de ruim te vai acontecer, eu prometo. – a boca do moreno proferiu. Ele lia expressões, tinha esquecido. Os cabelos dourados lhe caiam no rosto, então tratou de prendê-los enquanto Kou arrastava o corpo de Tohru até um casebre próximo. Pelo cheiro, podia ser um celeiro. Ajudou o médico a deitá-lo sobre o feno e pôs-se de pé, ansiosa para tomar alguma atitude.
– Temos que voltar para a vila imediatamente. Ele e eu achamos alguns documentos acerca do que anta a acontecer por trás de todo esse negócio. Pessoas estão sendo avaliadas por algum motivo. Encontramos nomes que estão na lista de desaparecidos de Kumogakure.
– São apostas. É como um torneio onde sobreviventes de um abate coletivo lutam para ter uma liberdade mentirosa. Lince me contou.
– Esteve com ela? Ela está aqui, neste lugar?
– Sim... E é pior do que parece. Pessoas de todos os cantos das cinco nações estão nisso, e é um sistema grande demais de se quebrar por fora. Lince tem um plano para acabar com tais atrocidades. – o pequeno falou, ainda tratando do outro. Aya não conseguia enxergar motivos para ele ainda confiar na louca Nara, mas sabia que o menor não era ingênuo demais para se deixar enganar. Certamente tinha seus motivos, então não perguntou.
– Voltamos agora, e chamamos reforços. Isto já não está mais em nossas capacidades como ninja. – a menina passou o braço de Tohru por cima de sua nuca e, depois de Kou ter feito o mesmo, pôs-se a andar. Suas dores não eram nada. Ia para casa.
Mas a menina Aya teve suas esperanças estranguladas quando viu aquilo.
A silhueta familiar de Prio carregava uma aura que não era sua. Tinha veias saltadas, e mancava mais que andava. Mas sempre na direção das crianças. Sempre querendo matá-los. Seu olhar estava tão ébrio quando o de sua parceira de cabelos cor de rosa. Suas mãos moviam-se em espasmos, e aquilo de forma alguma podia ser bom.
– Eu venci aquilo, eu venci. – a voz dele era tão rouca quanto sombria. Parecia trovejar. – Eu matei o meu melhor amigo. Ele não queria ser isso, mas eu era. É fácil matar quando se começa. Apenas a primeira vida crava em você a culpa, fiquem sabendo. As outras são como esmagar passarinhos. Elas gritam. Para depois não serem mais nada.
– Podemos acabar com isso! – gritou Kou, mas sua voz vacilou e o entregou, o que não o impediu de continuar – Há um jeito, você sabe que há! Permita-nos tentar!
– Ha, você acha que quero acabar com isso? Que se foda quem morre. Sobreviverei. E vocês parecem prontos para se tornarem nada, como bons passarinhos.
E, em um movimento estonteantemente rápido, Prio surgiu entre os três, pegando-os de surpresa. Tohru desabou, gemendo. A menina Aya, de guarda baixa, só conseguiu virar-se para observar o rosto do menino médico se agarrado pela mão gigante. O titã girou Kou no ar e até tentou o arremessar, mas como bom inseto, ele usou mãos e pés para se prender ao braço do oponente. A loira, vislumbrando uma brecha, saltou sobre as costas da sentinela e cravou as unhas em seu gosto, fazendo-o gritar. Começava a pressionar os indicadores contra os globos oculares furiosos que se contorciam, mas a outra mão livre a tirou pelos cabelos.
– MORRAM! – urrou Prio projetando a cabeça de Kou contra à de Aya.
Tohru não foi capaz de impedir que as cabeças de seus companheiros se encontrassem, mas foi graças a ele que ambos não foram esmagados. Suas mãos se fecharam nos punhos do maior e, revoltado, socou violenta e repetidamente o rosto do homem que passou a odiar.
– Nós, passarinhos, vamos te bicar até a morte! – ele gritou, entre socos. Suas mãos estavam em carne viva, mas o touro não parou que tanto Kou quanto Aya fossem largados.
Prio atirou-os para lados distintos enquanto tentava se livrar do terceiro, mas estava perdendo os sentidos. O calor da luta lhe inflamava o peito, e uma fúria assassina lhe tomava o corpo. Lembrou-se de seus dias de massacre. Lembrou-se de como ganhou e de onde toda sua força vinha. Ele era humano, mas também era besta.
E agora, a libertaria.
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Quanto tempo, uh? Bem, a missão de Kou, Aya e Tohru
segue tomando rumos difíceis de prever. E fazia tempo que não escrevia, então para mim está sendo bom voltar. Se alguém estiver perdido na história, é só clicar aqui para checar o índice.
Até o próximo filler!