O Uchiha Zangado III

Treino realizado com o Pocoyo.

De volta ao campo de treino de pedra, Sokei esticou o máximo que podia para poder espreguiçar-se. Com os músculos relaxados, olhou à sua volta, algo aborrecida. Não gostava assim tanto de treinar, o tempo que gastava a treinar podia ser melhor aproveitada, mas reconhecia que era algo necessário devido à tarefa incumbida pela sua líder, Kimera-sama. Não lhe podia falhar.
Deitou-se no solo rochoso e frio de barriga para baixo, dobrando os braços e mantendo-os perto do seu tronco. Num último suspiro de aborrecimento, ergueu o seu corpo com toda a força que conseguia arranjar. A primeira custou-lhe mais do que esperado, mas as consequentes foram simples. Após uma vintena delas, algumas mal feitas e outras não, a adolescente deixou-se cair, consideravelmente cansada.
Ignorou o cansaço e rolou o corpo, estando agora deitada de barriga para cima. Dobrou as pernas e, quando se convenceu que o exercício era realmente necessário, colocou as mãos por detrás da cabeça e ergueu o tronco até que o seu queixo tocasse nos joelhos, voltando a descê-lo. Repetiu os abdominais sem parar, sentindo a força que tinha de aplicar tanto no tronco como, de vez em quando, às pernas para conseguir completar o exercício. Quando estava perto da casa dos trinta, arfou de cansaço e parou de fazer abdominais, deixando-se cair no chão, ofegante.
Mas ainda não era suficiente.
Ergueu-se relutantemente e aproximou-se de umas rochas altas afastadas do seu clarão de treino. Entre essas rochas estava um pequeno buraco, que se fosse de maiores dimensões seria chamado de gruta, no qual a adolescente se agachou e arrastou para fora um par de pesos. Só o remover dos pesos do seu esconderijo obrigou Sokei a usar toda a força que tinha nos braços, fazendo-a exclamar de alívio quando conseguiu, por fim, tirá-los dali. Seguidamente, sentou-se no chão e entreteve-se a colocar os pesos à volta das suas pernas (a sua parte preferida de todo o treino até ao momento), amarrando-os firmemente.
Levantou-se com um salto atrapalhado, que lhe exigiu toda a força das pernas para ser executado, satisfeita. Contudo, a sua satisfação depressa deu lugar a uma dor. Os pesos, mal amarrados, escorregaram ao longo das suas pernas delgadas até caírem pesadamente por cima dos pés da Fukeru (novamente…). Ela gemeu de dor, levando rapidamente os pés às botas que os protegiam e tentando massajá-los na tentativa de acalmar o seu sofrimento. Respirou profundamente um par de vezes até conseguir acalmar-se. Irritada por se ter magoado novamente nos pés, agarrou nos malditos culpados e, com toda a força que conseguia arranjar nos seus braços, atirou-os para longe de si. Não ocorreu o esperado, pois os pesos não voaram muito longe, mas pelo menos estavam longe dela e dos sues pés.
Novamente satisfeita, embora cada vez mais relutante em continuar com o treino visto que já se magoara consideravelmente, a Fukeru deu intenções de continuar. Tentou dar um passo em frente, mas a dor nos pés foi maior do que ela estava à espera, afetando-lhe o equilíbrio. A loira cambaleou, sem qualquer balanço, e caiu para trás, colidindo de costas contras as rochas que, anteriormente, serviam como esconderijo aos pesos. Voltou a gemer de agonia ao sentir a dolorosa pedra contra as suas frágeis costelas. Tentou levantar-se logo de seguida, mas as dores eram tantas que não conseguia fazer qualquer movimento.
Assim ficou durante alguns minutos, tentando recuperar a sua energia. Só após algum descanso, com as dores amainando gradualmente, é que Sokei se ergueu novamente, ainda a custo. Amaldiçoou a sua sorte. Olhou para o lado e reparou que, a alguns metros de distância, Kride Uchiha observava-a de braços cruzados, o seu olhar a mostrar pura diversão. A adolescente uniu alguns selos, aglomerou chakra na garganta e utilizou o Utsusemi no Jutsu para projetar a sua voz para perto do seu professor, perguntando:
- O que estás a fazer?
O Uchiha reagiu à projeção da voz, mas não disse nada. Fitou a sua aluna, que o observava curiosa para descobrir as suas intenções, durante algum tempo. Só depois disso é que se aproximou com um Shunshin para perto dela.
