A manha ia já passada quando Raikon acabou o quadro. Tinha feito um retrato de uma rapariga que tinha visto no mercado, lugar onde foi comprar as tintas. Resolveu ir almoçar, a fome já apertava e precisava de energia para o que iria fazer a seguir. Comeu carne assada e arroz. Estava mal temperado e a carne estava ligeiramente queimada, contudo não era algo que o incomodasse. Vestiu as roupas de treino, agarrou na katana e partiu ao habitual local de treino.
Chegou em alguns minutos, a andar. Avistou aí o seu pai dentro do armazém, já que tinha a porta aberta. Parecia estar algumas armas para treinar.
“ Hey! Pai!” – Chamou Raikon algo impressionado.
“ Então filho? Tudo bem? Parece que vieste treinar à mesma hora que eu .” – Disse o homem com um sorriso autentico.
Pegaram nalgumas shurikens e kunais e dirigiram-se até a um lado do lago, tendo previamente montado alguns alvos e manequins do lado contrário, ainda algo afastado da margem.
“ Vamos lá ver o que vales, hein Raikon ?” – Disse o pai, com algum tom de desafio.
Raikon não disse nada e apenas pegou num shuriken e arremessou-o com força contra o manequim. Tinha apontado à cabeça contudo saiu um pouco acima e ficou espetado por milésimos no cimo da testa. Como resposta o seu pai mandou um Shuriken da mesma maneira que acertou mesmo entre os olhos do boneco.
“Tsc…!”
Raikon agarrou então e mais shurikens e arremessou-os, um por um, os progressos começavam a notar-se. Apesar de todos terem atingido a face do boneco, os shurikens arremessados mais recentemente encontravam-se mais no centro. Agora lançou os projecteis que restavam, as kunais, contudo o seu pai e ele trocaram de boneco e tinham de mandar as armas de diferentes ângulos. Os resultados foram o mesmos, Raikon estava a ganhar aptidão e habilidade, pelo que o seu pai de súbito resolveu ir buscar algumas linhas e prendê-las aos bonecos. Depois com alguma mestria naquela técnica puxava e estendia as linhas, com diferentes forças e para diferentes lados, enquanto ao mesmo tempo Raikon teria de acertar no boneco em movimento.
Acertou a grande maioria dos arremessos, o que não deixou o seu pai surpreendido. Este chamou-o e ficaram os dois perto um do outro, talvez a uns 5 metros. Com uma velocidade a aumentar constantemente, começou a lançar projécteis que Raikon teria de interceptar quer a arremessar kunais ou shurikens. Teve alguma dificuldade neste exercício. O suor corria no rosto tanto pelo cansaço como pelos calafrios das intercepções in extremis. Após alguns minutos o Pai resolveu parar. Raikon caiu no chão imensamente cansado e com alguns cortes superficiais tanto nos braços como nas pernas.
“ Esmeraste-te para me acertar.” – Gracejou com ironia Raikon.
“Ahaha, oh Raikon isto nem deu para suar” – respondeu o homem.
A piada não lhe caiu bem e trouxe-lhe vontade para provar ao pai que conseguia fazer melhor. Quando se preparava para ir recolher algumas armas espalhadas no campo o pai disse:
“ Raikon, pára, agora quero lutar contigo, corpo a corpo, sem armas. Sinto que estás fraco e preciso que faças um treino mais intensivo, tanto na tua força como agilidade. Vamos começar com um exercício bastante fácil”
Mal acabou de falar, deixou-se cair para a frente e quando parecia cair de cabeça, meteu os braços e fez uma flexão, contudo para surpresa do rapaz começou a fazer flexões e quando vinha para cima batia palmas. Raikon tentou imitar, estava habituado a fazer flexões, não era algo difícil para ele, mas para bater palmas precisava de muita impulsão. Tentou fazer e conseguiu a primeira vez, a segunda e a terceira foi muito puxada para ele. Caiu com a cara no chão e depressa rebolou e levantou-se. Tinha de se esfoçar. Voltou a repetir e obteu o mesmo resultado, contudo não descurou e repetiu até o pai parar.
Para grande alivio de Raikon, não demorou muito. Levantaram-se os dois, Raikon sentia os braços sem força e cansados, mas espremia-se para não o dar a entender.
“Agora vamos fazer a luta”- disse o pai.
Era o pior que podia ter acontecido, se com toda a força não conseguia vencer o seu pai, nem sequer acertar-lhe, cansado daquela maneira seria pior. Resolveu então adoptar uma postura mais defensiva e atacar quando visse uma oportunidade. O pai começou então a correr, começou com um rotativo no ar, que Raikon desviou baixando, contudo o pai respondeu com uma rasteira, que Raikon apenas conseguiu minimizar o impacto parando a perna com a mão e tentando contra-atacar com um pontapé acrobático, de baixo para cima. No entanto foi em vão. O pai agarrou-lhe a perna, contudo estavam ali imobilizados agarrados um pelo outro. Soltaram-se quase ao mesmo tempo e saltaram para trás.
“ Foste inteligente Raikon, minimizaste o esforço e procuraste uma oportunidade, bem feito miúdo.”
Raikon assentiu com a cabeça e para surpresa do pai começou a correr, algo que também foi feito pelo adversário. Chocaram num confronto frenético de murros e pontapés tanto defendidos como esquivados um pelo o outro, contudo Raikon não conseguiu aguentar aquele ritmo e acabou por ser pontapeado na cara e projectado alguns metros.
Para sua surpresa o seu pai não estava zangado pela não defesa do filho, tinha um sorriso na cara e um pingo de suor a escorrer no rosto.
“Raikon, este já deu para soar, parabens! “
Levantaram-se os dois, arrumaram o material e foram para casa de Raikon, onde este fez um petisco de carne frita para o pai…