[Antes da Missão “Colheita Invisível”]
Estava sensivelmente a um dia de distância de Suna, e Hitori sugeriu que descansássemos num oásis. Ela ofereceu-se para cozinhar e comemos em silêncio.
- Hum… Hitori… - Chamei eu
- Diga Rima-sama. – Diz-me a gorila esboçando um sorriso tímido e olhando para o chão.
- Primeiro, para ti sou a Rima e quero que me trates por tu. Segundo, não precisas de ter vergonha de mim. Não te vou fazer mal. – Disse eu o mais gentilmente que consegui.
- Hai. – Respondeu-me sorrindo e olhando-me nos olhos, reparei que os seus olhos de um azul-escuro eram tristes.
- O que é esta coisa de seres a minha gorila? – Pergunto eu. – Pensava que uma kuchyose pudesse ser utilizada por todos os membros do clã.
- No seu… teu clã, cada shinobi recebe à nascença um gorila que será o seu companheiro para a vida. No entanto também é possível evocar-se outros Gorilas, os gorilas bebés, os infantis, os juvenis, os adultos, os gorilas vermelhos e os gorilas negros. Existem ainda os gorilas eremitas, mas esses não se deixam ser invocados, normalmente costumam transportar humanos para um mundo paralelo e ainda o Gorila Sagrado, entidade suprema da nossa raça, mas nunca ninguém o viu.
- Uau. – Foi a única coisa que consegui pronunciar, possuía uma kuchyose fantástica! Cada vez me sentia mais curiosa em relação a este mundo que desconhecia. – Podes falar-me desse mundo paralelo?
- Claro. – Assentei Hitori num sorriso, parecia realmente feliz em relatar-me estes pormenores. – Nós chamamos-lhe de “Mundo Sagrado”, é habitado por gorilas e o nosso local predilecto de treinos. Lá o tempo passa mais devagar, dado que um dia neste mundo correspondem a 10 dias no Mundo Sagrado, por vezes os Gorilas Eremitas transportam para lá humanos a fim de receberem treino.
- Fixe… Hitori… Porque é que pareces tão triste?
- Quando nasci… a minha criança havia desaparecido… e todos os outros gorilas troçavam de mim e por isso me chamaram de Hitori (sozinha). – Não resisti e abracei aquele ser que não conhecia de lado nenhum mas no entanto me parecia tão familiar. Hitori correspondeu ao abraço e envolveu-me nos seus enormes braços felpudos e quentes. *Obrigado* Diziam-me a voz de Hitori.
- De nada… - Respondi.
- Hun? Porque disse… disseste “de nada”? - Perguntou confusa.
- Não tinhas dito “Obrigado”?
- Não… Quer dizer… Disse-o, mas em pensamento… - Olhei a gorila em confusão, julgando estar a enlouquecer. Subitamente Hitori solta uma gargalhada pura e límpida – Lembrei-me agora, o gorila e o seu humano conseguem ouvir os pensamentos um do outro.
Suspirei aliviada ao constatar que a minha mente não me pregava nenhuma partida da minha mente. Pouco tempo depois já estávamos de volta à estrada, chegando a Suna um dia depois, optei por desfazer a invocação de Hitori, a fim de evitar perguntas e olhares curiosos.
Atravessei os portões de Suna e saudei os guardas com um aceno de mão, eles já me conheciam, dado que eu saia com frequência da vila. Fui imediatamente a casa de Shizuna, matar saudades, pô-la ao corrente da situação e desabafar um pouco, quando sai de casa dela já passava da hora de almoço. Resolvi passar por casa de Zero e convidá-lo para se juntar a mim e aproveitar para namorar um pouco.
Passei o resto da tarde com ele e despedimo-nos ao anoitecer, foi então que me apercebi que não tinha onde ficar. Estava zangada com a minha mãe e a minha avó por me esconderem coisas e não queria andar à pala da Shi nem do Zero, além disso, prezava bastante a minha liberdade.
Quando ia a caminhar por uma rua mal iluminada de Suna, observei uma sombra que se dirigia para mim, recuei desconfiada e vendo que quem quer que ai vinha não abrandava atirei uma kunai que o individuo desviou.
- Pare Rima-sama! – Pediu a sombra, cessei o ataque e vi surgir um rapaz de aspecto bastante agradável. – Venho informá-la que Isshin-sama lhe comprou uma casa.
Fiquei surpreendida pelo gesto daquele estranho homem que era meu pai, segui o rapaz enquanto lhe observava as partes traseiras. Pouco depois chegávamos ao destino, o rapaz entregou-me as chaves e partiu, entrei em “minha casa”, tinha um pequeno corredor, dois quartos, cozinha, sala de estar e casa de banho. Notei ainda que os armários e frigorífico estavam atestados, aquele homem sabia decididamente o que fazer. Tomei um banho e fui dormir.
