Completamente exposta e resplendorosa, a lua amarelada iluminava o céu noturno da Vila de Gothan, criando uma paisagem soturna e até mesmo assustadora para quem a via de longe. Coberta por uma névoa enegrecida, que escoava vagarosamente para o mar ao sabor do vento, a Vila litorânea tinha um cheiro forte da fumaça vinda dos milhares de fogareiros que aqueciam a gélida paisagem, só aumentando o cobertor fumacento de onde centenas de arranha-céus despontavam, eclodindo da escuridão como finas presas de um predador faminto. Aquele realmente o local era cinzento e amedrontador. –
Mas que lugar peculiar. – Comentou a marionete-viva, arrumando sua capa de chuva na varanda de uma mansão inóspita, há alguns quilômetros da entrada da cidade, de onde conseguia visualizar toda silhueta da paisagem urbana .
Tinha acabado de chegar ao local, quando um mordomo solicitou que o acompanhasse até aquela varanda e enquanto passava pelos cômodos da mansão, notou como a decoração do lugar era bizarro. Primeiro porque existia um exaustor que aumentava consideravelmente o frio dentro do imóvel, o que obrigava o mordomo a usar vestes muito pesadas. Já nas paredes, pinturas estranhas que faziam menção dos polos e inúmeros pinguins, além dos móveis que tinham os pés serrados deixando-os mais baixos do que o costume. Contudo, Daisuke notou uma dezena de obras-de-arte e valiosas esculturas durante todo o caminho. Quem quer que more ali, ele tinha um gosto bastante peculiar para mobília, porém um ótimo gosto para a riqueza.
Seria um ótimo lugar para roubar se não fosse a residência do contratante. – Pensou quando percebeu a aproximação de mais uma pessoa.
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Boa noite – Disse o contratante. Acenando positivamente, Daisuke segurou sua vontade de sorrir com a aparência exótica do homem. Com uma cartola preta em cima de sua estatura muito baixa, porém corpulenta, ele vestia um smoking preto com uma gravata borboleta que se esforçava para se enroscar em seu pescoço quase inexistente. –
Meu nome é Oswald Cobblepot e agradeço sua atenção. – Continuou, guardando o monóculo no bolso do coleta. O nukenin se mostrou atento assim que o sujeito começou a explicar o que a missão implicaria. Segundo Oswald, o banco central de Gothan estava prejudicando seus negócios e agora ele queria dá-lo bastante prejuízo.
Interessante. De acordo com ele, sua missão seria assaltar o banco, raspá-lo por inteiro, na verdade, ele queria que não restasse nenhum dinheiro capaz de manter esse banco nos negócios.
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Ok. Será feito. Mais alguma coisa? – Perguntou a marionete.
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Sim. Existe o homem-morcego. – Respondeu com uma careta.
Agora não tinha como segurar a gargalhada. –
Como é? – Sorriu para o contratante. Contudo, Oswald parecia não ter gostado da reação do nuke. Continuando sério, ele explicou que o tal “batman” era um vigilante local que andava a impedir os criminosos da cidade e com isso, ele poderia prejudicar a missão. Daisuke entendeu aquilo como um aviso, que antes era uma piada. O semblante sério do contratante definia a sua preocupação sobre o sucesso da missão. Mesmo assim, o ninja permaneceu incrédulo ao achar que um mero vigilante pudesse te dar algum trabalho além do que a força policial local lhe traria. Contudo, preferiu ficar com sua arrogância só para si, acenando mais uma vez numa indicação de que o serviço seria cumprido. Nesse momento o mordomo retornou com uma pequena pasta, entregando-a para o ninja que a abriu com curiosidade, quando percebeu que se tratava da localização e da planta baixa do banco.
Perfeito.-
Não se preocupe senhor... Terás seu dinheiro. – Confirmou com seriedade.
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Espero que sim. Mate o “Batman” e receberás um bônus. – Acrescentou.
Virando-se de costas, Oswald retornou a colocar o monóculo e caminhou para dentro da mansão, buscando um guarda-chuva pendurado numa das dezenas de cabides presos às paredes da antessala. –
Boa-sorte. – Despediu-se rapidamente, sumindo pelo corredor escuro.
Sujeito estranho. Realmente estranho. Aquela missão não parecia ser tão complicada assim. Infiltração, roubo e saída. Nada demais. Contudo, começando a estudar os documentos na pasta que lhe fora entregue, Daisuke começou a analisar e conceber um bom plano para evitar qualquer contato com a polícia ou com o tal do vigilante. –
Isso deve dar certo. – Torcei o nukenin, envolvendo a pasta com seu chakra, selando-a em seu pulso direito para evitar que esta informação pudesse ser roubada dele durante a missão. Um procedimento padrão para o ninja experiente.
