A manhã despertou calmamente, apresentando um ligeiro orvalho. O céu eventualmente acabaria por abrir.
Kristea acordou. Tinha que ir treinar, mas aquele tempo só lhe transmitia preguiça. Encontrou um recado do irmão na mesinha de cabeceira, dizendo que tinha ido treinar.
- “Se ele foi, eu também vou. Vou mostrar que também consigo ser forte” – pensou.
Levantou-se, vestiu-se rapidamente e desceu as escadas a correr. Tomou o pequeno-almoço e, antes de sair de casa, pegou num casaco. Podia estar frio lá fora, para além de que não pretendia constipar-se ao acabar o treino.
Primeiro, resolveu correr um pouco, para aquecer. Meia hora de resistência, seguida de um pequeno treino de velocidade, intercalado com resistência. A cada cinco minutos, acelerava, fazendo grandes distâncias em pouco tempo. Teria que aprender o shumpo (flash step), nem que tivesse que treinar um pouco mais todos os dias.
Depois resolveu alongar e fazer uso da sua enorme flexibilidade e agilidade no campo de treinos. Com aquele aquecimento, estaria pronta para um bom treino de taijutsu e ninjutsu. Pediria mais tarde a Kristian para treinar genjutsu com ela.
Aproximou-se de um manequim e executou várias técnicas, desde as mais simples, como o oi zuki e o yoko geri, às mais complicadas e complexas, passando por algumas katas.
Já algo cansada, resolveu treinar o jutsu que Kami lhe havia falado. Tinha que se concentrar, num ponto alto, onde pudesse comunicar com todos os elementos.
Encontrou uma árvore de ramos largos, que lhe dava espaço para se sentar por entre eles e assim poder atingir um estado de concentração elevado. Subiu e tentou colocar-se de maneira cómoda.
Então fechou os olhos e deixou-se ficar calma e serena, permitindo que o seu espírito fluísse. Sentia o vento a percorrê-la, a água a envolvê-la, a madeira e a terra junto de si. Sentia calor, mas não o fogo. Sim, ali mesmo, dentro dela. Era só mais um pouco. Esticou-se um pouco mais e sentiu uma leveza enorme, seguida de uma interrupção repentina, mas delicada.
Kristea abriu os olhos lentamente, ganhando aos poucos noção do que a rodeava. Alguém a agarrara. Dois braços fortes rodeavam-lhe a cintura. Assim que se sentiu segura, voltou-se para trás, para ver quem é que a tinha amparado.
- Devias ter mais cuidado… Aqui sozinha a fazer um exercício e ias caindo! Por acaso, eu ia a passar por aqui a caminho do campo de treinos e cheguei a tempo… Senão, tinhas-te magoado a sério… - disse Broly.
Kristea desviou o olhar. Sim, a culpa era dela, mesmo que não tivesse sido propositado.
- Também não fiques assim. Mas devias ter vigilância… Já reparei que és um bocado impulsiva…
- Eu vou tentar falar com o meu irmão… - respondeu ela.
- O Kristian? – bufou ele.
- Sim – anuiu a h’aarina, rindo-se. – Ele veio passar uns dias comigo até o Ryu voltar.
- Espero bem que o Ryu volte o mais depressa possível… - murmurou ele, visivelmente aborrecido com o facto de Kristian estar naquele mundo. Aquele mundo era demasiado pequeno para os dois.
- Mas porque é que não gostas dele? – perguntou ela, acalmando-se.
- Porque ele tem a mania! É um convencido de primeira!
Kristea sorriu. Eram os dois assim, embora soubesse que nenhum deles o admitiria.
- “Kristian! Preciso da tua ajuda no meu treino… Pode ser?” – tentou transmitir por telepatia.
- “Apanhaste-me quase no fim do meu. Vou já aí ter.”
- Bem, o meu irmão vem aí para me ajudar nisto – disse ela.
Broly olhou para ela, espantado. Não queria encontrar-se com aquele tipo.
- Então eu vou andando…. Se o teu irmão vem aí, acho que estás segura. Fica bem! – disse ela, saltando da árvore.
- Broly! – chamou ela, debruçando-se na árvore e fazendo-o voltar-se para trás. – Obrigada!
Ele corou ligeiramente e continuou o seu caminho. Ele tinha mudado, sem dúvida. Dantes ficaria indiferente a um simples agradecimento como aquele.
Kristian surgiu do meio do arvoredo, parando ao lado da irmã.
- Estavas a falar com quem?
- Com o Broly. Ele deu-me uma ajuda…
- Ah! Estás a treinar o quê?
- O gogyou no mai… Estava a tentar concentrar-me e ia caindo.
- Vou mostrar-te esse jutsu. Já o domino.
Aproximou-se de um tronco velho e desgastado, fechou os olhos por uns segundo e um remoinho de vento envolveu-o. Folhas juntaram-se ao remoinho.
