- Citação :
- O dia começou de uma maneira estranha; Brian olhou pela janela do seu quarto e percebeu que não estava chovendo, algo raro em Kiri. Olhou o relógio, era quase meio dia, então vestiu-se e pegou suas armas para depois seguir até a casa da Harima, pois desta vez ele que estava atrasado. Em poucos minutos, o sunanin chegou até o local, batendo à porta para chamar por ela, mas por alguma razão ninguém respondia; então, ele foi até ao telhado para ver se ela estava a dormir, mas seu quarto estava vazio. Assustado, o Borges dirige-se até a porta e arromba-a, procurando pistas que indiquem o paradeiro de sua amada - porém não havia nada, nem ninguém. Uma vizinha observava perplexa a cena, chamando alguns guardas ninja que estava patrulhando o bairro, que prontamente atenderam-na. Fora um pouco difícil convencê-los de que estava a treinar a adolescente e que estava preocupado com ela, mas depois de alguns minutos de boa conversa - incluindo com alguns outros vizinhos que já tinham visto o sunanin por ali - acabaram por dizer que ela estava no hospital desde o dia anterior. Antes que pudessem explicar porque ela lá estava, o Borges já havia desaparecido num shunshin, correndo ansioso - e preocupado - para o local.
O prédio não era imponente, mas também nada modesto, com seus três andares e paredes brancas tanto externa quanto internamente. O corredor da entrada de emergência era um tanto frio, mas Brian parecia nem notar. Dirigiu-se quase que correndo ao guichê de informações, perguntando o que havia acontecido à Harima. Assustado, o recepcionista procurou alguém com tal nome nos registros de pacientes, mas não encontrara. O jounin não parecia acreditar que ela falasse a verdade, e quando o pegara pela gola a exigir-lhe explicações, ele ouvia uma conhecida voz:
- Wtf, o que estás a fazer? - perguntei, abismada com a cena que ele estava a causar num hospital. Realmente não parecia nada educado.
- Ha... Harima! - ele largava o homem de qualquer jeito, correndo em minha direção e dando-me um abraço demasiadamente apertado.
- Sol... Solta-me, não con... Consigo res... Respi... - eu tentava falar. Ao que parecia, ele finalmente percebia que estava a machucar-me, e largou-me gentilmente.
- Por que diabos estás no hospital? O que aconteceu, quem machucou-te, foi grave? - as perguntas eram metralhadas sem dar-me tempo de sequer pensar n'alguma resposta.
- Eu que pergunto que raios estás a fazer aqui! - consegui falar, afinal
- Não estou aqui por mim, mas sim por uma criança que estava a ser tratada como escrava. Estava a treinar e acabei encontrando-a em condições sub-humanas, e claro que não fiquei parada! - fechei os punhos ao lembrar daquele ser nojento.
- Desculpe... Eu tive um péssimo pressentimento quando não lhe encontrei em casa! Mas, fico muito feliz que esteja bem e também tenho orgulho do que fez por este garoto, tenho certeza que deu ao “dono” dele o castigo merecido! - ele disse com um sorriso, depois de soltar um suspiro que parecia ser de alívio.
- Sim, eu fiz questão de ter certeza que aquele monstro não vai torturar mais ninguém. Mas não é isso que incomoda-me... - perdi-me em pensamentos, enquanto mudamente tomava um corredor.
Brian acompanhou-me em silêncio. Depois de um caminho tortuoso, chegávamos à ala infantil, onde adentrei num quarto. Ao fazer o mesmo, o Borges parecia preocupado com os olhares direcionados à minha pessoa. Eu apenas ignorava-os, já que a única coisa que interessava-me ali era o pequeno que ocupava um leito próximo às janelas do fundo do local. Ele parecia dormir, então beijei-lhe suavemente a cabeleira loira; segundos depois, senti os braços do sunanin envolverem-me num terno abraço, enquanto encarava o garotinho cheio de hematomas e ataduras. Pareceu um pouco surpreso quando inesperadamente deitei minha cabeça em seu peito; sei que não é uma atitude tipicamente minha, mas achei (com razão, como pude comprovar) que ficaria mais confortável:
- O que vai ser dele quando sair daqui? - perguntei, de olhos fechados
- Ficar num inferno como aquele, com aquelas crianças demoníacas? Isso não é vida para ninguém, ele já sofreu demais como escravo! - parecia que malditas lágrimas brotavam em meus olhos.
- Estou pensando em levá-lo comigo. Só não sei se eu consigo ser alguém para servir de espelho a uma criança... - Ele ficara sem reação, e parecia refletir sobre minhas palavras.
- Harima! Você é uma garota maravilhosa e eu sei que este garoto terá muito orgulho de te chamar de mãe! - ele cochichou em meu ouvido. Olhou-me nos olhos e com a mão direita, limpava as gotas que caíam deles.
- Eu sei que você pode cuidar dele, mas... Eu também gostaria de participar de sua educação e também cuidar dele. Por isto, eu quero adotar este garoto junto com você, Harima! Quero que nós sejamos, para ele e para nós, a família que eu e você sempre quisemos ter! - ele falava sinceramente.
