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Espera cara. O que você vai fazer?! Ainda está muito ferido! Esper... - Ele dizia quando o colega desapareceu diante de seus olhos, deixando apenas o leito de hospital com algumas manchas de sangue.
Ele é louco. Kazuki conhecia o rapaz e sabia que ele faria alguma coisa ousada para obter poder. Toda aquela vontade o lembrava de sua juventude.
Vamos ver o que você aprontará. - Pensou ao se levantar com certa pressa e gritar pelo corredor à procura do médico da mansão. O dia estava terminando e os últimos raios de sol atravessavam as janelas tornando o lugar alaranjado. Bonito até que os gritos de Kazuki acordaram os criados que agora disparavam portão à fora para chamar o médico. Toda aquela comoção deixou Nero ansioso. A criada que cuidava dele notou que ele tremia. Talvez porque ainda tivesse sentimentos fraternais por Daisuke e os gritos pela vinda do médico indicassem que o estado do rapaz merecia mais do que cuidados. -
Calma. Calma. Está tudo bem. - Acalmava a enfermeira, empurrando mais uma colher do mingau de aveia próprio para a janta quando mais passos pela casa indicavam que o médico acabava de chegar. Ofegante, o senhor tinha uma barriga saliente e uma barba grisalha e suja que lhe deixava com uma aparência de um druida vestido com um jaleco branco encardido.
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Alguém... Chamou... Um médico! - O homem brincava, enquanto lutava para tomar ar.
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Por aqui. Aqui na enfermaria. - Gritou Kazuki, mostrando-se através da porta.
O homem cambaleou rapidamente através do corredor e adentrou na enfermaria já planejando o que faria para estabilizar o moribundo quando freou em frente a um leito vazio com os lençóis contendo algumas manchas de sangue seco. Era perceptível seu rosto de estranheza. Tanto que ele se virou para os outros leitos vazios à procura da vítima, mas apesar de tudo, somente Kazuki estava naquele cômodo. Coçando a cabeça, o médico se virou para Kazuki que se sentava ao lado do leito. A princípio ele teve medo de comentar algo que o mafioso não se agradasse e então ele apenas se limitou a um silencioso franzir na testa. -
Só mais um pouco. - Kazuki comentou quando algo ressurgiu do nada, exatamente em cima do leito manchado de sangue. Um gemido de dor logo se seguiu e Daisuke estava de volta com um pote de vidro borbulhante nas mãos. O médico coçou os olhos como se não acreditasse no que via e Kazuki, embasbacado, notou o que tinha dentro do vaso. Eram olhos. Olhos com pupilas vermelhas e três tomoes. Só poderia ser o sharingan.
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E então doutor. Prepare a cirurgia, porque hoje você me implantará essas belezinhas em mim. - Sorriu o Akatsuki.
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Mas que porra! Porque você não me falou que possuía isso? Porque esperou até agora? - Kazuki estava inconformado.
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Não sou fá de doujutsus, mas farei uma exceção porque preciso me preparar para o pior. - Tentou explicar o inexplicável.
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Você ouviu o rapaz, Kohako. Faça seu trabalho. - Comandou Kazuki, virando-se para o médico.
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Os curativos ainda coçavam bastante mesmo após as duas semanas de recuperação. Sentado na varanda do casarão, Daisuke passava as mãos pelos inúmeros curativos espalhados pelo corpo e apesar de não estar enxergando nada, sentia que ainda estavam úmidos. Sangue talvez. Uma infecção ou apenas a impressão. –
Que merda aquela mulher fez no meu corpo. – ele sussurrava para si, impaciente com as idas e vindas do médico que acompanhava o avanço do tratamento todos os dias. Era uma vantagem de ser um dos protetores do Buraco e além disso, os dias passavam muito rápido desde que o doutor receitou alguns anestésicos que lhe davam uma sensação de barato. Era como estar bêbado quase sempre, mas sem ressaca.
Sempre pense no lado positivo da coisa. Mas a questão era que até o momento Gaina não dera qualquer sinal de retorno. Contudo, por mais estranho que parecesse, o Akatsuki ainda sentia que ela estava próxima. Muito mais próxima do que pensava.
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Enfim chegou a hora de retirar os curativos dos olhos. – Comemorou o médico ao chegar na varanda.
Certo. Certo. Daisuke acenou a cabeça num sinal positivo e logo sentiu as mãos gordas do homem a cortar as ataduras enroladas em sua cabeça. Seu coração batia forte. Não sabia se a operação tinha sido bem-sucedida ou teria que procurar novos olhos para ele. Um trabalho que não queria ter. Principalmente agora que esperava notícias da “chefe”. Uma a uma os panos eram retirados e camada após camada, sua pele sentia novamente a brisa fresca do mar num certo ardor refrescante. –
Parece que está bem. – Comentou o doutor, com ar de satisfação na voz. Daisuke sentia-se livre finalmente.
Vamos. Coragem. Abra os olhos. Ele ansiava. Então, vagarosamente, o nukenin abriu os olhos e franziu o cenho numa careta pelo incômodo da luz que agora invadia seus novos olhos. Essa era uma reação ótima. Quer dizer que os nervos oculares estavam funcionando perfeitamente.
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Vamos lá. Agora abra os olhos. – Comandou Kohako.
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Está bem. Está bem. – Respondeu. Impaciente.
Finalmente seus olhos agora estavam totalmente abertos. Era incrível como ele conseguia ver as coisas tão cristalinas. Tão claras. –
Estou bem. – Sussurrou ao prever que os movimentos do médico que buscavam um pequeno espelho que descansava em cima da mesinha de madeira ao lado da cadeira onde o paciente descansava. E lá estavam eles. Vívidos e rápidos. Olhos vermelhos com sua pupila rodeada por magatamas escuras. Agora o sharingan lhe pertencia. Agora faltava mais uma coisa para terminar seus planos de contingência contra o controle de Gaina. –
Avisarei ao mestre Kazuki. – Disse o médico, saindo rapidamente da varanda. O gordo não conseguia esconder sua alegria pelo procedimento bem-sucedido. E enquanto o homem disparava pelo quarto, Daisuke se levantou e caminhou vagarosamente até o parapeito da varanda, onde finalmente conseguiu apreciar a beleza do Buraco de onde sempre recorria para pensar. O ruído das águas batendo contra o rochedo onde a mansão se escorava o acalmava. Precisava de calma. Ser inteligente para não jogar errado. Esse jogo de morte que estava acostumado a jogar.
CONTINUA...