Então, quando a pasta sumiu de suas mãos, a marionete-caminhou de volta à antessala onde um elegante piano descansava. Direcionando seu chakra novamente para seu punho direito, ele se agachou no tapete vermelho e marcou o lugar com um selo hiraishin.
Essa será minha saída. – Raciocinou, já mantendo uma rota segura de fuga e escoamento para o dinheiro. –
Muito bem. Estou pronto. – Forçando as pernas para ganhar energia cinética capaz de impulsioná-lo com grande velocidade pela varanda. Seus pés logo se apoiaram no parapeito e com uma manobra acrobática seu corpo rapidamente estava do lado de fora da mansão, quando levou chakra na tatuagem e invocou uma linha shinobi para arremessa-la com toda força contra um grosso galho de árvore, para ajuda-lo a saltar sobre uma gigantesca cerca-viva que protegia o imóvel. Seus pés então ganharam a estrada principal na direção de Gothan.
***
Mesmo à noite a cidade era quente, úmida e movimentada. O título de “cidade que não dorme” não lhe era à toa. Era um vai e vem de transeuntes e automóveis. Bares, teatros e casas de shows estavam lotados. –
Saudade de esbórnia. – Sussurrava enquanto saltava sobre os prédios na direção da praça central. Controlando seu chakra, tentando esconder sua presença, a marionete manipulava a luminosidade a sua volta para tornar-se invisível quando finalmente aterrissou numa rica cobertura que tinha uma visão privilegiada da praça onde o banco se localizava. Cruzando os braços, Daisuke analisou e raciocinou sobre a melhor maneira para aproximar-se, contudo não contava com as quatro viaturas de polícia estacionadas uma em cada canto do quarteirão. Como não existiam pontos que pudesse escalar nas laterais do alvo, ele sabia que qualquer aproximação por terra seria descoberta.
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Se não voo, terei que ir por baixo. – Concluiu. Apertando os olhos para identificar a árvore mais próxima, o ninja invocou uma kunai imbuída de um selo teleportador, arremessando-a com toda força sob a proteção da penumbra. E assim que a lâmina atingiu a madeira, Daisuke ativou a marca e logo ressurgiu silenciosamente no meio da vegetação um pouco distante das sentinelas. Sem aguardar, a máquina juntou as mãos numa sequência de selos e espalhou sua energia pelo corpo para começar a deslizar sob a terra como se não tivesse substância, utilizando outro jutsu doton para disparar em velocidade na direção do banco sem levantar suspeitas. Lembrando-se da planta fornecida pelo contratante, o ninja não teve dificuldade de chegar ao cofre, lugar em que começou a ascender. Tudo estava escuro e silencioso. Sacando uma pequena lanterna, o ninja logo se assustou com o tamanho do lugar.
Abarrotado por dezenas de pilhas de notas monetárias, aquele super-cofre era o maior que o ladrão já vira. Aquilo era praticamente um galpão totalmente blindado, onde se guardava a maioria das riquezas dos abastados da cidade. –
Melhor começar a trabalhar. – Sussurrou, demonstrando preocupação com as poucas horas que tinha para transportar tudo aquilo antes que o banco abrisse. Assim, pensando numa maneira de aperfeiçoar o tempo sem chamar atenção externa, o nuke logo arregalou os olhos e invocou o pergaminho que utilizava para guardar suas marionetes. Deslizando-o no meio do cofre, ele logo efetuou um selo manipulou todos os dez selos com seu chakra, retirando seus bonecos que logo foram ativados pela sua energia e se espalharam pelo complexo para começar a juntar toda aquela grana em dez imensas pilhas.
Rapidamente o comandante também começou a ajudar seus bonecos, usando sua força descomunal para empurrar uma grande pilha na direção do pergaminho ainda aberto. Chegando lá, Daisuke controlou seu chakra após um rápido selo quando uma pálida energia eclodiu do primeiro selo no pergaminho, envolvendo a pilha para então começar a puxá-la ao seu encontro. Rapidamente toda aquela pilha de dinheiro foi selada, deixando o selo totalmente preenchido. –
Próximo! – Brincou com satisfação ao perceber que seu plano daria certo. Contudo, quando se virou para auxiliar suas marionetes, o ninja percebeu um rápido brilho na sua visão periférica, obrigando-o a levantar a mão num rápido movimento para apanhar uma espécie de bumerangue em forma de morcego. –
Mas o que... - Reclamava quando um
bip fez o objeto explodir.
O impacto fez o cofre tremer, jogando dolorosamente o ninja contra a parede externa do lugar.
Bumf! E seu corpo mecânico avariado logo deslizou de volta ao chão. E enquanto ouvia um baixo burburinho do outro lado da pesada porta de aço, ele se levantou com dificuldade, buscando rapidamente a origem da agressão quando o viu. À sombra de algumas notas que fumegavam graças à explosão próxima, o homem estava vestido completamente de preto. Mascarado, Daisuke apenas conseguia ver seus olhos intimidadores e seu corpo musculoso sob um uniforme cujo símbolo no peito parecia um morcego. –
Batman. – Acenou negativamente em desdém, tentando entender como uma pessoa consegue se vestir daquele modo para combater o crime. Porém, quando pretendia se apresentar, o fantasiado já disparava contra ele, arremessando algumas granadas de fumaça para esconder sua presença.
