Texto do Stara
Uma lufada de ar frio inundou o corredor no instante mesmo em que a porta foi aberta. O rapaz moreno comprimiu a mão espalmada contra os olhos, num gesto instintivo de protegendo-los das migalhas cortantes de neve. Quando a ventania perdeu força, ele descobriu os olhos e fitou a saída do corredor. Uma luz baça e pálida se projetava dali, conferindo uma estranha atmosfera bicolor ao cenário - às suas costas a escuridão negra, a frente a iluminação esbranquiçada.
Como se esta situação já não fosse suficientemente estranha por si mesma, pensou Kamus. Ao seu olhar, um filme com recortes em preto e branco começava a se desenrolar ali.
Vou entrar na arena, pisar com o coração a fio, o coração na mão, e então uma batalha se iniciará. O combate de minha vida, será? Bufou, indiferente.
Não é esta a questão. Mesmo que venha a ser a batalha mais difícil e desafiadora de minha vida até agora, a luta toda não passa de um evento protocolar. É uma simples batalha-avaliação. Sorriu, as pálpebras comprimindo-se numa expressão sagaz.
Soa mal colocar o Exame Chuunin nesses termos, mas a realidade é que a situação produz uma excitação toda particular. Todos os meus movimentos serão minuciosamente observados por ninjas altamente habilidosos. É impossível que a adrenalina não triplique, que o corpo não aqueça e seja tomado por espasmos de pavor e tesão. E de fato, embora o frio descomunal assolasse o corpo do konohanin, o calor que emanava do sangue agitado impedia sua sensibilidade de se abater.
Uma cotovelada em suas costelas fez Kamus erguer a cabeça e escancarar os olhos, assustado. Era um dos shinobis responsáveis por monitorar o evento. Estava claramente incomodado com a demora do gennin.
- Tá bem, tá bem - declarou Kamus, assentindo com a cabeça. Tinha caído em um de seus habituais momentos de compenetração.
Um tanto embaraçado, e com receio de ter dado a impressão de ser um participante com demasiado medo da luta e de seu adversário, o Hyuuga deslocou do corredor em passadas largas. Dentro da arena, piscou os olhos, a visão logo se habituando à iluminação do ambiente. Não estacou; ao identificar duas pessoas em pé no centro da arena, o rapaz rumou em sua direção, e aproveitou o tempo do percurso para observar o espaço que tinha a sua disposição.
Muita, muita neve, reparou de súbito, enquanto tentava encontrar qualquer espaço de terra que não fosse coberto pelo manto branco. Viu só uma extensa região translúcida, ladeada por uma gama de pinheiros.
Um lago congelado?, perguntou-se, espremendo os olhos. Mas sua mente se fixou mesmo nas árvores.
É um local interessante para mim, dado o adversário que vou enfrentar. A aglomeração de pinheiros não atrapalha a movimentação do meu corpo, e ao mesmo tempo pode propiciar entraves que facilitem a minha fuga dos ninjutsus de longa distância., raciocinou. Kamus não conhecia por inteiro a dimensão e a gama de habilidades de Alucard, mas tinha observado-o o suficiente nas provas anteriores para saber que ele era um usuário notável de ninjutsu.
E ali estava ele, poucos metros a sua frente, um garotinho novo, de tamanho diminuto, mas cuja presença impunha sempre alguma sensação de imponência.
Deve ter sido forjado a ferro, o garoto, pensou Kamus, um tanto admirado mesmo. Alucard encarava o Hyuuga com calma deliberada, mas seus olhos dourados denunciavam uma vontade incontrolável de lutar, de vencer; era quase uma ganância. Ele tinha consciência de sua superioridade, e se apegava a isto como a uma garantia inalienável de vitória.
Sim, se detenha aí, nesta sua segurança. É daí que tirarei minha vantagem, pensou o rapaz de cabelos alvos, revidando com ferocidade o olhar do outro, mas escondendo dentro de si um sorriso astuto.
Não tenho muitas ilusões aqui; mas por perder em poder, preciso compensar com criatividade. É o que me resta.- Preparados? - pronunciou o jounin que mediaria a batalha. Com o canto dos olhos, ele observou a reação dos dois gennins, que permaneceram estáticos, devorando-se com os olhos, como que aguardando o sinal do abate. O supervisor trovejou: - Começar! - e desapareceu em fumaça.
