[F2] Temperamento tempestuoso

Um murro, como um cobrador enfurecido despeja um inquilino endividado, arrancou daquela boca rachada pelo ar gélido de Kiri dois dentes. O lago próximo dali, que parecia mais azul que o habitual pela quietude momentânea, fora surpreendido com um súbito jorrar de sangue.
- Quero saber sobre os Guisos de Sangue. Quantos são? Me enrola e logo vai ter menos dentes na boca que existem pares de Guisos de Sangue no mercado negro. - Esbravejou Satoru, com o joelho direito apoiado no peito do Shinobi. Enquanto com a mão esquerda agarrava o pescoço daquele Nukenin do Rank mais baixo possível, a direita preparava mais um golpe pesado.
- Eu não sei sobre essa merda não, já disse.
"Ele não sabe. A pulsação estável prova que é verdade, mas o coração fraquejou no final. Tem algo escondido nessa história". Bastou um toque na bainha da katana após um golpe bem executado para que o barulho estremecesse o coração do foragido Rank-D.
- Espera. - Gritou assustado. - Espera. Sakai Kiichi, é um Nukenin. Ele é quem distribui gente do meu tipo nas coordenadas certas para emboscar ninjas fracos ou debilitados após uma batalha quando saem em missão. Ele deve saber de alguma coisa.
Satoru desembainhou a espada com a mão direita, a esquerda não largava aquele pescoço de jeito nenhum. - Ei, vai com calma. Eu falei tudo que sabia, eu juro. - Satoru, impiedoso, talvez pelo clima frio naquela floresta que incomodava as cicatrizes nos olhos o deixando de mau humor, invadiu o braquiorradial com a ponta da lâmina.
- O que mais você sabe? Onde eu encontro ele? - Questionou enquanto a lâmina percorria e rasgava o antebraço do topo até próximo do pulso. O corpo tremia por dentro, Satoru não estava bem acostumado a torturar alguém, mas demonstrou resiliência e não deixou aquele descostume afetar a lâmina, tremê-la demonstraria hesitação. No fundo sabia que não podia parar, conseguia sentir que faltava algo na resposta.
Um berro de dor desenhou no rosto de Satoru um semblante de culpa. - Kiichi é um peixe grande, mas não é o cabeça. Eu não sei o nome... - uma tosse pelo frio seguida de uma expressão de sofrimento interromperam a frase. - Não sei o nome de quem manda nele, mas é quem passa as informações. Ouvi dizer que o tal tem um par desses Guisos e vai vender  num leilão em alguns meses. Não sei o nome dele, mas sei que conhece das coisas porque é um ninja de dentro da vila, Kiri. Ele conhece os ninjas e sabe quando saem ou voltam. - Um amontoado pesado de saliva, de alívio em saber que contou tudo e de sofrimento por saber que aquilo provavelmente o mataria mais tarde tomou conta da conversa por alguns segundos. - Kiichi está num vilarejo de artesãos ao noroeste de Kiri, vai estar lá até amanhã.
Satoru o levantou pela gola, e logo em seguida um sopapo atravessou o nariz e ecoou, dava para ouvir aquilo de longe; foi uma porrada em cheio. O golpe fez a nuca atingir o solo e o ninja desmaiou logo em seguida. Satoru não foi tomado por um lado algoz quando o finalizou, estava agradecido pela informação útil, mas não queria ser seguido.

