Plano falível, parte I

- Há algum plano? – Perguntou a Yuumei, mantendo uma vigilância constante há rua que direcionava até aquele beco. Atrás de si, a Fukeru pensava, organizando as ideias na tentativa de elaborar algum meio de fuga.
- Nem toda a guarda a nossa procura é forte. Pude comprovar isso debaixo daquela pila de roupas sujas quando os guardas vieram à nossa procura. – Começou a loira, disposta a partilhar toda a informação com a sua companheira para que esta entendesse todo o processo do plano – Como disse, não és capaz de derrotar a guarda toda sozinha e eu nem sou capaz de lidar com um único guarda, mas isso não se aplica a todo o caso. O preferível é evitar qualquer tipo de confronto até à montanha, mas considerando que estamos perdidas na vila isso é algo impossível. Não vamos escapar à guarda, mas sim lutar com ela, forçar pequenos confrontos que nos sejam favoráveis e criar uma rota segura para o exterior.
- Isso é… inesperado. Vai resultar? – A ruiva demonstrava um certo espanto por um plano tão ortodoxo e, felizmente, nenhuma intenção de o contestar.
- Nós vamos ter de lutar pela saída de uma forma ou outra e tenho a certeza que há ninjas espalhados pelas muralhas à espera de duas adolescentes a tentarem forçar a saída. Se evitarmos lutas, vamos esbarrar neles e dar-lhes tempo suficiente para chamarem reforços que se encontrarem nas proximidades, criando uma patrulha demasiado grande para nós derrotarmos. Se formos derrotando a guarda aos poucos, forçamos as patrulhas nas muralhas a terem de deslocar-se para ajudar na procura pela cidade devido à falta de pessoal, facilitando-nos muito mais a saída. O método não é infalível, mas é melhor do que escapar sem qualquer plano. – Acabou de explicar a Fukeru, parando um momento para respirar após tanta falar. Não perguntou se a sua companheira concordava ou não com o plano, já que duvidava que ela fosse capaz de pensar em algo melhor. Além disso, estava-lhe no sangue pensar em tudo ao pormenor e agir como uma líder absoluta quando a situação assim o pedisse; não era algo que conseguisse evitar.
- Doí-me demasiado a cabeça para pensar nisso como deve de ser. Eu confio em ti, Sokei. Vou seguir as tuas ordens. – Avisou a ruiva, virando a cabeça para trás para piscar o olho docemente. Depois ergueu-se e encarou a sua líder com convicção – E quais são as ordens?
A Fukeru hesitou. Yuumei estava a agir de uma forma demasiado estranha desde a conversa que tiveram antes de saírem da estalagem. Sabia que a culpa era sua, mas não estava arrependida. Era demasiado interessante ver esta nova Yuumei.
- Não sabemos o caminho para a montanha, mas não é difícil seguir o seu rasto. Afinal, é uma montanha… - A Fukeru falava como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, o seu polegar a apontar para trás de si. O olhar de Yuumei seguiu para onde apontava e viu uma distante montanha no horizonte. – Lembro-me de ler que a Nai Yama é a única montanha consideravelmente próxima de Moya (se excluirmos que a própria Moya é uma montanha), embora ainda esteja bastante longe, portanto não deve ser um caminho difícil de seguir. Vamos em frente e tentar achar um caminho para o topo dessa maneira!
A Rinsa não hesitou em começar o plano. Saiu do esconderijo do beco e olhou à sua volta. Nenhum guarda por perto mas o barulho que faziam podia ouvir-se pelas proximidades. Esperou por uma decisão da sua líder, que na altura olhava à sua volta e continuava perdida nos seus pensamentos, até que um grito as assustou.
Um grupo de cinco guarda havia-as detetado, mais depressa do que o planeado pela Sokei. Esta não teve tempo de analisar as forças de cada indivíduo pois eles partiram imediatamente para o ataque, realizando técnicas elementais ou desembainhando as suas armas para confrontos mais próximos. Yuumei estava disposta a contra-atacar com toda a sua força, mas a Fukeru temia que elas pudessem não derrotar aqueles cinco a tempo de evitar reforços.