Kamus ameaçou dar uma passada para frente, mas os músculos da perna se refrearam antes mesmo do movimento se formar. A poucos metros a sua frente, Alucard iniciou uma sequência estonteantemente veloz de selos.
Numa situação ideal, o mais adequado seria eu aproveitar todas as oportunidades para providenciar combates corpo a corpo, mas com esta velocidade de domínio de selos eu mal teria tempo de alcançá-lo - menos ainda de desviar do que virá. Realocando o pé direito em sua retaguarda, o konohanin atentou-se para o que viria. Alucard inspirou com profundidade pelo nariz e boca, inflando visivelmente a barriga:
- Katon: Gokaryu no Jutsu - pronunciou, soprando pela boca uma enorme bola de fogo.
Um ataque tão escancarado e óbvio assim... ? Kamus desconfiou. Deu um salto mortal para trás, a perna impulsionando-o com velocidade. No ato, manipulou uma pequena quantia de chakra que o lançou lateralmente numa Shunshin, retirando seu corpo do alcance da bola de fogo. Mal firmou os pés no chão, uma kunai passou rente à sua cabeça. No reflexo, ele agachou, desviando agora de duas shurikens. Projetou seu corpo com a intenção de avançar na direção de Alucard, mas novamente se refreou, o cenho franzindo.
Merda... Ouviu como que o silvo de fios de aço retesando, e no mesmo instante sentiu um corte se abrir em suas costas. Veloz, e percebendo simultaneamente o que estava acontecendo, Kamus jogou seu busto contra o chão coberto de neve, desvencilhando-se da harigane que começava a se fechar às suas costas. Sem perder tempo, utilizou a força de seus braços para rolar na neve e se pôr fora do alcance dos fios manipulados por Alucard.
Com a impulsão do giro, se colocou de pé num salto, a mão direita se armando no selo da cobra enquanto ele ainda estava no ar. A partir da concentração, seu sistema ocular foi embebido de chakra, conferindo uma ardência penetrante feito fogo a sua íris branca.
Não queria utilizar o Byakugan com tanta antecedência, mas é o único recurso que possuo para fazer frente à habilidade engenhosa dele com a harigane. Ou era isso, ou era fugir de vez rumo aos pinheiros... Mas reservarei isto ao futuro.Agora, com sua visão ampliada circularmente, ele acompanhava sem dificuldades as trajetórias das shurikens, mas também tinha uma visão privilegiada dos próprio movimentos dos dedos de Alucard, que estava parado a não mais que dez metros a sua frente. Com isso, Kamus poderia ver algumas pequenas contrações e antecipar razoavelmente as mudanças nos deslocamentos das armas em voo.
Viu com clareza as duas shurikens anteriormente lançadas refazerem suas trajetórias e rumarem cada qual a um canto de suas costas. No percurso, Alucard sacou com velocidade mais duas kunais e as lançou contra o busto de Kamus. O rapaz de cabelos alvos sorriu, captando com calma deliberada cada movimento. Abriu as pernas, posicionando-se para recepcionar os ataques, e meteu as mãos nos bolsos traseiros e as tirou de lá empunhando cada qual uma adaga. No instante certo, ele girou com extrema velocidade os dois braços para trás, fazendo com que as adagas embatessem com as shurikens, e no milésimo seguinte os fechou num rápido movimento cruzado a frente do seu peitoral, defendendo-se das kunais.
Alucard estava sério. Ao ver que não avançaria mais com aquela estratégia, parou os movimentos e começou a fazer outra série de selos.
De novo não... Kamus foi ágil: girou a adaga empunhada em sua mão direita e a lançou com força na direção do estômago do kumonin. Ele não teve outra alternativa a não ser parar de executar os selos e mover-se para desviar. Nesse átimo, Kamus avançou, as pernas trotando, velozes, com toda a potência que seus músculos poderiam conferir. Alucard viu e, sem tempo, sacou sua Kusanagi.
