[001] O esplendor do amanhecer
~Em um solavanco, Inao levantou assustado. Pensou não ter escutado o despertador e ter passado da hora de começar a trabalhar. Seus patrões iriam ficar enfurecidos. Mas, tateando à sua volta, encontrou o relógio e o puxou para perto: ainda faltavam trinta minutos para às seis horas.
Levantou da cama rapidamente e, por alguns instantes, ficou tonto. Por pouco não esbarrou no armário que se encontrava a poucos centímetros de sua cama. Aliás, tudo era apertado, pois o quarto era menor do que qualquer banheiro da Casa Secundária. Vestiu-se com a primeira roupa que encontrou de baixo da cama, colocou as sandálias e pegou sua bandana. Emitiu um leve gemido quando a apertou demasiadamente forte contra sua testa, mas tinha que correr pois logo iria amanhecer.
Abriu a porta cautelosamente, tentando diminuir o inevitável ruido que saia das dobradiças. Esperou algum tempo no corredor para garantir que ninguém tivesse o escutado. Tudo permanecia quieto e calmo. Então, esgueirou-se pelas curvas da casa até chegar ao pé de uma escada. Já estava a subir quando escutou passos vindos do andar de cima. Um calafrio correu pela sua pele. E se alguém o pegasse? Com certeza ficaria limpando os vidros da Casa por, no mínimo, duas semanas sem descanso ou pior, ficar com a ronda noturna no lugar de algum preguiçoso.
De jeito algum ele faria isso, já não bastava ficar o dia todo à disposição da Bunke, imagina então passar noites em claro.
- Henge! - disse Inao, cruzando os dedos.
A mulher que desceu apressada nem notou o pequeno gato negro que passava rente à parede. Chegando ao final da escada, ele voltou a forma humana, pensou não ser necessário ficar gastando chackra à toa.
O corredor encontrava-se vazio, havia somente uma luz que escapava por debaixo de uma porta a alguns metros dali, mas ele não se importou, afinal estava indo para o lado contrário. Como sempre, a imensa porta do saguão estava fechada, Inao abriu-a e esgueirou-se por entre ela. Sem dúvidas, era o quarto mais bonito de toda a casa, janelas de vidro enormes que iam do chão até o teto, piso de cerâmica e lustres colossais. Uma mesa redonda de madeira nobre estava colocada bem ao centro, em cima dela haviam algumas decorações. Algumas poltronas estavam colocadas em um canto da sala, esperando pelas mulheres que vinham conversar logo que o dia clareasse.
Inao se dirigiu a uma das janelas que possuía uma pequena sacada para o lado de fora, abriu-a e foi golpeado por uma brisa gélida. Ainda estava noite, mas haviam algumas mechas laranjas ao horizonte. Com um leve impulso ele ficou de pé na borda da grade de proteção, mas a noite havia sido gelada, congelando as gotas de água que haviam permanecido em cima da barra, tornando-a escorregadia. Inao escorregou, mas seu treinamento ninja tomou conta da situação e concentrou um pouco de chackra sob seus pés, o que o prendeu à grade. Ele se ajoelhou e retomou o fôlego, fazia tempo desde a última vez que ele caíra de cima da mansão. Ficou rindo da situação, mas ao olhar por cima de seu ombro viu que o sol estava quase nascendo. Ficou de pé e logo saltou para o telhado da enorme casa. Sentou-se em cima de uma cunheira onde ficava uma janela do sótão e ficou a admirar o maravilhoso amanhecer. Como fazia todos os dias desde que chegara na Casa Secundária.
Algum dia ele iria descobrir quem eram os seus pais. Algum dia ele iria descobrir quem era ele.