[Dia Seguinte]
Fui acordada por um rude bater de porta, era um Jounnin que me informava que tinha uma missão daqui a 10 minutos. Sim senhora! A missão teria de esperar, uma senhora precisa de se arranjar como deve ser.
[Depois da Missão “Colheita Invisível”]
Regressei a casa estafada, lutar contra Hyuugas era tramado, a parte positiva do meu trabalho era que reencontrara Kenichi Okamoto, um Gennin “explosivo” que não via à algum tempo. O Kazekage disse que queria falar comigo amanhã bem cedo, quando cheguei a casa invoquei a Hitori para falarmos um pouco e fui tomar um banho enquanto ela foi fazer o jantar.
- Hitori, tenho um pergunta a fazer-te. – Digo eu enquanto jantávamos, eu uma esparguete à bolonhesa e ela uma enorme taça de salada. – O que vai suceder com o Kibou? Agora que morreu a S…
- Nada, ele pode transitar do Mundo Sagrado para este sempre que desejar, claro que não poderá ter uma nova criança.
- É verdade, aquele gorila que me protegeu do meu … pai… era do meu avó…
- Hai, Gakuryoku-sama não tem criança já há algum tempo. – Declarou ela, notando a minha urgência em mudar de assunto.
- O que aconteceu ao meu avó? – Perguntei curiosa.
- Ninguém sabe, há quem diga que morreu e há quem diga que se perdeu algures no Mundo Sagrado. – Respondeu-me. A conversa continuou animada até os meus bocejos darem o alerta para a hora de deitar. Assim que cai naquela cama fofa e quente adormeci quase instantaneamente.
[Dia Seguinte]
TRRRIIIIIIIIIIIIIMMM
O som irritante do despertador, arrancou-me do meu sono reparador, sentei-me à beira da cama, limpei a baba ao canto da boca e bocejei longamente dirigindo-me à casa de banho a fim de me lavar e vestir
[Já no Edíficio do Kazekage]
Bati à porta duas vezes aguardando a resposta de Arashi.
- Entre. – Ordenou o Kage na sua voz calma. – Ainda bem que chegas Rima, senta-te.
- O que queria falar comigo Arashi-sama? – Perguntei sentando-me na cadeira em frente à secretária cheia de documentos.
- Sei que tens tido alguns problemas pessoais e tens andado um pouco desorientada. – Começou, suspirei aborrecida adivinhando um discurso com o intuito de me elevar a auto-estima. – E resolvi arranjar-te uma equipa e um sensei.
- NANII?! – Perguntei furiosa, levantando-me e derrubando a cadeira onde me encontrava sentada. – Recuso-me. Sempre trabalhei bem sozinha!
- Acalma-te. Nada do que disseres mudará a minha decisão. – Declarou Arashi num tom calmo mas levemente autoritário. – Apanha a cadeira se fazes favor e aguarda que os teus companheiros cheguem.
- Por favor, seja razoável. Se eu até agora nunca precisei de equipa porque precisaria agora? – Questionei ainda não me dando por vencida enquanto erguia a cadeira que derrubara momentos antes.
- Precisas agora e mais do que nunca de uma equipa e um sensei que te orientem. – Declarou o Kazekage calmamente enquanto assinava alguns papéis. Sentia todo o sangue do meu corpo a fervilhar de raiva.
- Então que sejam a Shizuna e o Zero. – Declarei, sentando-me na cadeira e cruzando os braços em jeito de amuo.
- Não, a tua equipa já está previamente decidida. – Declarou com um sorriso enigmático a espreitar.
- Por favor, a Kikuko não! Tudo menos a Kikuko! Preferia fazer equipa com psicopatas, bichas pedófilas, lésbicas taradas, tudo menos essa put… Mulher da Vida! – Exclamei, novamente exaltada.
- Não te preocupes, não é ela. Um deles já conheces. – Declarou misterioso, olhei-o com curiosidade e aguardei os meus novos companheiros. Que aborrecimento! Sem me dar tempo para resmungar novamente ouvi a maçaneta da porta a girar e Kenichi Okamoto entrou no escritório saudando-me com um sorriso.
– Kenichi? – Perguntei sorrindo, felizmente um dos meus parceiros seria alguém conhecido.
- Oi Rima. – Cumprimentou o rapaz.
A porta abriu-se novamente e uma mulher de cabelos negros e curtos, óculos escuros redondos e a boca e o nariz cobertos por uma máscara.
- Apresento-vos Aburame Hikari, a vossa sensei. – Declarou o kage, honestamente a mulher assustava-me e podia dizer que Kenichi sentia o mesmo pela forma como me olhou. – Ainda falta mais um membro, deve estar quase a…
O Kazekage não chegou a terminar a frase, um rapaz loiro de cabelos no ar, franja a tapar ligeiramente o olho esquerdo, olhos azuis profundos e uma blusa roxa ligeiramente aberta que deixava antever os abdominais bem trabalhados, sem dar por isso senti algo quente a sair do meu nariz.
