Kazuki estava de frente para Kaia, sua colega de equipa, vários metros de relva separavam-nos. O campo de relva macia ocupava o centro do campo, de um lado havia uma pequena floresta. Iriam batalhar até que algum deles derrotasse o outro. O moreno detestava Kaia, ainda não acreditava que os tinham colocado na mesma equipa, por isso daria tudo para vencê-la. Segundos depois aos ouvidos do rapaz chegou a voz de Zota-sensei.
- Hajime!
Empunhou uma kunai na mão preferencial, a direita. Fletiu os joelhos e assumiu uma posição defensiva enquanto esperava por algum movimento da adversária. Vários segundos passaram sem ninguém se mover. A kunoichi apenas olhava Kazuki com os seus olhos roxos misteriosos. Farto de esperar parte numa rápida corrida. Ao mesmo tempo retirou quatro shuriken com a mão esquerda segurando cada uma entre os dedos curvados e a palma da mão. Arremessou-as num só movimento técnico e preciso. Estas voaram em direção à cabeça da rapariga. Ela deu um mortal para trás, fugindo aos projeteis. De seguida, a kunoichi iniciou uma combinação de selos e olhou para o rapaz. Vendo isto redobrou a sua velocidade. Com apenas um metro entre eles, Kazuki puxou o braço com a kunai para trás, preparando um ataque circular.
De repente, foi rodeado por uma cortina de flores. A cortina engrossou obstruindo-lhe totalmente a visão. Da mesma forma que apareceu, a cortina caiu e surgiu Abunai à sua frente. O gennin teve a acertada sensação que algo de errado se passava. O seu colega estava no chão a gemer e à beira dela uma poça de sangue aumentava cada vez mais. “Como é que isto aconteceu? O que se passou?” pensou ele. Gritou pelo sensei, mas ele não estava por perto. Como era possível que todos tivessem desaparecido? Desesperado ajoelhou-se à beira de Abunai e descobriu que o amigo estava coberto por golpes profundos.
Alguém invisível tocou-lhe calmamente na testa assustando-o. No mesmo instante, a visão do colega na relva a esvair-se desapareceu e surgiu uma mão muito branca e sem pelos que segurava uma kunai apontada ao seu pescoço.
- Patético… - Disse Kaia atrás de Kazuki. O seu tom de voz era de desprezo e superioridade. Largou o moreno e afastou-se.
- Outra vez! – Gritou o sensei que os observava. - Kazuki vê se estás mais atento. – Este sentiu-se mal por ter sido derrotado tão facilmente. “Ela tem razão… Sou patético.” Avançou até à posição original, enquanto se culpava. – Comecem!
Desta vez, não deu tempo à rapariga e disparou na sua direção. Esta fez o mesmo depois de ter pegado numa kunai. Antes do embate, o rapaz travou abruptamente e fazendo força na perna contrária cortou agilmente para a direita. Agora no flanco da gennin usou a arma ainda na mão direita para desferir um golpe nas costas. Kaia travou e deu meia-volta a tempo de bloquear a lâmina pondo a sua no caminho. Estas embateram e foram enviadas para trás. Equilibrando-se, a rapariga num soco circular tentou apanhar o desprotegido flanco esquerdo do moreno. Apesar disso, o ataque foi bloqueado quando ele usou a mão livre para desviar o ataque do caminho. Num instante, com a kunai desferiu um corte profundo ao longo do ombro esquerdo da adversária. Fora tão rápido que a apanhou indefesa. Largando a kunai a rapariga levou ambas as mãos ao ombro, que agora escorria sangue, e deu vários saltos para trás afastando-se do seu oponente.
Apesar de estarem afastados, conseguiu ver que a Gennin estava curvada sobre o golpe. Esperou. Algum tempo depois ela levantou-se. Olhou-o nos olhos e, de repente, desapareceu. Assustado o rapaz apertou bem a kunai e assumiu uma posição defensiva enquanto procurava por Kaia. Não estava em lado nenhum. Guardou a arma e começou a moldar a sua energia física e espiritual. Concentrando o chakra necessário para a realização da técnica, executou o selo e disse.