O arrebol aos poucos começou a cobrir o céu, o sol estava se pondo. Satoru finalmente chegou ao vilarejo de artesões. A busca começou, e seu coração ansiava pela oportunidade de brandir a lâmina.
Era bem movimentado, principalmente na ruela principal. Passava de um lado para o outro várias pessoas, todas bem dispostas fisicamente em função dos trabalhos manuais exercidos por artesões, não ia ser fácil para Satoru achar o que procurava em um lugar tão movimentado.
Satoru se concentrou arduamente nas respirações, precisou de pouco mais de uma hora sentado num banco prestando atenção. Precisava se abster da distração do farfalhar dos pássaros, até que a resposta apareceu. Passos mais curtos e um coração agitado se destacaram dentro dos sentidos apurados, aquele movimentar mostrava que certamente não era um artesão, estava indo a um encontro importante, e Satoru o seguiu torcendo para que o encontro importante não fosse com uma garota atraente; um coração agitado às vezes pode enganar.
Satoru, célere, escalou uma casa usando, Kinobiri, e sutilmente o seguiu. Se seus sentidos eram afiados, sua cautela em contrapartida não era tão boa assim; notou que a mudança súbita de respiração durante o caminhar entre as casas, já sem outras pessoas por perto, denunciava que Satoru havia sido descoberto.
"Os passos apertaram, está um pouco mais rápido, certamente fui descoberto. Se ele sabe que estou a segui-lo e não fui abordado nem tampouco mudou o destino, é fraco demais para lutar e acelerou os passos para chegar ao ponto de encontro e usá-lo de refúgio. Eu faço a indagação para extrair informações? Continuo o seguindo?" Um momento de dúvida assombrou o começo da noite de Satoru. "Vou manter assim, Kiichi vai estar lá".
Dito e feito. Numa rua mais abandonada, onde já não era mais possível ouvir o concerto de passos tomando conta do ambiente, estava alguém de cabelos enegrecidos penteados para trás de comprimento curto, olhos pretos e um aspecto físico robusto aguardando o shinobi assustado.
Satoru assustou ao perceber que a respiração estava estranha. Sua percepção foi sua salvação, pois quando quase foi surpreendido por um movimento rápido na sua retaguarda sua katana brandiu, impedindo que sua cabeça fosse decapitada por outra katana. O rapaz de cabelos penteados para trás sumiu numa nuvem de fumo, Bunshin no Jutsu, enquanto o original abordava Satoru, era uma distração para prevenir emboscadas.
- O que você quer, maldito? - Questionou enquanto movia a perna esquerda para trás para conseguir espaço e retirar a katana daquele embate. Rapidamente levantou a katana para o alto, era um golpe forte de cima para baixo; Satoru, sagaz, se antecipou movimentando o tronco para frente para impedir que houvesse espaço para o golpe, mas fora pego de surpresa com um uppercut do braço que não empunhava a espada; a katana era um chamariz para que se aproximasse. As pernas bambearam e os sentidos foram bagunçados, fora atingido por um golpe pesado no queixo. Enquanto o corpo ainda se recuperava, um murro direto vindo da mesma mão esquerda partia em sua direção. O ideal era que tentasse recuar, mas por reflexo respondeu agressivamente; o braço direito se movimentou para frente com o tronco inclinado, tentou uma estocada forte no peito do oponente. O movimento de Satoru não o atingiu, mas o obrigou a recuar.
- Kiichi, é você? - Satoru perguntou enquanto tentava se recompor do golpe anterior. A pergunta era fácil de ser contornada, bastava negar. Mas Kiichi confiava em si mesmo.
- Sou eu sim. Só vai ser um problema que você saiba se sair vivo. - Após uma resposta carregada de arrogância, Kiichi avançou empunhando a sua katana.
A velocidade média do movimento, o comprimento da katana, a flexibilidade para cada golpe, cada uma das manias em combate de Kiichi já haviam sido lidas. Uma explosão de vento desequilibrou a sua investida, Fuuton: Toppa, e num ritmo perfeito Satoru contra atacou. A lâmina afiada foi posta frente ao pescoço de Kiichi, que atônito acabou sem reação. Ao menos era o que Satoru pensava pouco antes daquele corpo se esvair numa curta nuvem de fumaça e rapidamente aparecer um tronco no lugar dele, Kawarimi no Jutsu.
Kiichi tinha vantagem em agilidade, aceleração e força, as trocas curtas e rápidas tinham melhores resultados. Satoru precisava de uma troca de golpes constante, para por em prática seu Kenjutsu.
- Qual é o nome do seu líder? Me responda e pouparei você. - Kiichi sorriu e logo em seguida avançou.
- Entrego meu pescoço antes de entregar alguém do meu esquema. O estratagema não será comprometido.
As lâminas se chocaram mais uma vez, o som do metal ecoou. Kiichi usou a mão esquerda como apoio para tentar pender o embate para o lado de Satoru, que evitou um braço de ferro por força e se deslocou para a direita com a sua katana. Satoru fez um movimento longo, curvou o corpo para o ponto mais baixo que conseguia e fez um movimentou mais focado em velocidade que força. As espadas colidiram mais uma vez, mas Satoru já estava bem posicionado e, dali, se distanciou e se aproximou em seguida rapidamente e emendou mais um golpe rápido. Um talho largo no bíceps da mão dominante de Kiichi o prejudicou.
Sem conseguir pensar muito agora que estava desarmado, Kiichi tentou surpreender com um murro usando a mão esquerda. Seu punho beijou a lâmina de Satoru, que foi invadindo aquele braço sem qualquer piedade enquanto Satoru se deslocava pela lateral esquerda dele.
Satoru puxou a katana de dentro do braço ensanguentado enquanto girava a espada com o corpo num belíssimo movimento, seus pés dançavam pelo chão e a poeira subia. A lâmina foi em direção ao pescoço de Kiichi, que num movimento desesperado antes da lâmina chegar atingiu Satoru com uma cabeçada no nariz.
- Alguém do seu nível não pode parar o que acontece por aqui. Eu sou descartável, outro pode fazer o que eu faço. Me mate, e será apenas um galho derrubado, não consegue derrubar a árvore. - Esbravejou Kiichi.
Satoru respirou e, naquele momento, percebeu que não extrairia informação nenhuma, Kiichi foi o mais sincero possível.
- Indulgência não predominará. É um criminoso, e sendo assim, será tratado como tal. - Satoru ergueu sua katana com a mão direita e agarrou o pulso com a mão esquerda, enquanto o pé direito, predominante, ficava à frente. Uma pose feita para o embate final. - Erga sua cabeça, Sakai Kiichi, para não perder nenhum detalhe da sua morte. Sorria, pois a justiça está sendo feita... isso não é maravilhoso? -
Satoru sumiu, substituído por uma silhueta desenhada com fumaça, e num piscar de olhos estava nas costas do oponente. Kiichi, ferido, estava com os reflexos comprometidos; fora empalado pelas costas inúmeras vezes, até que ajoelhou para logo em seguida cair desfalecido.
Naquela noite a justiça foi feita, uma parte do mal fora erradicada. Não porque Satoru almejava um caminho impoluto, mas porque aquele mal era um obstáculo a ser contornado para obter informações, mesmo que não tenha conseguido muitas. Ao menos agora sabe que algo estranho tem ocorrido partido de alguém dentro de Kiri.