O Hyuuga arregalou os olhos diante da arma utilizada pelo garotinho, mas continuou o movimento sem hesitar. Girou a adaga em sua mão esquerda e esboçou um ataque diagonal contra o corpo do adversário, mas foi devidamente evitado pela extensa lamina de sua espada. Recuou a mão e tentou outra ataque, que foi novamente impedido. Logo em seguida, era Alucard quem investia impiedosamente sua Kusanagi contra Kamus, que precisou se esforçar para evitar ser esfrangalhado. Um punhalada frontal de Alucard, impedida por uma descida forte de sua adaga. Milésimo seguinte, a espada do garoto já voltava a estocar, mirando a perna, e o rapaz moreno precisou saltar para trás a fim de evitá-la por um triz.
Fitou Alucard e estalou a língua, frustrado.
Não era exatamente esse o plano... Precisava fazer uso daquilo em que ele era realmente habilidoso. Guardou a adaga no seu bolso novamente, sem delongas. Depois estirou os braços a sua frente e respirou, sentindo um certo alívio.
É assim que me movo com eficiência. Todo o corpo livre para desviar, agarrar, defender. Preciso apenas ter cuidado com aquela lamina...Alucard assistiu àquilo um tanto desinteressado, mas percebendo que tinha conseguido vantagem durante a batalha corpo-a-corpo, ele não demorou avançar contra Kamus. Este permaneceu parado, em aguardo, tentando sentir a leveza do próprio corpo. Quando a lamina de Alucard deslizou cortante em seu pescoço, ele apenas deu um ágil passo à retaguarda, e no milésimo seguinte encolheu seu corpo junto à neve do chão, os músculos e articulações respondendo com presteza às suas intenções. Simulou uma rasteira, Alucard pulou, evitando-a, mas foi quando ele desceu a espada contra o chão que levou um susto. Como Kamus preconcebera, no mesmo instante em que o garoto kumonin percebeu sua rasteira, ele freou o movimento e utilizou a força tanto das pernas quanto dos braços para lançar seu corpo para cima, à altura da cabeça de Alucard. Quando a kusanagi atingiu com força o chão vazio, o potente chute da Konoha Daisenko de Kamus preencheu com força a lateral direita da face do garoto.
O corpo do Yata voo, descontrolado, e caiu rolando no chão vários metros de distancia. Kamus parou um segundo, tentando buscar fôlego e sentir seus próprios ferimentos pela primeira vez. Passou sua mão contra a dor nas costas e a colocou diante de si. Uma mancha de sangue a cobria.
- Empatados - disse Kamus, alto, um tanto provocativo.
Alucard já havia se recomposto. Estava à distância, em pé, massageando a mão contra o ouvido direito. Devia sentir algum zunido desconfortável. Olhou com muita seriedade para o Hyuuga. Parecia mesmo levar muito a sério toda a batalha.
- Nunca achei que fosse ser fácil, Hyuuga Kamus, esta nossa luta. - O tom do garoto era quase disciplinar. Falava como se em instante algum tivesse perdido a lucidez. - Mas eu estou determinado a te derrotar. E tenho poder para isso.
E ele avançou, correndo, a kusanagi ainda empunhada. O rapaz moreno se preparou para outra esquiva comum, mas desta vez seu byakugan captou um movimento diferente no chakra de Alucard, como se ele estivesse manipulando-o em seu corpo enquanto se locomovia.
Cuidado, o Hyuuga alertou a si mesmo. Ainda correndo, o garoto abanou a lamina de um lado a outro, como se testasse suas próprias manobras. E, hipnótico, o movimento se repetiu, infinitamente, tão rápido como se os braços de Alucard se multiplicassem. O genjutsu ótico funcionou, mas era uma tática pouco eficaz diante de um doujutsu como o byakugan.
Pude discernir com clareza o instante em que o chakra emanou do corpo dele e formou essas ilusões de braços a multiplicar-se. Estou preso no genjutsu, mas posso ver através dele. Mas precisava ser cuidadoso. Enquanto enfiava uma mão no bolso, com a outra ele formava um selo. Sacou novamente a adaga e moveu-a para frente do seu busto. Numa pulsão, manipulou seu chakra, estagnou-o levemente e então o irrompeu numa explosão. A ilusão sumiu da sua frente, e então ele pôde bloquear a lamina do adversário no último milésimo.
