Era uma kunoichi belíssima, com uma mecha azul solta do rabo-de-cavalo a tampar parte da lente direita de seus óculos escuros – que escondia um enigmático olhar esverdeado carregado de chakra. Com movimentos ligeiros, ela realizava uma breve sequência de selos,estacionando e mantendo o Pássaro, enquanto encarava o homem à sua frente. Este sorriu após dois ou três segundos, rapidamente desfazendo-se da ilusão que a garota acabara de lançar:
- Isto é injusto... Genjutsu é bastante fácil para ti – reclamava como uma criança birrenta, a jogar-se na grama.
- Por isto mesmo. Devemos sempre treinar naquilo que não somos bons, pois os inimigos vão focar-se neles. Se estamos muito aquém, viramos presa fácil. E você sabe disso... – ele respondia, sério.
- Ok, eu sei. Não precisa me relembrar. Vale pra ti também no taijutsu... – retorquia ela.
- O foco é você. Afinal, não sou aluno nem alvo nenhum, até onde sei... – ele provocava.
- Isso, joga mesmo na minha cara, senpai... – ironizava ela, atirando-lhe uma pedra, facilmente desviada pelo jounin.
Respirando fundo, ela levantava-se. Sabia que ele tinha razão. Trilhar o caminho até ser ANBU não era nada fácil, mas era o sonho que movia sua vida ninja. Com um aceno de cabeça, ela dava autorização para a continuação do treino. Raiden não teve a menor dificuldade em lançar-lhe um genjutsu, paralisando-a imediatamente. Era de uma agonia indescritível para a chuunin não conseguir mover voluntariamente seu próprio corpo, estando à mercê de seu oponente – ainda que ele fosse um velho amigo e sensei. Ele podia ver o incômodo nas feições do rosto dela, que automaticamente fazia-a lembrar de coisas desagradáveis, e perceber a luta interna que ela travava consigo mesma.
Ela paralisou o fluxo de chakra e o liberou de uma vez, assim como tinha aprendido. Não foi o suficiente. Raiden observava o relógio, com a sua adaga a acariciar o solo a seus pés. Ela respirou fundo novamente, e tentou mais uma vez. Nenhum resultado. Outra vez, e conseguia mexer o braço em câmera lenta. O Fuyuki não olhava mais o relógio, levantando-se e correndo em sua direção com a lâmina empunhada, visando sua coxa esquerda. Ela sabia o que aquilo significava: apesar de ser seu sensei, Raiden nunca pegava leve, o que significava que ele ia atacá-la como um oponente sério – ainda que ela estivesse em desvantagem. Lembrando de todos os treinos anteriores, o desespero começou a dominá-la. Com determinação, ela realizou mais uma vez o Kai, obtendo sucesso no exato momento em que a lâmina ia lamber-lhe a carne.
Aproveitando-se de sua recente liberdade e o ataque do jounin, ela pontapeava o pulso dele, derrubando a lâmina e pegando-o de surpresa. Projetou um murro em direção à sua face, mas a velocidade surpreendente do Fuyuki fez com que seu punho apenas cortasse o ar. Usando ao máximo sua agilidade, ela dava um pulo e tentava desferir um chute descendente nele, facilmente desviado com três pulos para trás. Sacando rapidamente uma shuriken, ela atirava com violência na direção dele, reunindo uma boa carga de chakra e executando ligeiros selos, ao fim dos quais a arma agora multiplicava-se em dezenas. Escondendo-se atrás de uma árvore, não foi difícil evitar a chuva mortal; porém, sentiu algo a agarrar-lhe os braços, e virando a cabeça, encontrou o verdume dos olhos de sua pupila, que abria um sorriso um tanto macabro, visto que adquiria propriedades físicas da árvore com o seu Hiru Banshō: Bōka no Jutsu.
Desvencilhando-se com um pouco de dificuldade, Raiden rapidamente distanciava-se da gargalhada que agora ecoava no local. Desativando seu jutsu, a Nara saía de dentro do vegetal, encarando seu sensei com determinação. Sacando três kunais em menos de um segundo, ela atirava-as contra ele, que moveu-se majestosamente para a direita a fim de desviar, mas acabou sendo acertado por todas:
- Nani? – ele perguntou-se de início. – Ah, claro. O genjutsu. Parabéns, realmente não percebi o teu chakra invadindo meu corpo naqueles segundos da árvore... – ele parabenizava-a, desfazendo-se imediatamente da ilusão. Mas ele não conseguia mexer-se. Com sua visão periférica, percebeu que uma das kunais estava fincada no solo, onde o sol projetava uma sombra sua.
- Estavas tão preocupado com as três kunais, que não percebeste a quarta, que joguei enquanto você movimentava-se. Esta é mesmo uma ótima aquisição, pois mesmo que tivesses visto, pensarias que era uma kunai comum – o que não dar-te-ia uma grande vantagem, pois conheces bem o meu Kagemane Shuriken no Jutsu. No fim, caíste em ambas. Realmente hilário – ela divertia-se, enquanto apanhava a arma para libertá-lo. – Anda, vai colocar uns remendos nestes arranhões – brincava ela.