Vislumbrando um belo espetáculo da natureza sob o céu noturno de dezembro, Daisuke e Yuka namoravam sentados no alto de sua duna favorita. Protegidos do vento frio com uma manta de lã avermelhada, os dois tinham uma visão privilegiada do mar que refletia a lua e as estrelas, fornecendo uma companhia romântica para os dois enamorados. Aproximando-se do rosto da amada, o nukenin se excitava com a respiração ofegante da mulher, já com o rosto ruborescido com o esfregar de corpos sedentos.
É hoje que passo da primeira base! - Pensava ao deslizar sua mão ansiosa na direção da virilha de Yuka quando o estampido repentino de dezenas de crianças brincando assustou a moça em tempo de impedir que a mão-boba atingisse seu objetivo. -
Acabaram as orações. - Sussurrou a noviça, dando a entender que já estava na hora de se despedirem. Ela logo desceria a duna na direção do orfanato para preparar a ceia dos dez órfãos que viviam no lugar. Coisa rotineira. Contudo, apesar de toda frustração e força despendida para manter sua ereção sob controle, Daisuke notou certa decepção nas palavras da moça. Irritado pela interrupção, o rapaz se pegou resistindo a perguntar o que acontecia, justamente por não querer saber daquilo, mas enfim sua curiosidade falou mais alto e quase que inconscientemente ele perguntou o que afligia sua namorada. -
O natal está chegando. - Respondeu, com um suspiro tristonho.
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Sim... E daí? - Estranhou, insensível.
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Queria poder realizar os desejos de todas elas. - Comentou distraída, acenando na direção de uma pequena ciranda que se formara no pátio principal. Aquelas palavras fizeram a "ficha" do rapaz "cair". Sempre fora acostumado com a riqueza e com regalias. Ele se lembrava de sua infância, época que o "papai-noel" lhe dava tudo que queria e muito mais. Aliás... O nukenin nunca considerou a existência deste tão gordo que se veste de vermelho. Contudo, estes órfãos não tiveram a mesma sorte que ele. Agora o ninja entendia a tristeza da moça, e sua vontade de fazer sorrir aquelas crianças sofridas.
Acho que posso fazer alguma coisa sobre isso. - Pensou, abraçando-a contra seu peito. Daisuke preferiu não dizer mais nada, deixando apenas um pequeno sorriso matreiro vindo do canto da boca indicando que alguma ideia maldosa circulava sua mente. -
Vai lá. Boa noite. - Despediu-se da noviça com um beijo. Yuka sorriu com carinho e correspondeu o beijo com um grande abraço. Os dois logo se separaram, começando a descer a duna. Yuka na direção do orfanato, e Daisuke na direção de seu pequeno barco ancorado na costa. As ideias fervilhavam. De repente, Yuka poderia autorizar sua ida à terceira base se estas crianças ficassem felizes no natal.
Isso mesmo. Mais uma vez o bandido sorriu, parando sua descido para sentar-se na escuridão. Dedos juntos como terapia, disposto a esperar algum tempo. Logo as crianças dormiriam...
HORAS DEPOIS...
Rastejando duna à cima, Daisuke se esgueirava pela areia até que finalmente conseguiu ver o orfanato. Era um lugar pobre. Suspenso alguns centímetros da areia da praia, o lugar tinha três cômodos e era construído com troncos de coqueiro e seu telhado coberto por palha ressequida. Uma cerca de madeira limitava o terreno, onde no pátio principal existia uma grande estátua de bronze do deus macaco sentado numa posição de lótus. Aquela era o peça mais cara de todo orfanato. Uma doação de um bem-feitor anônimo. -
Todas as luzes apagadas. - Sussurrou sorrateiro, iniciando a descida da duna até começar a atravessar o quintal onde uma dezena de varais secavam as roupas recém-lavadas das crianças. Daisuke logo subiu os dois degraus que separavam o imóvel do piso frio, abrindo a porta dos fundos que dormia destrancada.
Afinal, era preciso ser muito filho-da-puta para roubar um orfanato. - Aquele pensamento fez o ninja sorrir silenciosamente quando finalmente adentrou no dormitório das crianças. Eram dez ao todo. Deitadas exaustas em cama perfiladas, elas roncavam sem perceber que o loiro descia pelo corredor entre elas até chegar num pequeno templo onde uma árvore de natal feita de plástico escorava uma dezena de cartinhas com os desejos dos menores. -
Ok. Vamos lá. - Sussurrou. Buscando carta por carta, furtivamente depositou-as na sacola que trouxera, terminando por sumir num veloz e silencioso shunshin na direção de seu bote.
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Essas crianças terão o melhor natal da vida delas. - Comemorou, imaginando a recompensa que Yuka lhe daria. Hasteando a pequena vela, o jovem começou a navegar na escuridão, já acostumado com as correntes marítimas, Daisuke se recostou no banco de madeira e começou a ler as cartinhas. Até que eram mimosas. Os desejos infantis eram uma coisa que o intrigavam. Uma queria uma boneca, outra queria um carrinho de brinquedo e outra queria apenas namorar. A cada carta que abria tinham praticamente o mesmo conteúdo: Brinquedos simples. Era um pedido que, com o soldo que ganhara com suas pilhagens, ele conseguiria providenciar tranquilamente por encomendas. Essa tarefa estava se tornando mais fácil do que previa. Se dependesse disso, em breve Yuka estaria em sua cama. Porém, como um mau presságio enviado por Murphy e sua lei, ao abrir a última carta, seu coração gelou de revolta...
- Citação :
"Papai Noel, sempre fui uma menina comportada e mesmo assim, todo ano o senhor não consegue realizar meu desejo. Espero que esse ano seja diferente. Sinto falta da neve de minha antiga casa. Sempre nevava lá. Mas quando meus pais morreram e fui mandada para cá, nunca mais consegui esquiar ou brincar na neve. Por favor... Estou torcendo."
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Onde porra eu vou conseguir neve?! - Indignou-se, fechando a carta de volta no envelope.
CONTINUA...