Suor frio escorreu por sua têmpora.
Demorei mais do que previa me desfazendo da ilusão. Por um triz o ataque dele não se fez eficiente. Alucard não demonstrou nenhum sinal de surpresa por Kamus ter conseguido bloquear seu ataque, e continuou sua investida sem hesitação. Sua kusanagi desceu com tal força que, ao ser bloqueada por um Kamus um tanto desatento, o desarmou de sua adaga restante. O item sumiu em meio ao colchão de neve, e o Hyuuga precisou se afastar com velocidade para se recompor. Alucard parecia estar satisfeito:
- Agora você não tem mais suas adagas - dizendo, guardou a kusanagi na bainha e executou uma porção de selos. - Kage Bunshin no Jutsu!
O rapaz de cabelos alvos revirou os olhos. Agora eram dois dele. Estranhamente, o clone de Alucard impulsionou-se na direção de Kamus, parecendo intentar uma batalha corporal. O Hyuuga afastou um pouco mais e então começou a travar a luta, mas mantendo-se atento ao original. Este continuou a fazer selos, e logo em seguida espichou a boca para dizer:
- Gamayudan!
Atento, Kamus havia visto alguma coisa se formar no interior da boca dele. Quando o jato rompeu na direção do Hyuuga, ele rendeu o corpo do clone e o alocou frente ao seu próprio corpo. O jato de óleio, embora tivesse se impregnado por completo no bunshin, era mais denso do que Kamus imaginara, e respingara também um pouco nele. Ele aproveitou o instante e, articulando com força os músculos de sua perna, utilizou a potencia da Rakanken para subir uma joelhada poderosa contra as costas do clone. Com a força bem empregada e aumentada pela posição vulnerável em que estava, o bunshin se desfez em fumaça.
Alucard não dava trégua, e outra combinação de selos já estava sendo concluída por ele. Desta vez, Kamus percebeu que uma quantidade bem mais substancial de seu chakra havia sido manipulado:
- Katon: Haijingakure no jutsu! - e o garoto cuspiu de sua boca uma matéria estranha e fumacenta, que começou a se espalhar abrasivamente pela arena.
Toda a neve que a cortina cinzenta de fumaça tocava era simultaneamente transformada em liquido. Kamus tentou não perder a calma e manipulou seu chakra, direcionando com delicadeza para a região do seu braço direito. Quando a cortina estava perigosamente chegando ao seu alcance, ele executou uma investida veloz de sua palma aberta para frente:
- Hakke Kusho! - uma forte pulsão criou-se a partir da sua palma, e o vácuo gerado afastou a fumaça quente.
Mas não foi suficiente. Alucard ainda estava a despejar fumaça pela boca, tanto chakra a técnica cobrava, e o espaço de ar limpo que o taijutsu de Kamus criou logo foi tomado por outra camada do gás. Sentindo o calor emanado pelo jutsu, mesmo sem ter tocado, Kamus virou as costas e correu. Havia um espaço peculiar na arena, que era o aglomerado de pinheiros e a região em que ele fazia fronteira com o lago congelado, e foi para lá que ele rumou. Já estava conscientemente direcionando a batalha para lá desde o início, inclusive enquanto estivera esquivando-se da lamina de Alucard. Era hora de chegar definitivamente.
Enquanto corria, a cortina de fumaça rente às suas costas, ele ouviu simplesmente:
- Katon: Gokakyu no Jutsu!
De novo isso... ?, ia pensando. Mas foi estúpido. Num átimo, uma explosão ensurdecedora se fez ouvir, e com a visão traseira de seu byakugan ele foi capaz de ver apenas ligeiramente uma pequena chama se acender e então, quase instantaneamente, detonar, inundando de vermelho e calor o cenário da arena quase por inteiro, como um furacão de fogo.
