Saiu do ginásio, ofegante, encostou-se à parede do edifício tentando controlar a respiração ainda acelerada. O ar quente dentro de si misturava-se com o frio que a envolvia, libertando-se como fumo e dissipando-se na névoa.
-Cansada? – o rapaz abriu a porta. Sorriu olhando para a morena com o mesmo ar desafiador de há minutos atrás.
-Não brinques! – esticou o braço em direcção ao rapaz, abrindo a mão num sinal para ele não se aproximar – Não teve graça!
-Oh, claro que teve…o sensei gostou – mostrou um sorriso tentado impor um ar angelical.
-Vocês são todos iguais - Yin começou a andar, ouvindo os passos do rapaz a correr atrás dela. Alcançando-a, colocou-se num pulo à sua frente.
-Sabes que te adoro.
A morena deitou-lhe a língua de fora – Pois, pois.
Uma rapariga saiu do complexo a correr carregando nos braços três scrolls. Quando a loira finalmente os alcançou distribuiu-os pelos colegas de equipa.
-Obrigado por me deixarem ali sozinha…
-Desculpa – disseram ambos quase em coro.
-O sensei mandou-me entregar-vos isso. Ele disse que é para irmos praticando até ao próximo treino, porque esta semana ele vai numa missão e não volta entretanto.
-São de quê?
-Ninjutsus…acho eu – disse Kaori fitando os scrolls com um olhar duvidoso.
-Um novo jutsu, boa! – gritou entusiasmado Shin apercebendo-se depois dos olhares reprovadores das raparigas.
-Não sei onde arranjas tanta energia…bem…tenho que ir, estou esfomeada – desviou os olhos para o relógio vendo que já passava algum tempo desde a hora de almoço – e ainda quero ir ver o que é isto – abanou o scroll que segurava na mão direita.
-Falamos então, depois?
-Sim – sorriu - Sayonara.
-Sayonara – disseram os irmãos em coro.
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O som do ponteiro dos minutos avançou milímetros para a direita enquanto o continuo som do tic tac soava pela casa, sendo como se uma canção de embalar para a rapariga que, deitada sobre a cama, fechava lentamente os olhos, para com algum esforço, seguidamente, os reabrir. A sua cabeça tocava ligeiramente no chão enquanto o corpo estava esticado sobre a coberta bordeaux. Os seus olhos, semi-abertos, pousavam no scroll que jazia no chão do quarto, sendo divida entre a curiosidade de o abrir e a preguiça habitual que nela se instalava, sempre, depois de almoçar. Passado alguns minutos, que na realidade pareceram mais, a morena deixou que a curiosidade vencesse, pegando rapidamente no scroll e sentando-se no chão, como se numa tentativa falhada de se levantar. Abriu cuidadosamente o papel lendo as inscrições nele feitas.
“Corvos da Tempestade
Raiton
Rank: D/C/B
Descrição: Depois de fazer a sequência de selos "Tigre" "Cão" "Tigre" e de concentrar o seu chakra Raiton nas mãos pequenas esferas de electricidade são criadas e depois moldadas tomando a forma de pequenos corvos. Os corvos são controlados pelo ninja até uma distância esférica de dez metros, mas só aguentam a forma de corvo durante menos de um minuto.
Rank D - um corvo.
Rank C - quatro corvos.
Rank B - dez corvos.
Quando estes corvos acertam no inimigo causam uma dormência na área afectada e em ranks mais elevados cortes e outros danos.”
Leu cuidadosamente analisando cada palavra. Esboçou um sorriso entusiasmado e correu para o exterior carregando consigo o pergaminho. Ao chegar ao jardim pousou o scroll no alpendre de madeira e afastou-se deste ligeiramente. Fez a sequência de selos, tentando de seguida concentrar chackra nas suas mãos. Sentiu a energia acumulada mas ao começar a moldá-la em esferas esta desfez-se dando-lhe um ligeiro choque. Ela repetiu o mesmo processo durante algum tempo até conseguir com que o chakra tomasse a forma de uma esfera completa durante 10 segundos. Olhou para as suas mãos, observando atentamente várias mazelas, decidiu parar durante algum tempo. Colocou uma capa e dirigiu-se para a floresta.
A morena caminhava lentamente, desviando-se das árvores que a rodeavam. Ouviu, não muito longe de si o som de algo a bater num tronco, algo metálico. Tirou uma kunai da sua bolsa e avançou em direcção ao som, cuidadosamente. Uma mulher estava sentada numa pedra que se distinguia da neve rasteira espalhada pelo solo. A mulher lançava, quase maquinalmente, kunais contra um tronco escuro, caído, que jazia a uns metros de si própria. Virou-se para trás repentinamente, observando atentamente a jovem que permanecia numa posição de ataque com a kunai na mão, apesar da sua expressão ser agora, ao ver a mulher, de surpresa.