- Bunshin. – Ao seu lado surgiram três clones por entre nuvens brancas de fumo, instantaneamente o rapaz sentiu uma quebra energia. Tinha sido maior do que previra, ainda era um desafio para ele fazer tantos clones. As cópias moveram-se, formando um quadrado de ombro a ombro com as costas viradas para o centro. O quarteto pegou nas suas respetivas kunais e assumiu uma posição defensiva. “Onde está ela?” pensou o verdadeiro. Segundos depois começou a ouvir sons vindos da floresta e olhando naquela direção reparou em vários vultos que se moviam lentamente. Quando passaram pelas últimas árvores, Kazuki descobriu que eram clones de Kaia e estavam todas a realizar selos. “Que está ela a tramar? Tenho de descobrir qual é a verdadeira.” pensou enquanto se preparava para interromper a circulação do fluxo de chakra assim que sentisse algo de estranho. Não se iria deixar apanhar por outro Genjutsu. Como esperado, uma cortina de flores surgiu rodopiando à sua volta. Não perdeu tempo e bloqueou o rio de energia interna. Concentrou-se arduamente em suster a circulação, enquanto um Zota sensei à beira da morte aparecia à sua frente. Ignorando os pedidos de ajuda deste, soltou furiosamente a corrente de chakra.
- Kai! - A visão do sensei desapareceu e voltou a ver os clones de Kaia. Os seus próprios clones haviam desaparecido e olhando em volta descobriu estava rodeado por muitas, “demasiadas, kunoichis. “Venham! Apenas uma de vocês é a verdadeira.” pensou o rapaz enquanto assumia uma posição defensiva. Ficou surpreendido com a capacidade de Kaia para criar tantos clones, algo que o intrigou. Retirou oito shurikens segurando quatro em cada mão. De repente as raparigas começaram a atirar-lhe kunais uma de cada vez. Esquivou-se agilmente destas, saltitando de um lado para o outro. Viu também que as armas eram verdadeiras, pois quando aterravam não desapareciam “são todas clones reais?”. Assustado, desconcentrou-se e quase não vendo uma kunai a tempo, foi obrigado a bloqueá-la atirando habilmente uma das shurikens. Os projeteis embateram e caíram ao chão.
Kazuki continuou a fugir aos projéteis durante longos minutos. Durante esse tempo sofreu três golpes, todos superficiais. Mas um na barriga da perna ardia-lhe fortemente ao colocar o peso sobre ela. Ignorando a dor continuou a mover-se como um felino saltitante por entre as rotas das armas letais. As ninjas pararam por uns segundos, o que deu tempo para o rapaz descansar um pouco e recompor-se. Mas logo de seguida, todas ao mesmo tempo atiram mais kunais. O rapaz baixou-se o mais rápido que conseguiu, vendo as kunais juntarem-se num único ponto acima da sua cabeça. Apenas uma era verdadeira, pois quando as armas se intercetaram as outras desapareceram e esta continuou o seu caminho. “Afinal nem todas são reais, o que significa que as clones também não o são.”
Aproveitando algumas estrelas mortais Kazuki desviou-se de mais uns objetos cortantes enquanto as arremessava às cabeças das oponentes mais próximas. Usou as shurikens restantes para bloquear as múltiplas kunais na sua direção, das quais apenas uma era real. Ao atingir as clones, os projeteis foram estranhamente absorvidos. O corpo era composto por um líquido negro parecido com óleo. Esquivando-se agilmente a mais projeteis e dirigiu-se lentamente a um clone e socou-o. A sua mão ficou presa na estranha substancia pegajosa. Fazendo força contra o solo impulsionou-se para trás. Conseguiu libertar-se e deu um mortal à retaguarda, fugindo assim a uma saraivada de kunais. Muitas não eram reais, pois desapareceram ao tocar na Kaia falsa. O corpo desfigurado de Kaia recompôs-se como se nada tivesse acontecido.
Ao aterrar, uma arma lançada de trás acertou-lhe violentamente entre a coluna e o ombro direito. A dor era agonizante. Contorceu-se e soltou um gemido audível. A kunai tinha perfurado o músculo dorsal. Não sentia sangue a escorrer, mas ao mínimo movimento com o braço parecia que lhe queimavam o corpo. Controlou-se emocionalmente e saltou para o lado esquivando-se. Reparou que estava a soar fortemente e já não tinha muita energia para continuar. Aqueles saltos constantes estavam a deixar-lhe as pernas a doer e mais pesadas. “Tenho de acabar rapidamente com isto. Mas como? Já nem consigo utilizar um braço!”
