Um barulho, um movimento. Sentindo isto, Michael deu um salto para trás. Quando olhou em frente viu uma kunai espetada no pescoço de Nakayama, que lentamente ia perdendo o brilho nos olhos. Michael olhou para a esquerda, de onde tinha vindo a arma.
Viu um corpo possante erguido em cima da parede que delimitava o terreno daquela “casa”. Michael reconheceu-o. O mesmo olhar verde e perdido nas profundezas daquele seu mundo privado, onde ninguém entraria senão ele mesmo. O homem que Sakoto protegia. O rapaz que sempre lhe fazia companhia. O jovem ruivo lembrou-se do seu nome… Shuichi. No entanto, um homem assim jamais poderia ter realizado tal acto. O de matar um homem que nem deveria reconhecer. Foi então que o shinobi de Kumo desviou o seu olhar um pouco para a esquerda. Sentado nos calcanhares, um semblante magro encontrava-se sobre a parede que delimitava o território daquela “coisa”. Tinha uma kunai que se balançava, brincalhona, num dos pequenos dedos. As roupas largas demais para o rapaz indicavam que não havia hipóteses de ele ser mais velho do que Michael. No entanto, o capuz do casaco negro que vestia não permitia ao jovem de Kumo ver de que vila era este atacante.
– Ei, quem és tu? – Inquiriu Kyra com a sua delicadeza brusca do costume.
Embora o capuz não o deixasse ver, Michael sentia os olhos daquele rapaz ainda cravados em si, ignorando por completo a rapariga. De seguida, tocou no ombro de Shuichi, numa ordem silenciosa. Saltaram ambos agilmente para uma árvore que se encontrava atrás deles. Repetindo os mesmos movimentos para as árvores seguintes, os dois rapazes começaram a sua fuga. Sem demorar muito, Michael correu na direcção do muro separativo. Na sua corrida, criou um clone que depois serviu de apoio para saltar pela parede, directamente para a floresta envolvente. Cedo, Kyra juntou-se a ele, seguida mais tarde pela cópia de água.
– Suponho que o plano seja capturar os dois para levá-los para Kumo, e não simplesmente encontrar o miúdo para agradecer ter feito o que ambos desejávamos. – Comentou Kyra, seriamente, enquanto acompanhava o ritmo do jovem ruivo.

Como Shuichi, o rapaz-homem, estava perdido no seu mundo, era-lhe mais difícil manter uma trajectória certa. Devido a tal, o rapaz que o acompanhava teve de recuar várias vezes para guiá-lo. Quando se preparava, pela terceira vez, para avançar, uma kunai, que se entranhou no tronco perto, de si fê-lo parar. Virou a cabeça para o rapaz e a rapariga. Havia mais uma pessoa. Não, concluiu rapidamente, é só um clone.
– Essa aí foi à árvore. – Afirmou Michael. – Na próxima acerto.
Ordenando a Shuichi para se afastar, o rapaz depois respondeu. – Se querem lutar não sairão vivos. Peço-vos que se vão embora.
Indignada, Kura deu um passo à frente. – Pois… eu acho que nos estás a subestimar.
Mal a rapariga tinha acabado de falar, o clone de Michael estava já em cima do rapaz, pronto para desferir um pontapé. Para espanto dos dois shinobis de Kumo, da perna do seu adversário saiu uma corrente de aço e pontiaguda que com facilidade perfurou a cópia.
– Não te preocupes. – Disse o rapaz virando-se para Kyra. – Não estou a subestimar ninguém.
Michael semicerrou os olhos. O seu clone não tinha feito qualquer barulho, além do mais, não havia qualquer hipótese de ele o ter visto. Olhou para Shuichi. Não, ele está demasiado alheado para ajudá-lo, pensou Michael. Então como…? Antes de poder acabar o seu pensamento, a rapariga pegou numa kunai. De seguida saltou na direcção do seu inimigo. Com uma rapidez fascinante, o pequeno criou um clone que conseguiu agarrar o punho de Kyra mesmo antes de esta ter perfurado o peito dele. Agarrando-a pela parte de trás do pescoço de modo a deixá-la imobilizada, a cópia começou a apertar os ossos da rapariga.
Kyra tentou resistir, mas cedo teve de deixar escapar um grito de dor. Nunca antes sentira os seus ossos serem esmagados.
– PÁRA! – Gritou Michael.
Como ele não parecera ouvir a sua ordem, o rapaz ruivo rápido pegou numa kunai e atirou-o contra o clone. Este aplicou um golpe no pescoço de Kyra antes de, juntamente com o rapaz estranho, saltar para uma outra árvore. O jovem de Kumo apressou-se para apanhar a rapariga que estava agora em queda. Pousou-a no chão. A maneira como estava a esmagar os ossos era simplesmente…
– Se desistires agora, deixar-te-ei ir embora incólume.
Michael deixou escapar um sorriso. Retirou a espada da respectiva bainha e depois olhou para o seu oponente. – Pois… isso é o que vamos ver.