-Akemi-san? O que…espera onde arranjaste isso?
A mulher de cabelos brancos olhou para a neta com um ar apreensivo.
-Queres me explicar o que se passa?
-Se fizeres o favor de baixar a kunai, dispenso ficar com mais dores no corpo que as que já tenho. – A rapariga baixou a arma, mesmo assim ligeiramente relutante, e sentou-se na pedra, ao lado da avó.
-O que estás a fazer aqui?... Com isso.
-Senti saudades, ando um pouco nostálgica sabes – a mulher fixou o seu olhar na kunai que brilhava ligeiramente.
-Saudades? Eu nem sabia que tu tinhas kunais, quanto bem que sentias saudades de as lançar… - a rapariga olhou para o tronco escuro á sua frente onde estavam espetados vários pedaços de metal - … a troncos secos.
-Hoje em dia é o único sitio em que me sinto confortável a lança-las… a minha pontaria já não é o que era.
-Espera, tu foste shinobi? – disse Yin, como se finalmente, se apercebesse do que aquilo queria dizer.
-Em tempos, sim. Mas reformei-me.
-Porque não me disses-te?
-Foi á muito tempo, não havia necessidade.
-Eras de que escalão?
-Jounin.
Yin olhou para a mulher com um ar surpreendido. O silêncio instalou-se durante alguns minutos deixando com que o som de alguns, poucos, pássaros fizessem a sua presença soar pela floresta. Um momento de reflexão, pelo menos para Yin, que absorvia toda aquela informação, que durante 16 anos tinha passado por ela, totalmente despercebida.
-Yin, tens que ter paciência com a tua mãe… - disse Akemi, quebrando o silêncio.
-Sabes mesmo quebrar o clima… - virou a cabeça, olhando para o lado oposto à avó, com um ar aborrecido.
-Ela foi criada de uma maneira…diferente.
-Diz antes estranha, ou estúpida, ou absurda.
-Tens que entender a posição dela.
-Sim eu sei.
-Sabes? – a mulher olhou para a rapariga, esta rapidamente voltou a virar a cara, fixando profundamente os seus olhos cinzentos nos da avó.
-Sei… - olhou para baixo, como se analisando as suas pegadas na neve, tentando distingui-las das de outras sombras, cujos rastos marcavam a sua presença, já quase desvanecida, pela floresta – Nunca lhe contas-te pois não?
-Não precisou de perguntar do que é que estava a falar, era obvio que a única coisa que maioria das pessoas não conhecia sobre Akemi, era o facto de ela ser uma ex-jounin, a nora principalmente. A resposta foi imediata – Não.
A morena levantou-se, olhou de relance para a avó.
-Vou para casa, quero ir treinar mais um pouco um novo jutsu antes de jantar.
-Tudo bem, eu já vou. Não demoro. – disse a mulher, recebendo como resposta um aceno de cabeça da neta, enquanto esta já se afastava pelo caminho de onde viera.
Desapareceu em menos de 5 minutos, sendo como se engolida pela neblina que rodeava as árvores. A mulher ficou a observar o caminho vincado na neve durante alguns segundos e de seguida levantou-se. Retirou lentamente, uma a uma, as kunais espetadas no tronco seco. Começou a caminhar para o coração da floresta, parecia ser levada por um instinto, por uma memória adormecida, contornando as árvores sem hesitar. Sentia a neve a entranhar-se nos seus sapatos, sentia o frio a invadir-lhe o corpo, no entanto era como se fosse imune a tudo isto, ignorava e continuava a andar. Parou. Tocou com a mão numa arvore ligeiramente á sua direita. Sentiu a textura das lascas de madeira ressequidas que cobriam o tronco. Desviou o seu olhar para a clareira á sua frente. As várias árvores altas, despidas, reuniam-se fazendo um género de círculo, onde o nível da neve estava consideravelmente mais alto. No meio do círculo 2 fileiras de casas de madeira manchavam o manto branco. As portas não mostravam vestígios de entradas ou saídas, 2 janelas existentes em cada fachada estavam embaciadas, devido ao nevoeiro que se acumulava no local, ocultando algum possível movimento existente dentro das casas.
A mulher de cabelos brancos continuava com o olhar fixo na clareira. Os seus olhos castanhos-escuros pousavam ora numa fileira ora na outra reflectindo o ambiente de um silêncio efémero.