- Yuumei…! – Tentou a loira chamar a atenção da sua amiga, esquivando-se de uma varredela da espada de um dos seus oponentes e esticando as suas pernas em dois sucessivos pontapés num Konoha Daisenpu que servia mais para afastar o espadachim do que magoá-lo – Vamos ter de nos separar e tratar de quem nos seguir individualmente. Não podemos deixar que os números dos guardas fiquem demasiado opressivos!
A Rinsa acatou com um aceno da cabeça e um sorriso, apressando-se a realizar alguns selos para cuspir um intenso jato de chamas capaz de sobressaltar os seus oponentes com o poder da técnica. De seguida, virou costas e, com recursos a Shunshin, desapareceu pelos telhados na calada da noite, apenas iluminada pela fraca luz da lua. Aproveitando-se da distração do Katon da sua companheira, Sokei também se usufruiu de Shunshin, e ocasionalmente do Baunsubaunsu para conservar energias, para escapar pela direção oposta, obrigando àquele esquadrão de cinco guardas a dividirem-se.
Felizmente, assim aconteceu, tendo dois deles partido para Sokei e os outros três em perseguição de Yuumei. A loira só precisava de tratar dos seus perseguidores e reunir-se rapidamente com a sua companheira para prosseguirem com a missão. Confiava que a Yuumei, sozinha, tinha muitas mais probabilidades de ganhar do que Sokei, mesmo que em maior desvantagem numérica.
- São os dois mais experientes em luta do que eu, mas não necessariamente mais fortes. Um deles têm braços e pernas bem desenvolvidos, dando para notar que a espada é a arma que mais frequentemente usa. O outro não mostra capacidades físicas extraordinárias, portanto ou deve especializar-se em Ninjutsu ou em Genjutsu. Vou ter de cuidar deles separadamente e de diferentes formas. – Arquitetava a Fukeru não parando uma única vez de correr.
Procurava ao longo da aldeia um local perfeito para realizar uma emboscada e acabou por encontra-lo numa ladeira atrás de um armazém, cheia de penumbra e múltiplas pilhas de caixas. Mergulhou aí, trazendo consigo os seus adversários e apressou-se a esconder atrás de umas caixas antes que eles a pudessem ver. Os oponentes apenas apareceram depois, pousando suavemente no centro da ladeira e apressando-se a encontrar a criminosa nos arredores.
- Como posso separa-los… - Olhou à sua volta na busca de algo exterior que a pudesse ajudar. Encontrou duas coisas que lhe seriam úteis: uma pilha de caixas labeladas com “Sinetas” não muito distante de si e o pequeno beco que era o único meio de se sair e entrar naquela ladeira (excluindo métodos ninja como saltar telhados e entre outros, claro está). Tinha o plano perfeito. Não sabia se seria habilidosa o suficiente para realizá-lo rápida o suficiente, mas teria de tentar não obstante.
Concentrou algum chakra nas mãos e deixou que dois cilindros de energia se formassem nos dedos com recurso ao Shotto no Chakra no jutsu, sendo prontamente atirados na direção das caixas. Quando atingidas, a sua madeira cedeu facilmente como se de papel tratasse, derramando todo o tipo de sinetas que tinham dentro de si e criando uma enorme e impossível de ignorar algazarra. O barulho foi estrondoso o suficiente para captar a imediata atenção dos dois oponentes, mas o plano da Fukeru não se ficara por aí. Apressou-se a realizar alguns selos e a sua aglomeração de chakra continuava a vibrar, ativando imediatamente o seu Utsusemi no Jutsu para direcionar a sua voz para o beco mencionado anteriormente.
- Ajuda! Precisamos de reforços! – Tentou reproduzir uma voz máscula na tentativa de se fazer passar por um dos guardas – A criminosa ruiva é muito mais poderosa do que pensávamos! Sozinhos não podemos com ela! Precisamos de reforços, imediatamente! – A loira temia que a sua reprodução não seria fiel o suficiente para enganar os guardas, temendo que eles ignorassem o pedido de ajuda e simplesmente se focassem em averiguar o que havia escondido nas caixas das sinetas. Felizmente para a fugitiva, os guardas mostraram-se ansiosos tanto para a algazarra das sinetas como para o pedido de resgate.
- Eu vou ajudar os pelotões a derrotar a Chuunin no outro beco. A que está aqui é uma Genin, não será difícil para ti. Reúne-te depois connosco, a ruiva pode ser mais perigosa do que pensávamos! – Ordenou um dos guardas, o espadachim, apressando-se a virar-se e a correr em direção ao beco, deixando um nervoso companheiro atrás. Notava-se que este ainda não estava habituado a lidar com criminosos, um abertura que Sokei teria de explorar.