Sem tempo para se afastar mais, Kamus se lançou para cima num salto rodopiante. Um tanto atabalhoadamente, começou a liberar chakra por todos os poros de seu corpo e, à medida mesmo em que ele se expandia ao redor do Hyuuga, sua composição era manipulada num giro hiper veloz. O mar de fogo o atingiu, e Kamus sentiu sua Hakkeshou Kaiten ser engolida e lançada em descompasso como uma bala de canhão. A bola de chakra chocou contra um, dois, três troncos de pinheiros, dilacerando-os no mesmo instante, e no quarto se desfez. Kamus chocou seu peitoral contra a árvore, perdeu o fôlego, e caiu ao chão quase desfalecido.
Do outro lado da arena, a muitos metros de distância, Alucard perscrutou o que restou do cenário da arena. Aplacado pela neve que caia continuamente e pela umidade do local, o fogo não havia se expandido abrasivamente pelos pinheiros, mas a explosão havia deixado muitos deles negros e esturricados, com algumas pequenas chamas a sobreviver nas galhas. Um tanto satisfeito, mas ainda desconfiado, o kumonin foi à procura do corpo de seu adversário. Ao chegar a aglomeração das árvores, viu algumas destruídas de modo distinto, com os troncos pela metade, e muita madeira estilhaçada pelo chão. Curioso, se pôs a seguir este rastro.
- Olha, sobrou um pouco de mim sim, se é o que você está se perguntando - a voz de Kamus veio sobre Alucard.
Olhou para cima, e fixado no topo de um pinheiro estava Kamus - o corpo completamente sujo, manchado de queimaduras e ferimentos vários, o cabelo branco chamuscado. Ele ainda mastigou duas vezes antes de engolir alguma coisa. Era sua Zoketsugan. Ele comprara aquilo em antecedência ao Exame Chuunin, cogitando que poderia ser útil especialmente nas fases iniciais, em que se faz viagens ou se percorre trajetos muito longos. Não imaginara que precisaria de usar isto no duelo, mas agradeceu sua precaução. Embora seus ferimentos externos não demonstrassem nenhum vazamento excessivo de sangue, ele sentia dores horríveis internamente, e precisava aplacar qualquer possível rompimento hemorrágico, se não não duraria mais que alguns minutos. É por isso, também, que decidiu não tentar apanhar Alucard de surpresa - achou mais sensato gerar tempo para que a pílula fizesse efeito.
Em baixo, o Yata sorriu, um sorriso honesto.
- É bom mesmo que ainda esteja de pé. Eu tenho muito mais a mostrar.
O garoto era insano. Não respeitou minimamente o segundo de descanso que o velho Kamus tentara criar, e já reiniciou o ataque. Quando ele posicionou o corpo como se fosse fazer mais uma investida, o Hyuuga já tratou de ativar novamente seu byakugan, o chakra confortavelmente propulsionando a sua visão.
- Kuchiyose: Raiko Kenka - exclamou Alucard.
Ele manipulou chakra para os seus pulsos, e ao encontro da energia com os selos armas shinobis começaram a ser invocadas em suas mãos. Ele começou a lançá-las, veloz e preciso, enquanto Kamus revestia seu pés com o chakra Kinobiri a fim de se equilibrar numa corrida descendente ao longo do tronco. Saltou dali para um outro pinheiro mais afastado, distanciando-se voluntariamente. Queria mesmo ganhar tempo.
Alucard freou o ataque e então executou alguns selos de mãos.
- Raiton Kage Bunshin no Jutsu! - outro clone surgiu ao lado do Yata. - Continue a entreter ele, eu quero preparar uma técnica! - havia ânimo no tom de Alucard.
O cérebro de Kamus estalou.
Este clone não é como o outro. A composição de seu corpo é de uma carga elétrica surreal. Nada sensato destruir isto numa luta corpo a corpo..., entre dores lentamente amenizando a medida que sua adrenalina aumentava novamente, ele sorriu.
A menos que não seja ao lado do meu corpo. A ideia estava formulada.
O Alucard original se afastou um pouco, colocando-se ao lado do tronco de um pinheiro. Um ângulo seguro. Com a visão completa de seu sistema, Kamus percebeu a enorme mobilização de chakra que o Yata se pôs a executar. E era elétrico. Uma quantidade substancial da força vital do garoto começou a ser deslocada e concentrada em sua mão direita, mas com lentidão. A concentração exigia grande esforço. E tempo.