Aquilo pegou-me desprevenida; quando pensei em responder algo, o garoto remexeu-se suavemente no leito, abrindo os olhos segundos depois. Um sorriso iluminava seu rosto ao encarar-me - e eu sem perceber, fazia o mesmo. Desfiz-me do abraço do jovem, sentando-me à beira da cama a perguntar como ele estava a sentir-se. Ele respondia timidamente que estava melhor, agora a encarar a figura desconhecida do Borges, com uma hitaiate estranha no braço direito. O garoto o olha com espanto - embora não possuísse medo, talvez fosse apenas a curiosidade juvenil ao ver uma pessoa excêntrica como o Brian:
- Boa tarde, garoto! Desculpe se o assustei, mas é assim que eu me visto mesmo! - ele disse com um sorriso, que parecia acalmar a pequena criança.
- O meu nome é Brian Borges, eu sou o namorado e sensei da Harima e devo dizer que fico muito feliz em saber que ela tem um garoto tão corajoso para protegê-la! A propósito, qual é o seu nome? - ele perguntou, enquanto caminhava até a cama, parando ao meu lado e permanecendo em pé.
- Ei, não vá falando essas coisas assim! - senti minhas bochechas queimarem ao ouvir a palavra "namorado".
- Sou Nazo. - o garoto era de poucas palavras, mas ainda assim parecia feliz.
- Nazo... Um nome imponente para um garoto forte! - ele respondia, conseguindo arrancar um sorriso daquele rosto infantil, mas ainda assim tão triste.
- Nazo, me responda uma pergunta, você gosta muito da Harima? - Gosto muito! - ele responde de maneira direta
- Então, você gostaria que ela se tornasse sua nova mãe? - pergunta o ceifeiro, que olha de relance para mim, que provavelmente estava vermelha num misto de raiva e vergonha.
- Hai! - ele sorria inocente e verdadeiramente.
Eu estava realmente pronta para dar um murro naquele jounin, mas a resposta rápida do garoto impediam-me de levantar. Não estava segura de mim mesma para ajudar alguém, já que não tinha amor próprio... Mas aquela criança tinha chamado-me mesmo a atenção, seria capaz de qualquer coisa por ela. Afinal, não fora à toa que matara aquele que proporcionou-lhe tanto sofrimento. Brian parecia sorrir de satisfação. Ele se aproximou da cama do lado de Nazo e coloca a mão sobre o ombro dele, ainda mantendo o sorriso.
- Nazo... Sei que mal nos conhecemos, mas você me daria a honra de ser seu pai, sendo a Harima sua mãe?- Pai é como se fosse uma mãe em forma de homem? - ele perguntava, inseguro.
- Sim, isso mesmo! - Brian dava um largo sorriso com a inocência pueril.
- Digamos que pai e mãe complementam-se para ter um filho...- Baka, não vá falando essas coisas para um garotinho! - estava tão rubra quanto um tomate, e meu nervosismo acabou por levar-me a dar um cascudo no Borges, mais leve do que gostaria. Ele realmente estava a passar dos limites da minha paciência.
- Ah, se é assim, eu adoraria ter um pai e uma mãe! Posso mesmo ter dois assim? Não é egoísmo? - ele parecia mesmo preocupado, mas ao mesmo tempo, feliz. Ainda assim, um silêncio perturbador instaurou-se naquele momento, e o sunanin foi o primeiro a quebrá-lo.
- Não, meu caro Nazo! Eu e a Harima que estaríamos sendo egoístas se deixássemos de dar todo o carinho que um garoto tão especial como você merece. Sabe, eu e Harima tivemos infâncias difíceis e isto nos tornou... diferentes! Mas, nós podemos te prometer uma coisa, você será a criança mais feliz de Kiri, te daremos tudo que nós não tivemos e um pouco mais. - seu sorriso era sincero, e parecia tranquilizador. Junto a um cafuné na cabeça do garoto.
- Ei, você gostou dos meus óculos certo? Que tal usar ele um pouco para ver como é!?- Sim, sim, por favor! - os olhos dele brilhavam ao encarar as lentes cor de esmeralda.
- Não! Filho meu não vai usar essa coisa horrorosa! - torci o nariz ao ver aqueles óculos. Tsc, péssimo gosto o Brian tinha.
Ele tentou conter, mas notei um pequeno sorriso nele depois de minhas palavras. Ele puxou-me pela cintura e deu-me um beijo inesperado, que não tive tempo - nem vontade - de esquivar. Lembrei-me que estávamos num hospital e fui a primeira a recompor-se, soltando-me de seu abraço e incapaz de conter um sorriso ao olhar em seus olhos castanhos. Então sentei-me na cama a abraçar fortemente o pequeno Nazo; fiquei surpresa quando o Borges acabou formando um abraço coletivo ao envolver-nos sob seus braços, mas ainda assim podia-se dizer que ficara um tanto...
feliz com aquela atitude.