Kazuki começou a reunir a informação sobre o jutsu, ao mesmo tempo que fugia às kunais. “No início apenas lançavam uma kunai à vez. Depois começaram a ser várias, mas apenas uma era real. Os clones são diferentes de tudo o que eu alguma vez vi. Parecem ter vindo de um pesadelo.” Ao pensar nestas palavras a verdade cruel atingiu-o. “Genjutsu! Já devia saber… Mas quando?” Depois de alguns projeteis desviados, lembrou-se que Kaia o tinha olhado depois de recuperar do golpe no ombro. “Um genjutsu dentro de outro genjutsu! Antes de ter visto aquela cortina de flores, já estava neste genjutsu.” Detestava a rapariga, mas não podia ignorar o seu talento para uma simples gennin. Descobrindo a resposta ao problema voltou a quebrar o fluxo de chakra, enquanto se esforçava por fugir às kunais. De seguida libertou a torrente de energia que se revelava escaca gritando:
- Kai! – A multidão de Kaias desapareceu, revelando a verdadeira a alguns metros de distância. A kunai continuava presa nas costas e as feridas que lhe foram infligidas eram reais. Enterrou furiosamente os calcanhares na relva, ignorando a dor ardente nas pernas, e disparou. Percorreu o espaço entre eles em segundos e socou a rapariga com o braço ileso. Ainda assim, a lâmina nas costas doeu-lhe fortemente. A gennin cruzou os braços instintivamente e, dada a potência do embate, foi projetada de costas. Aterrou a alguns metros.
O rapaz iniciou mais uma rápida investida contra a oponente. Esta no chão executou uma sequência de gestos enquanto enchia os pulmões. No instante a seguir expeliu fluxo de fogo que tomou a forma de uma pequena bola de fogo. Kazuki foi obrigado a cravar fortemente os pés na relva, para depois saltar para o lado, fugindo assim ao projétil de fogo. Rebolou para acolchoar a queda, mas ao fazê-lo as costas pareceram rasgar-se a meio. Soltou um silvo e ficou caído na relva. A sua cabeça gritava com o corpo e foi assim que, ao erguer-se lentamente retirou uma shuriken do bolso e atirou-a a Kaia. Esta, que já se encontrava de pé, levou uma kunai à estrela ninja bloqueando-a.
O gennin parou para recuperar levemente, a luta ficaria decidida nos próximos minutos. Apesar de também estar no limiar da sua resistência a rapariga começou a correr. Kazuki esperou por ela, colocando-se numa posição que não lhe doesse muito. Mesmo em cima dele, Kaia desferiu um golpe retilíneo com a arma. O outro levou o braço utilizável à mão da rapariga, desviando assim o ataque para o lado. Numa rápida sucessão, usou a mesma mão para afastar um soco dirigido à barriga e, de seguida, bloquear uma cotovelada na zona cara.
Continuaram a trocar golpes. Apesar de Kazuki usar apenas uma mão, a sua agilidade e força eram tão superiores que Kaia não conseguia ganhar vantagem. Por outro lado, o moreno recorreu ao extremo da sua determinação para continuar a lutar, face às dores e cansaço que percorriam todo o seu corpo. Tentou manter as costas na mesma posição, pois ao curvar-se sentia facadas escaldantes. Desviou-se ardentemente a um soco e carregava o braço para atacar a rapariga quando:
- Calma! Já chega! – Anunciou Zota surgindo entre Kaia e Kazuki. Bloqueou os ataques de ambos e segurou-os no lugar. Agora falando mais calmamente disse. – É isso que eu quero ver. Deram o vosso máximo, que era aquilo que eu queria ver. Parabéns aos dois.
Libertou os estudantes e, não aguentando mais, as pernas do moreno cederam. Sentou-se no chão e ficou a arfar. Só queria que a dor no ombro parasse.
- Já vamos tratar disso. – Disse Zota preparando-se para ajudar Kazuki.