- Vou usar dois elementos. Gogyou no mai!
Apontou uma das mãos ao tronco. O remoinho envolveu o seu corpo e concentrou-se nos seus braços. Com um gracioso movimento do braço, o tronco cortou-se aos bocados, enquanto se viam folhas a cair. Com um outro movimento, o remoinho à volta do seu corpo desapareceu.
- Usei a madeira e o vento. Não são os meus alinhamentos, daí que não tenha sido muito eficaz. Tenta tu. Tens que fazer uma sincronização com os elementos. Usa apenas um para começar.
Kristea concentrou-se. Sentia todos os elementos ali consigo. Só o fogo se encontrava um pouco mais distante.
- “Hinote…”- chamou.
A chama que sentia tão ténue atiçou-se. Agora conseguiria usar aquele jutsu.
- Gogyou no mai!
Uma labareda de fogo enrolou-se no seu corpo, contudo, sem nada lhe fazer.
- Muito bem! Agora tens que te movimentar e o fogo movimentar-se-á segundo o teu movimento.
- Mas eu tive que chamar o Hinote… Isso está certo?
Kristian riu-se:
- É claro que tens que os chamar, de acordo com os que queres usar. Temos essa ligação com eles.
Kristea rodou o braço. A labareda envolveu o seu braço e lançou-se aos bocados de madeira, enrolando-se nestes.
- Agora fecha e abre a mão.
Ele fez o que o irmão lhe dissera. A madeira pegou fogo e ardia rapidamente. Via-se perfeitamente que era um dos seus alinhamentos.
- “Mizu!” Gogyou no mai!
Um enorme lenço de água substituiu o de fogo. Kristea rodou sobre si mesma e um remoinho de água soltou-se, apagando o fogo.
- Vá, agora para terminar por hoje, ajuda-me a fazer renascer a árvore. Usa a madeira, que eu uso a terra, visto ser o meu alinhamento.
- “Uddo!”
- Gogyou no mai! – gritaram os gémeos em uníssono.
Uma liana, com flores de cerejeira e pequenos rebentos, enrolou-se em Kristea, enquanto desaparecia a água.
A corrente de terra que envolvia Kristian soltou-se com o seu movimento e infiltrou-se no chão. Kristea imitou o movimento de um repuxo com as mãos e pétalas de cerejeira envolveram os troncos, fazendo brotar pequenos rebentos, que cresciam rapidamente e davam origem a uma nova árvore, jovem e frondosa.
- Sempre consegui acelerar o crescimento. Muito bem, Kristea, já controlas bem o jutsu. É só uma questão de treinares mais – disse Kristian, enquanto fazia a sua corrente de terra desvanecer.
Kristea caiu de joelhos no chão. Sentia-se fraca. Provavelmente o seu chakra estaria quase nos limites. Não tinha forças para se levantar. Aquele jutsu realmente gastara-lhe muito chakra. Ainda estava pouco habituada a ele. Tinha que o treinar mais, sem dúvida.
- Estás bem? – perguntou Kristian, baixando-se ao seu lado.
- O chakra… Este jutsu gasta tanto…
- Pois… Ainda agora o começaste a treinar, é normal… Fica sabendo que fizeste um óptimo trabalho, para a tua primeira vez. Vá, vamos para casa.
Kristian pousou o casaco dela sobre os seus ombros. Ela iria ficar gelada se não se mantivesse quente depois de um treino daqueles.
- O que é que aconteceu aqui?
Kristian olhou para trás. Bem lhe parecia que aquela voz não lhe era estranha. Era Broly, de regresso do campo de treinos.
- A Kristea esgotou quase por completo o seu chakra ao tentar treinar o seu novo jutsu – respondeu-lhe, friamente.
- Podias tê-la parado. E assim ela não estaria neste estado!
- Eu não sabia que ela não aguentaria usá-lo tantas vezes. Eu uso-o facilmente.
- Mas será que não tens consciência da diferença de poderes entre ti e ela? É claro que ela aguenta muito menos que tu!
- Mas quem és tu para me tentares ensinar a ajudar a minha irmã?
Kristea não podia fazer nada. Apenas permanecia sentada, a vê-los discutir. Antes ela não tivesse ficado tão esgotada, senão já os teria parado. Iriam continuar a discutir por muito mais tempo? Ela não os queria ver assim… Principalmente quando o motivo da discussão era ela própria.
Tentou levantar-se. As suas pernas fraquejavam. Mas ela iria aguentar-se de pé. Iria ser forte e mostrar que estava bem. Deu um passo. Outro e mais outro.
- Por favor, parem.
Eles não a ouviam, continuavam a discutir.
- PÁREM! – gritou.
Os dois pararam de discutir e voltaram-se para ela.
- Está tudo bem… Eu… Consigo andar… - disse. E as suas pernas não aguentaram mais o esforço e caiu para a frente.