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A mulher virou numa das encruzilhadas da floresta. A sua respiração era cada vez mais forçada. Acelerou o passo, virando novamente, concentrada no caminho que tomava. Uma mecha de cabelo branco pousou sobre os seus olhos azuis-claros impedindo-lhe a visão. Passou a pasta castanha escura que segurava para a mão esquerda, afastando o cabelo com a direita, prendendo-o atrás da orelha. O pouco sol existente incidiu sobre a sua mão, a luz foi reflectida e o anel que ela ostentava no indicador brilhou, lançando para o céu um fio de luz dourada. Ia como se num transe, ignorando os pequenos ramos que lhe batiam nos braços despidos, criando pequenos rasgões na sua pele branca, pálida.
Finalmente. Parou, pousando a pasta na neve, esta afundou-se alguns centímetros deixando com que a humidade do gelo se entranhasse na pele escura. Juntou as mãos e moveu-as rapidamente. Fechou os olhos por uns segundos enquanto proferia várias palavras.
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Um nevoeiro espesso preencheu a clareira e as casas que antes cortavam o véu ebúrneo pareciam agora terem sido submersas por este. Não se via nada, excepto as arvores que delineavam a clareira e mesmo estas tinham sido encurtadas pela névoa. Akemi observava, sem espanto nem nenhuma reacção aparente ao que acabara de acontecer.
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 contou para si mesma. O nevoeiro desapareceu, tão rapidamente quanto aparecera, e as casas de madeira escuras retomaram o seu lugar.
Calmamente Akemi virou costas e começou a caminhar. A sua expressão mantinha-se séria, enquanto olhava em frente, seguindo o seu próprio rasto. Esfregou as mãos uma na outra, tentado inutilmente aquece-las. Olhou para o céu que escurecia a cada minuto que passava, a sua expressão foi substituída por um ar de ansiedade. Começou então a caminhar mais rápido.
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Fechou a porta de casa e rapidamente descalçou os sapatos encharcados, colocando-os num canto. Aliviada constatou, devido á falta de um par de sapatos, que Amaya ainda não chegara. Ignorando o facto de os seus pés estarem frios, gelados até, caminhou pelo corredor escuro, dirigindo-se para o seu quarto. Deixou a porta aberta, iluminando assim, parcialmente, o corredor. O quarto era simples, como ela costumava dizer
“Simplesmente o necessário para os últimos dias de alguém a quem só lhe restam velhas recordações”; uma cama de casal marcava o meio da parede de fundo, bege, na parede ao lado uma janela rectangular fornecia luz ao cómodo iluminando-o por completo, de resto, apenas algumas outras peças completavam o quarto, uma cómoda com gavetas em que algumas molduras tinham sido colocadas por cima, uma pequena mesa num canto e uma cadeira, ambas de bambu, combinando com a tonalidade da cama, e, á frente desta, um baú, este de madeira escura, contrastando com todas as outras tonalidades. A peça não tinha nenhuma ligação com o resto, e parecia ter sido colocada no quarto muito depois da sua decoração.
Akemi aproximou-se deste e rapidamente abriu-o como se numa ânsia de encontrar algo. Durante alguns segundos ficou a observar, analisar o que residia na caixa. Diversos papeis, alguns com texto apenas, outros ostentavam fotografias, recortes, shurikens, livros em que a capa demonstrava já alguma idade. Estendeu a mão, velha, marcada com os anos que passavam nas pequenas rugas que a preenchiam. Retirou um anel, um pequeno ponto no meio de todos aqueles itens. Um anel dourado em que uma inscrição em relevo marcava o metal banhado a ouro. Colocou-o no dedo indicador para de seguida voltar pousá-lo no baú. Fechou-o, fazendo que o barulho da madeira a bater ecoasse pela casa.
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A mulher andava de um lado para o outro, fazendo um círculo imaginário no chão de madeira húmida. Os seus olhos azuis, quase brancos, estavam cravados nos seus próprios pés, enquanto murmurava para si mesma, repetidamente, 3 palavras.
O homem, sentado numa cadeira de madeira, do mesmo tom das paredes, terminou de ler o papel, como se acordando de um transe induzido. Levantou ligeiramente a cabeça e dirigiu o olhar para a mulher. Esta parou.
- Senhor... – fixou as suas orbes azuis no homem.
- 5 dias. A contagem começa hoje.
A mulher acenou afirmativamente e saiu da casa de madeira.
5 Dias… __________________________________________________________________________________________________________________________
- Spoiler:
N.A: Durante as ferias tive um tempinho e decidi escrever qualquer coisa, como nao sei quando puderei voltar a postar mais fillers durante o proximo periodo, aqui vai este para se entreterem
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É maior do que costume eu sei =D. Espero que gostem ^^