Kamus balançou levemente a cabeça. Nada legal. Precisava colocar sua ideia em ação logo. O clone de raiton de Alucard avançou em sua direção, assim como o outro buscando um combate corporal.
O garoto tem seu quê de esperteza. Ele quer que eu destrua este bunshin assim como destruí o outro. Sabe bem os danos. E se não sabe, vai descobrir agora. O Hyuuga foi objetivo, desviou de um soco, com facilidade, velocidade não era problema ali. Em seguida, deu uma rasteira pontual no clone, sem brechas para escapatórias. Assim que ele foi ao chão, Kamus rumou numa corrida na direção do corpo original.
O bunshin de raiton reagiu com agressividade - numa corrida veloz, ele alcançou Kamus e, de um salto, se pôs a frente, como que defendendo o corpo verdadeiro. Usando o Kuchiyose Raiko Kenka, ele começou a invocar kunais e shurikens para lançar contra Kamus. A velocidade acelerada com que as armas apareciam em suas mãos e eram atiradas impedia uma aproximação adequada.
Kamus agradeceu, e em uma série de ágeis mortais para trás, ele se afastou, desviando das laminas. Era o seu momento. Instalado a uma distância apropriada, ele uniu seu corpo todo, pernas e braços fechados contra o tronco, formando uma corpo vertical estático. Com os olhos fechados, seu chakra foi libertado, cuidadosamente, expandindo-se, imperceptivelmente no exterior de seu corpo. O byakugan, já ativado, foi impulsionado, ao modo exigido pela técnica do Hakke. Kamus passou a assistir aos movimentos ao seu redor, no seu campo de visão, como que em transe. Três kunais e duas shurikens voavam em sua direção. Graciosamente, e numa rapidez estonteante, seus dois braços ergueram e, esticados, desenharam movimentos aparentemente aleatórios no ar.
Pequenos, mas consistentes e potentes feixes de chakra, feito agulhas, surgiram no ar e se embateram com perfeição contra as armas shinobi. A força era mais do que suficiente para desviar seus percursos. Sem hesitar por um milímetro sequer, Kamus continuou a mover os braços em torno de si, na mesma medida que o clone disparava com velocidade redobrada as armas. A criatura parecia estar satisfeita. Atrás de si, na mão do Alucard original uma porção desfigurada de chakra raiton se reunião, produzindo um chiado sonoro ao longo da arena. Mas sua felicidade durou pouco. Quando deu por si, começou a sentir um comichão estranho percorrer seu corpo elétrico. Parou de lançar as armas em Kamus, incapaz de manipular seu chakra e sendo tomado por completo pelo desconforto. Os movimentos dos braços do Hyuuga, no entanto, não pararam nem por um segundo.
Pouco a pouco, a cada vez que surgia uma abertura, eu estive a atirar agulhas Hari ao longo dos pontos frágeis no sistema de chakra que produz a concretude do clone. Embora não pudesse destruí-lo com apenas uma ou duas, já que ele possui um sistema de chakra completo, sabia que hora ou outra seria fatal.
O bunshin sequer pôde entender com perfeição o que o destruíra. Teve tempo apenas de dobrar-se sobre si e lançar um olhar silencioso e desesperado ao corpo original, e então se desfez numa explosão. Alucard entendeu, no último instante, o que aconteceria, e com o Chidori quase completo formado em sua mão ele se lançou para frente, mas o bunshin de raiton estava próximo demais. A explosão elétrica tomou o corpo de Alucard, consumindo junto com ele a própria gralha de raiton que ele carregava na mão.
Num clarão cegante, o corpo de Alucard voou, parando apenas ao chocar com uma árvore. No entanto, a carga elétrica que se descontrolou e percorreu seu corpo fora tão potente que ele continuou a demonstrar seguidos espasmos, os olhos revirando-se e os membros contraindo-se. Vermelhidões logo surgiram ao longo de sua pele, causado pelo calor da descarga.
Kamus ajoelhou ao chão, buscando fôlego.