- Porque usaste Ninjutsu para falar comigo? Não podias ter-te aproximado e dirigido a palavra como uma pessoa normal? – Perguntou Kride, sem a sua habitual arrogância. Parecia, aos olhos de Sokei, mais perturbado e carrancudo do que era normal.
- Passou-se alguma coisa? – Questionou a curiosa adolescente, ignorando propositadamente o que lhe havia sido dito anteriormente. O Uchiha bufou após a pergunta, comprovando que estava mesmo perturbado com algo.
- A tua querida Kage decidiu dar-nos uma missão de rank D para amanhã. Capturar uns bandidos ou seja lá o que for para fazer. Tentei pedir-lhe algo mais complicado, mas ela têm medo que ainda sejas demasiado inexperiente… - Explicou com um tom de indignação – Tinhas mesmo de passar metade da tua vida presa numa biblioteca?
- Não foi metade, foram dez anos exatos. Como só tenho dezoito, não posso ter passado metade da minha vida numa biblioteca. – Explicou-se a adolescente, não entendendo claramente o tom irónico de Kride, que a olhou sem paciência para as excentricidades dela. Então, ela colocou as mãos por debaixo do queixo e observou o konohanin por algum tempo – Participares numa missão de rank D incomoda-te? Será por causa minha? Duvido, já que tu próprio tentaste convencer a líder para que nós fôssemos numa missão de rank superior. Se eu não sou o problema, então será o objetivo de termos de capturar bandidos? Não, até gostas de andar à luta, portanto sempre é uma melhor missão do que andar a apanhar flores ou ir buscar baldes de água ao rio. – Raciocinou a rapariga em voz alta, fazendo todas as perguntas a si mesmo e não demorando mais do que um segundo a respondê-las imediatamente. O Uchiha apenas olhava, cada vez com menos paciência - Será o simples facto de ser uma de rank D? Achas-te demasiado superior, como Chuunin, para ainda realizares missões tão “básicas”? – Desta vez, a adolescente olhou para o seu professor, dando a entender que estas perguntas eram-lhe dirigidas.
- Era preciso pensar tanto para descobrires? – Perguntou o Chuunin, esgotado da sua paciência, virando costas à aluna antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa – Como estou claramente e gosto de “andar à luta”, tu e eu vamos fazer um treino. Aqui e agora. – Ordenou, com uma seriedade que não lhe era normal.
Não deixou que Sokei tivesse oportunidade de sequer contestar as suas ordens, de tão perturbado e impaciente que estava, realizando alguns selos rapidamente e aglomerando chakra nos seus olhos. Mal estabeleceram contacto visual, induziu-a no Genjutsu: Tenko Kikan. Uma cúpula ilusória criou-se à volta dos dois, originando de seguida um cenário de um templo grego, com as suas colunas de mármore branco, rodeado por nuvens e incrivelmente perto do Sol. A Fukeru olhava à sua volta, confusa. Seguidamente, retirou do seu bolso um par de kunai e arremessou-as com habilidade contra a sua aluna. Ainda sem entender como tinha ido parar ao templo grego, a loira não teve outra escolha se não participar no jogo do seu professor enquanto ele durasse. Esquivou-se do primeiro projétil com certa agilidade, mas no segundo não teve tanta sorte. A arma raspou num dos lados do seu pescoço, rasgando-lhe superficialmente alguma carne e deixando que pequenas gotas de sangue brotassem da ferida. Embora não fosse nada de grave, o ataque em si tinha sido demasiado perigoso.
- Ele está a lutar para me matar? – Pensou a adolescente, observando que Kride retirava mais armas para seguidamente as lançar, obrigando-a a realizar diversas esquivas, saltos e rolamentos para sair impune daquela situação – Ele está tão zangado que nem se vai conter no treino de hoje? Consigo sobreviver a isso se ele não utilizar técnicas demasiado avançadas, que estou certa que ele possui. Só não consigo perceber o porquê deste templo à nossa volta. O seu aparecimento não mudou nada no nosso treino e, sinceramente, não consigo perceber se é ou não um Genjutsu. – Quando o Uchiha a deixou descansar após todos os seus lançamentos, a Genin quebrou a sua canalização de chakra e realizou um rápido Kai na tentativa de cancelar a “realidade” à sua volta. Nada aconteceu. – Mesmo que isto seja um Genjutsu, não posso cancelá-lo com um simples Kai se a habilidade do Kride for superior (e eu sei que o é) à minha. E seria ilógico mutilar-me só para cancelar o cenário à minha volta quando a minha performance em batalha não está a ser minimamente afetada. Só tenho de continuar a jogar o jogo dele.