Ryu corria juntamente com os outros dois médicos que a ajudavam a transportar a maca onde se encontrava Yoi. Quando chegaram a uma sala, os outros dois impediram-na de entrar. – Agora está apenas nas nossas mãos. – Disse um dos médicos.
Sem conseguir pensar devidamente, estacou no lugar. Não queria também de algum modo entrar lá e ver quem amava estar preso a esta vida por um fino fio. Satoko pousara-lhe a mão no ombro e dissera algo sobre entrar e mantê-la a par da situação. Como é que uma rapariga tão nova tinha já mais coragem do que ela? Não pensou mais sobre o assunto. Encostou-se a uma das paredes do corredor e permitiu-se cair até ao chão. Apoiando a cabeça sobre as mãos deixou escapar as lágrimas que insistiam em sair. Agora, a única solução seria esperar.

Sentindo um movimento atrás de si, saltou para se desviar da lâmina novamente. Mais dois passos e por fim conseguiu pegar na sua espada, que tinha perdido numa queda anterior. Desta vez, quando a corrente ia na sua direcção, Michael colocou a sua arma à frente, ficando esta enrolada no metal inimigo. Agilmente, o jovem de Kumo espetou a espada no chão, mantendo a corrente presa igualmente. Pegando na corrente com ambas as mãos, o shinobi ruivo puxou com toda a sua força. Não esperando o sucedido, o rapaz oponente foi arrastado pela corrente que ainda mantinha ligada à sua perna. Com um shunshin, Michael colocou-se atrás do rapaz. Este virou-se rapidamente para si e pousou a mão sobre o peito do jovem ruivo. Inicialmente, Michael ficou bastante confuso com o gesto, mas cedo uma dor insuportável surgiu na zona onde a mão estava pousada e forçou-o a cair de joelhos no chão, enquanto deixava de conseguir pensar. O mais novo afastou-se.

Lentamente a dor foi parando. Quando por fim se tornou suportável, Michael levantou-se e olhou para o seu oponente que sem esperar muito lançou uma vez mais a corrente pontiaguda na direcção do jovem de Kumo. Este último desviou-se agilmente e com a mão esquerda segurou a corrente, enrolando-a à volta do seu braço para a manter firme. Então, subitamente, uns pequenos espigões saíram do metal e penetraram violentamente a pele de Michael. Experimentou mexer-se, mas apenas piorou as coisas. A dor que o invadiu deixou-o de joelhos. Tentava não gritar, de modo a não deixar transparecer a sua fraqueza. A sua visão começava a ficar mais desfocada e todos os seus sentidos estavam lentamente a desligar-se. Quando os espigões apertaram mais, não conseguiu manter-se calmo e soltou um grito de dor que invadiu a paz da floresta.
Subitamente ouviu uma pessoa a falar. Um homem. Não percebeu o que ele tinha dito, mas nesse momento a dor cessou por fim.
– Suponho que não posso mudar o teu destino como queria. – Disse calmamente o rapaz. – Até mais...
Depois de ouvir tais palavras deixou o seu corpo cair no chão. Deixou-se desfalecer até se encontrar num sono profundo.