Será que foi suficiente?Ele descobriu a resposta menos de alguns minutos depois. Quando os espasmos pararam, Alucard arregalou os olhos. Estava acabado, mas havia alguma coisa monstruosa mobilizando seu despertar. Ele parecia querer levantar-se e correr, algo como que um desespero por não demonstrar que havia sido derrotado, mas era incapaz.
Mas não por tanto tempo, percebeu Kamus, a face estupefata.
É isso que eu tinha percebido nele lá no início, quando nos esbarramos, mas eu não soube definir. Há uma monstruosidade em estado de dormência ali. Parte do chakra de Alucard estava sendo sacrificada, consumida, por seus próprio sistema fisiológico. Como se ele se alimentasse da energia para recuperar sua condição física.
Kamus levantou-se, preparado para fazer seu ataque final. Não demoraria até que Alucard pudesse se mover novamente.
E mesmo que ele não retome à sua potência inicial, em qualquer condição ele é um risco, já que eu mesmo não suportaria muito mais.
O rapaz moreno liberou outra carga de chakra ao longo de seu corpo à medida que se deslocava para perto de Alucard. Sentiu a eletricidade percorrendo seu corpo, mas sob controle. Estacou um passo diante do corpo caído do garoto e inclinou-se sobre ele. Com o Hakke Juroku Shou no Raiton devidamente ativado, Kamus começou a distribuir socos fortes contra o corpo do menino, um, dois, três, quatro, cargas de eletricidade disparando e se recarregando a cada golpe. Ao concluir, o konohanin deixou-se cair ajoelhado no chão, novamente.
Respirava aceleradamente. Além dos ferimentos, lhe custara muito chakra aquilo tudo. Ofegava e ofegava sem controle, a visão um pouco turva. O byakugan logo desativou-se, involuntariamente. Ficou ali, parado, por alguns instantes, se perguntando se havia ganhado. Ele não conseguia focar sua visão em Alucard com precisão. As coisas apareciam um tanto borradas para ele. Por isso fechou os olhos e permaneceu assim, tentando se recompor. Havia alguma coisa errada. Tempo passava e passava, mas nada acontecia. Ninguém apareceu para avisar que a batalha chegava ao fim.
Abatido, abriu os olhos por fim. Alucard não estava desacordado. Continuava ali, no chão, mas desperto. Aliás, seu corpo tinha mudado um pouco de posição, como se ele tivesse se ajeitado para recostar as costas no tronco do pinheiro. Ele respirava com extrema dificuldade, pela boca. Um fio de sangue escorria pela lateral do lábio, bastante avermelhado. A técnica de Kamus desfigurava algumas circulações sanguíneas. Mas ainda não fora suficiente. O chakra demoníaco do garoto continuava, mesmo que muito lenta e fragilmente, a curá-lo e a mantê-lo desperto.
Será que eu devia ter usado o Hakke Sanjuni Sho? Com a técnica Juuken tradicional eu teria impossibilitado diretamente o próprio uso do chakra dele, Kamus se questionava, mas em vão. Não tinha a menor capacidade de executar aquilo agora. Chakra e vigor lhe faltavam.
Teve apenas uma única ideia. Executou alguns selos, sem muita pressa, usando um pouco do seu chakra, e pronunciou:
- Jagei Jabuku. - Uma cobra enorme e grossa deslocou-se suavemente da brecha entre a camisa e a calça de Kamus.
A serpente, escura e negra, deslizou pelo chão e envolveu o corpo de Alucard. Com seus músculos absurdos, começou a apertá-lo. Não havia mais saída dali.
- Desista - pediu Kamus. E de fato era um pedido. Não queria matar ninguém por causa de um Exame.
- Magen: Narakumi no Jutsu - falou Alucard, em resposta.
Não... Seu pensamento foi um murmúrio. Decaiu pesado nos horrores do genjutsu, incapaz de reagir.
Despertou apenas ao sentir um toque ao seu ombro, que sussurrou:
- Kai. - Era o mediador da batalha. Olhou para Kamus, em seguida para Alucard. Os dois conscientes. - Isto acaba em empate.
Kamus só compreendeu quando viu na outra mão do jounin uma tanto suja de sangue. No chão, a serpente que ele invocara estava cortada partida ao meio.