Manhã
- Citação :
- – Bem, sendo assim, vamos começar com um pequeno exercício de aquecimento.
Kyra ergueu uma sobrancelha. – Bem, por pequeno, desta vez queres mesmo dizer pequeno?
Michael virou-se para Kyra. – Então ele também nunca diz a verdade quando te treina?
– A percepção dele em relação ao tempo é bastante diferente da nossa…
– Talvez queiram fazer o favor de parar de falar de mim e começar uma corrida.
Kawasu entregou-lhe os habituais pesos. Desta vez eram maiores e mais pesados, dificultando ainda mais os movimentos. Michael e Kyra iniciaram a corrida. Enquanto corriam, nenhum dos dois deixava que o outro o ultrapassasse, numa rivalidade infantil.
Quando já tinha corrido sete minutos à volta do campo de treinos, Michael começou a sentir que estava a ficar mais habituado aos pesos.
Os dez minutos de corrida acabaram, quando Kawasu mandou-os fazer trinta flexões com os pesos nos ombros e costas. A sortuda da filha, claro, fez menos…
Michael já estava a começar a suar quando o seu pequeno aquecimento já tinha acabado.
Kawasu apontou para o rio que corria do seu lado direito. Este continha duas linhas de troncos de madeira que sobressaíam, formando quase duas passadeiras.
– O objectivo será transportar estes baldes cheios de água até à outra margem, sem deixarem cair nada.
Parece fácil, pensou Michael. De pesos nos seus quatro membros colocou dois baldes nas suas costas, por intermédio de um pau de madeira. Os baldes eram mais pesados do que aparentavam.
Subiu para o primeiro tronco. Esperou um pouco para manter o equilíbrio dos baldes que transportava. A distância para o segundo tronco era um pouco maior do que estava à espera. Teve de fazer um grande esforço para conseguir esticar a sua perna sem entornar água, e passar para o segundo tronco. Olhou para o seu lado direito e viu que Kyra já ia no seu terceiro tronco. Vendo isto Michael usou das suas forças para se apressar.
Quando ambos chegaram ao fim do percurso, Kawasu mandou repetir o mesmo várias vezes.
Tinha perdido a conta das vezes que já tinha andado naqueles troncos. Estava a ir para o quinto tronco quando algo duro lhe acertou no seu lado direito e fez com que Michael caísse para a água. Como a corrente estava forte, teve de se esforçar para nadar até à margem. Quando saiu, Michael olhou para Kawasu. O seu sensei tinha novamente uma bola de madeira nas mãos, como as que tinha usado no seu treino anterior. Perfeito, novamente aquelas bolas pesadas e duras.
– Bem que podia ter avisado que ia atirar com isso, sensei.
– É bem verdade, pai. – Disse Kyra enquanto saía da água, encharcada.
Kawasu suspirou. – Em toda a minha vida de ninja nunca vi nenhum inimigo avisar que vai atacar.
Michael ponderou. Ok, então o seu mestre tinha razão… podia ter avisado ao menos que ia doer.
– O objectivo é fugir às bolas sem entornar água… ou então apanhar com elas sem caírem.
Tanto Michael como Kyra olharam boquiabertos para Kawasu.
Apanhar com elas?, pensou Michael. Iria ser divertidíssimo este treino!
De novo com os baldes suspensos nos seus ombros, Michael subiu para o primeiro tronco. Agora que os pesos e a sua roupa estavam molhados o peso era maior. Preparado para a dor deu o primeiro passo em direcção ao segundo tronco. Sentiu uma bola atingir-lhe a perna. Michael perdeu o equilíbrio. Ao cair conseguiu amarrar-se ao tronco, conseguindo ainda manter um dos baldes com água. Subiu novamente, desta fez sem se ter molhado tanto. Voltou ao primeiro tronco e encheu o outro balde. Ao menos a sua adversária de treino não tinha ficado melhor.