Sem respirar, o nuke não fora afetado pela fumaça, apenas aguardando a chegada do morcego que arremessou sua perna num chute lateral. Defendendo-se com um bloqueio, o ninja rodopiou para responder a agressão com um forte cruzado de direita que chegou a resvalar na máscara do estranho. –
Vamos dançar! – Provocou a marionete, juntando as mãos num rápido selo para dividir seu chakra irmãmente com a criação de um clone seu. A manobra fez o Batman arregalar os olhos e encarar por alguns milésimos de segundo a cópia que já enviava chakra através de seus olhos para injetar a ilusão de imagem invertida. Sem perceber o genjutsu, Batman recuou num salto buscando proteção, mas logo fora perseguido pelo Daisuke verdadeiro que arremeteu agilmente contra o mascarado ao gingar em seu eixo e chicotear sua perna com toda força num golpe lateral.
Defendendo-se para o lado errado, o fantasiado recebeu em cheio a pancada do adversário logo no peito, jogando-o contra uma das pilhas de dinheiro. Enquanto isso, a cópia já começava a selar a segunda e terceira pilha. –
Você vai continuar fugindo?! – Gritou o lutador, vendo seu adversário saltar lateralmente após deixar um de seus bumerangues explosivos na base da pilha.
Boom! E a pilha desabou em cima do ninja que acreditava que já tinha ganhado a luta. A força do esmagamento era incrível. Daisuke sentiu seu corpo ranger e estalar com o peso da grana e antes que morresse, ele foi obrigado a ativar seu selo hiraishin e se teleportar para junto de uma de suas marionetes.
Onde ele está! – Pensou ansioso, vendo que agora sua cópia saltava para se esquivar do golpe do fantasiado.
Invocando uma kunai, o verdadeiro arremessou uma kunai contra o morcego esperando distrai-lo, mas este arremeteu e se esquivou com incrível agilidade. Aproveitando a deixa, Daisuke ressurgiu próximo à lâmina arremessada, pegando o homem de surpresa injetando chakra no punho para golpear com toda força o peito do alvo com seu “punho que molda a mente” para aumentar a dor da pancada.
A vingança é doce. – Pensou ao vê-lo atingir uma das últimas pilhas de dinheiro e cambalear até o chão como se estivesse caído inconsciente. –
Rápido! Termina o serviço! – Comandou à cópia, que já controlava seu chakra após um rápido selo para enviar a sétima e oitava pilha de dinheiro para o pergaminho. Agora só restavam duas.
Mas nesse momento um pequeno estampido ecoou dentro do cofre, e rapidamente uma figura fantasiada de morcego eclodia da pilha com a ajuda de um arpão preso ao teto. –
Como esse cara é teimoso! – Irritou-se ao arremessar dois shurikens na direção da linha que o mantinha preso ao teto, cortando-a num estalo metálico. Mas o morcego aproveitou esse ato para cair e “planar” até o ninja original com os dois pés em seu peito. Com o impacto, Daisuke caiu e foi arrastado pelo chão alguns metros, fazendo sua armadura ranger mais uma vez. E quando ele se esforçava para se levantar, o adversário retirou uma cápsula em seu cinto, arremessando-a nas suas pernas. Um rápido chiado da explosão da cápsula congelou o ar instantaneamente e num piscar de olhos as pernas da marionete estavam presas no gelo. E quando o morcego se virava para atacar a cópia... -
Ok! Plano “B”. – Gritou o verdadeiro, com as pernas presas no gelo, reconhecendo a derrota.
Fazendo uma careta, a cópia formou um sinal com as mãos e rapidamente milhares de papeis explosivos que aguardavam camuflados no piso do cofre fumegaram. O estrategista não queria chegar a isso, mas fora obrigado quando viu a pilha de dinheiro cair por cima dele. Lá de baixo, momentos antes que pudesse se teleportar, ele injetou chakra na manga para libertar as kibaku fuudas que se misturaram com o dinheiro do desabamento para não revelar suas posições. Um plano de contingência caso o inimigo fosse melhor que ele. E assim, acenando furioso pela derrota, o verdadeiro ninja esticou o braço para tocar no pergaminho e se transportar de volta à mansão. O ruído de sua chegada logo foi abafado pelo barulho da grande explosão. Ao longe, ele ainda pôde ver o cogumelo de fumaça do banco totalmente destruído. –
Muito bem. Está de parabéns. – Comemorou o pinguim, admirando a destruição. Entregando-lhe o pergaminho, o nuke recebeu o pagamento e caminhou de volta à trilha.
FIM