As rodas da carroça chacoalhavam pelo caminho formado por uma infindável camada de pedras milimetricamente interpostas, formando um ladilho tão belo que Daisuke se perdia em pensamentos fúteis, enquanto controlava os dois cavalos que puxavam o veículo na direção do castelo de Haomaru. Ele se lembrava que desde que trocara de lugar com o sentinela na noite anterior, o nuke evitava puxar tanta conversa com o pessoal da comitiva que parecia não se importar em agradá-lo, ditando ordens imperativas como se ele fosse algum tipo de escravo. Essa situação incômoda até que facilitou sua infiltração, pois seu papel exigia apenas baixar a cabeça e servir aos artistas principais: Ni e Chin. Os dois eram um casal de boçais arrogantes, metidos a famosos, que se achavam no direito de humilhá-lo a cada instante. Entretanto, mal sabiam eles que se não fosse pela missão urgente, eles já estariam mortos...
Muito mortos. - E o nuke disfarçado abriu um sorriso malicioso quando mais uma vez sua presença foi solicitada.
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Ô idiota! Vai ali e busca mais água! - Exclamou Ni, a megera. Olhando por cima do ombro Daisuke a viu apontando para um pequeno poço à beira da estrada que já passara há alguns metros da comitiva.
Ela quer me fazer correr. Ele sabia que tinha que manter seu disfarce, pelo menos até a chegada ao castelo.
Merda. E amarrando os arreios na alavanca do freio, o nuke saltou da carroça em movimento e buscou o balde que descansava na prateleira construída na lateral do veículo. Rapidamente ele se viu correndo até o poço e usando a força de seus braços para girar a manivela que trazia o reservatório até a beira do buraco. E sob as gargalhadas da mulher, Daisuke disparava de volta, ainda tentando controlar sua velocidade para fingir que tinha dificuldade em alcançar a carroça que já ia há algumas centenas de metros dele. Não era preciso dizer que a paciência do rapaz estava no limite e ouvir a gargalhada esganiçada da maldita sob o olhar provocador dos outros membros o provocava acima do esperado.
Calma. Calma. Estamos quase chegando. - O Hiroshi tentava se controlar até que finalmente conseguiu subir desajeitadamente na carroça, levando cuidadosamente o balde para despejá-lo vagarosamente na pequena bacia em cima do balcão. Olhando friamente para o rapaz, a megera sequer agradeceu e ainda colocou o dedo à frente da boca para pedir que ele fizesse silêncio para não acordar Chin que roncava numa cama instalada nos fundos da carruagem. -
Alto lá! - E o grito vindo da estrada conseguiu acalmar os ânimos do infiltrado, pois ele sabia exatamente do que se tratava.
Chegamos... Ainda bem! Daisuke rapidamente se virou para a boleia e alcançou os arreios, puxando-os para frear a carroça num movimento que foi seguido pelos outros membros da comitiva. Nesse momento, cerca de vinte homens vestidos com uniformes acinzentados com a marca dos guardiões do castelo começavam a revistar as seis carroças enquanto dois deles se aproximavam da primeira carroça com uma prancheta nas mãos.
Lá na terceira carruagem, Daisuke observava ansioso a ação dos guardas que tentaram entrar no "reino" de Ni e Chin, mas logo foram rechaçados pela megera que achou estapafúrdia a ideia de vê-los desbravar sua gaveta de calcinhas. -
Ok. Ok. - Concordou um deles, sob o sorriso sarcástico dos outros guardiões que aguardavam o lado de fora. -
Muito bem! Podem passar! - Autorizou o comandante, acenando aos outros.
Consegui! E os estalos dos arreios açoitaram novamente a força dos cavalos que continuaram a impulsionar as carroças através da trilha que começou a circundar um grande paredão de rocha até que desembocou num gigantesco túnel onde uma portão de pedra gigantesco foi acionado. O eco de uma rocha daquele tamanho sendo deslocada para a lateral do paredão era assustador e ao mesmo tempo admirável. Logo uma rajada de ar fresco soprou de dentro da passagem por onde as carroças passaram até que finalmente conseguiram ter uma visão completa do castelo de Haomaru. Mas que construção estupenda.
Construído no alto de um rochedo, perfeitamente encrustado numa cordilheira formada por pedras vulcânicas, cujos minerais brilhavam ao refletir a luz do sol daquela bela manhã. O castelo era formado por cinco construções ao estilo medieval japonês que eram protegidas por uma grande muralha, que de tão alta deixava apenas à vista os telhados de quatro unidades enquanto a unidade principal ultrapassava o limite com seus quatro andares gigantescos. Porém, apesar de ser tudo quase idêntico à maquete organizada por Kazuki há dois dias quando planejaram sua ação, ver aquele castelo em toda sua exuberância era realmente emocionante. -
Pode fechar a boca, estrupício! - Reclamou a megera que o estapeou na nuca para que ele seguisse pelo caminho até a entrada principal do castelo. Com uma careta, Daisuke chicoteou os cavalos mais uma vez e se acompanhou o restante da comitiva que passou por mais três portões até alcançarem o pátio principal ornamentado por uma vegetação exuberante, além de faisões albinos que circulavam pela propriedade.
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Sejam bem-vindos! Vocês ocuparão aquele prédio do lado sudeste. - Comentou uma senhora sorridente que acabara de descer os degraus vinda do prédio principal. Ela vestia um vestido vermelho com detalhes pretos, bem elegante e adornados, além de possuir um lenço amarrado à cintura com as nuvens negras indicando que ela era um dos guardiões do Daimyo. A famosa elite dedicada à proteção da família real.
O fato de não conseguir ver os outros me preocupa. - Daisuke pensava consigo ao mesmo tempo em que manobrava a carroça para estacionar à beira do prédio indicado pela recepcionista. -
Anda! Pega nossas malas. - Ni e Chin apressavam-se para descer os pequenos degraus até o chão, certamente para escolher o melhor quarto da "mansão de hóspedes", como dizia a placa inscrita logo na primeira coluna do imóvel. Mesmo irritado, o nuke seguiu logo atrás, usando a força de seus braços para arrastar cerca de cinco malas pela pequena escadaria até entrar no salão principal.
Esses idiotas! Vou matá-los com... Uau! - Admirou-se.
O lugar parecia muito maior por fora do que por dentro. Com o centro oco, onde havia uma dezena de mesas adornadas com toalhas brancas adornadas com o símbolo do País do Trovão. No canto oposto à entrada existia uma mesa gigantesca repleta de pratos típicos que fumegavam e exalavam um aroma maravilhoso para o almoço. Já nas laterais, grandes escadarias levavam aos andares superiores onde os quartos ficavam. -
Por ali! - Apontou Chin. Daisuke os seguiu pela escadaria mais próxima e assim que adentrou no corredor dos quartos os viu se perderem diante de uma suite presidencial. Um verdadeiro luxo. -
Deixe as malas na porta e vá ajudar aos outros a descarregarem. - Ordenou Ni. Em silêncio, o nukenin disfarçado já começava a sentir certo cansaço em manter seu jutsu tanto tempo e então, ao invés de fazer o que a megera falou, resolveu caminhar até o banheiro para descansar um pouco. Ofegante, o rapaz escolheu um dos boxes sanitários e enfim desativou o henge com grande alívio. A infiltração fora um sucesso, agora era só buscar a princesa.
CONTINUA...