Com passos rápidos e firmes, para os baldes não entornarem, Michael avançou pelos troncos. Enquanto avançava, ia-se concentrando em todos os sons e movimentos que o rodeavam. Quando sentiu que algo era dirigido a si, Michael rodou sobre si mesmo tirando o bastão que segurava os baldes das suas costas. Tal arma improvisada serviu para bloquear a bola que ia com velocidade. O movimento brusco não só impediu que a bola lhe atingisse, como também fez com que mais de metade da água contida nos baldes caísse.
– Volta ao início Michael. – Disse o seu sensei.
De novo no primeiro tronco, Michael encheu os baldes. Agora que estava a ficar cansado, estes pareciam ser mais pesados.
– O objectivo é desviarem-se das bolas e não bloqueá-las.
Percebendo a indirecta, Michael começou a correr rapidamente pelos troncos. Sentiu que uma bola se ia dirigir a ele. Parou num dos troncos e equilibrou-se. Deu um pequeno salto rápido, apenas o suficiente para que a bola lhe passasse por baixo. Os baldes ainda tinham muita água. De seguida continuou a sua corrida. Quando sentiu outra bola atrás dele, estava entre dois troncos. Não ia conseguir saltar ou abaixar-se para se desviar. Canalizou um pouco de chakra para as solas dos pés de modo a manter-se preso aos dois troncos onde estava. Depois, preparou-se para sentir a dor. Esta não demorou muito a aparecer quando a bola de madeira lhe acertou nas costas. Felizmente não se tinha desequilibrado ao ponto de deixar cair mais água. Numa corrida rápida conseguiu por fim chegar à outra margem.
Agora que tinha feito esta primeira parte, voltar seria mais fácil pois iria estar a olhar directamente para os projecteis que lhes eram lançados.
Mal colocou o pé no primeiro tronco, Michael correu bastante rápido. Ao segundo passo teve de se baixar para não ser atingido. Não teve tempo de dar mais de dois quando se desviou para a direita. Quando ainda ia no quinto tronco, viu que duas bolas se dirigiam a ele. Michael rapidamente se desviou de uma e posicionou-se de modo a levar com a segunda no ombro. Pelo menos a dor tinha sido menor. Continuou a sua corrida, desta vez sem qualquer projéctil a atingi-lo.
Depois de terem concluído o mesmo trajecto mais dez vezes. Kawasu mandou-os parar. – Agora que estão a dominar esse peso, quero que usem mais dois baldes cheios de água.
Kyra resmungou um bocado. Michael não estava necessariamente feliz, mas sabia que se tinha de esforçar para ficar mais forte.
Desta vez como era sem bolas a serem arremessadas apenas as primeiras três voltas lhe custaram. No final, já estava mais do que habituado e já conseguia correr sem se desequilibrar ou deixar cair água.
– Muito bem, os dois. Vamos fazer uma pequena pausa para comer qualquer coisa.
Tarde
– Agora vou querer que lutem entre vocês,
apenas com armas… e ao longe.
Com um brilho nos olhos Kyra olhou para Michael. O rapaz inferiu que esta estaria ansiosa para lhe acertar com uma kunai. Sorte a sua.
Ambos afastaram-se um do outro até a distância ser a correcta. Kyra começou por atirar dois shurikens. Michael denotou que havia linhas presas aos shurikens. Facilmente de desviou das armas dando um salto. Notou que se sentia muito mais leve pois tinha tirado os pesos. No entanto, uma dessas linhas tinha conseguido prender a sua perna direita. Michael desembainhou a sua espada e cortou a linha. Aproveitando estar no ar, pegou num shuriken e atirou-o. A sua adversária pegou numa kunai e bloqueou o ataque.
Então ela prefere bloquear a desviar, pensou Michael,
posso enganá-la com o Shuriken Bunshin… ou então com algum papel explosivo.
Enquanto pensava, Kyra corria agora na sua direcção, com duas kunais empunhadas. Atirou a primeira, dando depois um salto para o lado para atirar a segunda.