Reuniu algum chakra nas suas mãos para usar o Shotto no Chakra no Jutsu e assim poder disparar alguns projéteis contra o seu oponente. Enquanto eram esquivados sem grande dificuldade, Sokei usufruiu-se de diversos Shunshin para surgir à beira dele, preparada para um combate mais próximo. Ergueu um joelho bruscamente.
- Shōshitsu! – Gritou, mas o seu ataque foi bloqueado com a mão do Uchiha a surgir e a agarrar-lhe o joelho. O semblante do konohanin não escondeu a dor dele por bloquear um ataque tão bruto, mas não revelou nada para além disso. A kunoichi deu um passo atrás para se afastar, e livrar-se do aperto dele, retomando a carga com um pontapé ascendente - Konoha Daisenpū! – tentando atingir a cabeça do seu oponente. Mais uma vez, a sua ofensiva foi evitada com certa facilidade, criando aí uma abertura que depressa foi aproveitada. Um pontapé surgiu por parte de Kride, atingindo dolorosamente as costas de Fukeru e arremessando-a para longe de si entre gemidos de agonia.
A adolescente não demorou a erguer-se, a custo, e reparou que o cenário à sua volta se desfazia à medida que a dor nela apenas aumentava. Então era realmente um Genjutsu.
- Ele quis usar um Genjutsu de baixo nível apenas para demonstrar que eu não seria capaz de o cancelar, por muito fraco que fosse? – Perguntou-se a loira, fitando o seu adversário com crescente curiosidade e alguma confusão à mistura – Não. Aquele templo devia ter algum outro propósito, ele apenas não o conseguiu atingir porque eu magoei-me demasiado cedo. Quero saber o que ele tinha planeado!
A adolescente depressa realizou alguns selos e concentrou uma parte do seu chakra. Prendendo o olhar do seu oponente, induziu-o ao seu Genjutsu Ennetsu Jigoku no Gen. No segundo a seguir, em que ele imediatamente utilizou o Kai para quebrar a ilusão, a adolescente aproximou-se com um Shunshin. Kride não foi apanhado de surpresa, fitando-a tão intensa e indiferentemente que até chegava a incomodar a normalmente calma Sokei.
- Tokken! – Exclamou a Genin, projetando-se em frente na tentativa de o atingir com uma carga de ombro, que foi facilmente esquivada. Ainda insatisfeita, esticou a palma e frente com toda a força que conseguia arranjar, tentando apanhá-lo desprevenido ao apontar para um dos seus braços – Hōshō! – Mas nem o seu ataque imprevisível era suficiente para as defesas do seu professor. Este agarrou-lhe o braço antes da palmada chegar ao seu destino e torceu-o ligeiramente, não fazendo muito força para não magoar seriamente a sua aluna. Com o movimento, Sokei contorceu-se para evitar que movimentos em falso lhe partissem os ossos do braço, acabando por ficar muito próxima ao seu professor, de costas, a tentar aguentar as dores que aquela posição desconfortável lhe faziam tanto à espinha como ao ombro cujo braço estava a ser maltratado. O Uchiha não queria ceder no aperto, por muito que a sua aluna gemesse. Até que os olhos dos dois se encontraram – Isto é que é assédio sexual? Sempre quis saber como era. – A frase não apanhou o Chuunin desprevenido, inesperadamente, mas a Fukeru tinha um outro plano. Aglomerou chakra e aproveitou o contacto ocular para o paralisar momentaneamente com o Shikumi no Jutsu. A ilusão foi suficiente para que o konohanin cedesse no seu aperto o suficiente para que Sokei se afastasse dele rapidamente. No entanto, enquanto saía, teve a ideia de se agachar, realizar alguns selos enquanto concentrava chakra para introduzir no solo abaixo de Kride o selo do seu Hitoshirenu Wana sobre o solo de pedra, afastando-se com um Shunshin.
Kride já se havia liberto da paralisação com um simples Kai, observando apenas a sua aluna a afastar-se dele, não reparando que, antes disso, ela se havia agachado. Quando quis continuar o combate, Sokei realizou um único selo para ativar a sua armadilha, criando um pilar de terra desde o selo vermelho que atingiu o corpo do seu oponente e o projetou para longe a uma considerável distância. Embora a loira tivesse contente por ter atingido o seu professor, este levantava-se, com algumas dores mas não muito graves, ainda mais zangado do que antes.