O guarda deixado para trás aproximou-se das caixas derrubadas com hesitação. Temia o que pudesse sair dali repentinamente e, muito honestamente, não se sentia muito confiante na sua capacidade de derrotar uma única criminosa. E se a Genin se revelasse tão ou ainda mais capaz do que a Chuunin? Estava feito para a vida! Suspirou profundamente. Não podia deixar que a sua confiança fosse abalada daquela forma. Concentrou-se na tarefa que tinha de ser feita e preocupar-se-ia com o que podia acontecer mais tarde.
Por sua vez, Sokei também não confiava o suficiente em si para acreditar que seria capaz de derrubar um único guarda. No entanto, ao contrário do seu inimigo, ela não se deixava abalar com a sua baixa autoestima. Ao contrário do guarda, ela não tinha outra opção se não vencer aquele pequeno confronto. Aproximou-se lentamente das caixas derrubadas, preocupando-se em não fazer o mais singelo som para que o guarda continuasse a pensar que ela estava por entre as sinetas derramadas.
- Um usuário de Ninjutsu ou Genjutsu, duas áreas que requerem concentração e preparo. O meu Kashikogan ainda não me permite descobrir o nível das suas habilidades nessas áreas, portanto não posso simplesmente assumir que sou melhor que ele e atacar sem cabeça. Vou ter de explorar os pontos fracos em comuns dessas áreas e esperar que ele também não seja habilidoso em Taijutsu, embora o seu corpo não seja nada de especial fisicamente. – Pensou a Fukeru, reunindo todas as forças que tinha nas pernas em preparação para o salto do seu ataque – Ninjutsu e Genjutsu contra-ataca-se ao não permitir que os seus utilizadores tenham tempo de os preparar, sendo o Taijutsu a melhor opção. Enquanto eu continuar a atacar e manter os braços do meu adversário ocupados com a defesa, ele não poderá usar os seus melhores trunfos.
Plano pronto, bastou a Sokei saltar para cima do adversário com todas as forças que tinha. O guarda assustou-se com a súbita aparição, esticando o braço e cerrado o seu punho num soco desajeitado e movido por puro reflexo… que teve a sorte de atingir a adversária no queixo. Os dentes da Fukeru tintilaram e gemeram de dor, mas isso não podia fazê-la hesitar naquele momento. A Genin percebeu que o guarda já se preparava para fazer alguns selos e apressou-se a aproximar dele com um Shunshin, esticando a palma da mão num intenso Hosho direcionado ao peito que obrigou o inimigo a cancelar a preparação da técnica e defender-se do ataque frontal com ambos os braços.
Exatamente como planeado.
A Fukeru apenas teve de seguir com o plano, esquivando-se facilmente de um soco do guarda para se abaixar e usar um Konoha Reppu para tentar atingir os tornozelos do seu adversário com uma patada e assim desequilibra-lo contra o solo. Mas este ainda era consideravelmente ágil, capaz de evitar o ataque e usufruir-se de um Shunshin para criar uma certa distância entre si e a criminosa. Aproveitou-se desse espaço criado, e que Sokei não tinha a certeza se seria veloz o suficiente para cobrir a tempo, para preparar a técnica que se vira forçado a cancelar há momentos atrás.
Com uma certa urgência, a loira não pensou mais, apenas agindo. Deixou que chakra transbordasse do seu cérebro e focou-o todo no olhar aterrorizador que lançou ao guarda. Foi surpreendentemente simples como o Shikumi no Jutsu resultou tão bem em paralisar o adversário. Mas como a adolescente não podia deixar o guarda ali paralisado (considerando que bastava perder o mínimo da concentração para que o oponente tivesse a oportunidade de quebrar a ilusão), aproximou-se dele num veloz Shunshin e aglomerou todas as suas forças num poderoso Gangeki direcionado à cabeça, forte o suficiente para retirar-lhe a consciência. O contacto intenso com os duros ossos do crânio do guarda deixou a mão de Sokei com dores, que muito provavelmente iriam resultar em negras ou inchaços, mas esta não podia dar-se ao luxo de se queixar.
Ainda havia muito para fazer naquela noite!