Satoru aproveitou aquele final de noite gélida para tomar uma sopa quente sob a companhia de Endo.
- Nunca vi um nariz num estado tão ruim, isso que sou médico, combinou com o resto do seu rosto. Entrou numa briga? Vou te mostrar no espelho. - Satirizou.
- Eu esbarrei numa lata de lixo.
-Odeio essas latas de lixo que praticam taijutsu. - Endo riu, com uma expressão de preocupação o acercando. - Cuidado, Satoru. Está perseguindo a lua acreditando estar mais próximo dela, mas está olhando para o reflexo desenhado no oceano. Está indo para o caminho contrário da felicidade.
- Não quero ser feliz, quero conhecer a história do meu pai.
- Yamadera Kouichi. Era um amigo importante do seu pai, foi quem avisou a equipe médica que eu fazia parte sobre a situação da sua família e que permitiu que chegássemos a tempo para te salvar. Ele pediu anonimato naquela época, mas acho justo que você saiba quem salvou a sua vida.

No dia seguinte Satoru encontrou Kouichi e o abordou.
- Quem te contou que foi de mim que partiu a informação?
- Enquanto eu agonizava de dor perante a equipe médica, alguém gritou: "a informação do Kouichi foi certeira". Seu nome ficou na minha mente por muitos anos. - Satoru mentiu, mas precisava cercar Kouichi, parecer que merecia a verdade.
- Eu guardei isso por muitos anos. Quer saber por que seu pai tinha um par de guisos raros consigo? Vou te contar, não só por ser o filho dele, mas porque o amor dele pela família merece que sua história seja passada adiante.

Gostei do filler principalmente em suas descrições de ações. Só que apesar disso eu acho que teria que colocar um sentimento que o personagem descreve o que está fazendo quando fala, exemplo:

- Gostei do que você fez uma armadilha muito boa. Dizia a Kirinin feliz com aquela ação que sua parceira fazia naquela hora.

De restante ok.

Genos escreveu:

Só que apesar disso eu acho que teria que colocar um sentimento que o personagem descreve o que está fazendo quando fala, exemplo:

- Gostei do que você fez uma armadilha muito boa. Dizia a Kirinin feliz com aquela ação que sua parceira fazia naquela hora.

Anotado!! Acredito que depende muito do estilo de texto que você quer traçar. Eu queria imergir mais nas descrições de batalha e embromar menos com as descrições de diálogo, mas talvez tenha dosado errado.

Sim pode ser nesse contexto que você cita. Mais na parte de descrições de utilização de jutsu e do que está acontecendo na batalha, falas se usa muito pouco só usa para distrair o oponente enquanto pensa numa estratégia para ganhar raciocínio nos treinamentos e no que irá fazer.

Adorei o clima que conseguiste criar. Na cena inicial conseguiste captar a intensidade do momento em que desferiste o golpe para fazer falar o pobre ninja, assim como a capacidade de sentir o coração acelerado, acho que foi um óptimo filler. Podes mandar vir mais!

Eu gostei muito desta parte: "Ouvi dizer que o tal tem um par desses Guisos e vai vender num leilão em alguns meses." antecipava um objetivo para uma história, mas depois vi que talvez não vá acontecer!?

O texto está muito bem escrito! Gostei.

Achei que estás a evelar um pouco o poder do teu char, na sua grande perceção, mas até entendo e fica bonito. Podes continuar se quiseres. Porém...pensei que esse Kichi não desse para ser derrotado já...pensei que fosse mais forte. A sua morte foi brutae pesada. Mas é um tipo de história diferente. Tambêm é o que faz o NRPG interessante.

Atualizei 2 BEs para o autor e 1 BE para os restantes, eu inclusive.