Michael arremessou um dos seus shurikens para bloquear o primeiro ataque. Depois, pegando em mais um shuriken deu um salto para a frente, colocando as mãos no chão. Ao fazer isto, Michael conseguiu apanhar a kunai que lhe tinha sido dirigida há pouco. Quando se levantou, atirou-a de volta, rapidamente, para a sua adversária. O treino de manhã tinha aumentado a sua velocidade. Esta bloqueou o ataque, mas Michael já tinha atirado o segundo shuriken. Kyra preparou-se para se defender, mas apenas reparou que havia uma cópia da arma quando já era tarde demais. A filha do sensei ficou com dois cortes profundos. Vendo que estava ferida, olhou para ele como se Michael fosse um frango assado prestes a cortar. O shinobi engoliu a seco. Estava tramado…
Kyra correu na sua direcção. Não estava com qualquer arma. Enquanto corria realizou uns selos que Michael não reconheceu. Repentinamente um véu de poeira lançou-se sobre ele. Deixou de ver por momentos.
– Eu disse
unicamente armas, Kyra! – Ouviu o seu sensei dizer. Parecia estar zangado.
A poeira dissipou-se e Michael conseguiu ver Kyra e Kawasu. Enquanto estava envolto naquela poeira sentiu uma ponta de raiva crescer em si. Por agora estava domada, mas parecia que era como se tivesse voltado àquele dia em que atacou o seu sensei.
Novamente separados, recomeçaram. Michael desta vez foi o primeiro a avançar. Naquela poeira tinha desprendido o fio que ainda estava preso à sua perna e voltado a prender a um shuriken seu. Tendo em conta a sua posição de agora, iria guardar isto por agora. Arremessou outro shuriken. Kyra facilmente se desviou num salto, Michael aproveitou para saltar também, na direcção dela. Ela de kunai na mão e ele de espada. O metal chocou contra metal, fazendo um violento barulho característico. Tiveram a medir forças por um tempo, mas cedo pararam a mando de Kawasu. Michael mandou o seu shuriken. A rapariga desviou-se com facilidade. O jovem shinobi puxou o fio que prendia a sua arma. O metal rasgou a pele de Kyra na zona das costelas.
Enquanto ela recuperava do corte, Michael aproveitou para ver quantas mais armas tinha. Quatro shurikens e dois papéis explosivos. Como não sabia que o seu treino iria consistir nisto não tinha trazido o número de armas habitual. Mas tendo em conta a sua adversária, poderia acabar isto com apenas três shurikens.
Kyra apercebendo-se de que Michael estava parado aproveitou para mandar uma kunai na sua direcção, enquanto corria igualmente para este. O jovem retirou um shuriken, que ao embater contra a kunai, fez ambas as armas caírem ao chão. Quanto Kyra saltou, Michael atirou um shuriken para o chão debaixo dela.
Uma explosão deu-se. Kyra tinha apenas sido projectada sem sofrer muitos danos, mas a cortina de fumo e poeira que se tinha levantado não a permitia ver o seu oponente.
Michael ouviu um pequeno tossir por parte da rapariga e soube imediatamente onde ela estava. Lançou o seu terceiro shuriken na mesma direcção.
Quando a poeira se dissipou Michael apenas viu um tronco com um shuriken espetado no centro.
– Bem, por hoje chega.
Olhou para o lado direito para ver que Kyra estava sentada no chão à beira do seu pai. Kawasu desviou-se de ambos para arrumar os sacos que tinha trazido. Michael aproveitou para ajudar a rapariga. Entendeu-lhe a mão de modo a ajudá-la a levantar-se. No entanto, esta recusou e levantou-se com uma rapidez que não tinha mostrado em combate.
– És sempre assim tão rápida? – Perguntou Michael, sarcástico.
– Apenas na cama e a pontapear as “bolas” de um gajo.
Michael ficou parado por breves momentos, apenas até uma resposta lhe surgir. – Então suponho que contigo ambas tornam-se desagradáveis.
Kyra ficou séria, sem se mexer muito, simplesmente de olhos fixos em Michael. Um movimento rápido surgiu e o rapaz não conseguiu impedir.
Michael estava agora de joelhos no chão, com uma dor hedionda entre as pernas. O raio do joelho da rapariga era de facto rápido.
Com um sorriso entre os lábios, Kyra foi-se embora, mas não sem antes acrescentar. – Pelo menos já sabes que uma delas é.
Assunto: Treino 5 - Rivalidades 
Qua 30 Dez 2009 - 12:47