- Rima, estás a sangrar do nariz! – Exclamou Kenichi preocupado estendendo-me um lenço que eu agarrei, adquirindo uma tonalidade vermelha, o kazekage que parecia ser o único que percebera o que passara não conseguiu conter uma sonora gargalhada.
- Hum… Ahah… Bem, tirem o resto do dia para se conhecerem melhor… - Declarou o kazekage, esforçando-se para não se rir e piscando-me o olho na parte do “conhecer melhor”, olhei-o enfurecida e fui a primeira a sair do escritório com Kenichi logo em seguida. No entanto ainda ouvi o kazekage dizer ao rapaz loiro – Cuidado com ela.
[Momentos depois, numa esplanada não muito longe]
- O meu nome é Aburame Hikari, tenho 27 anos, nasci e vivi em Konoha mas mudei-me para Suna à cerce de 5 anos. Falem-me um pouco de vocês. – Declarou a minha nova sensei, o rapaz loiro foi o primeiro a falar.
- Chamo-me Yamanaka Tenshin, tenho 18 anos e sou Chunnin, o Kazekage pôs-me numa equipa para ganhar responsabilidade... – Declarou o rapaz num sorriso.
- Chamo-me Kenishi Okamoto, tenho 16 anos e sou Gennin. – Declarou o loiro, lançando-me um olhar cúmplice.
- Tenho 17 anos, sou Gennin e chamo-me Rima. – Declarei rapidamente, não me estava a apetecer prolongar muito a conversa.
- Pertençes a algum clã? – Perguntou Tenshin fitando-me com os seus intensos olhos azuis.
- Sim… Clã Kurohoshi… - Declarei aborrecida olhando um nuvem solitária.
- Bem, vou andando. – Declarou a nossa sensei levantando-se e ajeitando os óculos negros que não deixavam ver os seus olhos. – Apareçam às seis e meia no campo de treinos.
- Bem, eu também vou andando que a minha vida não é para isto. – Declarei acenando a Kenichi e Tenshin e afastei-me de mãos atrás da cabeça e dirigi-me para casa.
Enquanto assobiava o “Atirei o Pau ao Gato” enfiei a chave na fechadura e abri a porta fechando-a atrás de mim, atirei a minha bolsa ninja a um canto e dirigi-me à cozinha a fim de comer qualquer coisa.
- Boa tarde sobrinha. – Cumprimentou uma voz feminina que eu não conhecia, acendi a luz da cozinha e reparei que era uma mulher de aspecto zangado vestida com um kimono com o símbolo do clã Kurohoshi e segurando um cajado. – Não me deves conhecer a julgar pela expressão aparvalhada que ostentas. Chamo-me Kurohoshi Tatsuke, sou a irmã do teu pai.
- Hm… Eu… - Senti a minha face vermelha de raiva por a mulher me ter insultado. – O que quer?
- Mantém-te longe do clã, e da liderança dele. Ou poderá acontecer-te o mesmo que à inútil da tua irmã. – Declarou no tom ríspido e lançando-me um olhar frio.
- A Sora não era uma inútil! – Declarei, furiosa.
- Como queiras… - Declarou numa voz impessoal, levantando-se e dirigindo-se até mim numa calma sinistra e silenciosa, a única coisa que quebrava o silêncio entre nós duas era a minha respiração descompassada e o som da sua bengala a bater no chão de pedra da minha cozinha. Assustada recuei dois passos ficando encostada ao balcão, a minha mão deslizou pela superfície do mesmo até encontrar uma faca de cozinha, que segurei para qualquer eventualidade. A mulher aproximou-se do meu ouvido e sussurrou-me. – Se tentares tomar a liderança do clã, essa faca de cozinha não será suficiente para te salvar.
- Você não manda em mim! – Declarei num lapso de coragem.
- Há métodos mais eficazes para te tirar do meu caminho. – Declarou afastando-se de mim e dirigindo-se à porta, todos os músculos do meu corpo se descontraíram e larguei o cabo da faca. A minha tia pára subitamente e olha para trás e olha-me friamente antes de falar. – E se eu fosse a ti trancava as portas e as janelas… Podes ter uma visita desagradável.
E dizendo isto saiu, fechando a porta atrás de si, no ataque de raiva peguei na faca de cozinha a atirei-a à porta onde ficou presa.
- Vá levar no cu… - Murmurei entre dentes.
~~~~~~~~~~~~
”Continuo à deriva neste Oceano de gente, que tenta à força toda entrar no meu coração ainda ferrujento. Não procuro ninguém, mas existe sempre alguém que procura por mim. Vultos cercam-me enchendo-me de palavras e sorrisos ditos amigáveis, como se me conhecessem. AHAHAH! Que parvoíce, eles não me conhecem, ninguém me conhece, nem eu tenho esse privilégio. E não me conhecendo por haveria de querer conhecer alguém? Absolutamente ridículo.”
Rima.